Table Of ContentUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
EDUARDO SOCZEK MENDES
ALEXANDRE HERCULANO, ENTRE O PRESBÍTERO E O MONGE: O
(ANTI)CLERICALISMO E AS PERSONAGENS RELIGIOSAS EM MONASTICON
(EURICO, O PRESBÍTERO E O MONGE DE CISTÉR)
CURITIBA
2017
EDUARDO SOCZEK MENDES
ALEXANDRE HERCULANO, ENTRE O PRESBÍTERO E O MONGE: O
(ANTI)CLERICALISMO E AS PERSONAGENS RELIGIOSAS EM MONASTICON
(EURICO, O PRESBÍTERO E O MONGE DE CISTÉR)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras da Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Letras. Área de Concentração:
Estudos Literários.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Augusto Nery
CURITIBA
2017
Aos professores da Escola Pública do
Paraná que, apesar de Richas,
“rompem tratados e traem os ritos”
ultrapassados, sem Temer
Agradeço, em primeiro lugar, ao Altíssimo Senhor, “Pois nele temos vida, nos
movemos e existimos” (At 17,28).
Agradeço aos meus pais, Adão e Regina, e aos meus avós, Laudelino (in
memoriam), Alzira (in memoriam), Eugenio (in memoriam) e Lucia, pela formação
humana que me propiciaram e sem a qual este trabalho não seria realizado.
Agradeço a todos os meus professores e aos servidores da escola pública do
Paraná, hoje meus colegas de trabalho, que contribuíram para a minha formação
básica, em epecial à Eliana, que me apresentou a Literatura, e à Elis, pelo trabalho
com Arte e Dramaturgia.
Minha gratidão a todos os professores do curso de Letras da Universidade
Federal do Paraná, que me propiciaram uma formação acadêmica muito sólida, em
especial à Prof.ª Dr.ª Francine Weiss Ricieri, pelo trabalho com a Literatura
Portuguesa.
Expresso os meus agradecimentos à Prof.ª Dr.ª Marcella Lopes Guimarães,
do departamento de História desta Universidade, e à Prof.ª Dr.ª Marilene Weinhardt,
de Letras, que juntas teceram importantes apontamentos na banca de qualificação
desta pesquisa.
Imensa gratidão ao Prof. Dr. Antonio Augusto Nery, que confiou em meu
trabalho, aceitou me orientar nesta pesquisa e me conduziu com paciência e
generosidade, sempre atento aos detalhes teóricos e textuais, deixando-me livre
para refletir e produzir, suportando os meus delírios, a minha prolixidade e a minha
escrita demorada. Agradeço, professor, por me apresentar a este grande vulto
intelectual do século XIX: Alexandre Herculano.
Meu muito obrigado aos meus alunos, que, por diversas vezes,
compreenderam este professor e com os quais eu aprendo todos os dias a ser um
ser humano realmente mais humano.
Agradeço aos familiares e amigos por sempre me incentivarem.
Agradeço a Universidade Federal do Paraná, em todas as suas instâncias,
pois é a esta instituição a quem devo a minha formação acadêmica.
Por fim, meus agradecimentos à CAPES pela bolsa concedida no segundo
ano de pesquisa.
Unilas, aquele bispo admirável ao qual outrora impus as mãos e enviei
a Gótia, após ter realizado muitas obras grandiosas faleceu [...].
Efetivamente, duas coisas me afligirão muitíssimo se acontecerem, que
Deus não permita: que se realize uma eleição entre aqueles que
praticaram tanto mal e de maneira contrária à justiça, e que seja eleito
qualquer um. De fato, eles pouco se importam de consagrar alguém
que não o mereça, como bem o sabeis.
Carta 9, à Olímpia, João Crisóstomo, séc. V
Sabem, padres prègadores, por que fazem pouco abalo os nossos
sermões? Porque não prègamos aos olhos, prègamos só aos ouvidos.
Por que convertia o Baptista tantos peccadores? Porque assim como
as suas palavras prègavam aos ouvidos, o seu exemplo prègava aos
olhos. [...] Se a minha vida é apologia contra a minha doutrina, se as
minhas palavras vão já refutadas nas minhas obras, [...] como se ha-de
fazer fructo?
Sermão da Sexagésima, Pe. António Vieira, séc. XVII
Lamentava não poder acender as fogueiras da Inquisição. [...] Porque
todo padre, o mais boçal, tem um momento em que é penetrado pelo
espírito da Igreja ou dos sues lances de renunciamento místico ou nas
ambições de dominação universal; todo subdiácono se julga uma hora
capaz de ser santo ou ser papa; não há seminarista que não tenha,
durante um instante, aspirado com ternura à caverna no deserto em
que S. Jerónimo, olhando para o céu estrelado, sentia descer-lhe sobre
o peito a Graça, como um abundante rio de leite; e o abade pançudo
que à tardinha, à varanda, palita o dente furado saboreando seu café
com ar paterno, traz dentro de si os indistintos restos de um
Torquemada.
