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DE LA RAZÓN
fotografia e transformaçâo social
fotografia e transformaçâo social
p René González, 2007
Ensayo 6 Vai dizer que nunca sentiu uma fotografia desviar
seu caminho?
Claudia Linhares Sanz
Ensayo fotográfico 11 Desejo eremita.
Rodrigo Braga
Ensayo fotográfico 20 Investigações fotográficas.
Sofia Dellatorre Borges
26 Jorge Sáenz: La mirada transformadora.
Entrevista
Fredi Casco
Ensayo fotográfico 38 Awicha, la boda de los ancianos.
Christian Lombardi
50 Resignificación del documento fotográfico.
Conversación
Fredi Casco y Cia de Foto
64 AIWIN. La imagen de la sombra.
Proyecto
Andrea Josch
78 La fotografía de América Latina es una fotografía
Entrevista
que hierve, sale de un sustrato en movimiento.
Luis Weinstein, entrevista a Claudi Carreras
Investigación 86 Imágenes de un pasado reciente.
Isabel Wschebor y Magdalena Broquetas
Artículo 94 La poderosa magia de mirar con bondad y poesía.
Pablo Corral Vega
102 La ONG, el espacio de los que no tienen espacio.
Artículo
Nelson Garrido
105 Comité editorial.
(Pág. 2) Descarga en el arroyo Mbu-
riacó de los deshechos de mataderos
de animales. Barrio “Tablada Nueva”,
Asunción. 2007.
Soñar la razón, o aquello de que cuando la razón bajos en primera persona: “sueño de la razón” es
sueña “produce monstruos”, o bien: la razón es un medio construido por imágenes, entrevistas,
sólo un sueño. También puede que la razón sea ensayos, investigaciones y proyectos.
sólo una proyección, o todas las anteriores...
El mayor desafío es presentar estos mundos
Es el nombre de nuestra revista, también creados a un público mucho más amplio que los
representa el espíritu colectivo y reflexivo que fotógrafos, seducir a los lectores con las búsque-
anima esta nueva publicación. Un proyecto en das planteadas y los caminos desarrollados por
ebullición que quiere conversar sobre la foto- fotógrafos y escritores para entender mejor las
grafía que producimos en América del Sur, y que prácticas sociales, culturales o artísticas.
por ello respeta el idioma de origen de los textos
y las colaboraciones. “Sueño de la razón” es un espacio de investi-
gación y divulgación cultural. En este primer
Convocamos a un grupo de fotógrafos, gestores número, el ejercicio es alrededor de “Fotografía
del “barrio grande”, para editar una revista regio- e transformaçao social”. Las transformaciones
nal y, si nos están leyendo, es porque resultó que la fotografía propone, desde los proyectos de
una parte importante de este sueño (falta saber revolución social hasta los de transformación per-
aún si hay razones para eso de “la razón”...). sonal. Intima una, amplia la otra. Documental una,
construida la otra. Reportajes para unos, series
El Centro Cultural Simón I. Patiño de Santa Cruz, para otros, siempre la fotografía como protagonista
Bolivia, desarrolla varias áreas de gestión cultu- privilegiada de la producción cultural. Por ejemplo,
ral, entre las que se cuenta la investigación. La el registro hecho por una fotógrafa profesional
edición de una revista que elabora una perspec- brasilera de indios Yanomami, numerados para su
tiva de la fotografía como interpretación de la identificación en un proceso de vacunación, leídos
cultura de las sociedades donde se crea, opera 40 años después y comentados en un diálogo
como producto de investigaciones culturales. El contemporáneo junto a las imágenes de un cura
espacio de trabajo son los países sudamerica- aficionado a la fotografía e inmerso en las comu-
nos, reunidos en el centro geográfico: editores nidades agrícolas paraguayas, devastadas luego
provenientes de las comunidades fotográficas por los esbirros de Stroessner. O la fotografía como
de Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Ecuador, testigo de un par de abuelos que transforman sus
Paraguay, Uruguay y Venezuela, trabajando en vidas pasados los 80, casándose en La Paz “hasta
Santa Cruz de la Sierra. que la muerte los separe”. También el trabajo docu-
mental de jóvenes de comunidades mapuche, que
Propuesta desde Chile, diseñada en Argentina, resignifican sus vivencias apoyados por el registro
publicada e impresa en Bolivia y subida a Internet de la fotografía, aprendida en talleres y puesta en
en Ecuador, “Sueño de la razón” es una revista so- valor por su circulación. Junto a estas imágenes
bre fotografía distribuida gratuitamente a centros testimoniales, la búsqueda contemporánea de
de estudio artísticos y de ciencias sociales, así la transformación personal, en construcciones
como a bibliotecas públicas de la región. que usan la fotografía y estiran sus posibilidades
creativas o incluso, las declaraciones de un cura-
El comité editorial de “sueño de la razón” se plan- dor español que se pregunta si acaso la fotografía
tea como un colectivo de trabajo para publicar no transforma, para qué invertirán tanta plata en
dos números anuales monográficos, que crucen campañas publicitarias? Un centenar de páginas
la producción fotográfica de América del Sur. Pre- que interpelan desde la fotografía sudamericana a
tendemos establecer una narración de textos e la realidad cultural donde vivimos.
