Table Of ContentE. Jeun Matteson Langdon
(Organizaoora)
XAMANISMO NO BRASIL:
NOVAS PERSPECTIVAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DESANTA CATARINA
Reitor ' Rojolfo Joaquim Pinto da Luz
Vice-Reitor Ludo Jose Botelho
EDITORA DAUFSC
Diretor Executivo Abdes Bliss
Conselho Editori,al Maria de Nazare de Matos Sanchez (Presiden-
tel, Arno Blass, Nilson Borges Filho, MarH
Auras. Tamara Benakouche eTania Regina de
Oliveira Ramos.
EDITORA DA UFSC
F1()lianopolis
1996
Editora da UFSC
Campus Universiclrio- Trindade
CaixaPostal 476
88010-970 - Florian6polis - SC
Q) (048) 231-9408,231-9605 e231-9686
~ (048) 231-9680
Capa: Paulo Roberto da Silva,apartir de esbos:ode ElsjeLagrou
Editoras:aodetronica: Paulo Roberto da Silva
Revisao: Maria de Fatima SilveiraCompagnoni
Ana Lucia Pereira do Amaral
Gilberto Antonio Matos
Ficha Catalografica
(Catalogas:aona fonte pdo Departamento de Biblioteconomia e
Documentas:ao daUniversidade Federal de Santa Catarina)
J--~-- ---
Xl Xamainismo no Brasil: Novas PerspectivasI
E. Jean Matteson Langdon, organizadora.
\
- Florian6polis: Ed. daUFSC, 1996.
368 p. :it
CDU: 291.37
Indui bibliografla
Reservados tooos os dil'mtosdepublica~o total ou parcial
pda Editora daUFSC
Impresso no Brasil
stJMARIO
,l)
Introdu~ao: Xamanisl110- velhas enovas perspectivas
E.Jean Matteson La/'lgdrJ11. UFSC 09
2 X~manismo Waiapi: nos c:aminhos invisiveis, arela~ao i-paie
Dominique Tilkill Ga!lvis, US? 39
3 Os Guardioes do COSl11osp:~j~se profctas entre as Baniwa
Robin M Wright. Ul\/CAMP 75
4 A Geografia dos Esp;ri~os:0 xamanismo entre os Yanomami
setentrionais
Kenneth /. Taylo.,.,Estados Unidos 117
5 Maraka, Ritual Xamani~tico dos Asurini do Xingu
Regina Polo Miil1er,UN/CAMP : 153
6 Canticos Xamanicos dos Manibo
Delvair Montagner, UnBICPCE : 171
7 Xamanismo e Represellia~ao entre os Ka.xinawa
EIsje Maria Lagrou, UFSC...............................................•.... 197
1';
8 Do Xamanismo aos Xamas: estrategias Tupi-Monde frente
sociedade envolventc
Gilio Brunelli, Universile dt!Montreal, Canada 233
9 Sob as Ordens da ll;rcma: 0 xama Kariri-Xoc6
Clarice Novaes da Mota, UFRJ 267
100Sohrenatural e a Intiucnda Crista entre os indios do Rio
Uaya (Oiapoque, Amara): Palikur. Galihfc Karipl1na
Expedi/o AnWlld 21)7
11 Santo Daimc: notas soorc a"Luz Xamanica" da Rainha da
Florcsta
Alberto GroiSnlOII, UFSC : 333
12Ncurohiologia do Xamanisll10
INTRODU~AO: XAMANISMO - VELHAS
Ari f/erlOldo Sell. UFSC 353
E NOVAS PERSPECTIVAS
Xamanisl11o, fenl'>menoque no Brasil econhecido como.e!:
J~.lan9fl'constituiu-se. ao !cllbOdos anos. num desafio para a antro-
.pologia. Desde os primeiros trabalhos etnognificos, os xamas esuas
atividades intcressaram anos. os "civilizados", em funlj:aodas ~
((asmisticas, do comportamcnto caracterizado por~;(tas~,edas prati-
~~~1i1~g.rc:~'.
