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(Aspectos da Vida Patriarcal no Sertão
da Bahia nos Séculos XVIII e XIXr
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COMPANHIA EDITORA NACIONAL
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LYCURGO SANTOS FILHO
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UMA
COMUNIDADE RURAL
DO
BRASIL ANTIGO
(Aspectos da Vida Patriarcal no Sertão
da Bahia nos Séculos XVIII e XIX >
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EDIÇÃO ILUSTRADA
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COMPANHIA EDITORA NACIONAL
SÃO PA U L O
DO AUTOR
História da Medicina no Brasil — 2 tomos. vols. 3
e 3-A da coleção “Grandes Estudos Brasil ienses”,
Editora Brasiliense Ltda., São Paulo, 19-17.
À memória de
l i o 1 / ISABEL
Í N D I C E g e r a l
ÍNDICE DAS GRAVURAS ........................................................................................... XVII
Introdução ..................................................................................................................... XIX
PARTE I
& PERSONAGENS E CENÁRIO
Cap. I — Miguel Lourenço de Almeida e o “Campo Seco”.
O “homem de negócio” e Familiar do Santo Ofício instala-se no
Campo Seco, ein terras do antigo latifúndio de Guedes de Brito.
Seria Miguel Lourenço descendente de cristãos-novos, não obstante
ostentar um titulo da Santa Inquisição. A vila do Rio de Contas.
Passagem dos naturalistas Spix e Martius pela região. Os velhos
caminhos. A caatinga. Nega-se Miguel Lourenço a servir em cargo
do Concelho. Casamento com Ana Francisca da Silva. “Limpeza de
sangue” desta última, verificada pelo Santo Ofício ................................ 3
Apêndice: Testamento de Ana Francisca da Silva.
Testamento de Ana Francisca da Silva, que foi casada com Miguel
Lourenço de Almeida, Familiar do Santo Ofício e senhor da fazenda
do Campo Sêco .................................................................................................... 14
Cap. II — O “Familiar do Santo Ofício”.
Acertos e desacertos de el-Rei D. João III. Estabelecimento do
Tribunal da Inquisição em Portugal. Órgão da justiça portuguesa,
o Santo Ofício serviu mais aos interesses do Rei, do que aos da
Igreja. Habilitação de Miguel Lourenço ao título de Familiar, que
lhe foi concedido pelo Inquisidor-geral, cardeal D. Nuno da Cunha.
A carta de nomeação e os privilégios inerentes. Folheto impresso
em 1691, contendo os privilégios concedidos pelos reis de Portugal
aos Familiares da Inquisição. O processo inquisitorial ................... 16
Apêndice: Traslado dos privilégios concedidos aos Familiares .... 24
Cap. III — Antônio Pinheiro Pinto, senhor rural e mercador.
Um genro do Familiar instala-se na fazenda que, com o decorrer
dos anos, passou a chamar-se: “Brejo do Campo Sêco”. A vila de
Caetité e sua Companhia de Milícias. Antônio Pinheiro Pinto
foi criador, agricultor, comissário, capitalista e mercador, acumu
lando respeitável fortuna. Professores ou “mestres”, no sertão. O
Sobrado do Brejo foi construído em quatro anos, a partir de 1808.
Seu mobiliário, pobre e escasso, foi confeccionado na própria
j
fazenda. Preços de custo. Talheres de prata, da era colonial.
Ouro e prata lavrados. O dote matrimonial dos filhos de Pinheiro
PARTE II
Pinto. Os inventários dividiram os latifúndios. Novas fazendas
acrescentadas à do Campo Séco ................................................................ 33
ASPECTOS DA VIDA PATRIARCAL
Cai». IV — Inocèncio Pinheiro Canguçu e sua vida aventurosa.
Cap. VII — Os Livros do “Campo Séco”.
Divisão das terras e do gado, após a morte de Pinheiro Pinto.
