UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Zama Caixeta Nascentes

MAGIA, RELIGIÃO E CIÊNCIA EM CORPO DE BAILE: sua unidade e sua
relação com os romances de Jorge Amado e José Lins do Rego

Tese de Doutoramento em Letras.
Área de Concentração: Estudos Literários.
Orientador: Prof. Dr. Luís Bueno.

Curitiba, 2013

Os católicos romanos tinham figuras que eles adoravam. Havia bem perto da casa de
Edna uma família de católicos romanos. Falava-se dos bonecos que eles guardavam no
santuário, santas de cabelos até a cintura, santos barbados, anjos, e um Jesus Cristo na
cruz. Os parentes de Edna diziam que aquilo não passava de superstição, ignorância,
coisa de gente selvagem; só os pretos da África e os índios da América adoravam
pedaços de pau e pedra. (José Lins do Rego, Riacho Doce).

São-josés: são ninfáceas brancas, liliformes as flores. Chama-se também lírio de São
José. Parece-me que é o mesmo vegetal chamado baronesa (aparece nos livros de José
Lins do Rego). (Guimarães Rosa, carta de 11/10/1963 ao tradutor italiano)

A revolução chama Pedro Bala como Deus chamava Pirulito nas noites do trapiche. (...)
Ajudar a mudar o destino de todos os pobres. Uma voz que atravessa a cidade, que
parece vir dos atabaques, que ressoam nas macumbas da religião ilegal dos negros.
(Jorge Amado, Capitães da areia)

Amado é um sonhador, e sem dúvida alguma um ideólogo, mas adota a ideologia do
conto de fadas com suas normas de justiça e expiação. Amado é um menino que ainda
crê no Bem, na vitória do Bem; defende a ideologia menos ideológica e mais amável
que já conheci. (...) Amado vai dando pinceladas a mais não poder, e certamente quer
mandar ao diabo muitas coisas, mas o faz de forma tão encantadora, que nos convence
com maior razão. (Guimarães Rosa, entrevista a Günter Lorenz)

– O feitiço ela fez na cama – riu um mulato. (Jorge Amado, Jubiabá)

Lalinha, leve e breve se desassossegou. Todos, unidos como de há muito, voltavam-se
para ela, tencionavam submetê-la a um ritual de encantamento, a um manejo de forças
estranhas. Para isso tinham feito vir essa Dô-Nhã. (Guimarães Rosa, “Buriti”)

No sertão (...) a magia é inseparável de todos os aspectos da vida.
(Guimarães Rosa, carta de 19/11/1963 ao tradutor italiano)
Ao meu pai, José, homem da enxada e do machado e que me legou o gosto pelos livros.
À minha mãe, Madalena, feminino primordial cuja sabedoria levou-a a reunir em si
firmeza de mando e fineza de afeto na educação dos filhos.
À minha esposa, Nilce, cujos encantos enfeitiçam-me mais e sempre tornando mágica a
convivência conjugal.
Aos meus irmãos, importantes para os meus estudos, bancando isso quando os recursos
financeiros eram minguados e, depois de “formado”, fazendo-me apear dos livros e dos
saberes científicos e vivenciar as tradições mágicas e religiosas conhecidas da família.
Aos meus dezesseis sobrinhos mineiros e aos seis cariocas: que possam viver num
mundo em que a religião do outro não seja considerada coisa do capeta e a ciência não
gaste suas forças combatendo a magia.
Agradecimentos

Ao meu orientador, Luís Bueno, por ter-me despertado do sonho dogmático em que
vivia com a obra do Rosa, insulada numa ilha de excelência literária.

A Raquel Bueno, por apresentar-me o Mário de Andrade etnógrafo e folclorista de O
turista aprendiz, o que me fez turistar com mais demora pela antropologia e psicologia
estudadas pelo autor.

A Marilene Weinhardt e Raquel Bueno, pela leitura atenta do texto e pelas valiosas
sugestões feitas no Exame de Qualificação.

Aos meus colegas de Doutorado, Ewerton e Noemi, pelas intermináveis conversas sobre
os problemas metodológicos e epistemológicos da pesquisa em Estudos Literários e pela
paciência em escutar-me nos meus impasses quanto ao caminho a ser tomado para a
estruturação da tese.

Aos meus alunos da UTFPR, com os quais dividi o gosto por Guimarães ao ensinar
Literatura no Técnico Integrado nos anos de 1996 a 1998, no Médio, de 1998 a 2006, e
na Licenciatura em Letras, a partir de 2008. A acolhida de vocês ao Rosa mostra que
formação de leitor não é nonada e que o professor forma-se leitor com seus alunos.
Sumário

