Table Of ContentVOTO OFENSIVO
1
VOTO OFENSIVO
RAPHAËL LIMA
2
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................. 4
O QUE LEGITIMA O ESTADO .............................................. 10
ESTRATÉGIAS POLÍTICAS ................................................... 28
ABSTENÇÃO ............................................................................... 28
DIRETAS E INDIRETAS ......................................................... 32
AS BASES LIBERTÁRIAS ...................................................... 38
A EDUCAÇÃO ............................................................................. 38
O TRABALHISMO ..................................................................... 49
O EMPRESARIADO E O EMPREENDEDOR .................... 54
A CARIDADE .............................................................................. 57
CANDIDATURAS LIBERTÁRIAS – METODOLOGIA E
MENSAGEM ............................................................................... 61
O FREE STATE PROJECT ...................................................... 74
A VITÓRIA FINAL – CONSIDERAÇÕES FINAIS ........... 77
3
INTRODUÇÃO
Sejamos francos: a política estatal é um
empreendimento nojento. Atualmente todos os
dias políticos de todos os partidos se reúnem em
suas câmaras para decidir o que será feito da vida
das outras pessoas, quanto dinheiro delas será
tomado, e em que será gasto. Em todos os anos
eleitorais vemos promessas de mudanças, mas isto
inevitavelmente resulta em mais roubo da
propriedade dos eleitores, maior enriquecimento
da classe política e seus amigos e mais
deterioração da sociedade humana na direção do
planejamento completo da ação humana. O
sistema político é complexo, com seus vários
poderes, câmaras e leis, transformando-se em uma
máquina onde nada é feito sem que um bando de
outros políticos esteja de acordo, o que
naturalmente causa acordos repulsivos,
capitulações ideológicas e uma corrida na direção
do medíocre, do complexo e do inútil.
Não surpreende que isto tenha inspirado o
Agorismo de Konkin, que propõe como resposta a
tirania estatal o uso de ações contra-econômicas,
ações que não colaboram com o estado, não o
sustenta e não usam sua estrutura, ações de livre
comércio e cooperação numa sociedade comercial
libertária e pacífica, com seus próprios sistemas de
proteção a propriedade e resolução de disputas, a
Agora. Abandone-se o estado e vamos ao mercado.
Se queremos uma sociedade livre, vamos viver
nela desde já. Onde o estado atrapalha e rouba,
4
criando muros, estruturas devem ser criadas para
o comércio e a colaboração, fornecendo uma
escada.
É difícil imaginar como esta proposta deve
ter soado em 1980, quando computadores tinham
menos poder de computação do que uma batata, a
União Soviética ainda era uma ameaça, a África
estava coberta em guerras civis fomentadas por
partidos comunistas e a américa latina estava
coberta de ditaduras militares. É triste que Konkin
não tenha vivido para ver o que a era digital nos
trouxe.
Hoje podemos trabalhar muito mais livres
das amarras do estado via aplicativos de todos os
tipos, o que tem trazido grande dor de cabeça para
governos pelo mundo todo. Podemos
comercializar com milhões em segundos usando
uma enorme gama de sites de comércio que
exigem praticamente nenhuma burocracia, o que
criou toda uma economia informal viva e forte, que
por sua vez barateou muito o custo de
mercadorias de vários tipos, contribuindo para a
qualidade de vida de seus clientes. Podemos
transmitir informação a custo quase negligenciável
via internet e nela criar veículos de mídia e
educação independentes da sanção, fiscalização e
censura do estado, o que deu luz a uma mídia
inteira paralela a mídia regulamentada pelo estado
e um sistema de educação inteiro paralelo ao
estado. Uma criptomoeda nova chamada Ethereum
permite inclusive a elaboração de contratos
automáticos dentro de uma rede digital
descentralizada e um país já foi fundado dentro
dela, a Bitnation. Tudo isso teria soado como a
5
mais pura loucura 20 anos atrás, mas hoje é uma
realidade. As implicações e futuras evoluções
destes sistemas são imensas, basta ver que estas
possibilidades surgiram anos após a publicação do
Novo Manifesto Libertário de Konkin e adicionar a
isto o que podemos ter daqui mais 36 anos.
Mas o estado ainda existe. A política ainda
existe, os políticos ainda existem. O estado
apanhou, mas também aprendeu e começou a usar
estas ferramentas digitais para reforçar seu
domínio sobre a população. O conflito entre o
estado e a humanidade ainda existe, o que ocorreu
foi uma escalada na complexidade das armas.
