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COLECCAORESISnNCIA Texto N.· 8
Operarios
e Camponeses
no Poder
Discurso do Camarada
Agostinho N.eto
l
no encerramento do
1. Curso Nacional de Activi'stas
0
em 23 de Maio de 1976
·INTRODUCAO
.0 povoangolanodirigidopela sua vanguarda
oMPLA,acaba deenfrentar vitoriosamentenma
guerra deagressAoimperialista.Batidonocampo
militar, 0 inimigoprocora novas e mais subtis
formas de actua~ para se opor as vit6rias
cadavezmaiores,aleaneadaspelasmassaspopu
lares.:£ atraves daagit8!iWnoselod08trabalha
dores,dafoment~o dotribalismoe doracismo,
da sabotagemdoPoder Popular e da sabotagem
econ6mica que 0 inimigo procura opor-se ao
avan~ da nosss luta.
As massas populares, organizadas em torno
da sua Tanguarda,0 MPLA,constituem81 for~a
motriz da nossa Revolu~. Todavia,para que
elaspossamcumprir a tarefa hist6rica,quelhes
estAdestinada,e indispensavel,queosmilitantes
danossaOrganiza~, tenhamcomopreocupaeao
dominante anmentar a sua form~ao politica e
ideol6gicapara melhor servirem os interesses
dasmasses populares.
oDepartamentodeOrienta9i\oPolitica, coma
colec~ «Resist~ncia»pretendecontribuirdecisi
vamente para a tarefa da educa~ politica e
3
idool6gica das ma8S&S milltantes.Aosmllitantes
mais conscientes,e melhor esclarecidos,cabera
estudar 08 textos aqui editados eleva-los ao
conhecimentodas massas, seja nos grupos de
~, nas Comlssoesde Bairro, nas Comlssoes
de Trabalhadores,ete.,para ai se discutir apro
fundadamente0 seu eonteudo.
Camaradas membros do Bureau Politico
o
DOP
e dos Departamentos de Orientacao do
nosso Movimento;
Camaradas das organizac;6es de massas;
Camaradas activistas politicos.
Esta sessao de encerramento do Primeiro
Seminario Nacional que os Camaradas orga
nizaram, reveste-se de uma irnportancia
fundamental. Essa irnportancia n6s podemos
verifica-la em cada lugar do nosso Pais,
quando percorremos as sanzalas, os quim
bos e as cidades e verificamos que ainda
e
necessario fazer um grande trabalho poli
tico para que 0 nosso povo siga realmente
o caminho da Hevolucao.
Os camaradas dispenderam aqui algum
tempo, algumas semanas e agora vao re
gressar cada um ao seu lugar de origem.
E com muito prazer que acedi ao convite
para vir aqui dizer algumas palavras aos
camaradas.
Camaradas activistas politicos.
Os quarenta e cinco dias dedicados ao
estudo da orientacao do Movimento e dos
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E a nossa luta pela independencia, foi
rnetodos de accao a aplicar pelos 240 mili caracterizada pela necessidade do imperia
tantes aqui presentes, demonstra uma vez lismo diluir a nossa linha politica e impor
mais a necessidade constante e crescente uma nova forma de exploracao - 0 neoco
de formacao de quadros politicos capazes lonialismo.
o
de em cada etapa da luta, enfrentar os povo angola no porern, nao cedeu a
m~ito variados problemas do Pais. esses anseios dos colonialistas e dos impe
o nosso povo, dividido em agrupamentos rialistas e eis-nos completamente indepen
regionais e raciais, e tambern um povo divi dentes.
dido em distintas classes sociais, cada uma
delas com as suas caracteristicas proprias.
TAREFAS FUNDAMENTAlS
com as suas prsocupacoes e com as suas
aspiracoes. .