Por estas caracteristicas fugirem da visao racional e
positiva da ci€ncia, aantf'Jpologia nao proporcionava. ate hapoueo,
os instrumentos ad~qu3dos rara en(ender xamanismo cOIno_llrna
0
forca..c1i!l!!.TI.is;a!n!1Q~J'dca,tuer.oupati-desenvolver modelos te6rieos-
eflcazes para sua comprC'ellsac. Entretallto, os evcntos das ultirnas
e
tres decadas foryaram areconhecer aimportancia do fe~omeno
ilOS
aeriar no'''os model05 para c:ltende-lo.
. Hoje, em conseqiicllcia de movimentos sociais como os
"beatniks" dos alloscillqUcnta (1-luxiey,T954fpassalldopelas.~ti,.
giBesorfentais epela pumpsico!ogia. 0xamanismose beilc-ficfa""dueni-·.
no
novo s-t~tus.,tatlto n}Llndoacademico quanto foradelc.Os"hippies"
seguiram aos "beatniks", co:n set:sacerdote-guia Timothy Leary, e..Q...
usa dos t6xicos comcl(QUa~~espalhar pela c1asscmedia dos Estados
r-
Unidos, daEuropa etambcl'J.doBrasil. Oslivros deC~los Castaneda, aedi9ao especial deAmhic(I Indfgena (1986) eLaughlin, McManus,
(1968,1971,1972, 1977,1981)relatandosuasviagenscornDonJuan, ~d'Aquili (1990)]. A c0ntrihui9uo de Sell neste livro traz a tona as
foram publicados e traduzidos em varios idiomas, ganhando fama preocupac;6es eosinferes~es da areu neurotisio16gica.
entre aqueles que procuravam urna nova visuo, desafiando 0 olbar A antropologii. bmsileira tem uma hist6ria protIcua em mate-
positivodaciencia sobre anatureza darealidade edapercepvao (Zolla,
ria de xamanismo e as pl:syuisas atuais refletem novos paradigmas
1983). Adescoberta das diferentes capacidades entre oslados direito
analfticos. Hauma prodl1~:;il)abundante, l:mbora em publica\oes iso-
e esquerdo do cerebra tornou-se urn t6pico bastante discutido, colo-
ladas, e isto e 0 que motivou a organiza9ao deste livro. No pafs, 0
cando pensamento intuitivo emoposi~aoaopensamento l6gico, como
0 tema em sinao terntido urnenfoque especitico por parte degrupos de
uma m~llleiralegftima deconhecer eexperienciar 0rnundo (Orenstein, ti:i15allio,nem ternsido motivo dcpublicac;6es especfficas. Ainda n~
1972). Livros populares e cursos sobre estado de conseiencia
0 existe uma coietfulea brasibra e as duas coletaneas em portugu&
xamanica (Harner, 1989, p.26) estao na modal, eM urn movimento (Coelho, 1976 e Furst, s.d..)sao tradu.;oes.
de "neo-xamanismo" dcntro de alguns cfrculos terapeuticos. Final-
Urn artigo bras~leiro (Vie11ler)1981) analisa especificamente
luente, em muitos palses da America Latina, acultura popular incor-
o {.,onceito de xarna. A a~.Itora faz um balanl;o dos trabalhos
powu os xamas e suas pnlticas (Luna, 1985; Maues, 1985;Ramirez
etnograticos sobre rcl;giuo l: mngia nas sociedades indfgenas da
de Jara e Pinzon, 1992;Taussig, 1980, 19~7). No Brasil, encontram-
America do SuI, observando os v~lriosnomes utilizados para indicat.'
