Table Of ContentCooraenafiloGeral Politicas da
J,r.ElviraMilani
Coordena¢oEditorial
natureza
Ir.JacintaThroIoGarcia
Coordena¢oExecutiva
LuziaBianchi
como fazer ciencia
ComiUEditorialAcadtmico
Jr.E1viraMilani- President. na democracia
GI6riaMariaPa1ma
Jr.JacintaThro10Garcia
JoseJobsondeAndradeArruda
MarcosV1l1llond
MariaArmindadoNascimentoArruda
, Bruno Latour
Traduyao
Carlos Aurelio Mota de Souza
/
EDCiSC
\
L
L359p Latour,Bruno.
Politicasdanatureza: comofazer ci~ncia nademocraciaIBrono
Latour;tradu~oCarlosAurelioMotadeSouza.--Bauru,SP:EDUSe,
2004.
412p.;21em.-- (ColelfAoCi~ncias Sodais)
Induibibliografia.
Tradu~o de: Politiques de 1a',Ilature: comment faire entrer les
sciencesendemocratie,c1999.
1.Ecologiapolitica.,I.Titulo.II.Serie.
CDD320.5
ISBN2-7071-3078-8(original)
Copyright@:MitionsLaDecouverte&Syros,Paris, 1999
9bis,rueAbel-Hovelacque
75013Paris
Copyright@ (tr.dulaO)EDUSC,2004
\.
Tradu~i\o realizadaapartirdaedi~ao de 199.9
Direitosexclusivosdepublica~ao emlinguaportuguesa
para0 Brasiladqu,iridospela
EDITORADAUNIVERSIDADEDOSAGRADOCORA<;AO
RuaIrmaArminda,10-50
CEP17011-160-B.urn-SP
Fone(14)3235-7111-Fax(14)3235-7219 ParaIsabelle Stengers,
,
e-mail:[email protected]
fil6sofa da exigencia.
\
\
AGRADECIMENTOS
ADVERTl'NCIA
Urn livro como este nao ternverdadeiramente urn autor,
massobretudoumseeretariodereda<;ao,encarregadodeestabe
Todos os termos marcados com urn asterisco sao referi. leeer0 texto edetrazeratermo0 levantamentodasconclusoes.
dos no glossario ao fim da obra, p. 369. Como me abstive de oautorse expriminimaispessoalmente nasnotas,nasquaisci
qualquerinovayaolingtiistica,sirvo-Illedestesinalparalembrar taraas experienciaseasleituras que partieularmente0 influen.
ao leitor que e preciso compreender as expressoes comuns em ciaram; 0 secretario conservanl, no texto principal, aprimeira
um sentidoque,progressivamente,fui especializando. pessoadoplural que toea aque!e que fala em nome de um"co
laborador"demaiordimensao,eseabsteni,tanto quantopossi
vel, de interromper 0 lento elaborioso trabalho coneeitualque
apenasdeve monopolizaraaten<;ao doleitor.
o
Ministerio doAmbiente,pe!o representante de suadi
visao de estudos e pesquisas, teve a generosidade de sustentar
este projeto nao habitual de pesquisafundamental, que visava,
desde0 inicio,aconfee<;aodeumlivro (eontratonO96.060).Do
resultado,ele naoe- isto deve serdito-,denenhum modo res
ponsave!. Eu me beneficiei, todo 0 tempo, do indispensave!
apoio de Claude Gilbert, cujos eontatos permitiram 0 estabele
cimentodeumoriginalambientedepesquisasobre0 riscocole
tivo.Agrade<;o aos estudantes d~ London School ofEconomics, e
I
....
•
AgTadecimentos
particularmente a Noortje Marres, que me assistiram durante,
todos oscursossobre apoliticada natureza, eque deram a esta
empreitadasua forma definitiva. Tenho a maior gratidao pelos
especialistas que aceitaram passar dos meus rascunhos as pri
meiras provas, e sobretudo por Marie-Angele Hermitte e Lau
rentThevenot. Nomea-lostodos importa em revelar todaa ex SuMARIO
tensaodeminhasincompetenciaseminhasdividas.Encontram
senas notas suas contribui'roesmais importantes.,:.
