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Sete aulas de
L.S. Vigotski
sobre os fundamentos da
Pedologia
Zoia Prestes e Elizabeth Tunes (org.)
Rio de Janeiro, 2018
Este exemplar está registrado para uso exclusivo de CLÉCIA LINO DA SILVA - 17657364
© Zoia Prestes e Elizabeth Tunes (org.) /E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2017.
Todos os direitos reservados a Zoia Prestes e Elizabeth Tunes (org.) /E-papers Serviços Editoriais Ltda. É
proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prévia autorização dos
editores.
Impresso no Brasil.
ISBN 978-85-7650-570-9
Traduzido do original russo: L. S. Vigotski. Lektsii po pedologuii. Ijevsk: Izdatelskii dom “Udmurski univer-
sitet”, 2001. p. 9-150.
Tradução: Zoia Prestes, Elizabeth Tunes, Cláudia da Costa Guimarães Santana
Revisão: Zoia Prestes, Elizabeth Tunes e Lucília Ruy
A foto da capa é de L. S. Vigotski aos 4 anos de idade em Gomel (Bielorussia) gentilmente cedida por Elena
Kravtsova, neta de L. S. Vigotski.
Revisão
Rodrigo Reis
Diagramação
Michelly Batista
Esta publicação encontra-se à venda no site da
Editora E-papers
http://www.e-papers.com.br
E-papers Serviços Editoriais Ltda.
Av. das Américas, 3200, bl. 1, sala 138
Barra da Tijuca – Rio de Janeiro
CEP: 22640-102
Rio de Janeiro, Brasil
CIP-Brasil. Catalogação na fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
V741s
Vigotski, L. S. (Lev Semionovich), 1896-1934
Sete aulas de L.S. Vigotski sobre os fundamentos da pedologia / L. S. Vigotski ; organização [e tradução]
Zoia Prestes , Elizabeth Tunes ; tradução Cláudia da Costa Guimarães Santana. - 1. ed. - Rio de Janeiro : E-
Papers, 2018.
176 p. : il. ; 21 cm.
Tradução de: Lektsii po pedologuii
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7650-570-9
1. Educação de crianças. 2. Psicologia educacional. 3. Educação - Filosofia. I. Tunes, Elisabeth. II. San-
tana, Cláudia da Costa Guimarães. III. Título.
18-48970 CDD: 370.1
CDU: 37(01)
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
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Sumário
5 Apresentação
7 O bom, o mau e o feio
7 Um pouco sobre a era de Stalin
10 A crítica encomendada
13 As sete aulas sobre os fundamentos da pedologia de L. S. Vigotski
15 Referências bibliográficas
17 Fundamentos da Pedologa de L.S. Vigotski
17 Primeira aula. O objeto da pedologia
37 Segunda aula. A definição do método da pedologia
56 Terceira aula. O estudo da hereditariedade e do meio na pedologia
73 Quarta aula. O problema do meio na pedologia
92 Quinta aula. Leis gerais do desenvolvimento psicológico da criança
109 Sexta aula. Leis gerais do desenvolvimento físico da criança
129 Sétima aula. As leis do desenvolvimento do sistema nervoso
149 As falsas ideias de L. S. Vigotski na pedologia
149 Nota inicial da edição russa
152 O problema do pensamento e da fala em Vigostki
161 Instrução e desenvolvimento mental da criança na falsa ciência de Vigotski
168 A metodologia de “investigação de Vigotski”
169 A “lei” de determinação fatalista de predestinação de crianças sob a influência da
hereditariedade e do meio em Vigotski
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Apresentação
Este livro contém sete aulas proferidas por Lev Semionovitch Vigotski
ao final da vida. Elas se encontram na primeira parte (“Osnovi pedolo-
guii”, Fundamentos de Pedologia) do livro Lektsii po pedologuii (Aulas de
pedologia). A segunda parte do livro, “Problema vozrasta” (O Problema
da Idade), à exceção de três textos,1 compõe o material do tomo IV das
Obras escolhidas de L. S. Vigotski, publicadas na década de 1980 na
União Soviética.2 A primeira edição do livro foi publicada na Rússia em
1996 em homenagem ao centésimo aniversário de nascimento do autor.
