Table Of ContentUNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
DRAGÃO CONFABULANDO:
ETNICIDADE, IDEOLOGIA E HERANÇA CULTURAL
ATRAVÉS DA MÚSICA PARA KOTO NO BRASIL
TESE SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM MÚSICA DA UNVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA COMO
REQUISITO PARCIAL À OBTENÇÃO DO GRAU DE
DOUTOR EM MÚSICA
ETNOMUSICOLOGIA
ALICE LUMI SATOMI
SALVADOR
FEVEREIRO DE 2004
© 2004 Alice Lumi Satomi
Aqui, a expressividade do canto é diferente, pois já
tem o jeito de viver do brasileiro... Meu objetivo em ensinar mú-
sica clássica japonesa é despertar o interesse, principalmente,
das nisei e sansei, mas sem tornar rígido... Por isso, ensino min-
yō também. Ensinando para essas crianças, pode ser que elas
não entendam nada, hoje, mas alguma coisa eu acho que fica,
quando elas se tornarem adultas.
Tamie Kitahara
O primeiro desejo do imigrante é reconstruir em tor-
no de si o meio em que vivia, a cultura de que se apartou. [...] O
estrangeiro, mesmo quando admitido à condição de cidadão bra-
sileiro, e apesar de toda a lealdade com a nova pátria, continua a
cultivar num canto do coração o jardim secreto do país abando-
nado.
Roger Bastide, Brasil Terra de Contrastes
In memoriam
Genjiro Satomi
Ivone Arata Endo
Nobuo Agena
Seikichi Yonamine
e de todos os imigrantes e descendentes
que labutaram em terras brasileiras para garantir
um futuro melhor para as gerações vindouras e para o país receptor.
Para
Okāchan
Jorge
Fernando
Kayami e
Mayara
AGRADECIMENTOS
Agradeço a colaboração direta ou indireta para a realização deste trabalho:
Aos co-autores deste trabalho pela boa receptividade e confiança.
Ao colegiado do curso de Educação Artística do Departamento de Artes da UFPB
pela liberação concedida para dedicação exclusiva do curso de doutorado, em especial aos co-
legas da área de Habilitação em Música.
Aos dirigentes da CAPES e PICD pela concessão da bolsa de estudos.
Aos professores do curso de pós-graduação da UFBA:
Luiz César Magalhães pela paciente orientação; Kilza Setti, pelos caminhos apon-
tados; Manuel Veiga, Angela Lühning, Alda e Jamary Oliveira, Joel Barbosa e Elizabeth Lucas
pelas válidas sugestões.
Aos secretários do Programa de Pós Graduação, Maísa e Pedro.
Ao colega Maurílio Rafael.
Aos bibliotecários Peter Krometsek, da UFPB e Hiroko Yanagi, da ACBJ.
A L. C. Vinholes e Bonnie Wade por me confiarem publicações preciosas para a
pesquisa.
Ao maestro Kenichi Yamakawa pelos artigos e manuscritos doados.
A Minako Waseda, Shanna Lorenz, Eurides Santos e Eunice Moura, por me envia-
rem gentilmente útil material bibliográfico.
A Kitty Pereira e Mário Manga por me confiarem gravações inéditas.
A Genichi Tsuge, Shūhei Hosokawa e Margaret Kartomi pela atenção dispensada.
A Harue Tanaka pelas tomadas de fotos em Recife e Sérgio Agripino pela primei-
v
vi
ra fita de música para koto em áudio.
