Table Of Contentxxv
IMMANUEL KANT
CRÍTICA DA RAZÃO PURA
E
~
OUTROS TEXTOS FILOSOFICOS
Seleção de Marilena de Souza Chauí Berlinck
EDITOR: VICTOR CIVITA
Títulos originais:
Kritik der reinen Vernunft - Prolegomena zu einer jeden künftigen Metaphysik, die ais
Wissenschaft wird auftreten kõnnen - Grundlegung zur Metaphysik der
Sitten - Erste Fassung der Einleitung in die Kritik der Urteilskraft - Kritik der
Urteilskraft - Die Religion innerhalb der Grenzen der blossen Vernunft.
1.ª edição - abril 1974
:q - Copyright desta edição, 1974, Abril S.A. Cultural e Industrial, SãcrPaulo.
Tradução publicada sob licença de:
Atlântida Editora, Coimbra (Fundamentação da Metafisica dos Costumes).
Direitos exclusivos sobre as demais traduções deste volume,
1974, Abril S.A. Cultural e Industrial, São Paulo.
Sumário
CRÍTICA DA RAZÃO PURA ..... .... ....... .... ....... ... ... ... ....... .... .. .. ... 7
PROLEGÔMENOS .. .... .. .... ... ... ..................... ........ ... ....... .. ... 99
FUNDAMENTAÇÃO DA METAFÍSICA DOS COSTUMES ................ ... .. .... ... 195
PRIMEIRA INTRODUÇÃO À CRÍTICA DO JUÍZO ..... ........ .. .... ...... ....... .. 257
ANALÍTICA DO BELO .... ... .. .... ..... .... .... .. .. .. ....... .. ... .. ..... ... .. . 299
DA ARTE E DO GÊNIO ..... ... ... .... ..... ... ..... ........... .. .... .. ... ...... . 335
A RELIGIÃO DENTRO DOS LIMITES DA SIMPLES RAZÃO .................. ..... ... 365
CRÍTICA DA RAZÃO PU RP:
Tradução de Valério Rohden
* Traduzido do original alemão, 2.ª edição (B), que tem por título: Critík der reinen Vernunfl von Immanuel
Kant, Professor ín Konigsberg, der Kônigl. Academie der Wíssenschaften Íll Ber/in Mítglied. Zweyte hin
und wíeder 1•erbesserte A ujlage. Riga, bey Johann Friedrích Hartknoch, 178 7.
Prefácio à segunda edição
Se a elaboração dos conhecimentos pertencentes ao domínio da razão segue
ou não o caminho seguro de uma ciência, deixa-se julgar logo a partir do resulta
do. Quando, após muito preparar-se e equipar-se, apenas se chega ao fim, se cai
em dificuldades ou, para alcança-lo, se precisa freqüentemente voltar atrás e
tomar um outro caminho; quando se torna igualmente impossível aos diversos
colaboradores porem-se de acordo sobre a maneira como o objetivo comum deva
ser perseguido: então se pode estar sempre convencido de que um tal estudo se
acha ainda bem longe de ter tomado o caminho seguro de uma ciência, consti
tuindo um simples tatear; e é já um mérito para a razão descobrir esse caminho
onde ela o puder, mesmo que deva abandonar como vã muita coisa contida no
fim tomado anteriormente sem reflexão.
Que a Lógica tenha seguido desde os tempos mais remotos esse caminho
seguro, depreende-se do fato de ela não ter podido desde Aristóteles dar nenhum
passo atrás, desde que não se considere como correção a supressão de algumas
dispensáveis sutilezas ou a determinação mais clara do exposto, coisas perten
centes mais à elegância do que à segurança da ciência. É de admirar-se ainda de
que ela até agora tampouco tenha podido dar um passo adiante e, por conse
guinte, segundo toda a aparência, parece estar completa e acabada. A tentativa de
alguns modernos de ampliá-la através da introdução de capítulos, seja psicoló
gicos, sobre as diversas faculdades do conhecimento (a imaginação, o sentido de
humor), seja metafisicas, sobre a origem do conhecimento ou sobre os vários
modos de certeza conforme a diversidade dos objetos (sobre o idealismo, o ceti
cismo, etc.), seja antropológicos, sobre preconceitos (suas causas e seus antído
tos), provém da sua ignorância da natureza singular desta ciência. Confundir os
limites das ciências entre si não constitui um aumento e sim uma desfiguração
das mesmas. O limite da Lógica acha-se determinado de maneira bem precisa,
por ser ela uma ciência que expõe circunstanciadamente e prova de modo rigo
roso unicamente as regras formais de todo o pensamento (seja ele a priori ou
empírico, tenha ele a origem ou o objeto que quiser, encontre ele em nosso ânimo
obstáculos acidentais ou naturais).