-sc elementos de xamanisl110nos cultos do Santo Daime e Uniao do
as mediadores entre 0 IDunao hUlmmo e sobrenatural, tais como
Vegetal (Monteiro, 1983, 1985;Alverga, 1984; 1992;Groisman, 1991;
\' "xam~~cl1efe cerimunial, sacerdote, paje, profeta, adivinlio, curador,
neste volume; Couto, 1989; Henman, 1986, MacRae, 1992). Desta
homem-deus, benzedor, medicine-man (Medizinmarm), feiticeiro,
maneira, eles tambcm fazem parte da "nova eonsciencia religiosa" I
" lnedico-feiticeiro" (1981, p.3D5). Viertler aponta para a heteroge-
(Soares, 1990). 0 xamanismo veio para tiear e jamais podera ser
aeidade das teorias e as implkar;oes dos varios nomes empregados
considerado uma reliquia do passado.
para pensar 0tema. Sl;a amilise concluique ha afalta d~!1I1!~on~ito
Estes movimentos sociais estimularam 1!2..y"~~~_guisasJ_@l- suficiefltemente amplo elkxivcl, frentea diversidadedas manifesta-
00e8
hem sabre plantas psicotr6picas (Schultes, 1986;Prince, 1982; Rivier hist6rlcas;cUitur"iiis e&oCiais, dificultando aSsim 0 estudo do
-e E
Litidgren,1972; SiegeCi977). La Barre notou esta tendencia em xamanismo em diferenl(;r. nfveis de abstra9ao. necessario deixar
1969, noprefacio dareedic;:aode suatese dedoutoramento The Peyote explfcito~ os criterios utilizados para identificarXamarusm~·- --.
Cult, de 1938. Hoje, esta interdisciplinaridade continua ganhando
Seriane~ssJrio COlJ\~aracnveredarpelaarduatarefadeum
impu1so. 0 mlrnero de pesquisas e public<\95estern se multiplicado
criteriosobalan~odm,tcoriasligadasaoestudodareligmoedama:,
consideravelmente. Alem disso, aeolaborar,:uoentre pesquisadores de
giaentresociedadestrihais1)rasileirasparaqueasinvestig~oes ~i,.!.
varias disciplinas est! abrindo novas perspectivas [ver,por exemplo,
bliograticas o.utrabalhosdecampofuturospudessemteruma~';'
cussao dinanlizadorapard objetivos comparatbos e interpretativOs
Atualmente existem duas revisla~ dedicadas ao xamanismo: Shaman's Drum, maissofisucados. (V'iertler,1931,p.314-315)
nos Estados Unidos, tlIllIegra!ion, na Alenianha. Shaman's Drum publica arti-
a
gos populartls ecientfficos sobrtl xamas, cstados de extaSe, terapias utilizando Acreditamos queest! celetanea dedicada pesquisa atual possa
"tecnicas xamaniceas", etc. Porem, uma revisao dos artigos leva apensar que 0 dar contribui90es impurcailtes ao "estado da arte": forneceria uma
conceito dexama abrangente dtlmflis,aoincluir qualquerpessoa queexperiencia
urn
estado alterado de consciencia num contcxto ritual. A revista Integration ' mostra representativa dus pesquisas e dos atuais paradigmas utiliza-
a
. ",dedica-se rera~ao--enlrealucin6genos e arte. Tambem nos Estados Unidos, a dos no Brasil, a\em de estimuljr as discussoes sobre 0 tema, dando
Society for the Study o}Consciousness~ fundada ha dez anos, estimula pesqui- a
C infdo tarefa apontada per Viertler.
sas sobre xamanislIlo. alucipogenos eoutras tecnicas de extase.
"marginais" nas suas pdprias sociedades. Fenomenos parecidos se-
No caso do xamanismo, seria arbitrario eartificial escolher s6
riam tamMm descritos em outrus culturas, e ~palavra xama tomou-
etnografias de grupos indfgenas brasileiros. 0 xamamsmo nao c~~
-seuniversal para indkar tai')pcssoas esuus atividades, independen-
nhece fronteiras, nem nacionais, nem tribais: Ao mesmo tempo, re-
te de sua localiza~ao gcvgrark" (Metraux, 1967)0~~~j()ria ~r.-
cOllhecemos que aantropologia no Brasil tein feito importantes con-
deu sua especificidacte, virando U11c1onccito geral eimpreciso, pou-
tribui~6es etnogniticas ete6ricas, eenossa esperan9a que este livro
co--dtilparatills-comparuti vos.
