Table Of ContentCopyright © David Graeber, 2013
Copyright da tradução © Paz & Terra, 2015
Título original em inglês: The Democracy Project: A History, A Crisis, A Movement
Capa: Gabinete de Artes
Composição de miolo da versão impressa: Filigrana
Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela Editora Paz e Terra. Todos os
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Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G764u
Graeber, David, 1961—
Um projeto de democracia [recurso eletrônico] : uma história, um crise,
um movimento / David Graeber ; tradução Ana Beatriz Teixeira. - 1. ed. - São
Paulo: Paz e Terra, 2016.
recurso digital
Tradução de: The democracy project: a history, a crisis, a movement Formato:
epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-7753-363-3 (recurso eletrônico) 1. Crises
financeiras. 2. Crise financeira global. 3. Crises financeiras - Estados Unidos -
História. 4. Finanças internacionais. 5. Crises financeiras - Estados Unidos -
História. 6. Livros eletrônicos. I. Título.
História. 6. Livros eletrônicos. I. Título.
16-38096
CDD: 331.0981
CDU: 331(81)(09)
Produzido no Brasil
2015
Para meu pai
Sumário
Agradecimentos
Introdução
1. O começo está próximo
2. Por que funcionou?
3. “A plebe começa a pensar e a raciocinar”: A história oculta da
democracia
4. Como as mudanças acontecem
5. Quebrando o encanto
Notas
Índice
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todas as pessoas que fazem parte do movimento e me
ensinaram tudo o que sei.
Introdução
No dia 26 de abril de 2012, cerca de trinta ativistas do Occupy Wall Street se
reuniram na escadaria do Federal Hall, em Nova York, em frente à Bolsa de
Valores.
Havia mais de um mês, vínhamos tentando restabelecer um ponto de apoio no
sul de Manhattan, depois de termos sido expulsos, seis meses antes, de onde
estávamos acampados, no Parque Zuccotti. Mesmo que não pudéssemos formar
um novo acampamento, esperávamos pelo menos encontrar um lugar onde
pudéssemos fazer assembleias periódicas e montar nossa biblioteca e nossas
cozinhas. A grande vantagem do Parque Zuccotti era o fato de ser um lugar onde
qualquer pessoa interessada no que estávamos fazendo podia nos encontrar para
saber sobre as próximas ações ou simplesmente falar de política. E a falta de um
lugar assim estava causando problemas que não acabavam mais. As autoridades
municipais, no entanto, tinham decidido que nunca mais teríamos outro Zuccotti.
Se encontrávamos um local onde podíamos nos instalar legalmente, elas
simplesmente mudavam as leis e nos enxotavam. Quando tentamos nos
estabelecer na Union Square, mudaram as regras de uso do espaço; quando um
grupo de ocupantes começou a dormir na calçada da própria Wall Street,
contando com uma decisão judicial que dizia explicitamente que cidadãos
tinham o direito de dormir nas ruas de Nova York como forma de protesto
político, o município considerou a parte sul de Manhattan uma “zona de
segurança especial” em que a lei não se aplica.
Por fim, nos estabelecemos nos degraus do Federal Hall, uma larga escadaria
de mármore diante da qual há uma estátua de George Washington, guardando a
entrada do edifício onde a Declaração de Direitos foi assinada 223 anos antes. A
escada não estava sob jurisdição municipal; era território federal, sob a
administração do Serviço Nacional de Parques, e representantes da Polícia de
Parques dos Estados Unidos — talvez conscientes de que o espaço inteiro havia
sido considerado um monumento às liberdades civis — disseram não se opor à
nossa ocupação, contanto que ninguém efetivamente dormisse lá. Os degraus
eram largos o bastante para acomodar facilmente algumas centenas de pessoas,
e, a princípio, apareceu algo em torno dessa quantidade de ocupantes. Em pouco
tempo, porém, o município interveio e convenceu o pessoal dos parques a deixá-
los assumir o controle: colocaram grades de ferro em todo o perímetro e outras
para dividir a escadaria em dois compartimentos. Passamos a nos referir a eles
como as “jaulas da liberdade”. Uma equipe da Swat se posicionou na entrada;
um comandante da polícia de camisa branca1 monitorava cuidadosamente todos
que tentavam entrar, informando que, por razões de segurança, não mais do que
vinte pessoas eram permitidas em cada jaula, a qualquer hora. No entanto,
alguns poucos determinados perseveraram: conseguiram manter presença 24
horas, revezando-se em turnos, organizando pequenas palestras durante o dia,
iniciando debates improvisados com operadores entediados de Wall Street que
vagavam durante os intervalos e mantendo vigília nas escadas de mármore à
noite. Logo os cartazes grandes foram proibidos. Depois, qualquer coisa feita de
cartolina. Então, vieram as detenções aleatórias. O comandante queria deixar
claro que, mesmo que não pudesse prender todos nós, podia seguramente
prender qualquer um de nós, por praticamente qualquer motivo, a qualquer
momento. Naquele dia vi um ativista ser algemado e preso por “poluição
sonora” enquanto entoava palavras de ordem e outro, um veterano da guerra do
Iraque, acusado de atentado ao pudor por ter usado palavrões ao discursar.
Talvez tenha sido porque anunciamos o evento como um “protesto de livre
manifestação”. O agente encarregado parecia querer deixar algo claro: mesmo
no local de nascimento da Primeira Emenda, ele ainda tinha o poder de nos
prender unicamente por causa de nosso discurso político.
Um amigo meu chamado Lopi, famoso por participar de passeatas em um
triciclo gigante estampado com um letreiro colorido que dizia “Jubileu!”,2 tinha
organizado o evento, batizando-o “Fale contra Wall Street: uma assembleia
pacífica na escadaria do edifício do Federal Hall National Memorial, berço da
Declaração de Direitos, atualmente sob bloqueio do exército do um por cento”.
Particularmente, nunca fui muito bom em instigar multidões. Durante todo o
tempo em que estive envolvido com o Occupy, nunca fiz um discurso. Minha
intenção era estar lá principalmente como testemunha e para dar apoio moral e
organizacional. Durante quase toda a primeira meia hora do evento, enquanto
um ocupante após o outro se dirigia para a frente da jaula para falar sobre guerra,
devastação ecológica e corrupção do governo diante de uma aglomeração
improvisada de câmeras de vídeo na calçada, eu me mantive nas margens,
tentando puxar conversa com os policiais.
— Então você faz parte de uma equipe da Swat — disse a um jovem mal-
encarado que guardava a entrada das jaulas, com um grande rifle de assalto ao
seu lado. — Mas o que isso significa, Swat? “Equipe de Armas...”
— ...e Táticas Especiais — disse ele rapidamente, antes que eu tivesse chance
de dizer o nome original da unidade, que era Equipe de Armas Especiais de
Ataque.
— Sei. Então, tenho uma curiosidade: que tipo de armas especiais seus
comandantes acham que são necessárias para lidar com trinta cidadãos
desarmados em assembleia pacífica nas escadarias de um prédio federal?
— É só por precaução — respondeu ele, desconfortável.
Eu já tinha dispensado dois convites para falar, mas Lopi era insistente, e por
isso acabei achando melhor dizer alguma coisa, ainda que breve. Então tomei
meu lugar diante das câmeras, olhei de relance para George Washington, que
Description:Uma reavaliação corajosa da ideia política mais poderosa do mundo – a democracia – e a história de como a democracia radical ainda pode transformar os Estados Unidos e o mundo Um projeto de democracia conta a história da resistência do espírito democrático e da adaptabilidade do conceito