Table Of ContentLudwig Binswanger
TRES FORMAS
DA EXISTÊNCIA
MALOGRADA
Extravagância
Excentricidade
Amaneiramento
ZAHAR
m
EDITORES
PSYCHE
Para referência bibliográfica adicional.
Ver lista no final do Volume
LUDWIG BINSWANGER
TRÊS FORMAS
DA EXISTÊNCIA
MALOGRADA
Extravagância
Excentricidade
Amaneiramento
Tradução de
GUIDO A. DE ALMEIDA
Professor de Filosofia da
Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro
ZAHAR EDITORES
RIO DE JANEIRO
Título original;
Drei Formen Missglückten Daseins — Verstiegenheit,
Verschrobenheit, Manieriertheit
Traduzido da primeira edição alemã, publicada em 1956
por MAx NIEMEYER VERLAG, de Tübingen, Alemanha
Copyright © 1956 by Max Niemeyer Verlag
capa de
ÉRIco
1977
Direitos para a língua portuguesa adquiridos por
Z A H A R E D I T O R E S
Caixa Postal 207, ZC-00, Rio
que se reservam a propriedade desta versão
Impresso no Brasil
A MARTIN HEIDEGGER
i sinal de gratidão
Nota Preliminar do Tradutor
A escolha dos termos extravagância, excentricidade e amaneira
mento para traduzir Verstiegenheit, Verschrobenheit e Manieriert
heit encontra-se justificada em notas separadas do tradutor no co
meço de cada um dos capítulos. O termo malogrado foi escolhido
de preferência a frustrado para traduzir missglückt ou mislungen,
porquanto Binswanger tem em Vista não o simples desapontamento
ou a não-satisfação de um desejo, tendência ou projeto do ser
humano, mas o malogro ou fracasso da existência em sua totali
dade "como ser-aí" ou "ser-no-mundo”.
ÍNDICE
Prefácio ............................................................................................................... 9
I. A Extravagância ................................................................................... 13
II. A Excentricidade .................................................................................. 22
A. Clínica e Psicopatologia ............................................................ 24
1. Os Psicopatas Excêntricos .............................................. 24
2. Excentricidade e Esquizofrenia ..................................... 26
B. A Expressão "Excentricidade" e Suas Perífrases ........... 37
C. A Significação Antropológica da Expressão “Excentrici-
dade" e de Suas Perífrases ................................................ 41
D. A Significação Ontológica da Expressão "Excentricidade"
e de Suas Perífrases .............................................................. 45
E. Análise Existencial da Excentricidade .................................. 49
Primeiro Exemplo ....................................................................... 51
Segundo Exemplo ....................................................................... 57
Terceiro Exemplo ....................................................................... 61
Quarto Exemplo ......................................................................... 65
Quinto Exemplo ......................................................................... 71
F. A Essência da Excentricidade ............................................... 80
G. Tomada de Posição Quanto às Concepções Clínicas da
Excentricidade
Excentricidade, Amaneiramento, Fanatismo ...................... 92
III. O Amaneiramento ................................................................................ 106
A. As Perífrases do Amaneiramento na Linguagem Colo
quial e na Linguagem da Psicopatologia ................ 107
B. Para uma Compreensão e Descrição Clínicas dos Jeitos
Amaneirados Esquizofrênicos ............................................. 11I
8 ÍNDICE
C. A Propósito do Amaneiramento como Forma Existencial
Esquizofrênica ............................................................... 125
O Caso Jürg Zünd como Paradigma ....................... 125
D. O Maneirismo como Estilo Artístico ...................... 132
1. Nas Artes Plásticas ......................................................... 132
2. Na Arte Literária ........................................................... 147
Excurso sobre a Desagregação ..................................... 161
E. Para uma Análise Existencial ............................................ 169
1. A Partir da Linguagem Coloquial ........................... 169
2. A Partir do Maneirismo Artístico e do Amaneira
mento como Forma Existencial ............................ 178
3. Colocações Iniciais para uma Análise Existencial do
Amaneiramento ............................................................ 187
F. Extravagância, Excentricidade, Amaneiramento e Esqui
zofrenia .............................................................................. 203
PREFÁCIO
Os três tratados aqui publicados constituem uma etapa do ca
minho que leva à compreensão existencial-analítica do decurso e
das formas da existência (Dasein) esquizofrênica. Nessa medida,
constituem uma contrapartida de meus "Estudos sobre o Proble
ma da Esquizofrenia", publicados no Schweizer Archiv für Psy
chiatrie und Neurologie de 1945 e 1952. Esses estudos tinham por
ponto de partida a descrição clínico-psiquiátrica da sintomatolo
gia e da evolução de "casos" particulares da esquizofrenia. Seu
objetivo, porém, era a compreensão existencial-analítica desses
''casos'', no sentido das transformações dos modos da existência
humana em geral. Da mesma maneira, os tratados aqui reunidos
têm por ponto de partida as denominações e descrições clínico-
psiquiátricas de determinados sintomas esquizóide-psicopáticos e
esquizofrênicos no sentido de características diagnósticas. Mas seu
objetivo é, mais uma vez, a exibição e a compreensão das transfor
mações e formas existenciais, nas quais temos que ver as incon-
tornáveis condições de possibilidade para que o psiquiatra extraia
esses ''sintomas", a titulo de características diagnósticas, do curso
da existência humana e os reduza ao nível do conhecimento psi
quiátrico.