destaque a produc;ao braEileira e estimule esfor90s conjuntos para
aprofundar 0rema. Ao mesmo t0mpo, 0 xama foi associado com as religiGes
animis!~.sJconsideradas rmlgicas (Gennep, 1903), e 0 conceito de
--(."agente magico" setvrnr,u ~in()nimo de xama. Na sua discuss_~osQ.-
Xamas, xamanismo e antropologia: conceitos e teorias _~~S~~P!es l1lag,i,cos,rv'lilus~'(1974, original menteern 1903) resume
uma grande quantidadc dercr::t:rsosetnugniticos que tratam dexamas.
o
objetivo desta in~rodu~ao e a de apresentar um panorama Mauss concorda com ",,[i.Gcnnep, ao dizer que agente nuigico reo:'
0
das teorias antropolcgica..'>sobre xamanisrno c indicar aslinhas ana- prescnta lima catcgoria ~;'Jeinle 4ue ele eem gcral tisicanlentedife-
Utica.."mais atuais, que orientam ostrabalhos aqui apresentados,2 Ao renfedos outros. 0 mJgico expcrienda 0 cxtase, estado que 0 lig_a
a
contnirio do traba1ho de Vkrtler, pretendemos dar menos aten~ao ao rnundo sobrenatural. Elc CdDnode porter rmlgico,que thepermite
defini~ao do xami, e mai" as teorias sobre magia e religHiQ,para \' ~g~~6es ~orn.aIlimais c espirito.), tendo que passar por wn_r~~!?-$
chegar aurnparadigma satisfat6rto de ~amanismo como sist~ma~o- inicia9ao que implica ~'.IIu)rte mfslica cuma mudanc;ade personali-
cio-cultural. Na sua ligar;ao com asteorias sobre niagia ereligHio, a dade. EstIS caracterfslicas parecidas com asdos xamas mas, ape-
S~lJ
pcrspectiva sobre xamanisrno fai freqUentemente fragmentada na sar de nao explicitar 0 porqu~, Mauss consiclcra que sao comuns a
tcntativa detrabalhar com categorias universais, impregnadas depre- todos os magicos, sendo 0 xama s6 mais um tipo de magico (1974,
conceitos. Num sentido, a plst6ria do xamanismo reflete a pr6pria p.65).
hist6ria daautropologia.3 Epor esta perspcctiva que vamos ocientar
Resta, porem, ao 1J.Lltoriadorda religilio, plia~ a tarefa de
-nossa analise.
unificar os varios relatos etnograticos sobre xamanisrno para cons-
truir uma detini9ao mais predsa. Seu trabalho chlssico Shamanism:
o e uma
que urnxami? An;haic Techmqu.es olE'csiasy"(i95 1)eum estudo hist6rico-e
explora9ao das caral:teri'st\cas essenciais e necessaria.."paraidentifi-
A pr6pria palavra xarna vem da lingua siberiana tung~e, e in- a
car 0xamanismo,lpuro~'Central .)uadetini<;aode xama sao ast~
dica 0mediador eiii:ie0mundo humano e mundo dos espiritos. Os
0 l:asde extase, nas quais aa1Glilabandonau corpo, ascendendo ao du
primeiros relatos cxtensos sabre xamas apareceram no seculo passa- o-u'tiiixaiido ao mundo st:b~err;1lleo.·6-transe' xanlanlstico implica
do, escritos por exploradOles, naturalistas eviajantes. Eram !iguras puma rela~ao entre os espfrito<;e x_ama,_que,assum~_Q.pwl de__
0
ex6ticas e"esquisitas". Entravam em extase, faziam voos mfsticos, e
rnediador.·Otlanse do xamu se dbtingue do transe de posse~O\ no
entravam em outros estados de transe. Eram travestis e"histericos", Ii qual 0 individuo e "pos:mfclo" pelo espfrito.4 Dm outio-etemento
c
, essencial, segundo E1iad~, qu~ a aprendizagem e extatica (atrav6s
2 as trabalhos aqui foram inidalmente apresentados noGrupo deTrabalho sobre '--._..
