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UM ATOR
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CRÉDITOS
Título do original:Ali ActorAdrift
Copyright © 1992 Yoshi Oida com LornaMarshall
Direitosdesta tradução parao Brasiladquiridos de
Methuen London
Tradução:MarceloGomes
Preparaçãodos originais:Adalberro Luísde Oliveira
Revisão:Silvana Vieira
Projetogrãfico: UlhôaCinrra Comunicação Visual e
Arquitetura
Todos os direitos desta edição adquiridos por
.Beca- ProduçõesCulturais Lrda.
RuaCapote Valente,779
CEP 05409-002 Pinheiros São Paulo SP
Fone :(OII) 282-5467 Fax :(OII) 881-8829
e.mail :[email protected]
Dados InternacionaisdeCatalogação naPublicação (CIP)
(Cãmara Brasileirado Livro.SP. Brasil)
Oida,Yoshi
Um atorerrante/Yoshi Oida;comacolabo
raçãodeLorna Marshall; prefácioPeterBrook;
traduçãoMarceloGomes.- SãoPaulo:Beca
ProduçõesCulturais. 1999.
Títulooriginal:Anactoradrift.
1.Artedramática- Teatro2.Atores
Japão- Biografia 3.Oida,YoshiI.Marshall,
Lorna.11.Título
99-2016 COO-927.92
índiceparacatálogo sistemático:
1.Japão:Atoresdeteatro:Biografia 927.92
ISBN 85-87256-03-3
Para Hugh j}IcCormick,
que não mais existe.
NOTA DOS EDITORES
Este livro foi publicado originalmente
naInglaterra,com otítuloAnActorAdri/t, em 1992,
com reimpressões em 1994 e 1996.
Em 1992 foi publicadaa tradução francesa, com
o título L'Acteur Flottant.
A presente tradução brasileira se baseia na
edição inglesa. No entanto, foi feita uma confron
tação com a edição francesa, que possui alguns
acréscimos evariações em relação aooriginal inglês.
A tradução brasileira incorporouasalterações intro
duzidas na edição francesa que foram consideradas
como enriquecedoras, tanto factual quanto concei
tualmente.
O título daedição francesa,embora mais poéti
co, não expressa o real significado do título origi
nal. Cogitou-se de usar,em português, "Um Atorà
Deriva",que, embora mais preciso,poderia passar a
idéia de desamparo e passividade.
Optou-se, finalmente, por "Um Ator Errante",
queexpressao nomadismo indagativodo autor,que
o levou pelo mundo em busca de sua realização
como ator e como ser humano.
demos que o aluno deve estar abaixo do mestre. Eu
I não tinha escolha."
A partir de então, muitas coisas mudaram.
Yoshiéum companheiro,umamigoesempre, aseu
modo, um mestre. Passamos juntosporvárias aven
turas e não consigo nem pensar na exploração de
qualquer novo território sem Yoshi, sempre pronto
a orientar, conduzir ou seguir o que quer que seja
conforme a necessidade da situação, com um talen
to e uma destreza que, embora tenham sido forma
dos noJapão, são essencialmente seus.
uat 11m de
Ainda hoje muitagente me pergunta: "Porque
t disse-me Jean-Louis Barrault. A um grupo internacional? Qual a utilidade parapes
porta de seu escritório se abriu e, em vez de uma soas de diferentes culturas trabalharem juntas? Isso
impressionante figura de quimono que eu mais ou é possível?". O livro de Yoshi - no qual estão uni
menos esperava ver, o homem que entrou era bas das tanto sua pesquisa de ator quanto a do sentido
tante pequeno, e estava vestido formalmente de de sua vida - ilumina essasquestões através de sua
terno e gravata. Não falava nada de inglês, nem própria experiência pessoal.