Fortuna e poderio para os herdeiros do Familiar. O tipo singular Contabilidade agrícola, pastoril e comercial. “Livro do Gado”
que foi Inocèncio. Sua vida e seus mistérios. “Canguçu”, foi o e “Livro de Razão”. Nesses livros manuscritos, três gerações assen
nome que adotou. Possuiu mais terras que o pai e o avô. Envol taram os negócios realizados, as colheitas efetuadas, o nascimento
veu-se em lutas entre famílias e entregou a direção do Brejo do de crias bovinas e equinas e ainda exentos de vária natureza,
Campo Séco ao filho mais velho. Abriu fazendas e morreu em ligados à vida social e económica dos proprietários da fazenda.
Minas Gerais ...................................................................................................... 46 Papel e marca d água dos livros. Um velho rifão do século
XVIII ................................................................................................................. 109
Apêndice: Limites de algumas propriedades rurais.
Valor ínfimo atribuído à terra. Baseavam se as “estremas” nos •Cap. VIII — A Escravaria.
acidentes naturais. Importância da água. Tantos “dias de água”,
ou tantas "horas de água", para os proprietários rurais ....................... 54 A mão de obra negra. Escravos e feitores do Brejo do Campo
Séco. Os negros de Miguel Lourenço possuíram certa quantidade
de animais cavalares. Morte de escravos. Preços de aquisição.
Cai». V — Exupério Pinheiro Canguçu : barão que não foi barão. Salário dos feitores. Aluguel e doação de escravos. Alforria.
“Cabras”, “moleques”, “crioulos”. Vestuário dos negros. Atividades
O sertão conheceu Exupério Canguçu como um homem cjue sabia
remuneradas que permitiram aos escravos obtenção de pecúlio.
latim e não errava um tiro. Estudos no Salvador. A “Sabinada”.
Dívidas para com o senhor. Negros de ofício. Fugas. O "capi-
Livros da biblioteca do Sobrado. Jornais do Salvador e tertúlias
tão-do-mato”. Castigos. Casamentos e batizados de escravos. Uma
eruditas no Brejo. A sala de aulas dos filhos do fazendeiro.
“função”. Outros dados de interesse .................................................... 117
Vida familiar. Hábitos e costumes. O tipo humano. Política.
Eleições. Caetité. Santo Antônio da Barra. Uma festa regional
em homenagem a Exupério. Brejo Grande. Bom Jesus dos Meiras. Cap. IX — Militarização do Sertão.
O fazendeiro viveu na abastança e morreu pobre ............................... 56
As primeiras forças militares. Milícias e Ordenanças. A Guarda
Apêndice I: Carlas e uma certidão de batismo. Nacional. Patentes. Oficiais “ad honorem”. Uniformes da Guarda
Cartas de políticos eminentes do 2.° reinado dirigidas ao chefe ^^acional. Armas, assaltos e mortes. A perícia de Exupério Can
sertanejo do Brejo do Campo Séco. Uma epistola que se conservou guçu no manejo das armas. Seus davinotes e pistolas. A fama
nc arquivo da "Casa de Rui Barbosa”, no Rio de Janeiro. Cer belicosa dos Canguçus. Antigas espingardas. Preços. O "ter
tidão de batismo de Exupério Canguçu ................................................... ”2 çado". Comércio de pólvora no Campo Séco. Chumbo...................... 131
Apêndice II: Receitas para confecção de doces e vinho. Cap. X — Luta entre Famílias.
Como fazer vinho de laranja e como preparar o afamado "alfe-
Guerras particulares no Brasil de antanho. Na luta entre Can
nim". Receitas encontradas no arquivo do Sobrado do Brejo .......... 76
guçus e Mouras, esteve diretamente envolvida a família materna
do poeta Castro Alves. A mãe e uma tia hospedaram-se no Sobrado
Cai*. VI — O Sobrado do “Brejo". do Brejo, onde Leolino Canguçu se apaixonou pela menina Pórcia,
filha do “Periquitão". Primeiro capítulo do “ABC de Castro
A primitiva casa do Familiar. O sobrado na Colónia. Pinheiro Alves”, no qual o romancista Jorge Amado descreve o rapto de
Pinto ergueu o Sobrado do Brejo de 180S a 1812, registrando no Pórcia e a luta que se seguiu. O que escreveu o historiador
“Livro de Razão” todos os dados referentes à construção, desde o Pedro Calmon na “História de Castro Alves”, sóbre os sucessos do
corte da madeira, na mata, à pintura. Detalhada descrição, inclu Brejo e sobre o desenrolar do conflito. O romance “Sinhàzinha”,
sive da mão de obra com seus dias de serviço. Empreitadas. Jor de Afránio Peixoto, uma descrição novelesca da guerra de morte
nal dos “mestres” e “oficiais”.- Histórico de uma construção colo travada entre Mouras e Castros e Canguçus. Finalmente, outra
nial. Quantias despendidas. Solar de Pinheiro e de seus narração baseada em documentação do arquivo do Sobrado do
descendentes, os Canguçus, o Sobrado do “Brejo" ganhou fama Brejo, com a publicação, pela primeira vez, de papéis valiosos que
lendária nos fastos da caatinga baiana ................................................... 78 elucidam pontos controvertidos ou ainda desconhecidos .................. 149
Apêndice: Recenseamento da Gente do Sobrado do “Brejo".