imágenes que expongan la fotografía y sus bús-
quedas en torno a ejes temáticos. Los coeditores Esperamos sus comentarios para enriquecer
que participan de este proyecto son integrantes este trabajo, entendemos que avanzamos por
activos de sus respectivas comunidades de un terreno muy fértil y en pleno desarrollo.
origen, cuestión esencial para presentar los tra- ¡Hasta la próxima!
Sueño de la Razón
E vai dizer que a fotografia não transformou nossas
próprias vidas? Vai dizer que nunca sentiu uma foto-
grafia desviar seu caminho?
6
Vai dizer que nunca sentiu uma
fotografia desviar seu caminho?
por CLAUDIA LINHARES
As fotografias que me importam são as que Talvez sejam um pouco como as marcas des-
transformam – criam marcas; provocam aber- critas por Sueli Rolink, aquelas que produzem
turas (mesmo mínimas). As outras adornam estados inéditos em nossos corpos, consti-
a paisagem, cultivam a vaidade do fotógrafo, tuem a diferença que “instaura abertura para a
exibem a inteligência do autor – mas, sim- criação de um novo corpo”, “gêneses do devir”.
plesmente, não são táteis, não me tocam. O desassossego obriga a novo movimento.
Esvaziam-se por si mesmas. Desaparecem Outro corpo faz-se necessário, outro olho para
por não serem capazes de entranhar-se em olhar. Abrem-se fendas para invenção de novas
outras experiências, não fermentam, isolam- conexões:
se. Gosto das marcas. É bom ser atingida por
uma foto. Aquelas de que sou alvo transpi- É que quando estamos vivos, continuam se
ram, desdobram-se em outras angústias, fazendo marcas em nosso corpo. (...) É que uma
alegrias, críticas. Transformações? De todo vez posta em circuito, uma marca continua viva,
tipo. Visíveis, óbvias, mínimas, significativas: quer dizer, ela continua a existir como exigência
deslocamentos lentos, imediatos, submersos. de criação que pode eventualmente ser reativada
Deslocamentos de mundo que fazem ver o a qualquer momento. Como é isso? Cada marca
filho da gente de outro modo. Fazem lembrar tem a potencialidade de voltar a reverberar quan-
nossas próprias fotografias de um jeito que do atrai e é atraída por ambientes onde encontra
nunca fizemos. Remontam nossas ideias. Nos ressonância. Quando isso acontece a marca se
enjoam, voltam a aparecer num sonho. Foto- reatualiza no contexto de uma nova conexão,
grafias que produzem sentidos inesperados: produzindo-se nova diferença. E novamente
rompem o pretenso equilíbrio de nossas vidas, somos tomados por uma espécie de “desassos-
nos desconcertam, nos sorriem. Imagens que sego” (...) A marca conserva vivo seu potencial de
fazem a gente gostar de viver. Fotografias que proliferação, como uma espécie de ovo que pode
pesam, exibem lacunas – tornam visível a sempre engendrar outros devires: um ovo de
morte. Nos fazem indignar. Promovem silên- linhas de tempo.1
cios profundos.
A fotografia transformadora abre sempre a pos-
Ao longo de nossa vida, muitas são as fotogra- sibilidade de um novo corpo. Quantos corpos
fias, algumas emolduradas, outras imagi- me fizeram ter as fotografias da minha vida? E
nadas, algumas nossas, outras de amigos, quantas também não foram as transformações
muitas anônimas. Refiro-me, porém, àquelas que imprimi nas fotografias que vi? Há uma
poucas que geram em nós estados inéditos, espécie de transformação mútua (se elas
estranhamentos; que irrompem o fluxo e dele me fizeram outras, também transformei as
nos descolam. Tais fotografias, ainda que algu- fotografias, seus sentidos e histórias...) Não
mas doces ou ternas exercem um tipo próprio falo sobre a mudança que meramente produz o
de violência. Quando isso acontece, instauram novo pelo novo, que incessante e ininterrupta
a possibilidade de mudança, produzem brecha esvazia a potência das imagens; mas de uma
para um novo modo de nosso corpo se saber, mudança capaz de ampliar nossos mundos.
