Table Of ContentUNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
Silvio Ricardo Gomes Carneiro
O Discurso Ontológico e a Teoria Crítica de Herbert Marcuse
Gênese da Filosofia da Psicanálise (1927- 1955)
São Paulo
2008
Silvio Ricardo Gomes Carneiro
O Discurso Ontológico e a Teoria Crítica de Herbert Marcuse
Gênese da Filosofia da Psicanálise (1927- 1955)
Dissertação apresentada ao
programa de Pós-Graduação em
Filosofia do Departamento de
Filosofia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, para
obtenção do título de Mestre em
Filosofia sob a orientação do Prof.
Dr. Vladimir Pinheiro Safatle.
São Paulo
2008
O que suaviza, pois, em nós a civilização? A civilização
elabora no homem apenas a multiplicidade de sensações e...
absolutamente nada mais. E, através do desenvolvimento
dessa multiplicidade, o homem talvez chegue ao ponto de
encontrar prazer em derramar sangue. Bem que isto já lhe
aconteceu. (...) Pelo menos, se o homem não se tornou mais
sanguinário com a civilização, ficou com certeza
sanguinário de maniera pior, mais ignóbil que antes.
Outrora ele via justiça no massacre e destruía, de
consciência tranqüila, quem julgasse necessário ; hoje
embora consideremos o derramamento de sangue uma
ignomínia, assim mesmo ocupamo-nos com essa ignomínia,
e mais, ainda que outrora. O que é pior ? Decidi vós
mesmos.
Fiódor Dostoiévski, Memórios do Subsolo
Atualmente, os seres humanos têm seguido tão adiante no
domínio das forças da natureza, que com sua ajuda, sem
dificuldades, exterminam um ao outro até o último homem.
Eles sabem: eis aqui boa parte de sua presente inquietude,
de sua infelicidade, de seu estado angustiante. Agora é só
esperar que o outro dos "poderes celestiais", o Eros eterno,
faça um esforço para impôr-se contra seu inimigo
igualmente imortal. Mas quem poderá prever o resultado e
o desfecho?
Freud, O Mal-Estar na Cultura,
Aos meus pais,
Geraldo e Ana Maria
Agradecimentos
Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, de
uma forma ou de outra, participaram deste projeto apoiando-o e inspirando-o,
especialmente:
à Silvana Ramos, cujas palavras inspiram a força de Eros deste texto.
aos meus irmãos Dinho, pela amizade e acessoria técnica e Babo, por seu
pioneirismo inspirador.
aos amigos Alexis Rosim, Walter Hatakayama, Tatiana Rotolo, Marcelo Rosa e
Olinto Ilitch... saravá!
aos amigos do grupo de Frankfurt Carlos Pissardo, Caio Vasconcelos, Vladimir
Puzone, Gustavo Pedroso e Guto cujas questões foram marcantes e, de modo especial,
aos marcuseanos Marília Pizane e Stefan Klein, pela livre-circulação de idéias.
aos amigos do Latesfip, em especial, Herivelto Souza e Ronaldo Manzi pelo
debate franco.
às amigas do divã Márcia Guerra, Cláudia Gigante e Jacque Imbrizi que me
apresentaram horizontes do inconsciente.
à Olgária Matos e Wolfgang Leo Maar pelos comentários atentos e de largas
perspectivas em minha qualificação.
à Isabel Loureiro pelas conversas e orientações sempre precisas e provocativas.
aos prefessores Jorge Grespan, José Coelho Soares, José Leon Crochík, Leca
Kangussu e Rodrigo Duarte pelas colaborações fundamentais desde o início desta
pesquisa.
às meninas da Secretaria do Departamento de Filosofia, pela acessoria
burocrática
ao meu orientador Vladimir Pinheiro Safatle, pelo rigor e ousadia que fazem da
pesquisa um exercício de amadurecimento intelectual.
ao CNPq, pela bolsa de estudos que facilitou enormemente a elaboração dessa
pesquisa e à CAPES, pelos auxílios concedidos para a participação em congressos.
RESUMO
CARNEIRO, S. R. G., O Discurso Ontológico e a Teoria Crítica de Herbert Marcuse –
Gênese da Filosofia da Psicanálise (1927- 1955), 2008, 248 f.. Dissertação (Mestrado)
- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
O projeto de uma filosofia da psicanálise de Eros e Civilização apresenta a
teoria crítica da economia libidinal da sociedade industrial avançada, configurada pela
angústia de uma estrutura cultural cujas possibilidades abertas para a gratificação dos
desejos logo são impedidas pela dialética fatal própria à lógica da dominação. Esta
escolha reflete uma trajetória intelectual que sempre se questionou pela revolução que
nunca aconteceu. Desde a juventude, Marcuse procura conferir bases seguras para esta
perspectiva. Justamente por esta busca, o filósofo se depara com a ontologia
fenomenológica de Heidegger, absorvendo questões existenciais fundantes, sobretudo,
a relação entre o homem e o mundo. Isto não significa uma filiação direta de Marcuse
ao pensamento heideggeriano, mas uma relação permeada por divergências. Esta
trajetória intelectual, de outro modo, não se desenvolve por um afastamento da
ontologia, como muitos comentadores propõem ao valorizar a perspectiva
antropológica de Marcuse. Contrariamente, nossa pesquisa aponta o aprofundamento
do discurso ontológico do filósofo, não mais apoiado no esvaziamento positivo do
Dasein, mas na concretude negativa da dinâmica histórica. Esta ontologia alcança
camadas profundas da história da dominação, cuja arqueologia é apresentada pela
teoria psicanalítica das pulsões. Eros e Civilização alcança, pois, o limiar entre a
natureza e a cultura, encontrando aí não apenas a lógica da dominação, mas também
possibilidades para sua superação formulada por uma lógica da gratificação em uma
civilização não-repressiva.