francês, mas expressava-se de uma outra maneira. Um dia Yoshi me falou a respeito de umas
Ele se curvou uma, duas, três vezes - senti que o palavras de um velho atorde kabuki: "Posso ensinar
compreendia. E quando lhe perguntei sobre fazer a um jovem ator qual o movimento para apontar a
parte de nosso primeiro workshop internacional, lua. Porém, entre a ponta de seu dedo e a lua a
Yoshi inclinou-se concordando. No primeiro dia, responsabilidade é dele". E Yoshi acrescentou:
estavam reunidos mais ou menos uns vinte atores e "Quando atuo, o problema não está na beleza do
atrizes vindos de diferentes países e, para quebrar o meu gesto. Para mim, aquestão é uma só: será que
gelo e estabelecer uma atmosfera informal, senta o público viu a lua?"
mo-nos no chão. Como meus músculos estavam Com Yoshi, eu vi muitas luas.
tensos, peguei para mim uma almofada e percebi
que Yoshi sentava-se bem a minha frente, ereto, Peter Brook
numa perfeita posição de lótus. Depois de um Paris, 1992
tempo, mudei de posição, apoiando-me num dos
braços. Para minha surpresa, Yoshi fez a mesma
coisa. No final do dia, eu estava esparramado,
apoiado em meus cotovelos e constatei o pobre
Yoshi completamente estirado no chão. Algumas
semanas depois, perguntei-lhe se ele gostava de
ficar deitado como vinha fazendo. "De maneira
nenhuma", ele respondeu. "Acontece que você é o
mestre. Desde muito pequenos, no Japão, apren-
(() 11
-------------------- _
...,.
E é desta maneira que revisita algumas zonas
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
pouco exploradas da arte do ator.
Livre dos modismos, permanentemente em
~uarda e em sintonia com seu tempo, ele fala do
teatro como quem busca, através dele, um sentido
para a vida: com o conhecimento do passado e pés
fincados no presente para alavancar o salto que ilu
mina o futuro.
Francisco Medeiros
"O VERDADEIRO TEAT RO
NASCE OUANDO O ATOR CON
SEGUE /JESENROLAR UAI PIO
INVISíVEL EN T RE SEU PRÓ
PRIO SENTIDO DO SAGRADO E
O DO PÚBLICO."
É difícil encontrar um ator que escreva bem.
Assim como não é muito comum encontrar
intérpretes de reconhecido talento que tenham
poder de síntese e clareza ao tentar reflexões sobre
sua arte e sobre o mundo.
É no palco que os atores revelam toda a sua sa
bedoria e poder de comunicação.
Neste sentido YOSHI OIDA é uma exceção.
Pois além de ter conquistado reconhecimento
internacional como ator,diretor, dramaturgo epro
fessor - e de ter trabalhado ao lado de grandes no
mes da cenacontemporânea -, revela-se neste volu
me um refinado escritor.
Viajante obcecado, buscador incansável, Yoshi
conquistou também a sabedoria de expressar-se
com invejável simplicidade.
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INTRODUÇÃO
Às rezes acordo de If/(ldrllgada e me
sinto completamente perdido. Flutuo no espaço
como se não pertencesse ao meu corpo. Nesses mo
mentos, eu me pergunto apavorado: será que este
lugar é perigoso? Onde estou exatamente?
Soboimpériodo medo, lutopara retomaracons
ciência. À medida que começo a perceber alguns
ruídos e a olhar a meu redor, recupero a memória.
Pouco apouco, lembro-medo lugaronde estou eas
razões pelas quais ali me encontro. Essesentimento
de desorientação pode ocorrer-me em qualquer
lugar: na coucbette de um trem noturno, em alguma
parte da Índia ou deitado numa cama de campanha
nos arredores de um vilarejo africano, dormindo a
céu aberto sem ter sequer aproteção de uma tenda.
Enquanto vou acordando, lentamente, meu olfato,
por sua vez, se recompõe. Cada lugar possui um
aroma particular. A Índia tem o seu, bem como os
desertos da Arábia ou Paris.