Cap. XI — Dízimos e outros Tributos.
• Foi em 1872 que se realizou o primeiro recenseamento geral no
Brasil. A “Lista de Família” da gente do Sobrado do Brejo Contratadores e dizimeiros. O dizimo sôbre a pecuária; o “dizimo
acusou o total de 25 indivíduos, livres ....................................................... 104 de miunças”, que incidiu sóbre os produtos 2gricolas. Cobrança de
XII UMA COMUNIDADE RURAL DO BRASIL ANTIGO ÍNDICE GERAL XII
tais impostos, no Campo Sêco. Relação especificada da colheita Apêndice II: O Couro.
do algodão, feijão, arroz e milho. Da produção de farinha de
Couro cru de rês e de boi. Couro curtido. O “meio de sola”.
mandioca e rapadura. Pinheiro Pinto foi agente do “dizimeiro , na
Preços. Artefactos de couro de boi. Couro de veado, com o qual
sua região. Finta. Direitos de barreira. Sêlos das escritas de
se confeccionava a vestimenta dos vaqueiros. Couro de bugio, a
venda. Coletoria de Caetité ........................................................................
meia pataca. Um couro de onça pintada. A pele de camurça.
O marroquim, ou pele de cabia .................................................................. 238
Cap. XII — A Vida Religiosa.
A capela ou “Oratório” do Sobrado do Brejo foi decorada a ouro, Cap. XV — Equinos e Muares.
como as igrejas coloniais. Alfaias, paramentos. O culto católico. A criação cavalar e muar no sertão nordestino. Cavalos e burros
“Pregações” e a “desobriga”. Esmolas para missas e para outras transportaram homens e cargas. A criação no Campo Sêco. Éguas
práticas e cerimónias. As “dispensas”. Pinheiro Pinto contribuiu de “entrega” e éguas de “partes”. Marcação de poldros e pol
para a construção da “Capela do Sr. Bom Jesus”, a mesma atual dras no “Livro do Gado”. A "ferra” para o dízimo. A manada
Igreja Matriz de Bruinado, e um dos escravos do Campo Sêco, de Miguel Lourenço. Os muares, filhos das “bêstas”, ou éguas,
o mulato Vitorino, foi mestre-carpinteiro da construção ....................... 186 e dos jumentos. Criação de Pinheiro Pinto. Criadores e “sortes”.
Ferros de marcação. Nomes aplicados aos cavalos. A còr. Carac-
terísticos de um bom cavalo de sela. Andaduras. Animais “à
Cap. XIII — A Medicina da época. destra”. Tropas. Tropas cargueiras. Despesas com os animais em
Todo fazendeiro era curandeiro. O Chernoviz. Alguns récipes viagem. Arrieiros e tropeiros. Preços de cavalos. Preços de
setecentistas. Doenças e curandeirismo. Usava-se o vinho e não éiiuas e de potros. Preços de muares. A criação nas fazendas
a aguardente como veículo alcoólico nas antigas fórmulas .............. 191 de Inocêncio Canguçu. Cavalos pampas importados de São Paulo 243
Apêndice I: Artigos para Equitação.
Apêndice: A Santa Casa de Misericórdia de Caetité.