Xamanismo, que &ereuniu no encontro da Associ~ao Brasileira de Antrapolo-
giarealizado emFlorian6polis em abril de 1990. Neste encontro sugeriu aideia 4 Em algumas discusslj~s, ..:st'ldistin<;liokillsid.O-utili:z.i!draara definir adiferen-
"deorganizar 0 livro, eOf,autores posteriormente revisaram seus trabalhos para ~aentre:xama,\: outro~ pIaticantef';como 0'FaLt!o!eOfo. Pesquisas rc:cen~.~_
(;stapublica<;ao. _",", entanto!:mq~irarr~ qUi,; ':n: algur.ds sociedaoes'lnafgenas-olransede possessBo
fai parte do transe xamunf.'licu,
3 Viertler tambem observa esta rcla<;ao(1981, p. 314).
meiro adquire scu~ podere" <Jtravcsde alguma forma de subsHincia
de sonhos, visoes, transe) e tamb~m tradicional (ensino formal de
~~~lca (tabaco, fumuya. prcparar;ues de plaetas psicoatlvas. "etc.)
tccnicas, identiticar;ao de espfritos, genealogms, linguagem secreta,
etc.). a objetivo da aprelldizagem ~acumular poder mfstico para uso enquanto que 0segundo os adquire atraves dovao extatico (Viertler. -':;"'
social e pessoal. Entre os grupos siberianos, a voca<taoxamanfstica 1981, p. 307). ~ctr<Jux rcccinl1eceaimportancla da ar;aotcra¢utica
se manifesta atrav~s deuma crise psic6tica OUde uma doen<;agrave. !!opaje em todaaregiEo sul-alllericana etambCm compara as tecni-
A inicia<;ao inclui a m~rte mfstica e a ressurrei<;ao, testemuDJio de cas compartilhadas entrcJ paje eoxama siberiano. .
uma mudan<;ade "pessoa". Apesar de suas impcrtulltes contribui~oes para 0 estudo das
Eliade se preocupa em identificar a origem do xamanismo e religioes dospovos indigenns, sua discussao sobre 0xama nao escapa
<!euma confusao analftj:;:l ~ntre as categorias de magi<te-iei.fgiai!:.
sua forma maispura. •.p.ara examinar fenomenos semelhantes em ou-
Metraux, como Mauss, fcl impeclidodecriar uma detini<;aoadequada
tras partes do mundo. Segundo sua defini<;aorestrita, 0xama verda-
deiro ellcontra-se s6 na·Siberia e na Asia Central. Existem formas para 0xama ou xatn"nislllo dcvido aesta confusao.
quase puras nas Am~ricas, mas Eliade (1964, p.322) asdescarta como Paralelo as discus;,('l:S suhre a defini~ao do xama, surgiu um
falsos fenomenos"como movimento messiunico da Ghost])an-ce
0 <}ebatea respcito on cs~a~~£s(quico. Apoiando-sc nas crises.
~l'1I
dos fndios norte-americanos, porque falta inicia<;aoc aprendizagem
urn to" psic6ticas, histeria, tran~;ectrave-stismocomo evidcndas desintomas
secreta tradicional. Este se cOllstitui fenomeno paraleio, dlstlrito psic6ticos, alguns cstudiflSOSalirmam q~IC,univcrsalmcnte, osxamas
do xamanismo, mas que, ao mesmo tempo, preserva as tecnicas de ~a:(1psicq1jCQs(Nadel, 1946; Wallace, 1966, p.145-163; Gillen, 1948;
extase e ideologia essenciais. Silverman, 1967).9utro>; argllment~ooposto, que apersonalidade
~. ~amfulica eo resultadl) daint)ucnc~a.9a"cultUii nela, assinalando que
Sem negar as contribui<tces da"obra de Eliade, seus esfor<;os
nao produziram um paradigma fruti'fero, pois ele preocupou-seq~- uma das diferen<;aser.tre xar:las epsic6ticos ~01'atode osprimeiros
\.-~ais com 0xama enquanto in~ivf~ deixando em segundo plaJ;lO0 contro!~~ ~~~sJases dehisteda edetranse, 0que HaOacontece com
. papel soci~ exercido por este, alein <Jecaracterizar 0xamanismo pueo ospSlC6ticos (Noll. 1933; Kcnnedy,19'i3; Schweder, 1979). Uma
como 0que possui mais crUerios "arcaicos". a aular ignora 0contex- I,> ~e!~.e~r~"~i.s"a~_ap~~ceem anos mais recentes, apartir de vfuiasbio-
gratias de xamas. Estus demol1stram que-;-eillmuitos casos, osxamas
tosocial ecultural dofenomeno, naoreconhecendo noxamanismo urn
fenomeno globalizante e ciinfunico(Chaumeil, 1983). Assim, apers- s~~perS9_11<l11c1~~esil)()yaJo(rSash_aron, 1978; apler, 1969; Mitchell:
i:'
pectiva desta coleHineaeresgatar esta discussao, ignorada por Eliade. 1978; Romano, 1965; Dcpkir! d~ Rios, 1992); e tanlbem fomeccm'
, as / -~ I;)" !!10ct~.l.o~s~.!i~~~~~l~~para tnrJvimentos messifulicos (Wright, 1981.