Aos principais informantes, sem os quais seria impossível concretizar este trabalho:
Miriam Sumie e Shigeo Saito, professores do Miwa-kai e Shinzan-Kai; Yūko Ogu-
ra e Reiko Nagase, professoras do Miyagi-Kai; Tamie Kitahara, professora do GSBK – Grupo
Seiha Brasil de Koto; e Tomoko Inoki, professora da Tomoi-Kai; Tsuna Iwami, presidente da
ABMCJ – Associação Brasileira de Música Clássica Japonesa; Shōjiro Saeki, Danilo Tomic e
Márcio Valério da ABMCJ; Olavo Tomohisa Ito, Nobuko Sugio, Fumi Naiki, Mary Celeste
Bueno e Yumiko Hayashi, do Miyagi-Kai; Chieko Chibana, presidente da Ryūkyū Sōkyoku Ho-
zonkai do Brasil; Ryoko Kuniyoshi, presidente da Ryūkyū Sōkyoku Koyōkai do Brasil; Shinkun
Chibana, presidente da Preservação Nomura do Brasil; Yukihide Kanashiro, do site Okinawa;
Marcelo Tinen e Cida Genka, do jornal Utiná News.
Aos seguintes colaboradores, pela valiosa ajuda técnica:
Meiri Yoshie Nakamura pela confecção dos mapas e tomadas de fotos; Kayami Fa-
rias pelas edições das transcrições, Kazuko Adachi, Flávio Barros pela revisão das traduções e
Analice Ferreira pela revisão do texto em português.
Às profas. Satiko Fukuda e Sonia Yamakawa pelos primeiros passos na música.
Ao prof. Koellreutter pelo rumo à estética da música japonesa.
Ao mestre Liu Pai Lin pelos ensinamentos do Tao.
A Josilene da Silva por suprir as ausências no lar.
A todos os meus familiares, os primeiros no afeto, compreensão e estímulo:
Fernando Farias, paciente companheiro de todos os momentos e ausências; Fumiko
Satomi e Mayara Farias por participarem “ativamente” na pesquisa de campo; Jorge Satomi pe-
la força de sempre; Bernadete Farias pela acomodação em Salvador; Yoko e Alexandre Satomi
pela acomodação em São Paulo; Tsutomu, Tiyoko e Clarice Oba pelos registros em vídeo; Vi-
tor, Emerson, Napoleão e Eduardo Satomi por facilitarem minha locomoção em São Paulo.
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
ÍNDICE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xi
LISTA DE TABELAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii
LISTA DE ABREVIAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii
GLOSSÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv
MÉTODO EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxiii
RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxvi
ABSTRACT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxviii
Capítulos
ABERTURA
1. O ESTUDO EM SUA NATUREZA ETNOMUSICOLÓGICA
1.1. Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1. âmbito e construção do objeto de pesquisa
1.1.2. universo de referência e a pergunta de partida
1.2. Justificativa da delimitação temática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.1. literatura brasileira incipiente
1.2.2. diminuição dos issei e aparente esmorecimento da música para koto
1.3. Revisão de literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3.1. música japonesa “transterritorializada”
1.3.2. estudos culturais correlatos
1.4. Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.5. Procedimentos metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
PARTE I. DADOS MUSICAIS IMIGRADOS
2. DRAGÃO DEITADO NA AREIA CONFABULA COM AS ONDAS
2.1. Questões de categorização do instrumento e gênero musical. . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.1. koto derivado do ch’in ou chêng?
2.1.2. sōkyoku: música instrumental ou vocal?
