Table Of Content“A vida real e a justiça andam lado a lado como dois bêbados, tropeçando um no outro, derrubando-se
mutuamente, dando-se as mãos para levantar, buscando juntos o caminho na escuridão. A justiça carrega o
mapa dos princípios e busca a virtude. A vida é imprevisível como a fortuna e corre atrás da graça. Sua fusão
só se daria com a morte de uma ou de outra: tragédia para vida, farsa para justiça. O único laço possível é,
como a linguagem, flexível como a vida e reiterativo como o valor: interpretação regida pela estética da
compaixão. Ou seja, literatura. Andréa Pachá sabe disso como ninguém, em sua prática dupla como juíza e
escritora.”
— LUIZ EDUARDO SOARES,
antropólogo, cientista político e coautor de Elite da tropa
“Por que o bolo ficou solado se eu o tirei do forno na hora certa? Por que a carne ficou salgada, o risoto
grudado e o peixe com jeito de cru? Por que as coisas desandam apesar de fazermos tudo para que elas deem
certo?
Andréa nos pede coragem para desfiar minuciosamente a teia dos valores e emoções que permeiam nossa
vida cotidiana. Com suas palavras certeiras — mas, principalmente, compartilhando suas dúvidas —, ela nos
aproxima da importância de cuidar das coisas que parecem pequenas e que chegam aos tribunais porque
somos incapazes de lidar com a complexidade delas.
As histórias de Segredo de justiça nos propõem o difícil exercício de transitar pelos sentimentos e razões de
todas as pessoas envolvidas em um nó. É quando a vida parece não ser justa para ninguém. Muito além de
julgar o que é certo ou errado, a autora nos propõe a pergunta mais difícil: estamos dispostos a procurar
caminhos possíveis?
É difícil afirmar se a vida é justa ou não. O livro nos relembra do que já sabemos: ela é curta demais para
ser desperdiçada.”
— BIANCA RAMONEDA,
jornalista, roteirista, poetisa e diretora teatral
© 2014 by Andréa Pachá
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P116s
Pachá, Andréa Maciel
Segredo de justiça: Disputas, amores e desejos nos processos de família narrados com emoção e
delicadeza por uma juíza / Andréa Maciel Pachá. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Agir, 2014.
ISBN 978.85.220.3318-8
1. Crônica brasileira. I. Título.
14-16382
CDD: 869.98
CDU: 821.134.3(81)-8
Marcelo, pelo amor que dá
risadas depois de tantos anos,
pelo sim todos os dias.
João e Kike, pelo amor que
liberta, respeita e confia.
Léa e Miguel, pelo amor que se
ocupa do outro e que multiplica.
Patrícia e Miguel, pela sorte do
amor fraterno e definitivo.
sumário
Apresentação
Prefácio
1. Viagem sem fim
2. Quando nada faz muito sentido
3. Suaves prestações
4. O amor não é uma hipótese
5. Vai passar
6. Não existe sonho errado
7. Era vidro e se quebrou
8. Prazo de validade
9. Todo dia, não!
10. Viver é escolher o que esquecer
11. Promessas para futuros pais
12. Memória entre aspas
13. Sagrada família
14. Guia da mochila para principiantes
15. Amor sem condição
16. Cada um que faça o seu
17. Silêncio e som
18. Negócio de risco
19. Quem disse que seria fácil?
20. Corações das trevas
21. Acerto sem contas
22. Ausência em carne viva
23. O inusitado de cada dia
24. Minha história dos outros
25. Uma terra sem futuro
26. Quem manda aqui?!
27. Dois que eram três
28. Somos todos vulneráveis
29. Mas não é assim na vida?
30. Paternidade em construção
31. O que se colhe quando não se planta
32. Segredo de justiça
33. Quatro damas e nenhum rei
34. Maria roleta
35. Quem fala o que quer...
36. Nunca é perda total
37. O céu que nos protege
38. Quem manda é ela!
39. Desejo em estado bruto
40. Até que a morte nos separe
41. Cada um com seu problema
42. Ele não ouve. Ela não vê.
43. Noite feliz
44. Tem coisa melhor que namorar?
45. Quem ama cuida
46. O tempo gasta tudo
apresentação
Renato Janine Ribeiro
Andréa Pachá tem o dom de narrar. Os relatos deste livro, como as do anterior, A
vida não é justa, prendem nossa atenção do começo ao fim, tanto é que os li de uma
tacada só. Mas, mais que isso, eles apontam uma moral nas histórias, com Andréa
se indagando constantemente sobre o equilíbrio instável dos ganhos e das perdas de
nosso tempo.
O principal ganho que temos a comemorar é a democratização dos costumes.
Passaram os tempos — embora tão próximos ainda de nós, menos de meio
século, como no caso da tia desquitada, alvo de desprezo e humilhação na década
de 1970 — em que lutar pela felicidade exigia coragem desmedida. Um
relacionamento infeliz era um fardo a carregar pela vida. Hoje, os laços sociais
necessitam ser constantemente cuidados, refeitos, tratados. Caso se reduzam a
grilhões, é possível rompê-los e recomeçar a vida. Mas esse balanço positivo em
relação ao que Charles Fourier chamava de “a liberdade no amor” não vem sem
contrapesos sérios. Andréa é muito sensível ao modo egoísta pelo qual tantos não
suportam os fardos que o tempo, ou um acidente, ou uma doença impõem. Em
especial, não gosta quando alguém larga o parceiro de uma vida porque este
desenvolveu um câncer, tema que aparece nos seus dois livros. Parodiando Otto
Lara Resende, que dizia que “o mineiro só é solidário no câncer”, é como se
dissesse: nem no câncer. É justamente — ou injustamente — no câncer que o
casamento se desfaz, porque some a solidariedade. Se nosso mundo está pior do
que aquele horror que Nelson Rodrigues descrevia, se não lhe resta nem a
atenuante da piedade pelo câncer, ai de nós.
Andréa não concorda que as pessoas “tenham o direito” de ser felizes. Felicidade,
para ela, não está no rol dos direitos. Ou, explicitando algo que em seu texto é
poderoso, mas fica implícito: um dos piores traços de nosso tempo é que muitos
chamam de “felicidade” o que, na verdade, é prazer somado à irresponsabilidade. Um
dos temas mais recorrentes em dois mil anos de história da filosofia é que a felicidade
é algo mais duradouro, sólido e verdadeiro do que a alegria momentânea. A felicidade
está do lado do amor; já o prazer, e mesmo a alegria, frequentemente ficam perto da
paixão e do desejo sexual. O tempo, outra presença frequente no livro de Andréa,