O crime do Padre Amaro, Eça de Queirós, 1875
RESUMO
Monasticon (1848) é uma coletânea que abarca duas narrativas históricas, coligidas
pelo próprio Alexandre Herculano (1810-1877), contextualizadas em períodos
diferentes de Portugal ou que antecederam a formação do Estado português, mas
que, mesmo assim, são representativos na História do país. Eurico, o presbítero, por
exemplo, a primeira ficção de Monasticon, está ambientada no declínio do reino
visigótico (século VIII), com a invasão árabe na Península Ibérica. Já O Monge de
Cistér ou a época de D. João I tem como cenário o século XIV, quando se inaugura
a dinastia de Avis, com Dom João I (1357-1433). Ambas as ficções históricas têm
uma preocupação em retratar personagens religiosas com uma grande riqueza de
detalhes, tanto os que se corrompem quanto os que são tidos como virtuosos, além
do esforço do autor para a construção verossímil de uma ambiência condizente com
a época onde cada enredo se passa. Essas personagens são também construídas
como agentes muito importantes nos desdobramentos das questões histórico-sociais
nos contextos onde estão inseridos. Este estudo visa aprofundar a análise de como
se dá a construção de tais personagens religiosas em Monasticon, bem como
estabelecer uma possível conexão com o momento de produção literária das obras
que compõem a coletânea – o século XIX em Portugal. Para tanto, propusemos
inicialmente uma discussão sobre a expressão anticlericalismo e um diálogo entre
escritos não literários de Herculano, como cartas, missivas e reflexões do autor, com
seus Prólogos e Notas em Monasticon. Na sequência, analisamos as duas ficções
de Monasticon, focando as personagens religiosas e dialogando com teóricos e
outras obras de Herculano, a fim de pensarmos os aspectos positivos e negativos
explicitados na representação das figuras eclesiásticas.
Palavras-chave: Alexandre Herculano; Eurico, o presbítero; O Monge de Cistér;
Personagens religiosas; (Anti)clericalismo
ABSTRACT
Monasticon (1848) is a collection that encompasses two historical narratives,
collected by Alexandre Herculano himself (1810-1877), contextualized in different
periods of Portugal or before the formation of the Portuguese State, but which are
nonetheless representative in the History of the country. Eurico, the presbyter, for
example, the first fiction of Monasticon, is set in the decline of the Visigothic kingdom
(VIII century), with the Arab invasion in the Iberian Peninsula. On the other hand, The
Monk of Cistér or the time of D. João I has as scene the XIV century, when the
dynasty of Avis, with Dom João I (1357-1433) is inaugurated. Both historical fictions
have a preoccupation in portraying religious personages with a great range of details,
both those that are corrupted as those that are considered as virtuous, besides the
effort of the author for the credible construction, according to the principles of
verisimilitude, of an ambience commensurate with the time where each plot happens.
These characters are also constructed as very important agents in the unfolding of
the social-historical questions in the contexts where they are inserted. This study
aims to deepen the analysis of how the construction of such religious personages in
Monasticon occurs, as well as to establish a possible connection with the moment of
literary production of the works that compose the collection - the 19th century in
Portugal. For this, we initially propose a discussion on the expression anticlericalism
and a dialogue between Herculano's non-literary writings, such as letters, missives
and reflections of the author, with his Prologues and Notes in Monasticon. In the
sequence, we analyze the two fictions of Monasticon, focusing on the religious
characters and dialoguing with theoreticians and other works of Herculano, in order
to think about the positive and negative aspects explicit in the representation of the
ecclesiastical figures.
Keywords: Alexandre Herculano; Eurico, the Presbyter; The Monk of Cistér;
Religious characters; (Anti)clericalism
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11
2 ALEXANDRE HERCULANO E O CLERO ............................................................. 23
2.1 O (ANTI)CLERICALISMO DE ALEXANDRE HERCULANO ............................... 23
2.2 “PRÓLOGOS” E “NOTAS”: PANORAMA ENTRE ESCRITOS PARALITERÁRIOS
DE MONASTICON E A RELAÇÃO COM O CLERO EM OUTROS TEXTOS DE
ALEXANDRE HERCULANO......................................................................................30
3 EURICO, O PRESBÍTERO-CAVALEIRO: A HONRA PELA CRUZ E PELA
PÁTRIA......................................................................................................................75
3.1 A CONCEPÇÃO NARRATIVA DE EURICO, O PRESBÍTERO NA REVISITAÇÃO
DO PASSADO .......................................................................................................... .75
3.2 QUANDO O NARRADOR DÁ VOZ A EURICO: O PERFIL DO PRESBÍTERO NA
NARRATIVA, OS ESCRITOS DA PERSONAGEM E A SUA ATUAÇÃO ................. 86
3.3 OPAS, UM PRELADO PÉRFIDO.......................................................................137
3.4 A ABADESSA QUE MUTILA AS MONJAS: OUTRA VERSÃO DA
CONSAGRAÇÃO CELIBATÁRIA EM EURICO, O PRESBÍTERO..........................142
4 O MONGE ENTRE A MANIPULAÇÃO DO ABADE E A VIRTUDE DO
MESTRE...................................................................................................................158
4.1 MONASTICON: DEPOIS DO PRESBÍTERO, UM MONGE...............................158
4.2 FR. LOURENÇO BACHAREL: O CLÉRIGO VIRTUOSO..................................178
4.3 D. JOÃO D'ORNELLAS: O ABADE MANIPULADOR........................................202
4.4 FR. VASCO: O ATORMENTADO ENTRE O ANJO E O DEMÔNIO.................225
5 CONCLUSÃO.......................................................................................................239
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 250
Description:27 O período do Cabralismo (1842-1846), citado por Carlos Eduardo da Cruz, ficou assim conhecido por ser António réalisme et à tout physiologie []. / Eurico dépasse les 36 Sobre o episódio de que chama exílio voluntário de Herculano, Carlos Eduardo da Cruz declara que “Ele comprou uma