O livro de 1996 (que teve uma segunda edição em 2001) com os
textos das aulas de Vigotski não é a primeira edição. Em 1934, a editora
do Segundo Instituto de Moscou (atual Universidade de Moscou) publi-
cou o mesmo material com o título Fundamentos de pedologia, com 211
páginas. No ano seguinte, a primeira parte foi publicada pela editora do
Instituto de Pedagogia de Leningrado no livro Fundamentos de pedolo-
gia, com 133 páginas e tiragem de 100 exemplares (LIFANOVA, 1996;
VIGOTSKI, 2001).3 Como é possível observar, as publicações das obras
de Vigotski, mesmo na Rússia, têm sempre uma história que precisa ser
contada antes de nos determos em seu conteúdo.
O material que trazemos ao leitor brasileiro foi traduzido com base na
edição de 2001 e é apenas a primeira parte do livro Lektsii po pedologuii.
1 “O conceito de idade pedológica”, “A fase negativa da idade de transição” e “O pensamento
do escolar”. Em 2017, este último foi publicado em português em Prestes e Estevam. “Uma aula de
L. S. Vigotski”. Em: Orso, P.; Malanchen, J. e Castanha, A. P. Pedagogia histórico-crítica, educação
e revolução. Campinas: Navegando e Armazém do Ipê, 2017. p. 207-224.
2 Cinco volumes dessa coleção foram traduzidos para o espanhol e publicados pela editora
Visor, de Madri, entre 1991 e 1997. Os seis volumes foram traduzidos para o inglês e publicados
entre 1987 e 1999 pela editora Plenum Press (o último volume teve a participação da editora
Kluwer Academic).
3 Infelizmente, não tivemos acesso a essas duas edições.
Sete aulas de L.S. Vigotski sobre os fundamentos da Pedologia 5
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São textos inéditos em português4 e que compõem a primeira parte,
denominada Fundamentos de Pedologia. Esta é a primeira tradução
para outra língua das sete aulas de Vigotski de acordo com a bibliografia
sistematizada por Vigodskaia e Lifanova (Lev Semionovitch Vigotski: jizn,
deiatelnost, chtrirri k portretu. Moscou: Academia e Smisl, 1996).
Na presente edição, além das sete aulas sobre os fundamentos da
pedologia, de Vigotski, apresentamos também a tradução da brochura
escrita por Eva Izrailevna Rudniova (1898-1988), a quem foi encomen-
dada uma crítica às ideias pedológicas do autor. Embora o título do texto
esteja traduzido como “As falsas ideias de L. S. Vigotski na pedologia”,
a tradução literal seria “As deturpações de L. S. Vigotski na pedologia”.
A opção por modificá-lo foi intencional, dado o sentido dúbio que car-
rega. Todavia, cabe esclarecer que, em russo, esse duplo sentido também
está presente e pode ter sido intencional da parte da autora. Seguindo
esse texto, recomendamos a leitura da Resolução do Comitê Central do
Partido Comunista da Rússia – dos bolcheviques – CC do PCR(b) de
4 de julho de 1936: “Sobre as deturpações pedológicas no sistema do
Comissariado do Povo para a Instrução (Narcompros)”, publicada em
português em Prestes (2010, 2012).
Este livro é, sem sombra de dúvida, uma rica fonte para estudiosos e
pesquisadores da teoria histórico-cultural, assim como para professores e
estudantes de diversos campos do saber.
Queremos agradecer a todos os familiares de L.S. Vigotski, em espe-
cial a sua neta, Elena Kravtsova, pelo grande apoio e carinho em toda a
nossa jornada de estudos, pesquisas e traduções da obra de seu avô.
Agradecemos também a nossa amiga e companheira Ingrid Fuhr
pela leitura crítica da primeira versão do texto traduzido.
Rio de Janeiro, dezembro de 2017.
As organizadoras.