Com referencia ;;ulturas daAmerica do SuI,MetraU)((1941,
a :)1992, neste IiVIO). a debate contliiuae -acreditanlosque eimposs(y.c~ft:..
1944) tem urna a.!J~rdagelnliist6iicap(lfecida com de"Ellade, embo- jX#:;'
" \ detr-rminar se toctos03 xarL.iis possuem urn tipo determinado de
ra demonstrando uma preocupa<taomaior com amagia eareligHlo. a sonalidade. Entretanto, ~ impCJssivd ignorar qu~.o x~!p<2ss\!i uin
xamanismo etratado como um complexo detru<;os;expandiiido-se a
papel social positivo, sern cstigma e construfdo culturalmente. As
partir deum centro, adaptando-se emoditicando-se atrav~s do tempo
marufest~5es xamaru:sLc•~. fcnnam parte de um padrao 16gico de
edo espa<to(Metraux, 1944). Metraux sugere autiIiza<;aodo concei-
representa<toes dentro de uma determinada cultura, onde a voc~ao
.'.\ .!Odepiai (jaje')! das lfnguas Tllpi e Caribe, para falar do xama sui-
~ndividu'l1da pessoa esta ~Ieacordo com pap~l pn~visto~-Tamb~m.·
0
-americano. Ele caracteriza papel do xama como sendo magico-
0 \~orr!overemos naRculturas ctiscutidas neste liveo, as caraterfsticas
-reIigioso, com oselementos magicos dominando osreIigiosos. Con-
"psic6ticas" da voca<taox,m{in.ka rJramente fazcm parte das mani-
trasta 0 xama sul-americano com 0 siberiano, apontando que opri- fest:1<toesxamarusticas na America do SuI.Como Mctraux observou,
Enquanto adiscussfu.\sobre aideologia dos sistemas xamanicos
os xamas sul-americanos em geral adquirem seus poderes atrave-o;da
ingestao de substanc:.as ououtros niecanismos empregados na apren- . encaixou-se no campo Jfcligioso, os'muai~ foram analisados COl1l()
~ .: • ,',c(.- .-.,
atos magicos. 0 primeiro gue tratou sistematicamente da magia foi
dizagem, ~nao atraves de "crises psic6ticas".
e
James Frazer (1890). A rnagia, segundo elc, scparada da religilio
Voltamos agora para as teorias sobre magia ereligHioque tem :I'~
porque,' em vez de sel"HIllritual de adura~lio, compreende pn1ticas.
dificultado e fragmentada cntendimento de xamanismo.
0 visando alterar os eventos.Frazer chamou a magia de .uma ,I'. ..
"p~eudocienc~~", em que 0primitivo, embora demonstre um ~nsa:- J,
"~~4~".
m6nto16iicO,'tem lIma percepc;:ao Guiado por sua 16glca; 0
liomem primitivo delxa deverque amagia nliofunciona. Sua 16gica,
Na epoca em que o~relatos sobre os xamas siberianos come-
~aram atornar-se conhecidos no Ocidente, a ailtiopologiifoi domi- baseada nas leis da s\mpatia, 0 conduZ a executar atos tecnicos'que
naclapelas teorias doevolucionismo, desenvolvidas por Frazer, Maine, procuram alterar 0ml'.fidoeque, na rea1idade, saG"ineficazes" ..
