Table Of ContentEM MEIO À CRISE
Souza Dantas e a França ocupada
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Alvaro da Costa Franco
Organizador
Fundação Alexandre de Gusmão
Centro de História e Documentação Diplomática
Brasília / Rio de Janeiro, 2008
Em meio à crise: Souza Dantas e a França ocupada, 1940-1942 /
Alvaro da Costa Franco (Org.). – Rio de Janeiro : Centro de História
e Documentação Diplomática ; Brasília : Fundação Alexandre de
Gusmão, 2008.
476 p. ; 14 x 21 cm.
ISBN 978.85.7631.122-5
1. Souza Dantas, Luiz Martins de, 1876-1954 – Correspondência.
2. Diplomatas – Brasil – Correspondência. 3. Brasil – Relações
exteriores – França. I. Centro de História e Documentação Diplo-
mática. II. Fundação Alexandre de Gusmão.
EM MEIO À CRISE
Souza Dantas e a França ocupada
11111999994444400000-----11111999994444422222
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MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES
Ministro de Estado Embaixador Celso Amorim
Secretário-Geral Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães
FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO
Presidente Embaixador Jeronimo Moscardo
Centro de História e
Documentação Diplomática
Diretor Embaixador Alvaro da Costa Franco
A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), instituída em 1971, é uma fundação
pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à
sociedade civil informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta
diplomática brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional
para os temas de relações internacionais e para a política externa brasileira.
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O Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), da Fundação Alexandre de
Gusmão / MRE, sediado no Palácio Itamaraty, Rio de Janeiro, prédio onde está depositado
um dos mais ricos acervos sobre o tema, tem por objetivo estimular os estudos sobre a
história das relações internacionais e diplomáticas do Brasil.
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SUMÁRIO
O diplomata e o homem 7
11111999994444400000........................................ 27
11111999994444411111........................................ 167
11111999994444422222........................................ 301
Índice Onomástico 423
Souza Dantas na França ocupada, 1940-1942 77
O DIPLOMATA E O HOMEM
Souza Dantas foi um ícone da diplomacia brasileira na pri-
meira metade do século passado, considerado, entre os colegas
do ministério, nos meios políticos e na imprensa brasileira, como
uma figura emblemática das qualidades que se supunham essen-
ciais ao diplomata. Sua cativante simpatia, sua habilidade, sua
capacidade de fazer amigos entre brasileiros e estrangeiros, a
prestimosa e generosa atenção que dava aos patrícios – dos mais
altamente colocados aos mais modestos – alimentavam esta ima-
gem. Sua permanência à frente da embaixada em Paris, de 1922
a 1944, e o adiamento de sua aposentadoria além do limite da
idade regulamentar são como que a prova material da excepcio-
nal situação de que gozava no Brasil.
Com os anos, sua imagem se foi esmaecendo, guardada
apenas nos desvãos da evanescente memória dos velhos diploma-
tas e nas lembranças registradas em livros ou artigos de imprensa
por alguns de seus contemporâneos, como Gilberto Amado, Argeu
Guimarães, Heitor Lyra, Assis Chateaubriand, Levi Carneiro,
Augusto Frederico Schmidt, Afonso Arinos, Antonio Camillo de
Oliveira, Pio Correa ou Pascoal Carlos Magno. Uns eram quase
da mesma geração, outros, mais moços, tiveram a oportunidade
de conhecê-lo no que parecia ser o seu habitat natural, Paris.
Em 2002, um jovem historiador, Fábio Koifman, exumou
dos arquivos o perfil notável da ação humanitária de Souza Dantas,
que permitiu a muitos dos perseguidos pelo regime nazista esca-
par aos horrores dos campos de concentração, à tortura e à morte,
ao salvar das mãos da Gestapo refugiados judeus, a quem conce-
deu, a despeito das instruções do Estado Novo, vistos que lhes
permitiam vir para o Brasil ou, pelo menos, escapar do território
francês. Em seu livro, Quixote nas Trevas, Koifman revelou, em
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sua plenitude, uma dimensão pouco conhecida de Souza Dantas,
sagrado hoje como um dos “Justos” que não hesitaram em pôr-se
do lado dos perseguidos. Despertou, também, um novo interesse
por este diplomata, já então quase desconhecido, que apresentava
tantas facetas inesperadas: homem do mundo, boêmio, diploma-
ta impecável; com amigos entre os jornalistas, aristocratas, ho-
mens políticos, intelectuais, artistas; afável com todos, sem
distinções de classe ou de idade, e, sobretudo, aureolado de ami-
zades femininas.
Luiz Martins de Souza Dantas descendia de uma família
baiana, de ilustres políticos. Era neto do conselheiro Manoel Pinto
de Souza Dantas, que foi chefe de gabinete e titular de várias
pastas no Império, e sobrinho de Rodolfo (Epifânio de Souza)
Dantas, também ministro sob a monarquia. O pai de Luiz, tam-
bém chamado Manoel Pinto de Souza Dantas, continuara, sob o
Império, a tradição familiar na política. Esta vocação, interrom-
pida pela República, levou-o à carreira consular, para a qual veio
a ser nomeado em 1908. No mesmo ano, um outro filho do
velho conselheiro Dantas, José Pinto de Souza Dantas, seria tam-
bém nomeado para a carreira. É de supor que o barão do Rio
Branco, que fora grande amigo de Rodolfo Dantas, estendesse
sua proteção à família.