Artigos de ferro e de prata. Cabeção. Estribos. Caçambas. Espo
O "Compromisso” da Irmandade, que não se chamou da “Mise ras e rosetas. Ferraduras e cravos. Arreios completos de prata.
ricórdia”. Disposições estatutárias. Os "Irmãos prestantes”. Papel Seus preços ........................................................................................................... 262
relevante desempenhado pelas Santas Casas fundadas no país .... 201
Apêndice II: Porcos. Galinhas. Peixes.
Pinheiro Pinto engordou e vendeu porcos no Campo Sêco. Pre
ços dos capados. A “banda” de um capado. Lombo de porco.
PARTE III O toucinho. Galinhas e capões. Comércio do peixe no Campo Sêco 264
A VIDA RURAL 'Cap. XVI — A Cultura do Algodão.
São descritas, neste capítulo, em seus menores detalhes, tôdas as
operações culturais e comerciais relativas ao algodão. É o plantio.
Cai*. XIV — A Criação de Bovinos. É a colheita. É o financiamento. São os dízimos. São as com
pras. vendas e revendas. É o transporte. É o frete. São os
O pastoreio colonizou o sertão nordestino. A importância da
preços vigentes na época (fins do século XVIII e princípios do
indústria pastoril no Nordeste. Carne e couro. O requeijão
XIX). Tudo baseado na documentação do arquivo do Sobrado
foi o queijo sertanejo. Raças bovídeas. Animais da raça Maro-
do Brejo .................................................................................................................. 267
nesa no Campo Sêco. A criação nos tempos antigos. Cactus
e séca. Reprodutores. “Partilhas” e “sortes”. Registro das crias
no “Livro do Gado”. Especial maneira de registrar-se o gado. C \i>. XVII — A Cana-de-açúcar e a fabricação de Rapadura.
O vaqueiro e as “vacas de entrega”. Os "coartos” do vaqueiro.
No bangíiê do Brejo do Campo Sêco produziu-se rapadura, cachaça
Vestimenta de couro de veado usada pelos vaqueiros antigos. “Jun
e, esporadicamente, açúcar de tipo inferior. Cana-de-açúcar. Des
tas” ou rodeios. A “ferra”. Bezerros “tronchados”. O dízimo
crição da engenhoca e da técnica de fabricação. Utensílios. Carros
vacum. Gado de “partes”. O rebanho de Pinheiro Pinto. “Pas
de boi. As caixetas de doce. Os tijolos de rapadura. A
sador” de boiada. Gado “situado”. Negócios de gado. “Vaca de
matalotagem”. Denominações particulares aplicadas a bois. Pre rapadura foi o açúcar do sertão. O dízimo de “miunças”. que
ços de animais negociados no Campo Sêco. As fazendas de criação incidiu sòbre a produção. Quantidade fabricada por Pinheiro Pinto.
Alambique e “frascos” de aguardente. Fabricação da cachaca.
de Inocêncio Canguçu. Fim do apogeu da criação no Nordeste .... 205
O reduzido consumo, na época. Uma “venda” na fazenda. Preços
correntes no Campo Sêco .................................................................................. 290
Apêndice I: A Carne de Vaca.
Carne-sêca e carne fresca. Os “quartos” da rês. Entrecosto.
C.\p. XVIII — Culturas de Subsistência: o Feijão.
Preço da carne no Brejo do Campo Sêco. Sebo de boi para con-
fecção de velas de iluminação caseira. Velas de espermacete e A lavoura de “mantimentos” nas fazendas de criação do Nordeste.
de cêra .................................................................................................................. 235 Não se plantou trigo no Campo Sêco. Alimentação do sertanejo
nordestino. O “dízimo dc miunças” incidiu sobre as colheitas. Gap. XXII — Tabaco e Sal.
Formação da “roça”. Derrubadas e queimadas. Instrumentos agrí O comércio dos produtos de monopólio da Coroa. Fumo. Rapé.
colas empregados no Campo Sêco. Não se dispensava à teira Os “botes de rapé”. Caixas de rapé e o “lenço de tabaco”.
o menor cuidado. O “silo” construído por Pinheiro Pinto. Comér O “sal da terra” e o "sal do Reino”. Surrões e “pratos” de
cio de “mantimentos”. Registro anual da colheita de feijão, no sal. Preços correntes no Campo Sêco ....................................... .......... 380
Brejo do Campo Séco. A pequena utilização dessa leguminosa no
cardápio do sertanejo nordestino. Espécies de feijão cultivadas em
fins do século XY11I e início do XIX. Preços para o feijão, Cap. XXIII — Tecidos.
nessa época .........................................................................................................