Morgan, Tylor e outros, s~ndo que as discussoes te6ricas sobre 0 Entlm, nesta pcr3pectiva 0 homem primitivo e considerado
xamanismo foram pautadas rc1as indagac;oes intclcctuais ciacpoca urn cego, mctivado p(lr medos, atuando de forma "illetlcaz", basea-
sobre religHio e magia. 0 xamanismo foi visto como uma sobrevi- do em teorias "erradas" 01.< habitos.5 Segundo ele, na evolu~ao da
vencia de tempos arcaicos. num momento em que aquestao das ori- mentalidade humana. a ciellda "verdadeira" suplantara amagia.
gens da cultura humana dominava estes debates. Relacionada aspre-
ocupa~oes sobre as Oligens e as sobrevivencias, estava a qucsUlo da
mentalidade primitiva. Considerava-se que a inteligcncia humana
evoluiria junto com acultura. Com 0 come~o do seculo vinte, a teoria unilinear do
evolllcionismo foirejeit:illa por seu etnocentrismo epefa'ralta depro-
o
xamanismo, como sistema ideologico, representava para eles
vas para se distinglrlr estagios gerais no progresso da culturae da
aforma mais primitiva dereligiiio, aquela designada por Tylor como E tOOoas
inteligencia. importante destacar que as implic~oes destas
animismo (Tylor, 1871). A ideologia xamanica inclui a crenc;a em
sabre religiao e magia lev<lram a uma compreensoo.,incorretado
'(almas, tanto de objetos inanimados eanimais, quanto de seres buma-
xamanismo. AIem dos preconccitoJ subre 0"primitivo" queesw~};\.· .
nos. Segundo esta visiio,0xamanismo seria uma sobrevivencia "ar- riaspressupoem cda SUPOSl~aodeque 0xamanismo iria extingUk~s~e;oi;:",'
caica" da religiao primitiva eda mentalidade das culturas mais "bai-
~~~l!lt~Q_~~!!'~id..eologiil e rh() ~.IEpo~~jQi1itQ:\U\.Q.O...mpree~i,9:
xas", dcstinadas aserem substituidas pelas mais "avanctadas". Natu- x..R._..mH. a_r_u.smo',,c'.o'.m...o send(Jum cOfi.lp:J~?Ccoultural." ,;..,..;' ,)<,1,1:.
ralmcnte havia os que nau concordavam com Tylor, que vi~ a ori- .·,"r."h_•....••".".•"."'"•".'".•.'•• .._,r, ",)~':~.!" t,f!.
Embora Di\otenha sidournevolucionista, QUr~ coni; ','.'.,,,
gem das ideias sobre a alma eoscspfritos nos seres vistos nos sonhos
procurando as origens da religioo em Les fonnes elementai~,de'
enos pensamentos sobre amorte. Robert Maf<?tt(1900, p.l5) procu-
la vie religieuse: Iesysteme totemique enAustralie (1912). Neste
rou as origens da religiao no "~edo ou paSmo" que 0 ser primitivo
tern d.anatureza. Wilhelm Schmidt (1931), por sua vez, opinava que trabalho, ele atirma que 0pensamento religioso surgiu da estrutura
social, e que os ritO!)r~ligiosos mantem aordem da sociedade. Uma
areligiao primitiva era uma laona degencrada de uma manifestavao
mais alta de monotefsmo. Em todo caso, estas teorias dcrivavam de
5 Tais Ideias nao desapan:ceraID facilmente e tomaram-se parte do pensamento
preconceitos sobre 0homem "primitivo", que seria irracional, domi- antropo16gico sohre meciicbaprimitivapor algum tempo. Veja Ackerknect
nado pela cren~a em espiritos e pelo "medo e pasmo". (1942a,b) como exemplo co.•tJahalhcs realizados nos anos 40, demonstrando
tais opinioes.