4 Apenas a quarta aula, “O problema do meio na pedologia”, foi traduzida e publicada pela
Psicologia USP (São Paulo, v. 21, n. 4, p. 681-701, 2010. Disponível em: https://www.revistas.usp.
br).
6 Apresentação
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O bom, o mau e o feio
Elizabeth Tunes5 e Zoia Prestes6
Um pouco sobre a era de Stalin
A década de 1930 ficou marcada na história da União Soviética pela con-
solidação de um regime que perseguia e matava. Segundo Volkogonov
(2004), o assassinato de Kirov, em 1o de dezembro de 1934, no Instituto
Smolni de Leningrado, foi um marco importante por sinalizar que
uma era sinistra se aproximava. A partir dessa data, o pessoal puniti-
vo da NKVD7 aumentou enormemente, rivalizando-se e acabando por
eclipsar os comitês do Partido. Sergei Mironovitch Kirov, bolchevique
e leninista histórico, era um homem simples e de respostas prontas,
considerado por todos como um líder acessível e afável. Era um dos
homens de confiança de Stalin, que o tratava como “meu amigo e ama-
do irmão” (VOLKOGONOV, 2004, p. 206). No XVII Congresso do
Partido Comunista, realizado no início de 1934, quando o culto à per-
sonalidade de Stalin já era uma realidade, foi ovacionado e aplaudido
por longo tempo. Naquele momento, o triunfo de Stalin fora ofusca-
do, principalmente se levarmos em consideração que a eleição para os
cargos mais elevados do Partido não fora muito do gosto do ditador.
Na plenária do Comitê Central, logo após o referido congresso, Kirov
foi eleito membro do Politburo e do Orgburo,8 secretário do Comitê
Central e secretário da organização do Partido em Leningrado. Conta-se
que, logo após o assassinato de Kirov, Stalin se dirigiu a Leningrado e ele
próprio interrogou o assassino, que fora preso. Todos os envolvidos no
5 Universidade de Brasília (UnB) e Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
6 Universidade Federal Fluminense.
7 Narodni Komissariat Vnutrenikr Del – Comissariado do Povo de Assuntos Internos.
8 Politburo e Orgburo – Bureau Político e Bureau Organizador.
Sete aulas de L.S. Vigotski sobre os fundamentos da Pedologia 7
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assassinato e o próprio assassino foram fuzilados. Os chefes da NKVD de
Leningrado foram condenados a penas leves e, posteriormente, executa-
dos em 1937, o que levou Kruschiov, bem mais tarde, no XX Congresso
do Partido, a conjecturar sobre a tentativa de encobrir pistas e ocultar
testemunhas que pudessem revelar os verdadeiros mandantes do crime.
Volkogonov (2004) admite não haver informações suficientes a respeito
do caso Kirov. Contudo, conclui que as ordens não partiram de Trótski,
Zinoviev ou Kamenev, como divulgado à época, e afirma que, pelo “que
sabemos de Stalin, por certo houve um toque seu no evento. A remoção
de duas ou três camadas de testemunhas indiretas leva sua marca regis-
trada” (VOLKOGONOV, 2004, p. 209).
O assassinato de Kirov foi um excelente pretexto para a intensifi-
cação de perseguições, julgamentos sumários – quando ocorriam – e
execuções. Em vários discursos, Stalin propôs que fossem “liquidados” –
palavra pela qual tinha grande apreço – “a oposição, ou os remanescentes
das classes exploradoras, ou os kulaks, os degenerados, os agentes duplos,
os espiões e terroristas” (VOLKOGONOV, 2004, p. 212). Com esse
pretexto, a grande maioria dos delegados presentes ao XVII Congresso
foram presos, falecendo nas celas ou em campos de prisioneiros; dos 139
candidatos a membros do Comitê Central eleitos no congresso, 98 fo-
ram presos e fuzilados. Muitos foram participantes ativos da Revolução
de Outubro. “A ‘velha guarda’ leninista foi conscientemente liquidada
porque sabia demais. Stalin queria executivos devotados, funcionários de
uma geração mais nova, pessoas que não conhecessem sua vida pregressa”
(VOLKOGONOV, 2004, p. 213), abolindo a Sociedade dos Antigos
Bolcheviques e a Sociedade dos Ex-presos Políticos. É por essa razão que
Volkogonov (2004, p. 214) declara que “1934 findou com um trágico
presságio. Primeiro, o ‘Congresso dos Vitoriosos’ [início de 1934], de-
pois, a preparação para o Terror. Teria talvez, desafiando o calendário
histórico, 1937 começado em 1o de dezembro de 1934?”.