Este livro nao teriaprogredido senao gra~asaosricos es
tudosdeFlorianCharvolin sobre 0 Ministerio doAmbiente, de
Remi Barbter sobre os dejetos, de Patricia Pellegrini sobre os
animais domesticos, de blizabeth R~my sobre as linhas de alta
tensao, de Jean-Pierre Le Bourhis sobre a politica da agua, de
INTRODU<;AO
Jean-Claude Petit sobre 0 fim do cicio do combustivel nuclear, 11 Quefazer daecologiapolitical
deYannickBarthesobre0 soterramentodosdejetosradioativos,
e de Volonona Rabehisora e Michel CalIon sobre a Associa~ao CAPITULO 1
25 Porqueaecologiapoliticanaosaberiacon/servaranatureza?
francesa contraas miopatias.
27 Deinicio, sairda Caverna
Visto que, segundo a celebreexpressao d~ Sully, urn tan
39 Criseeco/6gica ou criseda objetividade?
to deturpada, "Pi/hagem e brico/agem siio as duas tetas da d2n
54 0 fim da natureza
da", pilhei sem vergonha os Cosmopolitiques de Isabelle Sten- . 65 0 obstticu/o das"representaroessociais"da natureza
gers,a'quemdediqueiestaobra,assimcomoaspesquisasdeMi 79 0 fnigil socorro da antrop%gia comparada
chelCalIonacercadaantropologiadomercado.Entretanto,nes 91 Conclusiio:qual0 sucessorpara0 co/etivoemduascamaras?
tesdoisanos,tivecomo.objetivo,constantemente,fazerjusti~a a 96 Anexo
/
experiencia verdadeiramente .hist6rica do meu amigo David
Western, diretor, em urn m'omento"decisivo, doKenya WildLife CAPITULO 2
, I 107 Como reunir0 coletivo
Service, quando mediu perfeitamente a distiincia que separa a
113 Dificuldadespara convocar0 co/etivo
politicadanatureza,queredigiemcasa,daquiloqueelepraticou
121 Primeiradivisiio: saberduvidardeseusporta-vozes
todos os dias, no campo, no meio dos elefantes,dos Masai, dos 134 Segundadivisiio:asassociaroesdehumanosedeniio-humanos
turistas, dos doadores internacionais, dos politicos locais, das 144 Terceiradivisiioentrehumanoseniio-humanos:rea/idadee
