Viagem ao Além: A vida depois da morte

108 Pages·1988·0.62 MB·Portuguese

by  David R. Wheeler

PORTAS DO CONHECIMENTO

VIAGEM AO ALÉM
A VIDA DEPOIS DA MORTE
DAVID R. WHEELER

VIAGEM AO ALÉM
A VIDA DEPOIS DA MORTE

PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA
ÍNDICE

1 — Um Vislumbre Pessoal do Além
2 — A Viagem de um Homem ao Além
3 — As Alterações Profundas
4 — Visões da Morte
5 — Uma Conversa com Deus
6 — Ruas de Ouro e Portões de Pérolas
7 — O Outro Corpo

8 — O Testemunho de uma Alma
9 — Os Crentes

10 — O Lugar Perfeito
11 — Em Busca do Além
12 — A Experiência Religiosa
13 — O Além Existe?

14 — A Alegria da Morte
15 — O Mundo dos Espíritos
16 — O Além
1. UM VISLUMBRE PESSOAL DO ALÉM

Morri por momentos. O meu encontro com a morte foi breve e
extraordinariamente agradável. A minha experiência com o outro lado da vida
teve um tal impato em mim, que decorridos vinte anos, ainda me lembro dela
como se fosse hoje.
Há vinte anos atrás, meus pais levaram-me de visita aos meus avós, que
moravam na zona florestal do norte da Luisiana. Aí, contraí uma pneumonia e
tive de ser levado para um hospital em Shreveport. Na altura do internamento
tinha febre muito alta e respirava com dificuldade. Depois de ter estado
hospitalizado vários dias estava fraco, quase à beira da morte.
A certa altura apercebi-me de que ia morrer. A percepção que tinha do
mundo em redor alterou-se. O quarto do hospital, de paredes claras e cheio de
sol, tornou-se escuro, parecendo apenas iluminado pelas brasas mortiças de um
fogão invisível. Os objetos no quarto não passavam de meras sombras da sua
matéria inicial. A cama, os lençóis e a mesa de cabeceira a poucos centímetros
da minha cabeça, pareciam pintados de um tom vermelho alaranjado.
Ouvia apenas uns sussurros, mas não tinha a certeza se esses sons seriam
fruto da minha imaginação ou o murmúrio de espíritos que ali estivessem perto.
A minha consciência foi-se obscurecendo e o mundo que me rodeava
transformou-se num túnel de paredes que refletiam uma luz vermelho-
alaranjada. Era um túnel quente e acolhedor. Sentia-me como se estivesse a olhar
para o brilho do fogão de um abrigo de montanha numa estância de ski, depois
de ter passado o dia inteiro lá fora, ao frio. O fogo atrai-nos e faz-nos sentir
seguros.
Enquanto jazia na cama do hospital, o quarto tornou-se mais escuro e o túnel
prolongou-se. Os ruídos e as vozes em redor foram-se desvanecendo; já nem
sequer ouvia o meu próprio arfar. De repente, senti um grande bem estar.
Depois, percebi que algo se transformara dentro de mim. Nunca me acontecera
nada de semelhante até então, nem voltou a acontecer. Mas lembro-me muito
bem de tudo.
Senti que me afastava do meu corpo. Dei-me conta de uma nítida separação
em relação a ele. Nada daquilo se assemelhava a um sonho, nem se tratava de
uma alucinação. Sabia apenas intuitivamente que uma parte do meu ser se
afastava da outra. Não estava assustado. Era uma sensação agradável. Comecei a
flutuar um pouco acima do meu corpo.
As sombras no outro extremo do túnel falavam, mas eu mal conseguia ouvir
os seus murmúrios. As vozes diziam: «Como é que ele está?» Pouco me
importava que falassem de mim. Só me apetecia ir embora.
Perdi a noção do tempo. A aflição que antes sentira para conseguir respirar,
foi substituída por uma total inconsciência a esse respeito. Já não precisava de
ar.
Continuei a ver várias sombras movendo-se devagar na extremidade do túnel
e consegui ouvir parte do que diziam.
«Como é que ele está?»
«Está com mau aspecto.»
Deixei de me interessar pela conversa e pelo mundo físico. Apercebi-me
então de uma mudança que me trazia bem estar. Não se tratava de um sonho,
nem perdi a consciência. Tudo à minha volta mudava de perspectiva. Em vez de
confiar nos meus sentidos para recolher as informações do mundo circundante,
passei eu a fazer parte do mundo. Liberto de quaisquer percepções físicas,
simplesmente conhecia e percebia tudo o que se passava em redor. Sabia que
estava a morrer e não tinha medo.
O abandono total do meu espírito soltando-se do corpo físico deu-se sem
qualquer surpresa. Foi agradável — muito estranho, mas aceitei isso
perfeitamente. Era como se sempre tivesse sabido que este processo era possível
e que, quando isso aconteceu realmente, a vida e o depois deixaram de ter
segredos para mim. Tomei-me simultaneamente uma parte integrante e um
observador. Passei a ser uma forma sem substância palpável. Sem olhar para
baixo, dali onde me encontrava, sabia que o meu corpo jazia na cama do
hospital.
Tive um vislumbre transcendental de uma outra existência. E depois voltei.
A chama bruxuleante que parecia estar a conduzir-me, extinguiu-se
subitamente. Reconheci as pessoas que se encontravam à volta da minha cama a
discutir o meu estado. Uma das vozes pertencia ao meu médico e a outra,
chorosa, era a da minha mãe. Quis de novo viver, regressei ao meu corpo e pedi-
lhes: «Dão-me um copo de água?» A minha efêmera viagem ao Além terminara.
Muita gente tem tido reações profundamente emocionais a experiências de
morte semelhantes a esta. Algumas pessoas tomaram-se profundamente
religiosas. Quanto a mim, tornei-me num observador interessado e num
estudioso da «tanatologia», que inclui o estudo dos relatos de pessoas que
estiveram clinicamente mortas e que depois ressuscitaram.
Ao longo das nossas existências, acontecem-nos coisas dentro de
determinados contextos, que nos levam a colorir a visão que temos dos
acontecimentos que ocorrem à nossa volta e a dar forma ao nosso
comportamento perante a vida. Essas reações comportamentais podem incidir
sobre um simples acontecimento — o sorriso fugaz de um estranho — ou algo
mais complexo — a morte de alguém que amamos.
Os acontecimentos importantes das nossas vidas nem sempre permanecem
na nossa consciência, podem ficar lá no fundo, armazenados nas camadas do