O comércio de panos no Campo Sêco. A “lençaria” existente no
armarinho de Pinheiro Pinto. Diversos e antigos tipos de tecidos
de algodão, de linho e de lã, fabricados cm fins do século XVIII
Cap. XIX — Culturas de Subsistência: Arroz, Milho e Mandioca.
e princípios do XIX. Preços désses panos, no Campo Séco. Outras
O arroz não foi um dos alimentos básicos do sertanejo nordes variedades de tecidos de algodão e de linho manufaturadas em
tino. Seu cultivo no Sul do país. Arroz nativo. A Companhia meados do século XIX. Preços. Considerações de fundo económico 386
Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão” incentivou a cultura
do arroz trazido da Carolina do Sul. Plantio do cereal no Campo
Séco. Colheita c preços. O milho, cercal americano. Utilização. C ai*. XXIV — O Vestuário.
O consumo da farinha de milho predominou no Sul do Brasil. Pinheiro Pinto vendeu roupas feitas, no Campo Séco. Os fregue
Plantio, colheita e preços, no Campo Sêco. A farinha de mandioca, ses adquiriram rodaques, jalecos, calças e calções, camisas, ceroulas,
um dos alimentos básicos do homem do Nordeste. Preparo da fari fraques, vestias, vestidos, capas, lenços tabaqueiros e lenços para
nha. A “roda d’água” de Pinheiro Pinto. O “tipiti indígena. cabeça, manias, chinelas, botas, sapatos, chapéus, chapéus-dc-sol,
Produção e preços no Campo Séco. Alimentação do nordestino .. 316 dragonas, cobertores. Vendeu ainda linhas, retroses, botões, avia
mentos para roupa, etc. Preços vigentes em fins do século XVIII
e princípios do XIX. Preços dessas utilidades, e de muitas outras,
em 1862 ............................................................................................................. 4()i
PARTE IV Cap. XXV — Outros produtos.
A VIDA COMERCIAL E A INDÚSTRIA “Mãos de papel”, rédes, um anel, boceta de rapé, pedras de fogo.
baús, caixas, “pam de sabom", sabão de barba, "bacia pé de cama”
bispote, trinchete, facas, tesouras, “estojo de navalhas”, cani-
vetéy louça, "fivelinhas de prata”, “potes de jardim”. Tudo nego
Cap. XX — As Operações Comerciais e a Moeda Colonial. ciado por Pinheiro Pinto, no Brejo do Campo Séco. Mercadorias
Transações mercantis de todos os tipos efetuadas no Campo Séco. diversas adquiridas pelo proprietário do Brejo em 1862, inclusive
Pinheiro Pinto foi uma espécie de agente bancário da região. Usu pratos de porcelana chinesa. A “venda” de beira de estrada.
rário pràticamente sem usura. Empréstimos registrados no “Livro Preços e percentagens de lucro. O comércio no sertão .............. 411
de Razão”, do Campo Séco. Expressões e termos próprios do
linguajar bancário e contábil da época. Os “créditos”, as “obriga Apêndice: Faturas de Mercadorias.
ções”. as “ordens”, os "bilhetes” e "cartas” comerciais. O "abono . Cópia integral das relações de mercadorias adquiridas, em 1862,
O ágio ou prémio. O numerário circulante na Colónia. Moedas em Caetité e São Félix ................................................................................ 4]g
nacionais, coloniais e espanholas. Moedas de ouro, de prata e de
cobre. O ouro como dinheiro. Valor da oitava de ouro na
época. Moedas especificadas e correntes no Campo Sêco. Ques Glossário ......................................................................................................................... 423
tões de contabilidade antiga. Cartas comerciais de Inocêncio e Bibliografia Geral ...................................................................................................... 431
Exupério Canguçu ............................................................................................. Índice de Assuntos e Lugares ................................................................................. 437
Apêndice: Nota sôbre os preços entre 1808 e 1812 ......................