"tropas de bufalosede gnus- semesquecerseus"caros colegas" reca/dtranda
eoutrasespeciescarnivoras... 151 Um coletivo maisou menos bem articu/ado
158 Conclusiio: avoltailpazcivil
Sumdrio
CAP1TUW3
163 Umanovasepara~aodospoderes
168 Algunsinconvenientesdas no,aesdeJatoedevalor
o
179 poderde considera,lioe0 poderdeordenamento
189 Osdoispoderesde representa,lio do coletivo
199 Verifica,lio damanuten,lio dasgarantiasessenciais
--206 Concluslio: uma nova exterioridade INTRODUQAO
CAPlTuw4
217 Ascompetenciasdo coletivo
221 Aferceira natureza eacontestafiio dosdais "ecopos"
232 Contribui,lio dos corpos de trabalho no equipamento das
a:lmaras
o
272 trabalho das camaras
295 Concluslio:A casa comum, 0 oikos QUE FAZER DA ECOLOGIA pOLfTICA?
CAP1TUW 5
Quefazer daecologiapolitica?Nada.Quefazer? Ecologia
301 Aexplora~ao dosmundoscomuns
political
307 Asduasflechas do tempo '
Aprimeiraquestao:todos aquelesque esperaram dapo
316 A traiet6ria de aprendizagem
324 0 terceiropodereaquestlio do Estado. litica danaturezaumarenova0odavidapublicaseveem cons
338 0 exercicioda diplomacia tatando a estagna~ao dos chamados movimentos"verdes". Eles
a
352 Concluslio:guerraepazdas ciencias bern gostariam de saberporquea montanhatantasvezes deu
luz urn rato. A segunda questao: todo mund<? apesar das apa
CONCLUSAO rencias, e obrigado a dar a mesma resposta. N6s nao podemos
359 Que fazer? Ecologiapolitical
fuzer de outraforma, visto que nao existe de urnlado a politica
ede outro a natureza. Desde a inven~ao dotermo,todapolitica
369 GwssARIO
e
definida por sua rela~ao coma natureza, de que cada tra~o,
cadapropriedade,cadafun~aodependedavontadepoJemicade
387 REFER£NCIASBIBLIOGRAFlCAS
limitar,de reformar,defundar, deencurtar caminhos,de ilumi
405 RESUMO DOASSUNTO (para0 leitor apressado) naravidapublica.Em conseqiiencia,naotemosaescolhasobre
o que fazer ou nao fuzer com a ecologiapolitica, mas de fuze-lo
sub-repticiamente, distinguindo as questaes da natureza e as
questaesdapolitica,ouexplicitamente,tratando-ascomoumas6
11
Introdu¢o IntrodUfilo
questao que.se prop6e a todos os coletivos. Agora que os movi dasideologiasdoseculo,~ejabater-seaindamaiscorajosamente
mentosecol6gicosnosanunciam airrup,ao danaturezanapo para faz~-lotriunfar tal como ai esta. Nos dois casos, os dados
litica,serapreciso imaginar, namaioriadasvezes com eles e,al estao lan,.i:'dos, os conceitos marcados, as posi,6es conhecidas.
gumas vezes, contra eles, 0 que poderia ser uma politica enfim Voc~s chegam tarde demais a urn debate bastante congelado.
livredestaespadade Darnodes:anatureza. Acabamosdepensar.Erapreciso que se agitassemhadezanos.
Ja existe, poderilo objetar,umaecologiapolitica. Elatern N6squeremos,neste Iivro,proporumahip6tese diferen
inumeraveis nuances, desde a mais profunda ate a mais super te que nos fad, talvez, perdoar por intervir fora de hora. Do
ficial, passando portodasasformas ut6picas,razoaveisoulibe pontodevistaconceitual,aecologiapoliticanao comerouainda
rais. Quaisquer que sejam as reservas que se possam ter avista aexi~tir;simplesmenteseconjugaramosdoistermos,"ecologia"
disso,estascorrentesjatecerammilharesdeliga,6esentreana e"politica",semrepensarinteiramenteoscomponentes;emcon
turezaeapolitica.Eistomesmo0 quetodosredamamentresi: seqii~ncia, os desafios, que ate aqui sofreram os movimentos
dirigir, enfim, uma politica da natureza; modificar, enfim, a ecoi6gicos,nao provam nada, nem quanto as derrotaspassadas,
vidapublicaparaqueelaleveem1contaanatureza; adaptar,en nem quanto a seus possiveis sucessos. A razao deste atraso e
fim, nosso sistemade produ,ao as exig~ncias danatureza; pre muitosimples.Acreditou-se,muitodepressa,quebastariareem
servar, enfim, a natureza, contra as degrada,6es humanas, por pregartais ou quais conceitosantigos de natureza ede politica,
umapoliticaprudente eduravel. Brevemente,sob formas Inul paraestabelecerosdireitose~sformasdeumaecologiapolitica.