2.2. Constituição, simbologia, forma de execução e afinações do koto. . . . . . . . . . . 25
2.3. Diacronia das escolas Sōkyoku. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.1. escolas antigas: Tsukushi-goto e Yatsuhashi-ryū
2.3.2. correntes seculares vigentes: Ikuta-ryū e Yamada-ryū
vii
viii
2.4. ‘escolas novas’ shinsō: ocidentalização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.1. restauração Meiji
2.4.2. Michio Miyagi
2.4.3. compositores do pós-guerra
42
2.5. Música para kutū em Okinawa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3. NOTAÇÃO MUSICAL E RECURSOS SONOROS DO KOTO
3.1. Sistema de tablatura e mnemônicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.2. Duração: modernidade e tradição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.3. Altura: representações e possibilidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.3.1. com o auxílio da mão esquerda
3.3.2. técnicas da mão direita
3.4. Efeitos timbrísticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.4.1. com os plectros
3.4.2. ocidentalizados
3.5. Intensidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4. A CONTIGÜIDADE DE “ROKUDAN”: UMA INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE REPERTÓRIO
PARA KOTO
4.1. Critério de escolha e transcrição da peça. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.2. Estrutura básica: andamento, afinação e modo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.3. Micro à macro estrutura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.3.1. ornamentos
4.3.2. motivos e frases
4.3.3. forma geral e subterritórios
PARTE II. SURGIMENTO E CONTINUIDADE DE ATITUDES PRÉ-GUERRA
5. MÚSICA E RESISTÊNCIA DAS FILIAIS BRASILEIRAS DE RYŪKYŪ
5.1. Conduta cultural da minoria okinawana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.1.1. etnicidade e música
5.1.2. coesão e bairrismos
5.2. Antecedentes e causas da formalização dos grêmios de música “clássica” . . . . . 90
5.3. Ideologia e manutenção até a década de 90 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.3.1. conceitos “preservação” e “difusão” como reconstrução da tradição
5.3.2. objetivos, estágios, performances, protagonistas e âmbito físico
5.4. Preservação do Kutū no Brasil (PKB): cenário e protagonistas . . . . . . . . . . . . . . 97
5.4.1. situação atual da PNB
5.4.2. professoras principais
5.4.3. preparação e performances
ix
5.5. Difusão do Kutū no Brasil (DKB). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .103
5.5.1. principais agentes e âmbito da ANB
5.5.2. as protagonistas
5.5.3. treinamento e apresentações
5.5. Sentido da atitude musical. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
6. A HERANÇA FAMILIAR DO GRUPO MIWA: MÚSICA E SOLIDARIEDADE
6.1. Prólogo: o legado e antecedentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .114
6.1.1. heráldica transterritorializada do dragão e fênix
6.1.2. primeiros registros da música “clássica” japonesa no Brasil
6.2. A implantação do Grupo de Estudos da Música e Dança Japonesa . . . . . . . . . .118
6.2.1. circunstâncias na chegada do casal Miyoshi
6.2.2. “Noite da música japonesa” e a fundação
6.2.3. estabelecimento do formato das performances
6.3. Manutenção do GEMDJ: do pós-guerra até 1990 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
6.3.1. preparação da segunda geração e aliança católica até 1958
6.3.2. GEMJ, a última fase de Miwa Miyoshi
6.4. Continuidade com a professora Saito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
6.4.1. audições do Miwa-kai
6.4.2. apresentações irrestritas à comunidade
6.5. Ensino e aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
6.5.1. locais, atores sociais e motivação
6.5.2. estratégias: memória aural, mnemônicos e proezas
6.6. A sucessão musical e cultural: koto e filantropia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
PARTE III. ABMCJ: IMPLANTAÇÃO DA MENTALIDADE PÓS-GUERRA
7. ESCOLAS DE SHAKUHACHI E YAMADA-RYŪ: A RECUPERAÇÃO DO “SENSO ARTÍSTICO”
7.1. Algumas peculiaridades contextuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
7.1.1. novo tipo de imigrante
7.1.2. hierarquias musicais: iemoto e purismo
7.2. Ala masculina: escolas de shakuhachi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
7.2.1. formação e atuação de Iwami e Baikyoku V
7.2.2. discípulos da Kinko-ryū
7.2.3. Academia de Shakuhachi Tozan-ryū
7.3. As performances da ABMCJ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
7.4. As remanescentes da corrente Yamada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .160
7.4.1. formação e atuação artística de Tomoi Inoki
7.4.2. breve período de ensino da Tomoi-Kai
7.4.3. Yumiko Hayashi
Description:no ha (há) hi hya hyu hyo hu fa fi fe fo he (hê) ho (hô) ba (bá) bi bya byu byo bu be (bê) bo (bô) pa (pá) pi pya pyu pyo pu pe (pê) po (pô) ma (má) mi mya myu myo mu me. (mê) mo. (mô) .. um terço das comunicações apresentadas pelos brasileiros versava sobre música urbana. No entant