subconsciente. Como se fossem mãos, guiando-nos suavemente, os pensamentos
subconscientes podem canalizar as nossas ideias e percepções.
Não foi senão depois de começar a ler e a ouvir histórias de outras pessoas
que tinham passado por experiências semelhantes à minha que conclui ter havido
algo realmente muito significativo na minha experiência de voar para fora do
meu corpo.
A minha visão do Além foi também influenciada por um artigo do Reader’s
Digest, onde se descrevia as experiências de um homem que estivera morto
durante vinte e três minutos e depois ressuscitara. O que me fascinou nessa
história foi o que aí encontrei de semelhante àquilo por que eu passara. O artigo
de Victor Solow, Morri às 10 e 52 da manhã, é um relato comovedor da visão
que um homem teve do Além e fiquei satisfeito por ter conseguido entrevistá-lo
para este livro.
No dia 25 de Abril de 1976, o New York Times publicou um artigo
intitulado Acesso à Vida Depois da Morte, escrito por Tom Ferrell e Donald
Johnston. Dizia-se aí que as investigações de eminentes cientistas haviam
conduzido a «...intrigantes possibilidades referentes a assuntos, tais como a
definição clínica de morte e certas dúvidas sobre se a natureza da experiência da
morte faz parte deste mundo ou do outro.»
O artigo do New York Times veio afastar o véu de embaraço que parecia
cobrir a minha curiosidade acerca da experiência que eu vivera. Ao conversar
com outras pessoas que também se tinham sentido a flutuar fora do corpo, que
tinham vivido a sensação de estar num túnel e que se haviam sentido felizes por
estar mortas, fui levado a pensar que a minha visão do Além era mais do que
uma mera alucinação ou do que uma perturbação mental passageira. Depois de
ter entrevistado muitas pessoas, que sofreram morte clínica e passaram por
experiências como a minha, acredito agora que o meu espírito transcendeu, de
fato, o meu corpo físico durante um breve espaço de tempo. Sei que morri e tive
um vislumbre do Além.
O Dr. Raymond A. Moody, um psiquiatra clínico, passou cinco anos a
entrevistar doentes que tiveram morte clínica e ressuscitaram, tendo depois
escrito um livro acerca do assunto, intitulado Vida Depois da Vida. O Dr.
Moody acabou por acreditar na sobrevivência do espírito depois da morte do
corpo humano. O mesmo psiquiatra participou num programa noturno de rádio
da estação WOR da cidade de Nova
Iorque no dia 20 de Maio de 1976 e descreveu alguns aspectos do outro
mundo que lhe haviam sido referidos pelos seus doentes. Moody assinalou uma
questão importante que muitas pessoas haviam referido ao descreverem as suas
experiências: «As palavras são apenas vagas analogias do que sentiram quando
estiveram mortos. Tiveram uma enorme dificuldade em descrever ‘os contornos
e a forma’ dos seus espíritos.» Quase todos os seus doentes tiveram pena de
terem sido trazidos novamente para a vida. A morte era uma condição muito
melhor.
Um dos doentes do Dr. Moody descreveu a infelicidade que sentiu ao
regressar à vida: «Quando regressei fartei-me de chorar durante uma semana por
ter voltado a este mundo. Depois de conhecer aquele já não queria voltar.»
É difícil escrever acerca da morte. Geralmente não ficamos a saber muito
sobre a experiência da pessoa que morreu. Assim, a maior parte das discussões
giram, pelo contrário, em tomo da experiência que cada um tem da lamentação
fúnebre. É o caso da obra de D. H. Lawrence, Filhos e Amantes. Numa cena, um
personagem está transtornado com a morte da mãe e o leitor é convidado a
identificar-se com os seus sentimentos, enquanto se lamenta.
Jazia como uma donzela adormecida ... Ele debruçou-se sobre ela... Voltara a
ser uma jovem... Ia acordar. Iria abrir as pálpebras. Não o tinha deixado.
Curvou-se e beijou-a apaixonadamente. Mas a sua boca estava tão fria.
Mordeu o lábio horrorizado. Olhando para ela, sentiu que nunca, nunca poderia
deixá-la partir. Não! Afastou-lhe o cabelo da testa. Também estava fria. Viu
aquela boca tão muda e estranha perante a dor. Curvou-se mais ainda e
segredou-lhe: «Mãe, mãe!»
Continuava junto dela quando os cangalheiros vieram buscá-la, rapazes
novos com quem ele andara na escola.
Nesta evocação da morte apenas é referida a dor do filho.
Muitas pessoas sentem um medo horrível de enfrentar a morte. Outras
consideram ainda pior o fato de terem de morrer sem saber o que as espera do
Outro Lado — ou sem terem sequer a certeza se alguma coisa ali existirá.
Uma forma de aprendermos algo acerca do Além é fazermos nós próprios a
viagem e observarmos o Outro Lado em primeira mão. Alguns é exatamente o
que fazem — suicidam-se. A percentagem de suicídios nos E.U.A. em 1973 era
de 12 mortes por 100 000 pessoas. Nesse ano registaram-se 24 440 casos de
suicídio. Provavelmente este número não indica de uma forma preciosa a
quantidade de pessoas que, em última análise, se mataram a si próprias. Uma
parte do milhão e tal de indivíduos que morrem de doenças cardíacas, comeram
e fumaram até morrer. Muitos dos acidentes de viação refletem as tendências
suicidas das vítimas que iam a guiar demasiado depressa ou que beberam a
ponto de provocar a sua própria morte. Assim, existe de fato uma grande ânsia
da parte de algumas pessoas infelizes em ver o que está escondido do Outro
Lado.
Este livro é apenas uma pequena espreitadela para lá da negra e pesada
cortina que envolve a morte, para a qual geralmente se entra por uma porta com
um só sentido e não através de uma porta giratória, como foi o meu caso. Vivi
realmente uma experiência da morte e conversei com outras pessoas que
passaram por experiências semelhantes. Estudei os depoimentos de indivíduos
com ideias acerca daquilo que poderemos encontrar no Além. Conversei com
chefes religiosos e com cientistas que têm algo importante a dizer sobre o mundo
do Além. E todos nós partilhamos da mesma opinião — parece haver qualquer
coisa do Outro Lado!
2. A VIAGEM DE UM HOMEM AO ALÉM