tiplas, freqiientemente vagas, porvezes contradit6rias, trata-se Ora,oikos,logos,physisepolispermanecemcomoOSverdadeiros
ta~to
muitobern,desdeja,defazerentrarapreocupa,aocomanatu enigmas, que nao se apresentam'os quatro conceitos em
rezanavidapublica. jogodeumas6vez. Acreditou-sepoderfazereconomiadestetra
Como poderiamospretenderque existaai umaempreita ballio conceitual, sem perceber que as no,6es de natureza e de
danova,que nemsequercome,ou? Pode-se discutirautilidade, politica ja haviam sido desenhadas, ao longo dos seculos, para
duvidardesuasaplica,6es,oquenaosepodeefazercomoseela tornarimpossivelqualquerreconcilia,ao,qualquer sintese,qual
nao estivesse amplamente come<;ada, ecomo se elanao estives quer combina,ao entre os dois termos. Coisa ainda mais grave,
seemgrandeparteacabada.Seaecologiapoliticaestaemxeque, pretendeu-se, no entusiasmo de uma visao ecumenica, "ultra
naofoipOrfaltadehavertentadoadimataranaturezaavidapu passar"aautigadistin,aodoshumanosedascoisas,dossujeitos
blica. Se ela perde sua influ~ncia,e muito simplesmente, dirao de direito e dos objetos de ci~ncia,sem considerar que eles ha
alguns,porqueterncontrasimuitosinteressespoderosos;epor viam sido aparelhados,delineados,esculpidos,parasetornarem
que,diraooutros,naotevejamaissubstfulciabastanteparariva pouco apouco incompativeis.
lizarcomapoliticadesempre.Emuitotarde,emtodocaso,para Muito longe de"ultrapassar"as dicotomiasdo homem e
retomaraquesti'ioanovoscustos.Econveniente,sejaenterrar0 da natureza, do sujeitoe do objeto, dos sistemasde produ,ao e
movimentoparaqueeleretorneaocemiterio- bastantecheio- doambiente,afim deencontrar0 maisrapidamentepossivelos
12 13
remediosparaacrise, erapreciso,ao contrario, diminuir0 mo protocolos;elaedistribuida embases de dados; ela eargtimen
vimento, tomar seu tempo, suspende-Io, depois descer abaixo tada por intermedio das sociedades de sabios.A ecologia, como
a
destasdicotomiasparacavarcomo avelhatoupeira. Estee,pelo seunomeindica,naoternacessodiretamente natureza,talqual
menos,0 nosso argumento.Emlugardecortar0 n6g6rdio,n6s ela e; e uma"Iogia';como todas as disciplinas cientificas. Sob 0
iremos abala-Io de mil maneiras, ate que se possa introduzir al nomedecienciasencontramosjauma_misturabastantecomple
umaconexao,desfazendo certos n6s, afim de renova-Ios diver xa de provas e de operadores da prova.uma Cidade sabia, que
samente.Emmateriadefilosofiapoliticadaciencia,eprecisoto agecomoterceiroemtodasasrela<;oescomasociedade.Ora,este
mar~eutempo,afim denaoperde-Ia.Osecologistassesentiram terceiro, os movimentos ecol6gicos, procuraram urn atalho, a
urn tanto exaltados assirn que lan~ramseu slogan '~ct locally, fim de,justamente,acelerarseusprogressosmilitantes.Aciencia
thinkglobally" *('~girloealmente, pensarglobalmente"). Quan permanece,paraeles,comourn espelho do mundo,aponto que
to ao global,nenhurn outropensamentoIhesveio senao0 desta sepode,quase sempre,nasualiteratura,tomar naturezaecien
naturezaja'composta,jatotalizada,jainstituidaparaneutralizar cia como sin6nimos.1Lam;amosahip6tese, ao contrario,de que
a politica. Para pensar "globalmente" era preciso come<;ar por
descobrir as institui<;oes, gra<;as as quais se forma lentamente a
. \ Coisasurpreendente,agoraqueamaiorpartedosneg6ciosdesencadeados
globalidade.Ora,anatureza,comoavamosperceber,presta-sea pelomovimentoecologistadependeinteiramentedascienciasparasetor
isso taomal quantapossive!. naremvisiveis,asexce~oesaestaregrapermanecempOUCQnumerosas.Que