A tecnologia é uma fantástica porta de
combate contra o estado e sua pilhagem, e
certamente é uma ferramenta muito bem vinda
dado que apenas algumas décadas atrás o único
jeito imaginável de afetar ou combater o estado
era operar dentro de sua estrutura, uma
proposição demorada, complexa, nojenta e
enfadonha. O Agorismo teve a visão de uma nova
alternativa e tática, mas seu ponto problemático
do Agorismo é sua completa rejeição da política
partidária, da atuação dentro do estado e da
participação em eleições via voto. O motivo dado
por Konkin é, acima de tudo, que esta participação
legitima o estado perante os outros e compromete
a pureza da ideia libertária de não agressão e de
uma sociedade livre e horizontal.
Entendo, e eu mesmo já fui publicamente
um grande defensor deste argumento. No ciclo de
eleições de 2016 busquei examinar a teoria
política libertária, a aplicação da política e as
implicações morais disso, no intuito de sepultar
6
totalmente qualquer ideia de participação
libertária na política. E nisso descobri que estava
errado. Acontece, e é bom.
Não há duvida alguma que a política
partidária e estatal como feita hoje é um pântano
de imoralidade, corrupção, agressão e decadência
humana, porém a participação neste ambiente por
parte dos libertários não é necessariamente
imoral, nem legitima o estado. Embora a
participação da política, das eleições e a eventual
operação dentro da estrutura do estado sejam
ferramentas antiquadas e ineficientes, são mais
uma das ferramentas que o libertário dispõe. Se
são moralmente aceitáveis, embora indesejáveis,
não podemos descarta-la sem um exame mais
completo. Precisamos aprender com o erro dos
que riram da proposta de Konkin 36 anos atrás,
risos que o tempo transformou em silêncio, e
perceber que hoje não podemos rir da política, já
que pequenas ações estão calando críticos. Konkin
viu o potencial do desenvolvimento tecnológico
para a defesa contra a crescente invasão estatal,
mas infelizmente não viu como estas mesmas
ferramentas poderiam ser usadas para a invasão
da estrutura estatal, e obviamente não poderia ver
esta aplicação no sistema brasileiro. Os tempos
mudaram, as regras mudaram, as armas mudaram,
e precisamos nos adaptar.
Possivelmente o maior defeito da teoria
política atual é que foi praticamente toda escrita
por defensores do estado, embora de formas
diferentes de estado, e por isso é tão repugnante.
Avanços na teoria política libertária foram feitos
por alguns importantíssimos pensadores, porém a
7
enorme maioria estava confinada ao sistema
político americano, e antes da era digital. A lista é
longa, mas vem desde Jefferson até Rothbard,
embora atualmente poucos pensadores se
devotem em grande peso a estas questões.
Mais escassa ainda é qualquer literatura
sobre como a atuação política libertária pode ser
posta em prática, e a literatura existente é
predominantemente americana, tendo pouca
aplicação direta ao sistema eleitoral e político
brasileiro. Este é em minha opinião o problema
mais grave que o libertarianismo enfrenta hoje no
campo teórico, e também na transformação de
teoria em prática. Um grande fator que também faz
falta é a experimentação e a observação. Como
praticamente não existe ação política liberal no
Brasil e a ação libertária está em seus primeiros
arrastos antes do engatinhar, falta experiência e
método para inspirar teorias. Em português claro:
praticamente não temos ideia do que fazer.
Disso resulta que a maioria dos
movimentos e grupos liberais e libertários estão
ou tentando praticamente tudo que é possível
tentar ou copiando metodologias bem sucedidas já
empregadas pela esquerda, e onde não encontram
sucesso, encontram aprendizados.
A resposta a este cenário não é abandonar
o empreendimento político como um todo, mas
sim começar os primeiros experimentos e
aprender com o tempo, experiência e erros. Não é
razoável esperar acertos e sucessos imediatos e
definitivos, e sim esperar erros, aprendizados e
aceitar que algumas fortes trapalhadas podem
acontecer no processo. O movimento libertário
8
está enfrentando uma das estruturas mais
profundamente enraizadas na mente e na práxis
humana, o estado. Não devemos esperar uma
batalha curta nem fácil.
Em suma, uma teoria política libertária
para o Brasil no século 21 se faz necessária.
Pretendo demonstrar que a atuação
política não é uma legitimação do estado, assim
com o voto não é uma legitimação e em verdade
significa absolutamente nada, e para isso preciso
examinar o que realmente legitima a estrutura
estatal.
Mapeados estes, vamos a como o
movimento libertário já está se infiltrando nas
bases de legitimação do estado, por que isto é
importante e como pode ser utilizado para uma
amplificação da mensagem libertária, culminando
com a necessária candidatura de libertários para
cargos dentro do estado e um ensaio sobre a forma
destas candidaturas.
9