Luiz nasceu a 17 de fevereiro de 1876, no Rio de Janeiro,
onde fez seus estudos, diplomando-se bacharel em ciências jurí-
dicas e sociais. Colou grau em 6 de janeiro de 1897, na Faculda-
de Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Era
uma pequena turma, em que foi colega de James Darcy, objeto
de uma duradoura amizade. Foi logo nomeado, a 23 de janeiro,
adido, não remunerado, na legação em Berna. Voltou ao Brasil,
em licença, sendo nomeado, a 16 de março de 1900, segundo
secretário na legação em São Petersburgo, onde se apresentou em
20 de junho. Iniciava formalmente, aos 24 anos, sua carreira di-
plomática. Ficou ali encarregado dos negócios do Brasil de de-
zembro de 1900 a junho do ano seguinte.
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Serviu ainda como secretário em Roma (1902) e, promovi-
do a primeiro secretário, em Buenos Aires (1908), onde foi cola-
borador de Domício da Gama. Estava no posto em momentos
difíceis das relações brasileiro-argentinas, especialmente quando
da questão do telegrama n. 9. Várias vezes, assumiu a encarregatura
de negócios, interinamente, sendo promovido a conselheiro em
1910 e permanecendo em Buenos Aires durante a missão Campos
Salles. Designado para chefiar, como ministro residente, a legação
na Turquia (junho de 1912), não chegou a assumir o posto. Encar-
regado de negócios depois da partida de Campos Sales (13 de ju-
lho de 1912), foi efetivado, como ministro, chefe da legação em
Buenos Aires, função que exerceu de 1913 a 1916, quando foi
chamado ao cargo de subsecretário do Ministério das Relações Ex-
teriores (maio de 1916). Assumiu interinamente a pasta, entre
junho e novembro desse ano, período em que ocorreu seu desen-
tendimento com Rui Barbosa, episódio que merece ser considera-
do à parte. Voltou a assumir o ministério durante alguns dias de
maio de 1917, até a posse de Nilo Peçanha. Foi, então, designado
ministro plenipotenciário em Roma (1917) e Bruxelas (1919),
voltando a Roma – como embaixador – ainda em 1919.
Em 1922, iniciou Souza Dantas a sua longa gestão em Pa-
ris, onde deveria aposentar-se em 1941, aos 65 anos. Foi, entre-
tanto, prorrogada sua permanência no posto, em virtude da guerra
e da dificuldade de substituí-lo. Como continuou, de fato, a exercer
a chefia da missão e sendo, depois, internado em Bad Godesberg,
sua aposentadoria foi anulada e Souza Dantas foi efetivamente
aposentado somente em dezembro de 1944, por um decreto-lei
do presidente Vargas, portanto, aos 68 anos.
Não terminou, entretanto, sua atividade profissional. Em
1946, foi designado chefe da delegação do Brasil à I Assembléia
Geral da ONU, que se reuniu em Londres, e, logo depois, mem-
bro da delegação brasileira à Conferência da Paz, chefiada pelo
então ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura.
Completara 70 anos.
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Como ministro em Buenos Aires, Souza Dantas já revelara
sua notável capacidade de articulação social e profissional. Multi-
plicava suas relações, na política, no jornalismo, nos meios inte-
lectuais ou nos salões da oligarquia argentina. Ligou-se de tal
forma à sociedade romana, que, passados muitos anos, em 1926,
quando o Brasil lutava pela cadeira de membro permanente do
Conselho da Liga das Nações, foi mandado a Roma para expor ao
governo italiano a posição brasileira. Tinha ali relações pessoais
com Mussolini, que, ao fim de sua missão diplomática, quatro
anos antes, o tratara de cives romanus; era amigo de Gabriele
D’Annunzio; todas as portas lhe estavam abertas. Em Paris, inte-
grou-se a ponto de tornar-se não um estrangeiro de prestígio, mas
parte da sociedade parisiense, do mundo político e intelectual francês,
onipresente, conhecido de todos e bem acolhido por todos.
Esta situação peculiar podia suscitar críticas, como a de
Lévy-Strauss, que considerava Dantas um brasileiro alienado à
cultura francesa. Mas, de brasileiros, não conheço queixa ou afir-
mação de que tenha desatendido interesses nacionais ou deixado
de proteger a quem quer que batesse à sua porta. Por disciplina
profissional, inclinação pessoal, generosidade natural, talvez por
interesse, nunca deixou de atender ao zeloso cumprimento de
instruções, de prestar seu apoio pessoal aos brasileiros de visita
ou de passagem, de socorrer os que estavam desvalidos. Do di-
plomata, se pede que reúna o perfeito conhecimento de seu pró-
prio país, de sua cultura e interesses e a compreensão profunda
da cultura, interesses, posturas e idiossincrasias de seus
interlocutores, de forma a captar-lhes a simpatia e encontrar a
sintonia adequada à negociação e conjugação de vontades. Não é
fácil reunir todos estes predicados e a preponderância de um ou
outro pode frustrar a eficácia do agente. Souza Dantas parece ter
revelado, em sua gestão de nossa embaixada na França, uma com-
binação muito feliz de qualidades e competências. Esta – e não
simplesmente manobras nos bastidores da política – seria a ex-
plicação de sua excepcional resiliência em Paris.
Description:Em meio à crise: Souza Dantas e a França ocupada, 1940-1942 /. Alvaro da Costa .. A 12 de novembro de 1942, um pelotão militar alemão Professor de química na Escola Politéc- o Egito, onde é derrotado em El Alamein.