Uma vez reconfortado pelos sons, visões e aro
mas, faço esforços para me localizar em alguma
partedo globo terrestre. Ora,o mapaque tenho em
mente não é mais o de minha juventude, em
Tóquio, cujo centrodo mundoera oJapão. Naquele
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mapa, a América estava localizada à extrema direi fazrespondergeralmenteoseguinte: "Ao contrário,
ta, depois do Oceano Pacífico, com Nova Iorque no vocês éque são corajosos de ainda suportar aspres
outro extremo, à direita. À esquerda do Japão, sõesde umasociedade rígida, osgolpes baixos aque
havia a China e a Índia, depois a Europa, e enfim se expõem os que se desenvolvem no círculo fecha
Londres, bem na ponta. Hoje não é mais este mapa do do mundo do teatro, e todos os pudores que ali
que evoconomeudespertar, mas aqueledo Ociden estão. Apesarde tudo, vocêscontinuam a trabalhar.
te cujo centro é a Europa e onde oJapão é apenas Eu mesmo jamais teria coragem de fazê-lo. É só
visível no lado de cima, à direita. Essa coleção de porque sou um indolente que decidi abandonar o
ilhotas do outro lado do mundo, para mim, trans Japão para trabalharcom osocidentais. Naverdade,
formou-se realmente no Extremo Oriente. eu poderia ser tachado de refugo da sociedade".
Hoje sei posicionar-me em qualquer ponto do Regularmente encontro japoneses em Paris que
globo sem a necessidade de ter oJapão como refe declaram: "Desfiz-me de tudo que tinha no Japão
rência. Mas a sensação de flutuar no espaço como antes de vir para Paris. É na França que quero ser
uma medusa à deriva persiste, fazendo nascer uma enterrado".
nova fonte de angústia. Para além desta cama onde Para mim é diferente. Não quero morrer aqui.
estou deitado, tudo me parece estranho. Por que Aceito perambularpelo mundo, mas tenho necessi
estou só?E porque neste lugar? Porque, na minha dade de voltaraoJapão. E, mais precisamente, à re
idade, ainda não tenho casa, nem família? Que seré gião de Osaka, onde nasci. Não consigo explicar
este no qual me transformei, jogado para lá e para precisamente o porquê desse sentimento, mas é lá
cá, como uma alga flutuante? Nas cidades e vilare que quero terminar meus dias.
josdo interior, ascrianças me apontam odedo, gri É verdade que, quando deixei o Japão, nem
tando: "Um chinês! Um chinês!" Afinal, oque fize pensava nessa históriade sepultura. Fui emboraem
ram os orientais para merecer tal tratamento? Até abril de 68 em plena revolução esrudantil. Um belo
os adultos, às vezes, também reagem assim. Às dia, a atriz Teruko Nagaoka entrou em contato
vezesme acontecede entrarem alguns bares eouvir comigo: "Tenho uma proposta para te fazer. Você
que o estabelecimento está fechado. Nas cidades quer ir a Paris? Não conheço todos os detalhes do
grandes, onde o turismo atrai muitos de seus com projeto, mas vou te dizer mesmo assim. O professor
patriotas, o japonêsésempre bem-vindo, desde que de literarura francesa, Rikie Suzuki, recebeu uma
esteja de passagem. A partir do momento que carta de Jean-Louis Barrault, diretor do teatro
decideficar,tudo muda. Finalmente, éapenas como Odéon em Paris. Ele precisa de um ator japonês.
encenador, ou ator, quer dizer, no teatro, que sou Todos os anos, Barrault organiza um festival inter
tratado em pé de igualdade. Um campeão de caratê nacional de teatro, Le Théâtre des Nations. Neste
talvez tenha maior consideração, gozando de mais ano, convidou Perer Brook, um dos encenadores da
prestígio, enquanto que o japonês comum é visto Royal Shakespeare Company, que está com a
sempre como um intruso. intenção de montar uma versão experimental de A
Muito freqüentemente, atores amigos meus, de Tempestade com atores americanos, franceses e um
passagemporParis, cumprimentam-me: "Vocêtem japonês. Tinham em mente um ator de teatro nô,
coragem de trabalhar com esses estrangeiros, num como Hisao Kanze, ou de kyôgen, como Mansaku
contexto tão diferente daquele doJapão", oque me Nomura, porém osdois estão comprometidos e não
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