Há, pois, fundamentos para a conjectura partilhada entre estudio-
sos da vida e obra de L. S. Vigotski de que se ele não tivesse falecido de
tuberculose na madrugada de 11 de junho de 1934, seria, sem dúvida,
mais um nome na enorme lista de mortos pelas mãos de Stalin no grande
expurgo que ocorreu nos últimos anos da década de 1930, principal-
mente se levados em conta os fatos narrados a seguir.
De acordo com Volkogonov (2004), o pensamento de Stalin era
esquemático. Ele costumava “encaixotar” suas ideias, reduzindo-as a
8 O bom, o mau e o feio
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formas simples e popularizando-as como pastiches. Não aceitava outra
forma de divulgar suas ideias e, quando isso acontecia, ofendia seus opo-
nentes por terem uma “abordagem não marxista”, uma “demonstração
de tendências pequeno-burguesas” ou um “escolasticismo anárquico”
(VOLKOGONOV, 2004, p. 229). Ele tinha consciência de que o ponto
mais fraco de seu intelecto era a impossibilidade de entender o que seria
a dialética. Por isso, envidou esforços no sentido de melhorar seu conhe-
cimento filosófico, convidando para seu tutor, em 1925, Jan Sten, um
filósofo bastante conhecido entre os velhos bolcheviques, recomendado
por diretores do Instituto dos Professores Vermelhos. À época, Sten era
subdiretor do Instituto Marx-Engels e, mais tarde, seria executivo do
aparato do Comitê Central, delegado em diversos congressos do Partido
e membro do Comitê Central de Controle (CCC). Como tutor filo-
sófico de Stalin, fez um programa de estudo que incluía autores como
Hegel, Kant, Feuerbach, Ficht, Schelling, Plerranov, Kautski e Bradley.
Visitava-o duas vezes por semana em seu apartamento e procurava lhe
esclarecer os conceitos hegelianos de substanciação, alienação e de iden-
tidade entre realidade e razão. Stalin se irritava com a abstração e, por ve-
zes, perdia a paciência e dirigia a seu tutor perguntas como: “O que tudo
isto tem a ver com a luta de classes?” ou “Quem emprega toda essa bo-
bagem na prática?” (VOLKOGONOV, 2004, p. 230). Pacientemente,
Sten procurava esclarecer a importância da filosofia de Hegel para a com-
preensão das ideias de Marx, mas Stalin não conseguia compreender as
noções básicas daquela filosofia. Num encontro da Academia Comunista
em outubro de 1930, foram debatidas “as diferenças no front filosófico”.
Deborin, Sten, Karev e Luppol foram considerados culpados por “subes-
timação da dialética materialista” e, ao que parece,
[…] tudo o que restou daquelas lições foi a hostilidade ao professor.
Juntamente com N. Karev, I. K. Luppol e com outros filósofos que
eram discípulos do acadêmico A. M. Deborin, Sten foi declarado um
teórico “adulador de Trotsky” e, em 1937, acabou preso e execu-
tado. A mesma sorte parecia destinada a Deborin, que fora muito
ligado a Bukharin no final dos anos 20 e que, em 1930, foi rotulado
por Stalin como “idealista militante menchevique”. No entanto, ele
foi poupado, se bem que proibido de desenvolver qualquer traba-
lho científico ou público (VOLKOGONOV, 2004, p. 230, grifos
nossos).
Sete aulas de L.S. Vigotski sobre os fundamentos da Pedologia 9