Cap. XXI — A Siderurgia.
A “tenda de ferreiro” e o "mestre-ferreiro" colonial. Conserto e
fabricação de instrumentos agrícolas, de ferramentas de carpin
teiro, de peças de rodas de carro, de ferraduras, etc. Os ferreiros
do Campo Sêco, de Bom Jesus dos Meiras e de Caetité. Pinheiro
Pinto negociou em ferro, aço, fôlha-de-flandres e artefactos de
ferro. Preços da ferragem. As fábricas de ferro coloniais. A forja
montada por Exupério Canguçu no Brejo. Fracasso dessa e das
demais tentativas de indústria metalúrgica ..............................................
ÍNDICE DAS GRAVURAS
Fotocópia da página de roslo do folheto impresso em Lisboa
eni 1691 contendo os privilégios concedidos pelos Reis de
Portugal aos Familiares e Oficiais do Santo Ofício .... 24 23
Fotografia do título dc “Familiar do Santo Ofício”, concedido
em 1744 a Miguel Lourenço de Almeida ............................... 28 29
Fotocópia do dote matrimonial concedido por Antônio Pinheiro
Pinto, em 1817. a seu filho Inocèncio Canguçu ................... 44 45
Molheira tla louça do Sobrado do Brejo. Branca e riscos azuis.
Fabricação inglesa, marca “Copeland". Meados do século XIX 64 65
Pulseira de coral, ouro e brilhantes, ainda no estojo original.
Pertenceu à 1’inbelina Canguçu. Sinete de cristal, de fabri
cação alemã, pertencente a Exupério Canguçu. O cristal foi
enviado das terras do Brejo do Campo Séco para a Alemanha.
Colheres de prata, adquiridas por Antônio Pinheiro Pinto
em princípios do século XIX. Copo de prata que pertenceu
a Exupério Canguçu ............................................................................... 68 90
O Sobrado do Brejo numa fotografia tirada em 1922. Caído
o reboco, mostra-se o adobe de barro vermelho ....................... 80 81
Fotografia dos livro* manuscritos do Brejo do Campo Séco.
O fechado é o "Livro do Gado” .................................................... 112/113
Marca d'água do papel do “Livro de Razão", do Campo Séco .... 116 117
Fotografia de Exupério Canguçu, fardado de oficial da Guarda
Nacional ...................................................................................................... 136/137
Pistola que pertenceu a Exupério Canguçu. Meados do século XIX 144/145
Fotografia de Atua Rosa Mcira de Moura e Albuquerque. Meados
do século XIX ......................................................................................... 152/153
Fotografia de Umbelina Meira Canguçu, irmã de Atita Rosa e
mulher de Exupério Canguçu. Meados do século XIX 160 161
Fotocópia de uma “partilha” do gado. em 1796. lançada no
"Livro do Gado” da fazenda Campo Séco. Yeja-se a maneira
especial de registro das crias e das “sortes” dos vaqueiros 208( 209
Fotocópia de uma página do "Livro do Gado”, onde Miguel
Lourenço anotou, a partir de 1755, as éguas que entregou
a um criador ........................................................................................... 248/249
Fotocópia de uma página do “Livro de Razão”, onde aparecem
símbolos dos ferros de marcar animais. 1818 ........................... 256/237
Fotocópia do certificado de aquisição de ações da “Paraguassu
Steam Tram-road Company Limited”. 1867 ................................ 376/377
I
INTRODUÇÃO
A> ST A É A HISTÓRIA de uma fazenda de criação dos sertões
da Bahia, num lapso de tempo de ISO anos, dentro dos séculos
XVIII e XIX. É uma reconstituição da fazenda do "Brejo do
Campo Sêco”, nos seus aspectos social, económico e histórico. Tra-
ta-se de uma propriedade rural que existiu, outrora, em terras do
município de Bom Jesus dos Meiras, hoje denominado Brumado.
Farta messe informativa, colhida em arquivo particular, possi-
bilitou-me a elaboração de uma espécie de retrato de uma velha
zona rural, lntencionalmente descendo a minúcias, e como que
armado de uma grossa lente de aumento, procurei focalizar, em
ponto grande, um pequeno centro nordestino do Brasil antigo.