sepense,porexemplo,no"efeitoestufa",ounodesaparecimentoprogressi·
De fato, neste livro vamos avan<;ar como a tartaruga da
vodoscetaceos: cadavezmaisasdisciplinasacademicasseencontramna
fabula, e como ela, pelo menos 0 esperamos, acabaremos por primeiralinha,0 quenaoe0 casodeoutrosmovimentossaciais.Encon
trar-se-aemSergeMoscovici(1977[1968]),Essaisurl'histoirehumainede
ultrapassar alebre, que havia decidido, em sua grande sabedo
lanature,umadestasexceyoestantomaispreciosaquantoseulivrodetrin
ria,queaecalogiapoliticaeraumaquestaoultrapassada,enter taanos.Porem,nolivroseminaldeMichelSerres(1990),LeContratnatu·
rada, incapazde fazer pensar, de refondaramoral,a epistemo reI,constaquealigayaoemaisestreitaentre0questionanientodasciencias
eas daecologia,peloviesdeumaantropologiaconjuntadodireito edas
logiaeademocracia,ouquepretendia,emtressaltos,('reconci ciencias.0 presentetrabalhoproiongaalgunsdosavan~os deSerressobre
afunyao contratualdas ciencias.TambemseacharaemUlrichBeck,An
liar 0 homem e anatureza". Para foryar-nos adiminuir a mar
thonyGiddenseScottLash(1994),ReflexiveModernization, UlrichBecke
cha,vamosinteressar-nossimultaneamentepelasciencias,pelas ScottLash (1997),TheReinventionofPolitics. RethinkingModernityin the
GlobalSocialOrder.alusoesfreqiientesasociologiadasciencias,comotam
naturezas e pelaspoliticas.
bernnolivro,importanteparamim,dePierreLascoumes(1994),Eco-pou
A produ¢ao cientifica: e essa a primeirasutilezaque en voir.Environnementsetpolitiques.Alias,aexce~aodetrabalhossabreapar
contraremos em nosso caminho.Aecologia politicaleva,como ticipayaodopublico (AlanIrwineBrianWynne (1996),Misunderstanding
Science? The PublicReconstruction ofScience and Technology; Scott Lash,
('a
se diz, natureza em suas relac;6es com a sociedade". Muito BronislawSzerszynskieBrianWynne (1996),Risk,EnvironmentandMo
bem. Mas esta natureza torna-se reconhedvel por intermedio dernity:TowardsaNewEcology,asintersec~6es entreaecologiaeosscience
studiespermanecem surpreendentemente esporadicas.Ver, entretanto, os
dasciencias;elaeformadaatravesdasredesdeinstrumentos;ela
trabalhosdeStevenYearley(1991),TheGreenCase:aSociologyofEnviron
se define pela interpreta<;ao das profissoes, de disciplinas, de mentalissue.ArgumentandPolitics,deKlausEder(1996),TheSocialCons-
14 15
IntrodUfiW
eprecisoremeter0 enigmadaprodu.,aocientificaaocora~aoda decartesianismo francesedeparquesamericanos. Digamosisto
ecologia politica. Diminuiremos, talvez, aaquisis:ao de certezas brutalmente: com a natureza, nilo hti nada aJazer. Mais ainda,
que deveriam servir de fermento ao combate politico, mas in em algum momento de sua breve hist6rhi, aecologia politica
cluiremos, entre a natureza e a sociedade, urn terceiro termo, nao tratou sobre a natureza, sobre sua defesa, sobre sua prote
cujopapelvaise revelar capital. .,ao.'Como iremos mostrar no primeiro capitulo,acreditar que
Anaturezae0 segundomoderadorqueaecologiapolitica elase interessapelanaturezaeadoen~ainfantildaecologiapo
valencontraremseucaminho.Comoanatureza,pode-seobjetar, litica,0 queaimpededesairdesuaincapacidadeemcompreen
poderia estorvar urn conjunto de disciplinas sabias e militantes, der, enfim, sua pratica. Esperamos que este desmame, mesmo
que trazem 0 seu modo de protege-la, respeita-la,defen:'de-Ia, de que pare~aurn pouco brutal, tenha efeitos mais favoraveis do
inseri-lanojogopolitico,defazerdelaurnobjetoestetico,urnsu
que manter for~damenteano~ao de natureza como unico ob
jeitodeOOeito,enfim,urnapreocupa.,ao?Portanto,edaiquevern
jetodaecologiapolitica.
