Table Of ContentPraxiologias do
Brasil Central
sobre educação linguística crítica
CONSELHO EDITORIAL
Alexandre Cadilhe [UFJF]
Ana Cristina Ostermann [Unisinos/CNPq]
Ana Elisa Ribeiro [CEFET-MG]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Cleber Ataíde [UFRPE]
Clécio Bunzen [UFPE]
Francisco Eduardo Vieira [UFPB]
Irandé Antunes [UFPE]
José Ribamar Lopes Batista Júnior [LPT-CTF/UFPI]
Luiz Gonzaga Godoi Trigo [EACH-USP]
Márcia Mendonça [IEL-UNICAMP]
Marcos Marcionilo [editor]
Vera Menezes [UFMG]
Praxiologias do
Brasil
Central
sobre educação linguística crítica
: Rosane Rocha Pessoa
organização
Kleber Aparecido da Silva
Carla Conti de Freitas
Revisão: Dos Autores
DiagRamação: Telma Custódio
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P929
Praxiologias do Brasil Central sobre educação linguística crítica /
organização Rosane Rocha Pessoa, Kleber Aparecido da Silva, Carla Conti
de Freitas. - 1. ed. - São Paulo: Pá de Palavra, 2021.
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-65-88519-57-8 (papel)
978-65-88519-56-1 (e-book)
1. Linguística. 2. Língua inglesa - Estudo e ensino. 3. Formação -
Professores. I. Pessoa, Rosane Rocha. II. Silva, Kleber Aparecido da. III.
Freitas, Carla Conti de.
21-70440 CDD: 410
CDU: 81'27
Camila Donis Hartmann - Bibliotecária - CRB-7/6472
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PÁ DE PALAVRA
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ISBN: 978-65-88519-57-8 (papel)
978-65-88519-56-1 (e-book)
© do texto: Rosane Rocha Pessoa, Kleber Aparecido da Silva,
Carla Conti de Freitas, abril de 2021
Sumário
Ipê, colorido insurgente .....................................................................................................7
Tânia Ferreira Rezende
Reflexões para pensar o mundo ou algo assim ..............................................................9
Lynn Mario T. Menezes de Souza e Walkyria Monte Mór
Praxiologias do Brasil Central: Floradas de educação linguística crítica ...............15
Rosane Rocha Pessoa, Kleber Aparecido da Silva e Carla Conti de Freitas
Ensinando para a incerteza da comunicação: O desafio de distanciar a educação
linguística e a formação docente das ideologias modernas de língua ....................25
Pedro Augusto de Lima Bastos, Rosane Rocha Pessoa, Fernanda Caiado da Costa
Ferreira e Laryssa Paulino de Queiroz Sousa
Da “realidade cruel” e do “tempo perdido”: Movimentos decoloniais nas
vivências do estágio de inglês em uma escola pública ...............................................47
Valéria Rosa-da-Silva
Movimentos de formação docente decolonial: A criação de três de grupos
de estudos com professoras/es de línguas ..................................................................71
Julma Dalva Vilarinho Pereira Borelli, Mariana Rosa Mastrella-de-Andrade e
Giuliana Castro Brossi
Leitura do e no mundo digital: Multiletramentos na formação de professores
de línguas ............................................................................................................................91
Carla Conti de Freitas e Michely Gomes Avelar
Internacionalização e políticas linguísticas: As percepções de professores de
línguas de um instituto federal ......................................................................................109
Lauro Sérgio Machado Pereira, Simone Maranhão Costa e Kleber Aparecido da Silva
Repensando o ensino de língua inglesa por meio do letramento crítico
sob o viés da afetividade .................................................................................................135
Raquel Rosa de Souza e Ariovaldo Lopes Pereira
5
Para além de “certo” ou “errado”: Educação linguística crítica em um
cursinho popular .............................................................................................................153
Michael Douglas Rodrigues, Maria Eugênia Sebba Ferreira de Andrade e
Viviane Pires Viana Silvestre
Repertórios de gênero e sexualidade em contexto universitário de formação
docente ..............................................................................................................................173
Camila dos Passos Araujo Capparelli, Hélvio Frank
Narrativas multimodais e produção de sentido sobre racismo e preconceito:
Agência discente em aulas de inglês ............................................................................193
Barbra Sabota, Ariane Peixoto Mendonça e Marielly Faria
Performances discursivas de professoras/es de língua inglesa:
Concepções de linguagem em trânsito ........................................................................215
Bianca Alencar Vellasco e Cristiane Rosa Lopes
Organização e autoria .....................................................................................................231
6 Praxiologias do Brasil Central sobre educação linguística crítica
Ipê, colorido insurgente
TÂNIA FERREIRA REZENDE
As últimas gotas de chuva do ano
Escorrem preguiçosas pelos beirais
Brilhando nos pastos feito gotas de cristais
Enquanto no céu o sol incandescente vem raiando
Às beiras de córregos, martim-pescador pousa à espreita
E as borboletas em bando revoam coloridas anunciando a estiagem
É tempo de preparação
Pra quem tem devoção
Lua nova
Quarto crescente
Lua cheia
Quarto minguante
É tempo de preparação
E de esperançar o coração
O sol de tão quente treme as vistas
Racha o solo, racha a canela, racha o pé
Por baixo da terra ardente e esturricada
As raízes buscam vida com força e fé
A luta resiliente dos troncos queimados
Insurge silenciosa protegida pela dureza do chão
Na seca sem fim no cerrado sem chuva
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Cigarras cantam promessa descumprida
A magia encanta a palavra de cura
Cura berne, cobreiro e espinhela caída
Canela-de-ema agrado pros olhos, cura pra dor
Urtiga deixa esperto, apura atenção
Baru fortalece o sangue
O óleo de pau é pra tratar inflamação
Segue a seca sem fim no cerrado sem chuva
Sapos coaxam solitários na lagoa desabastecida
Árvores retorcem com a passagem picante da saúva
Que, enfileirada, apressa a ação de resguardo da vida
A despreocupada Pau-d’Arco, vaidosa e precavida,
Guardou alimentos pra garantir na falta a sobrevida
A seca castiga tudo que sem água não pode conservar
Mas ela floresce com as águas que logrou estocar
É a majestosa Ipê
Vivaz e colorida
Que insurge em floração
No cerrado sem chuva
Resistindo com vida
À seca no sertão
8 Praxiologias do Brasil Central sobre educação linguística crítica
PREFÁCIO Reflexões para
pensar o mundo
ou algo assim
[WALKYRIA E LYNN MARIO EM CRÔNICA DIALOGADA]
Walkyria: Lynn Mario, poderia ser que uma das melhores contribuições
dos estudos escolares/acadêmicos fosse aprender que o mundo “não é as-
sim mesmo”, “não está pronto e estabelecido”, que a realidade é socialmente
construída?