A Lógica deve a vantagem do seu sucesso simplesmente à sua limitação,
pela qual· ela se autoriza e mesmo se obriga a abstrair de todos os objetos do
conhecimento e das suas diferenças, de modo a não se ocupar o entendimento
10 KANT
nela com nada mais do que consigo mesmo e com sua forma. Para a razão devia
ser, naturalmente, muito mais difícil encetar o caminho seguro da ciência, quando
ela trata não somente de si mesma, mas também de objetos. Por isso constitui
também a Lógica como propedêutica apenas uma espécie de vestíbulo das ciên
cias e, quando o assunto é o conhecimento, pressupõe-se uma Lógica para o seu
julgamento, devendo-se, porém, procurar a sua aquisição nas própria e objetiva
mente chamadas ciências.
Enquanto deve haver razão nas ciências, algo precisa ser conhecido nelas a
priori e o conhecimento da razão pode relacionar-se com o seu objeto de dois
modos, ou meramente para determinar a este e seu conceito (que deve ser dado de
outra maneira), ou também para torná-lo real. O primeiro é o conhecimento teóri
co, o segundo o conhecimento prático da razão. A parte pura de ambos - não
importa quão grande ou pequeno seja o seu conteúdo-, ou seja, aquela parte em
que a razão determina o seu objeto de modo completamente a priori, deve ser
exposta antes sozinha, sem confundir com ela o que provém de outras fontes; pois
constitui uma economia de má qualidade gastar cegamente todos os ganhos sem
poder distinguir depois, quando ela entra em dificuldades, qual parte dos rendi
mentos pode arcar com a despesa e de qual parte se deve cortá-la.
Matemática e Física são os dois conhecimentos teóricos da razão que devem
determinar os seus objetos a priori, a primeira de modo inteiramente puro, a
segunda pelo menos em parte, mas tomando ainda como medida outras fontes de
conhecimento que a da razão.
A Matemática encetou, desde os tempos mais remotos alcançados pela his
tória humana, com o admirável povo grego, o caminho seguro de uma ciência.
Apenas não se deve pensar que lhe tenha sido tão fácil como à Lógica, em que a
razão só se ocupa consigo mesma, encontrar esse caminho real ou, mais ainda,
traçá-lo para si mesma. Creio, antes, que ela tenha permanecido por longo tempo
(sobretudo entre os egípcios) no simples tatear e essa transformação se deva atri
buir a uma revolução, que a feliz idéia de uma única pessoa realizou, numa tenta
tiva a partir da qual não se podia mais errar no rumo a empreender, e assim esta
va encetado e traçado para todos os tempos e em distâncias infinitas o caminho
seguro de uma ciência. A história desta revolução na maneira de pensar, aliás
da transformação produzida pelo primeiro passo do descobrimento deste novo
bem como a da feliz pessoa que a levou a efeito, não chegou até nós. Não obstan
te, prova a lenda transmitida a nós por Diógenes Laércio - que nomeia o supos
to descobridor dos menores elementos das demonstrações geométricas, não
carentes segundo o julgamento comum de uma única prova - que a lembrança
da transformação produzida pelo primeiro passo do descobrimento deste novo
caminho tenha parecido extremamente importante aos matemáticos e se tenha
tornado por isso mesmo inesquecível. O primeiro a demonstrar o triângulo eqiii
látero (tenha-s~ ele chamado Tales ou tenha tido outro nome qualquer) teve uma
revelação; pois achou que não devia indagar o que via na figura ou no simples
conceito, para aprender através disso as suas propriedades, mas que devia produ
zir (por construção) o que segundo conceitos pensava e se representava a si pró-