Escorado em valiosa e inédita documentação, zelosamente con
servada por quatro gerações, tentei traçar o esboço ecológico de
uma fazenda de criação nos seus cento e cinquenta anos de exis
tência. Em seus aspectos gerais e, principalmente, particulares,
êstes aparentemente secundários, mas na realidade de grande inte-
rêsseCdescievi a terra e a gente, a atividade económica e a social,
de forma a permitir ac curioso de hoje o conhecimento da pró
pria intimidade da vida, numa comunidade rural do Brasil de
antanho. Essa foi a meta a que me propus, neste ensaio, isto é.
situar a criatura, no seu tempo e ambiente, e descrevê-los, ambiente,
tempo e criatura, com abundância de particularidades que per
mitam, ao desconhecedor do assunto, a visão de um século e meio
de vida comum, corriqueira, de existência normal e rotineira, dia
a dia decorrida num centro sertanejo do pais. Visão de um passado
não tão recuado no tempo, mas essencialmente diferente dos dias
atuais, diferença que se nota mesmo na região em causa — por mim
visitada e percorrida em 1951 — onde o rádio, o avião e o auto
móvel vêm imprimindo uma acelerada metamorfose. O interior do
pais, que era ainda há pouco o museu vivo do passado, despoja-se
rapidamente de suas caracteristicas. Costumes ou atitudes sociais,
métodos de trabalho, fatores ou agentes económicos e até mesmo
uma terminologia peculiar à região em estudo, expostos e descritos
neste ensaio, de há muito desapareceram do aludido cenário, onde
são totalmente desconhecidos dos atuais habitantes.
O arquivo do “Sobrado do Brejo" era, até princípios do século
V
?• XX, um volumoso repositório de centenas de papéis. Constituía
o arquivo da família Pinheiro Canguçu e compunha-se de livros
comerciais e memoriais, patentes militares, documentos relativos
ao Santo Ofício, testamentos, instrumentos de doações, papéis refe-
XX UMA COMUNIDADE RURAL DO BRASIL ANTIGO INTRODUÇÃO XXI
rentes a escravos, papéis contendo a descrição de limites ou estre deficiência fundamental de serem escassos em informações de famí
mas” de algumas propriedades rurais, certificados de aquisição de lia, das mais interessantes para os estudiosos”. Das tias recebeu
ações de estrada de ferro, recibos, cartas e outros documentos con mais, o Dr. Oscar, papéis relativos ao Santo Oficio da Inquisição,
cernentes a negócios de pecuária, de algodão e de outras diversas dentre éles o titulo de ‘Familiar do Santo Oficio”, conferido em
transações comerciais, letras de câmbio, recibos de pagamento de 174r ao primeiro proprietário do “Campo Sêco”, e um bem raro
impostos, recibos de assinatura de jornais, cópias e originais de folheto impresso no século XII, contendo os privilégios e regalias
papéis forenses, incluindo os relativos a processos judiciais origi concedidos aos familiares da Inquisição pelos reis de Portugal.
nados de uma luta entre famílias, cartas, bilhetes e documentos Cartas de princípios do século XIX, papéis de natureza vária e
outros referentes a mesma luta de morte travada entre Mouras e documentos relativos u luta entre as famílias Moura e Canguçu,
Canguçus, papéis e cartas de natureza política e social, cópias de completaram o valioso acervo que o Dr. Oscar trouxe para a cidade
receitas para preparação de doces e vinhos, cópias de receitas médi de Campinas, no Estado de São Paulo, onde espontâneamente tudo
entregou à guarda de seu irmão mais velho, o engenheiro civil
cas, fotografias.
