Table Of ContentTambém o cisne morre
Aldous Huxley
tradução
Paulo Moreira da Silva
Copyright © 1952 by Laura Huxley
Copyright da tradução © 2001 by Editora Globo S. A.
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Texto fixado conforme as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no
54, de 1995).
Editor responsável: Ana Lima Cecilio
Editor assistente: Erika Nogueira Vieira
Editor digital: Erick Santos Cardoso
Preparação: Vanessa Carneiro Rodrigues
Revisão: Fabio Cesar Alves
Diagramação: Jussara Fino
Capa: Thiago Lacaz
Ilustração da capa: Catarina Bessel
Foto do autor: Hulton Archive/Getty Images
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj
H989t
Huxley, Aldous
Também o cisne morre / Aldous Huxley ; tradução Paulo Moreira da Silva.
- 3a ed. - São Paulo : Globo, 2014.
352 p. ; 21 cm.
Tradução de: After many a summer dies the swan
isbn 978-85-250-5681-8
1. Romance inglês. i. Silva, Paulo Moreira da. ii. Título.
14-10073 cdd: 823
cdu: 813.111-3
3ª edição, 2014
Direitos exclusivos de edição em língua portuguesa, para o Brasil adquiridos por Editora Globo S. A.
Av. Jaguaré, 1485
05346-902 São Paulo-SP
www.globolivros.com.br
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Epígrafe
Também o cisne morre
Parte I
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Parte II
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Parte III
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo I
Capítulo II
Posfácio
Obras de Aldous Huxley pela Biblioteca Azul
Notas
Os bosques apodrecem e se extinguem,
A nuvem se desfaz em chuva sobre o solo.
E o homem lavra a terra, e sob a terra jaz,
E após muitos verões também o cisne morre.
tennyson
Também o cisne morre
PARTE I
Capítulo I
Tudo tinha sido combinado por telegrama. Jeremy Pordage devia procurar
um chofer negro de uniforme cinzento, com um cravo encarnado na lapela, e o
chofer negro devia procurar um inglês de meia-idade, com as Obras poéticas de
Wordsworth debaixo do braço. Apesar da multidão que literalmente lotava a estação,
encontraram-se sem dificuldade.
— É o senhor o chofer de mister Stoyte?
— É o senhor? Mister Pordage?
Jeremy assentiu com um movimento de cabeça e, o Wordsworth numa das mãos,
o guarda-chuva na outra, estendeu um pouco os braços, como um manequim
autodepreciativo a exibir, com plena e bem-humorada consciência de seus defeitos,
uma figura deplorável acentuada pelas roupas ridículas. “Sei que sou um pobre
diabo”, parecia dizer, “mas a culpa não é minha!”. Já lhe era habitual esse
rebaixamento defensivo em qualquer ocasião.
De súbito, uma nova ideia tomou sua mente. Angustiado, perguntou-se se
deveria, neste faroeste democrático, apertar a mão do chofer — especialmente por
se tratar de um homenzarrão negro daqueles — ao menos para demonstrar que não
era um pukka sahib, apesar de ser originário do país que, no momento, era o
portador do “fardo do homem branco”. No fim resolveu não fazer coisa alguma.
[1]
Ou, mais precisamente, se viu forçado a isso — “como de costume”, disse com
seus botões, sentindo um prazer estranho, um prazer amargo, do reconhecimento
das próprias insuficiências. Pois enquanto hesitava, o chofer tirou o boné e,
interpretando com um tanto de exagero o papel de mordomo negro dos velhos
tempos, fez uma reverência, sorriu mostrando os dentes e disse:
— Bem-vindo a Los Angeles, mister Pordage!
E, mudando do dramático para o confidencial o tom cantante e arrastado de
sua voz, acrescentou:
— Mesmo que o senhor estivesse sem o livro, mister Pordage, eu o teria
reconhecido pelo sotaque...
Jeremy deu um risinho amarelo. Uma semana de América fora o bastante para
que percebesse a esquisitice de sua voz. Era uma voz medíocre, aflautada, produto
do Trinity College de Cambridge dez anos antes da guerra, que lembrava a
sonoridade das vésperas nas catedrais inglesas. Na Inglaterra podia usá-la à vontade,
pois ninguém reparava. Jamais tivera de caçoar dela, tal como fazia — por medida
de proteção — de sua aparência ou de sua idade, por exemplo. Mas aqui, na
América, a coisa era outra. Bastava-lhe pedir um café ou perguntar o caminho do
lavatório (que, por sinal, ninguém chamava de lavatório neste país desconcertante)
para que todos o olhassem com a curiosidade maliciosa e atenta com que se olha
um monstro exibido num parque de diversões. Não era nada agradável!
— Onde está o encarregado? — perguntou, afobado, para mudar de assunto.
Poucos minutos depois estavam a caminho. Refestelado no assento traseiro do
automóvel, fora do alcance — ao que esperava — da conversa do chofer, Jeremy
Pordage abandonou-se ao prazer de simplesmente olhar. A Califórnia meridional
desfilava pelas janelas. Tudo o que tinha a fazer era conservar os olhos abertos.
A primeira coisa a se apresentar foi um bairro sórdido de africanos e filipinos,
japoneses e mexicanos. Que combinações, que misturas de preto, amarelo e pardo!
Que complexos hibridismos! E as moças, como eram lindas em seus vestidinhos de
seda sintética!
“E negras senhoras em branca musselina”, seu verso predileto de “O
prelúdio”. Sorriu, para si mesmo.
Entretanto, o bairro sórdido dera lugar aos elevados edifícios de um distrito
comercial. A população assumira tonalidade mais caucasiana. Em cada esquina
havia um bar. Jornaleiros vendiam manchetes anunciando a marcha de Franco
sobre Barcelona. Quase todas as moças que passavam pareciam absortas em preces
silenciosas. Mas, pensando bem, Jeremy chegou à conclusão de que era chiclete
aquilo que elas, incessantemente, ruminavam. Chiclete, e não Deus.
De repente o carro mergulhou num túnel e saiu num outro mundo, um mundo
imenso, desalinhado, suburbano, cheio de cartazes e postos de gasolina, casinhas de
um só pavimento no meio de jardins, terrenos baldios, lixo, uma ou outra casa de
negócio, edifícios de escritórios e igrejas metodistas primitivas — quem o diria? —
Description:"TambГ©m o Cisne Morre" satiriza o modo de vida dos magnatas de Los Angeles e teria sido baseado na mesma figura histГіrica que inspirou CidadГЈo Kane. Aldous Huxley (1894-1963) Г© um dos mais importantes escritores do sГ©culo XX e ficou mundialmente conhecido nГЈo sГі pelo seu famoso