Introdução 01
I- Magia, religião e ciência nas teorias antropológicas e psicológicas
1. Frazer: magia, religião e ciência – teorias do pensamento humano 06
2. Nina Rodrigues: magia e religião no candomblé jeje-nagô 12
3. Arthur Ramos: religião banto, totemismo banto, boi totêmico, candomblé de
caboclo, macumba, magia e religião no candomblé jeje-nagô 34
4. Freud e Jung: magia, religião e ciência – expressões da vida psíquica 51
II- A unidade de Corpo de baile: magia, religião e ciência
1. Campo geral
1.1. Magia: problemas de saúde 58
1.2. Magia: problemas de amor 60
1.3. Religião: calungas bantos e santos católicos 64
1.4. Religião: demonização da sexualidade 74
1.5: Religião: Natal 78
1.6. Ciência 85
2. Uma estória de amor
2.1. Religião: mãe e santa, objetos africanos na capela 87
2.2. Magia e religião: trabalho com o gado, boi banto 90
2.3. Magia: problemas de amor 94
2.4. Magia: música de feitiçaria – cocos 100
3. A estória de Lélio e Lina
3.1. Magia e ciência: negócios da pecuária do Pinhém 104
3.2. Magia: problemas de amor 111
3.3. Religião: desdemonização da sexualidade 121
4. O recado do morro
4.1.Magia, religião e ciência – comitiva 124
4.2. Magia, religião e ciência – recado 131
4.3. Religião: Moçambiques e Congos – Pedro Rei Congo 159
4.4. Religião: Natal – Pedro Rei-Menino 168
4.5. Religião: boi banto – Pedro Pê-Boi 169
5. Dão-lalalão
5.1. Religião: demonização de Iládio 175
5.2. Religião: desdemonização da sexualidade 192
5.3. Magia e religião: fetiches 194
6. Cara-de-Bronze
6.1. Magia 204
6.2. Religião: calundu 210
6.3. Religião: bênção 216
6.4. Religião: deusas da água e feminino 227
7. Buriti
7.1. Magia e religião: feitiço, deusas 243
7.2. Religião: santificação da sexualidade 293
7.3. Religião: buriti 296
7.4. Ciência 300
III- Magia, religião e ciência nos romances de Jorge Amado 306
1. O país do carnaval
1.1. Religião: negação – Pedro Ticiano 310
1.2. Religião: entre negação e afirmação – Paulo Rigger 312
1.3. Religião: afirmação, negação, reafirmação – Jerônimo 314
1.4. Religião: indiferença – Ricardo Braz 316
1.5. Religião: comunismo – José Lopes 317
2. Cacau
2.1. Magia e religião: catolicismo 321
2.2. Magia e religião: candomblé, candomblé de caboclo – macumba 331
3. Suor
3.1. Magia e religião: candomblé 339
3.2. Magia e religião: catolicismo 343
4. Jubiabá
4.1. Magia: problemas de amor 346
4.2. Magia: problemas de saúde 348
4.3. Religião: candomblé – Baldo ogã 350
4.4. Religião: candomblé – Baldo Exu 353
5. Mar morto
5.1. Religião: candomblé – Iemanjá/Orungã, Iemanjá/Guma 363
6. Capitães da areia
6.1. Religião: comunismo 366
6.2. Religião: catolicismo 369
6.3. Magia, religião e ciência: candomblé – o roubo de Ogum 372
6.4. Religião e ciência: candomblé – o castigo de Omolu 382
6.5. Religião: candomblé – Iemanjá/Dora 385
6.6. Religião: candomblé de caboclo 389
7. Terras do sem fim
7.1. Magia: feitiço do cacau 391
7.2. Magia e religião: os Badarós 393
7.3. Magia, religião e ciência 395
7.4. Magia: recado da mata 398
7.5. Magia e religião: praga de Jeremias 404
8. São Jorge dos Ilhéus
8.1. Religião: catolicismo oficial 409
8.2. Religião: candomblé 410
8.3 Magia, religião e ciência: virada econômica 414
8.4. Religião: catolicismo popular – terno de Reis 415
IV- Magia, religião e ciência nos romances de José Lins do Rego
1. Menino de engenho
1.1. Religião da senzala 426
1.2. Religião do engenho 428
1.3. Religião: diabo e anjos, sexo e amor 434
2. Doidinho
2.1. Religião: catimbó, religião da senzala 439
2.2. Religião e ciência: catolicismo oficial e ensino laico 443
2.3. Magia, religião e ciência: entre engenho e colégio 449
2.4. Religião: diabo e anjos, sexo e amor 453
3. Bangüê
3.1. Ciência 456
3.1. Entre ciência e religião: boi 463
3.3. Religião: quarto fechado da casa-grande 465
3.4. Magia e religião: fetiches 469
4. O moleque Ricardo
4.1. Magia e religião: xangô/catimbó 471
4.2. Religião: xangô/catimbó e comunismo 474
5. Usina
5.1. Magia e religião: xangô e culto aos santos 483
5.2. Magia e religião: catimbó 491
6. Riacho Doce
6.1. Magia, religião e ciência 493
6.2. Magia e religião: música de feitiçaria – cocos 499
6.3. Religião: catolicismo popular – Natal 502
7. Pedra Bonita e Cangaceiros
7.1. Religião: messianismo e catolicismo oficial 506
7.2. Religião: bênção 522
7.3. Religião: cangaço 527
V- Corpo de baile: sua relação com a obra de Jorge Amado e José Lins do Rego
1. José Lins do Rego 534
2. Jorge Amado 550
Conclusão 565
Bibliografia 576