adificuldade. Cadavez que seprocuramisturaros fatos cientifi o
terceiroobstaculo,0 maisperturbador,0 maisdiscutido,
coseosvaloresesteticos,politicos,economicosemorais, nos en
vern, evidentemente, da politica. Conliece-se a diferen~ entre a
contramosem urnasaidafalsa. Senosentregamosdemaisaosfa
ecologiacientificaeaecologiapolitica,entre0 ec6iogo e0 ecolo
tos,0 hurnano oscilainteiramente naobjetividade,torna-se uma
gistamilitante.Sabe-se,lambem,dadificuldadequeosmovirnen
coisacontabilecalculavel, urn balan~eteenergetico, umaespecie
tos ecol6gicos sempre tiveram para situar-se no controverso
dentre outras.Seseconcededemais aosvalores,a natureza intei
cenariopolitico.Adireita?Aesquerda?Aextremadireita?Aextre
raoscilanomitoinCerto,napoesia,noromantismo;tudosetor a a
maesquerda? Nem OOeita,nem esquerda?Entao,naadminis
naalmaeespirito.Sese misturam os fatos eosvalores,vai-se de
tra¢o?·Se em parte nenhuma, na utopia?Acima,natecnocracia?
malapior,postaque sepriva,deumavez,0 conhecimentoauto as
Abaixo,retornan~o fontes? Paraalem,naplenarealiza.,aodesi?
noma ea moralindependente.'Nao sesaberajamais,porexem
Portodo lado, como 0 sugere a belahip6tese Geia,de umaTerra
plo,seitSprevisoesapocaliticas,comasquaisosmilitantesecol6
que,reuniriatodos osecossistemasem urn s6 organismo integra
gicosnosamea~am,tern0 poderdossabiossobreospolitic,:>s,ou
do?PodeaihaverurnacienciadeGeia,urncultodeGeia,maspo
adomina.,ao dospoliticossobreospobressabios.
deriaaihaverumapoliticadeGeia?SeviermosadefenderaTerra,
Estelivro levantaahip6tese deque aecologiapoliticanao
as
Mae,elambempolitica?Eseeparaporfim polui~oes, fecharos
abrangetudo sobre"anatureza"- estamisturadepoliticagrega,
dep6sitosdelixomunicipais,reduzir0 barulhodoseScapamentos,
realmentenaovaleapenamoverceuseterras:bastaraurnbornde
tructionofNatureedeGeorgeRobertsonetal. (1996),Futurenatural.Na·
partamento ministerial. Nossa hip6te,se e que aquiseram colocar
ture/Science/Culture.
notabuleiropoliticosem redesenharas casas,semredefinirasre-
2 Encontrar-se-anoanexodocapftulo 1,umacartografiadasposiyaesposs(
veisquemostrambernainstabilidadedano¢odenatureza. gras,sem remodelarospeoes.
\'
!