E este povo diverso, com camadas dife- Agora, 0 nose problema fundamental, e
renciadas e estratificadas que e necessar!o o da realizacao pratica das tarefas de re
encaminhar firmemente para 0 socialismo. construcao nacional, de consolidacao da
A nossa tarefa nao sera portanto facil, lndependencia, da transforrnacao de urna
na medida em que acabamos de sair de uma sociedade ate agora sem a possibilidade de
situacao complexa, na qual se misturaram evoluir para um novo tipo de orqanizacao,
as manobras dos colonialistas e a violencia mais justo.
do imperialismo. A nossa tarefa fundamental e a de trans
o colonialismo aproveitou-se das contra formar 0 homem, tribalizado, cheio de com
digoes tribais para nos dominar e explorar, plexos raciais e de ciasse, num homem
ao mesmo tempo que introduziu 0 factor verdadeiramente livre.
racial para impor uma lei que fazia do euro As tarefas de reconstrucao nacional com
peu 0 senhor absoluto na nossa terra. preendem varies aspectos, sao multiformes
Mais, os colonialistas introduziram e in e definem-se segundo as exigencias actuais
tensificaram 0 sistema capitalista de opres de transformar a sociedade numa sociedade
sao que a pouco e pouco foi cedendo 0 seu socialista.
lugar as formas multinacionais da explora Assim, temos de resolver os problemas
gao. da defesa, da producao e da unidade nacio-
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nal, problema da reconstrucao administra apenas pode garantir essa evolucao e con
tiva e politica. tribuir para que ela se concretize.
DEFESA A PRODUCAO
Para que as massas populares possam o factor fundamental para a transforma
desenvolver de uma maneira criadora a sua ~ao da sociedade, e a producao, sao as
accao no quadro da rsconstrucao nacional, relacoes de producao, e a maneira como
e
absolutamente necessario que 0 Pais na sociedade sao distribuldos os 'meios de
disponha de um aparelho de defesa capaz. producao.
E preciso que todas as forces de pertenca E preciso que 0 povo disponha de ali
do povo e do territ6rio nacional, estejam mentos, de vestuario, de meios de trans
aptas em cada circunstancia. a exercer a porte, de condicoes de recreio e de descan
sua accao e desencarajar 0 inimigo. Eainda so, de condicoes de instrucao e de censer
necessario que os instrumentos de defesa va~ao da saude.
do povo sigam fielmente a orientacao da Eprecise que os meios tecnicos modernos
sua vanguarda revolucionaria - 0 MPLA e as condicoes oferecidas pela natureza,
- e ~ ela se subordinem completamente, estejam ao service do povo, de cada ser
sem hesitacoes, sem desvios. humano, de cada elemento da nossa socie
Os organismos de defesa do nose Pais dade.
devem estar ligados ao povo, defendendo-o E por isso, cada cidadao deve produzir,
da aqressao estrangeira, da reaccao interna, deve contribuir desse modo para esta gran
dos actos de sabotagem e do banditismo. diosa transforrnacao da na~ao angolana,
Eles tem de se fazer respeitar pelo seu numa patria feliz e forte.
comportamento exemplar, pela correccao e Produzir, significa fazer crescer as semen
firmeza no trato com os elementos do povo, tes no campo, retirar da terra e do ambiente
pela accao na defesa da ideologia da c1asse em geral, os elementos necessaries it con
operaria, servacao do hornem 5ignifica transformar
Mas a defesa apenas, nao e suficiente, na fabrica a materia natural, a fim de
para que 0 povo evolua para uma forma conferir maior capacidade de realiza~ao e
superior de orqanizacao social. A defesa maior comodidade a cada um. 5ignifica
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produzir em seu proveito. E esta a razao
dotar a sociedade dos meios mais apropria
fundamental porque as fazendas e rocas
dos para a proteger da dureza do ambiente.
abandonadas pelos colonos, devem ser
Quer dizer que produzir, e cultivar a
todas confiscadase entreguesaos campo
terra, e transformar os produtos nas fabri
e neses para que, de preferencia,as traba
cas, criar as condicoesde higienee uma
Ihemcolectivamente,sobaforma decoope
atmosferasaudavelparatodos.
o processode producao,segundon6s 0 rativas ou de empresasestatais.
concebemos,deveser feito em proveito de Assim, tudo 0 que existe debaixo da
e
todo 0 povo e sob a direccaodos operarios terra ou sob 0 mar ou 0 ar, tudo 0 que
natureza,pertence ao povo. Sao bens so
e camponeses.
ciais do povo. Ea sua utilizacao nao deve
A TERRA A QUEM A TRABALHA servirparabeneficiarindividuos,mas0 povo
inteiro. '
Os carnponeses devem deter nas suas
maosa terra que cultivam, quer individual
mente mas de preterenciacolectivamente.