Quando foi que passamos a nos indagar sobre certas questões que, pouco
a pouco, viemos a perceber em nosso entorno: por que uma grande maioria só
lê/assina jornais/revistas, sites das grandes cidades/capitais ou internacio-
nais? Por que as informações locais costumam ser menos valorizadas pelos/as1
leitores/as locais se elas não se reportam a interesses nacionais ou in-
ternacionais? Por que o mundo se divide em territórios demarcados por
tamanhos diferentes? Por que, ao longo dos tempos, uns se tornaram
mais importantes do que outros? Quem estabeleceu o que deveria ser
mais importante ou de maior interesse? Por que demorou tanto tempo
para que as mulheres fossem vistas também como chefes de família, e
não apenas os homens? Por que, em muitos lugares, principalmente os de
grande porte, atribui-se mais status aos shopping centers do que às anti-
gas lojas de bairro? Por que muitas pessoas querem se parecer/se vestir/
viver como pessoas que se tornaram famosas na mídia [foram vendidos
1 Optamos por não padronizar as marcações de gênero na coletânea, já que consideramos que a decisão
de não marcar ou de marcar e como marcar deve ficar a critério das/os autoras/es.
9
todos os exemplares restantes na loja do vestido usado pela esposa do Joe
Biden na posse do presidente, no dia seguinte, e o modelo da peça foi am-
plamente copiado; o corte de cabelo de um(a) personagem numa novela
da TV brasileira passa, rapidamente, a ser imitado]? Por que, durante mui-
to tempo, boa parte dos/as cachorros/as tinham nomes estrangeiros (Rex,
King, Queen, Prince...)? Por que, em programas de formação docente, en-
sinava-se que os/as professores/as deveriam sempre deixar suas emoções
do lado de fora da sala? Por que, ao pensar nos ipês, tantos imaginam que
são árvores que dão flores amarelas?
A lista dos porquês pode ser ainda muito mais expandida, mas vale a pena
trazer algumas reflexões sobre ela. Para muitas pessoas, durante muito tem-
po, esteve subentendido na sociedade que as coisas são como são. E, sobre
essas coisas, nem se perguntam o porquê; o mais importante é conhecer/re-
conhecer os fatos como eles são, absorvê-los, assimilá-los, se adequar a eles.
No entanto, como discípulos/as freirianos/as, o valor das indagações acima,
por mais que soem estranhas, é a possibilidade de levar ao entendimento
de por que pensamos do jeito que pensamos. Esse fluxo de interrogações
era menos recorrente quando nos satisfazíamos com a naturalidade e na-
turalização de pensamentos que pretendiam nos acalmar: “A vida é assim
mesmo”; “assim é”; “assim deve ser”; “veja a vida como ela é”. No entanto, a
inquietação observada nos últimos tempos em muito se deve à convivência
com diversidades, divergências, diferenças e pluralidades que vieram à tona
e passaram a desestabilizar a conformidade do “assim é”, “assim deve ser”.
Nosso cérebro passou a ter janelas mais amplas e arejadas (ou mais janelas)
que nos fazem enxergar coisas que antes não víamos?
É certo que, nas últimas décadas, se ampliaram, por exemplo, os estudos
sobre as pluralizações. Temas como identidade e alteridade ganharam am-
plo destaque em congressos, salas de aula e encontros pedagógicos. Embora
muito se tenha discutido sobre a construção identitária de alunos/as, profes-
sores/as ou de outras pessoas, numa sociedade em constante transformação,
maior compreensão ainda se deveria ter sobre o que se denomina a imbrica-
da relação identidade-alteridade, acrescida da questão do poder. Uma noção
muito relevante, seja para expandir a percepção crítica, seja para estabelecer
uma interação mais adequada — ou menos inadequada — na sociedade, da
forma como ela se apresenta a todos nós.
10 Praxiologias do Brasil Central sobre educação linguística crítica