16 17
IntroduFao
Nadaprova, com efeito,que areparti~aodospapeis entre
que anatureza, acienciaeapoliticatern a fazer em conjunto.A
apoliticahumanaeacienciadascoisas,entreasexigenciasdali
for~a.
fraqueza, parece-nos,pode levarmaislonge quea
berdadeeospoderesdanecessidade,possaserutilizadatalcomo
Se naotemosautoridadepr6pria,beneficiamo-nos,entre
e,a limdeabrigaraecblogiapolltica.Talvezsejaprecisoirate0
tanto,de umavantagemparticular,eestaea linicaquenos auto
ponto de levantar a hip6tese de que nao se definiu jamais a li rela~ao
rizaaentrarem com0 leitor:interessamo-nosexatamen_
berdadepoliticadoshumanos,senaoparaentrava-Iacomleisda te tanto pelaprodu~ocientifica quant6 pela produ~opolitica.
necessidadenatural.Ter-se-iatornado ademocraciavoluntaria
au,moosaindajadmiramostantoospoliticosquantaoscientistas.
mente impotente. a homem nasceulivre,portodolado ele estil
Que0 leitorpensenisto:esteduplorespeitonaoefrequente.Nos
encadeado; 0 contrato social pretende emancipa-Io; s6 0 pode sa ausencia de autoridade oferece justamente a garantia de que
fazer aecologia politica, mas nao e0 homem livre que.elapode nao utilizaremos a ciencia paraServiri\ politica, nem da polltica
levari\salva~ao. abrigada,paraencontrar'urn ni&o,redefinira paraserviri\ciencia.Estaminusculavantagem,pretendemostor
politica e a ciencia, a liberdade e a necessidade, 0 humano e 0 na-Ia0 asdeouro.Paraaquestao- quefazerdae~olOgiapolitical
nile-humano,a{cologiapoliticaperdeuacoragem1)0caminho. - naotemosOOndaarespostadefinitiva. Sabemossomentequese
Ela acreditou poder apoiar-se sobre a natureza para acelerar a nao se experimenta modificaros termos do debate, reatando di
democracia.As duas hoje!hefaltam. Epreciso retomar atarefa ferentemente 0 n6g6rdio dascienciasedaspollticas,aexperien
em urn percurso mais longo,moos perigosotambem. cia,emverdadeiragrandeza,nadaprovara,tantoem urn sentido,
Dequeautoridadedispomosparafazer aecologiapoliti quanto no outro.Sempreestaraausente urn protocolo adaptado;
ca submeter-se a estes tres desafios da produ~aocientlfica, do 50mpregostariamosdeterdeixadopassarachancequeaecologia
oferecia,talvez,deredefinirapolltica.
abandono da natureza e da redefini~aodo politico? a autor e
aqueles em quem 50 inspiram sao militantes ecologistas? Nao. Acrescentemos urn ultimo constrangimento ao qual nos
Ec619gosreconhecidos?Tambemnao.Politicosinfluentes,entao? tinhamos desejado submeter. Aindaque devessemos retomar 0
no~oes natu~eza,
tema das tres conjuntas de de politica e de
Menosainda.Senospudessemosexcetuardequalquerautorida
ciencia, nao preferimos utilizarnem otom dadenuncia, nema
de,0 leitorganhariatempo,n6s0 compreendemosbern:istopo
tom profetico, que muitas vezes acompanhain os trabalhos de
deria causar confian~a.Mas nao se trata de ganhar tempo, de ir /
moosdepressa,desintetizaras rfiassas dedados, de res~lver r~pi ecologia politica. Mesmo que nos preparemos para atravessar
p~oblemas a~o umaseriedehip6teses,cadaumamoosestranhaqueapreceden
damente os urgentes, de prevenir, por uma ful
te,f, no entanta,sabre0 senso comum* que desejamos,antesde
minante, achegadade cataclismosigualmentefulminantes. Nao
tudo, refletir. Aconteceque ele se opoe, no momento, ao born
se trataria mesmo, gra~as a uma erudi~aometiculosa, de fazer
sensa,que,parasobreviver,falhano andarlentamenteeao qual,
justi~a aospensadores da ecologia. Neste livro, trata-se simples
para sersimples, deviamos dar provisoriamente a aparencia.da
mente de tornar a perguntar a si mesmo - talvez s6 para si- 0
radicalidade. Nossofim nao e,pois,revolveraordemestabeleci-
18
19