Por essa razão, tanto nos trabalhos mencionados, quanto nos
presentes estudos, a primeira coisa a fazer foi, mais uma vez, re
tirar a psicopatia esquizóide e a esquizofrenia do quadro estreito
do juizo de valor biológico — como deve ser considerado o juízo
médico — e do estado-de-coisas médico-psiquiátrico da doença e
da morbidez, a fim de transportá-las para o quadro mais amplo
da estrutura existencial ou do ser-no-mundo humano, cujo a priori
foi ''trazido à luz'' por Heidegger em sua analítica existencial.
Para evitar equívocos, observemos desde logo, porém, que a ana
lítica existencial constitui tão-somente o (indispensável, é verda
de) solo e fundamento ontológico para as nossas próprias inves
10 TRÊS FORMAS DA EXISTÊNCIA MALOGRADA
tigações. Elas próprias ocupam-se apenas da estrutura fáctica ou
ôntica de determinadas formas e transformações existenciais. Pos
to que também podemos designar as múltiplas estruturas das
possibilidades existenciais através da expressão francesa condition
humaine, até mesmo o leitor sem formação filosófica poderá per
ceber que, aqui, estaremos sempre tratando de temas e pesquisas
concernentes ao homem puramente enquanto homem. Assim, a
extravagância, a excentricidade, o amaneiramento1 revelam-se,
como mostraremos, como ameaças humanas universais, isto é,
irnanentes a existência humana. Por conseguinte, a extravagância,
a excentricidade e o amaneiramento — voltamos a ressaltar —
não são mais considerados aqui num sentido médico-psiquiátrico
como "inferioridades", "desacertos" ou ''sintomas" doentios. Tudo
aquilo que designarmos como psicopatia ou doença mental será
uma forma determinada de semelhante frustração ou malogro,
restrita ao quadro da psiquiatria enquanto ciência médica e redu
zida ao nível do conhecimento psiquiátrico.
Como mostrou W. Szilasi em sua obra profunda e, aliás, in
dispensável para nossas investigações, Macht und Ohnmacht des
Geistes (Potência e Impotência do Espírito), o sentido das ex
pressões que, a propósito do ser-aí, se referem ao êxito ou ao su
cesso, à frustração ou ao malogro remonta essencialmente a Pla
tão e Aristóteles (e, mesmo, a Heráclito), mas domina também
a doutrina de Kierkegaard sobre a "possibilidade'' como "a mais
difícil de todas as categorias" e, sobretudo, o conjunto da analíti
ca existencial de Heidegger. Pois o ser-aí é aquí considerado e
compreendido como "a possibilidade de ser livre para seu mais
próprio saber-e-poder-ser". Em vez de frustração ou malogro (do
ser-aí), trata-se aqui do fato de que o ser-aí continuamente ''abdica
das possibilidades de seu ser", "agarra-as" ou "equivoca-se" ao
tentar agarrá-las, ou do fato de que ele pode ''extraviar-se e equi
vocar-se a respeito de si mesmo"2. Aproveitemo-nos disso para de
novo apontar para o fundo existencial-ontológico de nossas inves
tigações ônticas.
A mesma distinção vale para o traço comum aos três modos
de frustração do ser-aí, a saber, os três modos pelos quais sua
autêntica movimentação (Bewegtheit) histórica pode vir a se ''pa
ralisar" ou ''chegar ao fim". Muito embora, para nós, ''a movi
mentação do ser-aí" não signifique, é claro, a ''movimentação
de um objeto simplesmente subsistente", deixaremos, aqui também,
1 Para a justificação da escolha desses termos como tradução de Ver-
stiegeneit, Verschrobenheit e Manieriertheit, v. as notas preliminares de
cada capítulo (N. do T.).
2 Cf. Heidegger, Sein und Zeit, p. 144.