A SOCIALIZACAO DO TRABALHO
Os camponesess6 tern vantagemem coo
perar no trabalho, para mais facilmente
Nas fabricas, que no nosso Pais nao
utilizarernrnaquinaseferramentascujaaqui
sic;aoe utilizacao por cada individuo, nao atingem grandes dimensoes, 0 trabalho
e nunca e individual. 0 trabalho e sempre
facit.
colectivo.Naoseproduzurnmetrodefazen
A terra, nao pode nemdeve pertencera
~a,.u.mtubo deferro, umapecademaquina,
urn pequeno nurnero de proprietaries. Ela
a individualmenta. Ninguem pode sonhar em
pertence sociedadecomo 0 ar que respi
fabricar urn:autom6vel, sem que haja divi
ramos; nao pode ser a propriedadede urn
sao de tarefas, sem que haja trabalho
s6 homem.
colectivo.
E do mesmo modo que ninquemtern 0
A producao industrial tern esta caracte
direito nem pode vender 0 ar que respira,
ristica quee fundamentalcompreenderpara
tarnbem, na nossa Angola popular, a terra
e
que a nossa accao seja coerente: que
deveestar aodispordaquelequeautiliza.
elaesemprecolectiva Portanto,asfabricas,
A terra.n;o pode mais ser a propriedade
as rnaquinas, as ferramentas devem per-
de algunshomensparaqueoutros a facam
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LUCIO LARA
tencer ao proprio povo, sao bens sociais
Verifica-se tarnbern a lncompreensao a
do povo:
respeito do papel dos orgaos do Estado na
Ao dizer isto, devo prevenir 05 camaradas
producao, Pensa-se ainda que 0 confisco
activistas politicos que 05 oportunistas
de bens dos colonialistas nao e senao a
costumam desvirtuar 0 caracter puro da
transferencia de bens dum patrao para as
revolucao, E assim, quando alguns ouvem
maos de urn outro patrao, Assim, em vez
dizer que tudo e do povo, entendem que
de se considerar que 0 Estado e 0 adminis
nao devem mais respeitar esses bens do
trador de urn bern social de todo 0 povo,
povo. Entendem que devem destruir 05
passa-se a considerar 0 Estado como urn
bens do povo. Esses sao ainda 05que estao patrao dos bens do Povo. 1550nao e cor
impregnados duma mentalidade de escravo,
recto!
porque sao capazes de respeitar ate uma
Na sociedade socialista que queremos
agulha do patrao capitalista, mas nao urn
autornovel que e sua propriedade, que e construir, 0 Estado nao e senao urn adminis
trader, aquele que dirige, mas sempre em
propriedade do povo. Nao tocam numa bici
fun~ao dos interesses do povo e sempre em
cleta do patrao, mas sao capazes de sabotar
fun~ao do bern estar de todo 0 povo.
urn guindaste que e sua propriedade, que
e propriedade do povo, Nao tirarn urn fruto Mas apesar 'dos desvios e das lncorn
e
da fazenda do patrao, mas sao capazes de preensoes, necessario que no nosso pro
queimar urn- armazern de cafe que e sua cesso de reconstrucao nacional, nao deixe
propriedade, que e propriedade do povo. mos de praticar devidamente a reestrutura
Estes sao 05 oportunistas que sabotam a ~ao de todo 0 sistema econornico de redis
economia do povo e por isso devem ser tribuicao das terras, pela colectivizacao na
castiqados e sobre eles exercida uma vigi produ~ao agricola, pela sociallzacao de
lancia rigorosa. todos os meios de producao.
Este e ainda urn efeito do esclavagismo.
Nao deixemos de combater 0 parasitismo
No processo de producao. bern idealizado,
que se.desenvolveu.a .ainda existe no sector
ainda podemos verificar fenomenos de
comercial, 0 sistema de intermediaries que
egoismo de alguns traba~hadores m~1 i~f?r vive it custa do consumidor, do produtor.
mados sobre as intencoes revolucionarias
sem que ale pr6prio forneca trabalho pro-
da nossa Republica Popular de Angola. dutivo. -
'i.'
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A producao e pois urn dos aspectos rnais idelaorientadoradetoda a nossaacc;aonos
importantes da nossa reconstrucao nacional. outros dominios.
Tudo- '0 que disse acerca·da defesa, da
producao,.e poderia citar outros aspectos
o
PODER POPULAR da vida nacional,se quisesseserfastidioso,
a
tudo se subordina ideia politica.