Há pessoas que têm apresentado relatos fascinantes da continuação da sua
existência na outra vida, onde parece dar-se como que uma transformação
espiritual e um reacordar da alma humana.
Victor Solow foi acometido de um ataque cardíaco quando ele e a mulher
estavam parados num semáforo. O seu coração estacou e ele deixou de respirar.
Ao vê-lo ficar roxo, a mulher correu em busca de auxílio. O tempo era essencial
para a sua sobrevivência.
Nos seres humanos a falta de oxigenação do sangue durante dez segundos
leva à perda dos sentidos e em apenas trinta segundos cessa a atividade eléctrica
do córtex. Depois, se o oxigénio tão necessário não for conduzido às células
cerebrais dentro de três a cinco minutos, o cérebro ficará afetado de forma
irreversível.
É claro que há inúmeros casos de doentes mortos «clinicamente» que voltam
a viver após a paragem das suas atividades cardíacas e respiratórias. Geralmente
isto só é possível quando a vítima tem a felicidade de estar perto de um centro de
emergência ou de uma unidade de cuidados intensivos de um hospital, de modo
que as técnicas e o equipamento de reanimação possam ser imediatamente
utilizados.
Victor Solow passou por uma experiência de morte «clínica» que durou vinte
e três minutos. Não respirava e o seu coração já não batia. Deixara de viver.
Solow encontrava-se a quilómetros de distância do hospital mais próximo, mas a
escassos segundos dele achava-se um oficial da polícia, uma equipa de
socorrismo e um aparelho de reanimação munido de oxigénio. Três minutos após
a paragem cardíaca Solow foi submetido a uma reanimação cardiopulmonar.
Embora tivesse permanecido clinicamente morto durante vinte e três minutos, o
seu cérebro ia recebendo oxigénio através dos impulsos mecânicos externos da
massagem cardíaca.
Victor Solow estava morto quando chegou ao hospital. Não tinha pulsação,
não respirava, não apresentava sinais vitais de qualquer espécie. Antes de voltar
a si foi necessário aplicarem-lhe eletrochoques por diversas vezes.
Mas durante vários dias após o acidente Victor Solow parecia não conseguir
integrar o seu espírito no corpo. Aquele continuava a querer saltar cá para fora.
Os especialistas chamaram a isto «amnésia retrógrada» .
Finalmente Victor Solow acabou por fazer a fusão consigo próprio.