Palavras-Chave: Ontologia – Antropologia – Teoria Crítica – Herbert Marcuse –
Psicanálise
ABSTRACT
CARNEIRO, S.R.G. Ontological Discurse and Critical Theory of Herbert Marcuse – Genesis
of Philosophy of Psychoanalyses, 2008. 248 f. Thesis (Master Degree) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2008.
The project of philosophy of psychoanalysis in Eros and Civilization shows a critical
theory of libidinal economy of advanced industrial society, that is configurated through
ansiety of a cultural structure, in that opened possibilities to gratification of desires are
prevented soon by fatal dialectics of logics of domination. This choice reflects a intelectual
trajectory that always inquired into revolution that never happens. Since yours youthfullness,
Marcuse find to set up steadies bases to revolutionary perspective. On account of this,
philosopher comes across phenomenologics ontology of Heidegger and absorves existencials
fundamentals questions, chiefly, the relations of man and external world. It not means a direct
filiation between Marcuse and heideggerian thought, but a relation replete with divergences.
Otherwise, this intelectual trajectory don´t develops itself from a removal of ontology, like
many commentators proposes, when gives a value to a anthropological view in Marcuse.
Contrariwise, our inquire points the deeping of ontological discourse by the philosopher, that
supports itself on positive emptying of Dasein no more, but on the negative concretude of
historical dynamics. This ontology reachs deeps layers of history of domination, in that
archeology is showed by psychoanalytical theory of instincts. Eros and Civilization reachs
then the doorstep between nature and culture and find there the logics of domination and the
possibilities of overcomming this since a logics of gratification in a unrepressive civilization.
Key-Words: Ontology – Anthropology – Critical Theory – Herbert Marcuse - Psychoanalysis
SUMÁRIO
Lista de Abreviações................................................................................................... p. 1
Introdução .................................................................................................................. p. 2
O marxismo no freudismo - Freudismo no Marxismo - A fantasmagoria freudo-marxista
- As conseqüências antropológicas e o desfecho ontológico
Parte 1: Marcuse e a Fenomenologia ..................................................................... p. 21
1.1) Primeiras aproximações : Marcuse e Heidegger .......................................... p. 24
Kant contra Kant - Heidegger e o problema da metafísica
1.2) Fenomenologia Dialética .................................................................................. p. 38
A existência cotidiana e o impessoal - Conteúdo temporal do Dasein - Conteúdo
material da historicidade - Teoria da Revolução: a Ação Radical - Limites da
"Filosofia Concreta"
1.3) Manuscritos Econômico-Ontológicos ............................................................ p. 68
O trabalho alienado - A objetivação do trabalho - Crítica marxista à objetivação
hegeliana - Ser natural, ser objetivante, ser genérico - Objetivação como prática sócio-
histórica - O proprietário e sua sombra - Alvo da Revolução - Consciência e Revolução
- A Filosofia Concreta como Humanismo Real - O Destino da Fenomenologia
1.4) Existencialismo: Ser ou não-ser? ................................................................. p. 108
Velhos impasses da herança heideggeriana - As Heranças Cartesiana e Luterana -
Existência Reificada - O Eu e o Outro - Entre a Dominação e a Carícia- A Auto-crítica
de Marcuse
Parte II: Marcuse e a Filosofia da Psicanálise .................................................... p 136
2.1) A crítica da razão como crítica da ideologia ................................................ p. 136
A verdade das idéias - Marcuse, um idealista? - Freud e a gênese pulsional da
racionalidade
2.2) Para a Crítica do Materialismo ..................................................................... p. 158
A economia da felicidade - A história dos prazeres - A Vida Feliz dos Antigos - A crítica
hedonista - A crítica ontológica ao hedonismo - A felicidade objetiva - O Hedonismo
Moderno - A herança crítica do hedonismo - Entre a dialética e a ontologia do desejo
2.3) Marcuse e o Mito .............................................................................................p. 187
A Herança da Repressão - O Mito Freudiano do Parricídio - Da revolta à traição da
revolta - A civilização e seus heróis - O símbolo e a pulsão
2.4) Marcuse e a Ontologia Histórica ....................................................................p. 204
Ontologia negativa - O Eros Ontológico - Dialética da Civilização - Os predestinados
no mundo desencantado - A lógica ascética da dominação - A repressão e seu abuso - A
Justificativa da Ananké
Conclusão ............................................................................................................... p. 228
Bibliografia ............................................................................................................ p. 236
1
Lista de abreviações
Obras de Marcuse:
C&S - Cultura e Sociedade, S. Paulo: Paz e Terra, 1997a, 1998a (2
Volumes)
E&C – Eros and Civilization - A Philosophical Inquiry into Freud, Boston:
Beacon Press, 1966.
ODM - One Dimensional Man - Studies in the Ideology of Advanced
Industrial Society, 2ª ed., Boston: Beacon Press, 1991
SB - Schriften, (9 Band), Springe : Zu Klampe, 2004.
T&G - Triebstruktur und Gesellschaft - ein philosophischer Beitrag zu
Sigmund Freud, trad. Marianne von Eckardt-Jaffe, Frankfurt am
Main: Suhrkamp Verlag, 1965.
ZfS - Zeitschrift für Sozialsforschung (Revista de Pesquisas Sociais do
Instituto de Pesquisas Sociais)
Description:CARNEIRO, S. R. G., O Discurso Ontológico e a Teoria Crítica de Herbert Marcuse – .. Por que a ontologia de Sartre e não a de Merleau-Ponty?