Mas, camaradasactivistas, reconstrucao A ideiae : Osoperariose camponesesno
e tarnbern a rnudanca dos metodos de Poder.
adrninistracaoe da atitude politica perante
o nosso povo, e sobretudo urnanova com A DIRECCAO DA CLASSE OPERARIA
preensaoldeoloqicada dialecticade desen E CAMPONESA
volvimento social.
.Nos, aqui em Angola, somos pelaDemo Este conceito deve ser bernanalizadoe
cracia Popular,que e 0 objectivo politico compreendido, porquanto alguns dos nos
do nosso Estado.E por isso mesmo,esta sos camaradas,pensamquea direccaodas
mos a lancar as bases para que os orqa Classes mais exploradas significa que e
nismos do Poder Popular possam consoli necessariatravar uma luta de morte contra
dar-se,possamfuncionar como organismos asoutras classesquebeneficiaramde privi
estatais, dentro da legalidadeque 0 nosso legiosdurantea epocacoloniale capitalista.
e o
PovoIhesconferiu a Leiregulou. problema nao pode ser posto assim.
~.precise que em toda a nossa Angola Quem dirige urn pais, dirige urn povo. A
sejarealmentecompreendidaa necessidade classe que dirige, dirige urn-povo. Dirige
politica da orlentacao e do controlo do portantotodos os componentesdessepovo.
Estado pelas camadasmais exploradas do A classe operarianao pode contentar-se
Povo- pelosoperariosecamponeses. com uma·direcc;aoque sejaparasi propria.
·0 nossa Estadodeverapidarnenteevoluir N'aopodemos deixar de considerar que a
. para um Estado dirigido pelos 6rgaos do burguesiapatriota, os intelectuaispatriotas,
PoderPopular. a.pequenaborguesia,fazemparte da nossa
Este aspecto politico, complementa as Nac;ao,sao elementosdo nosso povo, Nao
ideias'que antes expus ac.ercada defesae podemos,nao devemostravar guerraentre
e
.economia do Pais, mas na realidade'8 n6s.~precisopreservara unidade-nacionat:
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o
e. PROBLEMA RACIAL
·0 que, interessa neste momento, que
a direccaodo Pais,em todos os dornlnios,
Nao posse deixarde indicaraos carnara
passeparaasclassesoperariaecamponesa.
e e das activistas politicos, e dentro das nos
Este que 0 verdadeiro problemae que
.sasre~lizagoesnacionais,a necessidadede
naodeveser falseadopeladernaqoqia,pelo
evitar as confrontacoes raciais.
oportunismo e pela arnbicao.
N6s somos urn povo que desde he
Vamos sempre lutar pela unidade da
seeulos tern urna maioria de pretos, mas
Nagao, sob a orientacao dos operarios e
tarnbernmilharesdernesticosebrancos.
camponeses.
A certa altura da nossavida, durante 0
colonialismo, a cor da pele confundia-se
A FORMACAO DE QUADROS
com a ciasse social: os mais claros eram
da burguesia, os um pouco menos claros
Claro que para realizarmosestas tarefas,
necessitamosdum longo, aceleradoe per eramda pequenaburguesiae0 resto, como
diziaa camarada,eram«rapazes».
manentetrabalho de formacao de quadros
A certaaltura da nossavida n6sverifica
como acontece neste momento em que
mos que essa confusao nao devia nem
quadros politicos saiemdaqui paraas dite
podia permanecer entre n6s. N6s somos
rentes provincias do nosso Pais.
todos, sejaqualfor acor dapele,anqolanos
Masprecisamostarnberndequadrospara
sob a direccao da classe operaria e dos
aexecucaodecertasprofissoes,precisamos
camponeses. Nao devemos animar e nao
dos operarlos especializados, precisamos
dosquadrossuperioreseimediatamenten6s devemosacentuar 0 preconceito racial ou
os conflitos de raga. Este procedimento
temos de realizer uma vasta campanha
dentro do nosso Pais para a alfabetizacao marcou0 nosso povo.
o e
queinteressadefacto, queos opera
dasnossascriancase detodos aquelesque
rios e camponesesassegurem a direc~o
naotiveram oportunidadede aprendera ler
efectiva do Poder. E os operarios nao sao
ea· escrever.
s6 pretos, nao sao s6 brancos,naosao s6
Todos aquelesque sabemler e escrever
devemcontribuir paraquedefacto'sepossa rnesticos,saotodos aquelesquesaoopera
rios, aquelesque tern a ideologia do opri
entrar nesta fase de alfabetizacaomassiva.
mido.
do nosso povo.·
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