Depois do falecimento, em 1900, de Exupério Pinheiro Can Artur Gutierrez Canguçu. Fotografias de família, moedas antigas,
guçu, o último senhor do “Brejo”, por alguns poucos anos man do período colonial e imperial — como algumas espanholas, de
teve-se intacto o arquivo, em poder de três filhas do velho Exupério, prata, que correram no Brasil, recarimbadas — algumas pedras
moradoras no Sobrado. Envelhecendo estas, procederam os sobri preciosas e semipreciosas, também recebeu o Dr. Oscar Canguçu
daquela opulenta fonte que foi o “Sobrado do Brejo”.
nhos à paulatina repartição dos documentos e papéis. Cada um
carregou o que lhe apeteceu, ou interessou. Depois dos parentes, O outro neto de Exupério, fazendeiro em Bauru, no Estado
foram os amigos da família. E assim, aos poucos, dispersou-se de São Paulo, conseguiu reunir, em sua fazenda, uma apreciável
aquele vasto manancial de ricos elementos informativos do passado. quantidade de documentos e objetos que pertenceram aos seus
Além dos descendentes e de seus amigos, numerosas outias pessoas maiores. Nas sucessivas visitas às velhas tias, Inocêncio Canguçu
residentes na Bahia e em outros Estados, coleciona dor as ou apenas foi por elas presenteado com manuscritos relativos à contenda entre
interessadas por determinado motivo, tornaram-se her deiras do famílias, cartas diversas, títulos de patentes militares, papéis refe
arquivo do “Sobrado do Brejo". Cartas de políticos e titulares rentes aos escravos, ao recenseamento geral de 1872, a assuntos
baianos foram ter às mãos de filhos ou netos dos missivistas. Car de natureza eleitoral e política, recibos, testamentos, etc. E mais
tas de Rui Barbosa passaram à propriedade de discípulos do louça, colheres, garfos e facas de prata do período colonial, copas
eminente jurisconsulto■ E o sociólogo Gilberto Freyre foi aquinhoado de prata, insígnias maçónicas em ouro, colar, brincos e pulseira
com “parte considerável do arquivo” dos “senhores do sobrado do de ouro, brilhantes e coral, sinete de cristal, santos do Oratório do
Brejo, com interessante correspondência ilustrativa do papel desem Sobrado, o Sacrário, a bonita espada dourada que pertenceu a
penhado pelo compadrio e pela política de partido na convi Exupério, o estojo de pistolas, etc., etc.
vência patriarcal em nosso pais”, segundo informou no prefácio Foi dispondo dessa excelente coleção de papéis e objetos,
à segunda edição de “Sobrados e Mucambos . depositada em mãos das viúvas dos dois netos de Exupério Canguçu
Dois netos de Exupério Canguçu puderam conservar, no — pois que ambos são mortos — que me foi possível escrever o
Estado de São Paulo, a porção mais valiosa, a meu ver, do opu piesente ensaio, uma síntese historiográfica e informativa da evo
lento arquivo. Qiiando em 1922 visitou as tias, no Sobrado do lução material e cultural da região sertaneja do “Campo Sêco”.
Brejo", o Dr. Oscar Gutierrez Canguçu delas recebeu os livros O elemento humano que entrou, e que não poderia faltar para
manuscritos — velhos livros de duzentos anos onde os três pri- que se completasse o quadro, foi a gente simples e comum que
meiros senhores do “Campo Sêco” e do “Brejo do Campo Sêco possuiu e habitou a fazenda. Foram os fazendeiros e seus fami
assentaram negócios de pecuária e lavoura, transações; comerciais liares, os agregados, vaqueiros, feitores, os escravos. Foram os
de todos os tipos e anotações particulares de interêsse pessoal!, vizinhos, os parentes e demais proprietários das cercanias, os
familiar e político-social. Sob os pontos de vista histórico e econó moradores das vilas próximas, foram os artífices que construíram o
mico-social são êsses livros as peças mais importantes do aiquivo. Sobrado do Brejo", os viajantes que pela fazenda passaram. Tudo
E peças raras, pois bem poucas famílias, neste pais pobre de gente simples e comum, igual à gente do “Brejo do Campo Sêco”,
documentos, souberam e puderam engendrar, e o que é melhor, de maneira que, retratando esta, no seu viver quotidiano, retra
conservar tais preciosidades históricas. “Somos pobres em documen tados ficam os habitantes da região.
tos escritos — escreveu algures o critico Nelson \\ erneck Sodié Ao perfil da sociedade, que foi essa mesma, composta de
,e os nossos arquivos, já não muito ricos, padeceram sempre da ‘ornens sem história, acrescentei a descrição da terra, do ambiente