de nosso olhar se ver. Produzem pensamento Tampouco me refiro ao perturbador como sim-
– mesmo que na fugacidade de um incômodo. ples elogio: algumas imagens perturbam sem
gerar devires; ao contrário, exaltam impossi- dúvida íntima, inconfessável: se eu mesma en-
bilidades, imobilizam nossos corpos. Refiro- contrava dificuldade para viver da fotografia, de
me ao movimento que se opõe ao fluxo da que serviriam tais projetos sociais? A fotografia
atualidade, que perturba por promover sentido, seria capaz de retirá-los realmente de sua con-
num presente saturado de falta. É claro, há dição social? Mas foi ele quem me respondeu.
fotografias que nada mudam: querem mudar Simples e diretamente, sem saber, na hones-
o mundo, mas nada movimentam – reificam tidade de quem vive intensidades: o resultado
o mesmo. Outras, sem pretensão, caem como das fotografias feitas com Pinhole não impor-
bombas no colo de seu leitor. A transformação tava (embora, possam ter belos efeitos). Ele
não está nem simplesmente no tema fotogra- não me conhecia, não sabia se eu fazia ou não
fado, nem no suporte utilizado – no hibridismo, fotografia; não era uma fala direcionada, era
na tecnologia, na suposta contemporaneidade seu entusiasmo que respondia. Havia liberda-
do formato. Ela acontece numa operação entre de na exclamação, afeto pela ação fotográfica.
sujeito e mundo, num processo de fabulação e Sua fala era muito mais do que um clichê. Muito
significação, nos afetos que podem encadear mais do que esses empastelados “o Brasil que
ou derivar “compostos de sensações que vi- dá certo”. Ela o retirava do cotidiano, retirava-o
bram” e acrescentam variedades ao mundo.2 É da lógica da produção em que, provavelmente,
a pulsão que a fotografia transformadora pode ele fosse tido como um fracassado.
transmitir. Pulsão que atravessa a superfície,
cria aberturas, estabelece novas relações, pro- O inverso, aliás: uma transformação real se dava
duz outros sujeitos. Intensidades de devires. com a fotografia, através dela e por ela – nela.
Na fotografia, a possibilidade de outra subjeti-
Lembro-me da conversa de um rapaz numa vação, outra sensação de mundo. Ali estava o
vernissage de um amigo fotógrafo, há algum Brasil que luta, resiste, que é capaz de reinventar
tempo. O rapaz, negro, por volta dos 40 anos, coisas. Não porque tinha aprendido a ser um
morador de uma favela carioca falava a uma bem-comportado funcionário numa empresa de
amiga. Estava muito feliz por estar ensinando informática ou ser boy num banco de investimen-
seus alunos a fazer fotografias “anamórficas”. to, mas porque via diferente. Podia dizer, através
Percebendo que eu prestava atenção, pergun- da fotografia, o que a cultura letrada lhe havia
tou-me, exaltado: “Sabe o que é uma fotografia negado. Simplesmente, ele estava falando da
anamórfica? É uma fotografia louca que cria abertura de um novo mundo subjetivo para ele,
novas formas de vida. Pôxa, os meus alunos que fazia seu corpo ser outro. Fazer fotografia é
estão pirando! Estão vendo que podem fazer pensar, é fazer leitura criativa do mundo, é colocar
o mundo ser visto de uma forma inteiramente em movimento a marcha do imaginário. Assim, a
nova. E que para isso, eles precisam imagi- fotografia era para ele marca incurável, latejando
nar diferente. Aí eles têm que parar tudo para em potência, produzindo experiência. Trata-se da
imaginar. Tem ideia o que é, para a gente, poder proliferação daquelas marcas que, uma vez ins-
inventar coisas? Já viu esse tipo de fotogra- tauradas no corpos, estão sempre se atualizando
fia?”. Fiquei olhando sem conseguir responder; em novos modos de “outrar”. E por outrar-se não
demorei tantos anos para entender uma coisa entendo “tornar-se outro” simplesmente, mas
tão simples. Nos últimos anos, guardei uma desterritorializar-se... estabelecer novas relações
8 sueño de la razón