Table Of ContentBALDUINIA. n.21,p.29·32, 15-IV-201O
o
USO DA MADEIRA NAS REDUÇÕES
JESUÍTICO-GUARANI DO RIO GRANDE DO SUL.
10 - IMAGEM DE SANTO ESTANISLAU KOSTKAl
JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORF MARIA CRISTINA SCHULZE-HOFER3
RESUMO
A madeira da imagem de Santo Estanislau Kostka, integrante do Museu das Missões, foi anatomicamente
identificada como Cedrela fissilis Vel1ozo (Meliaceae), espécie botânica conhecida regionalmente como
"cedro" no sul do Brasil.
Palavras-chave: Anatomia da madeira, Cedrelafissilis, cedro, Missões Jesuíticas, Rio Grande do Sul, Santo
Estanislau Kostka.
SUMMARY
[Wood utilization in the Jesuitic-Guarani Missions from Rio Grande do Sul state, Brazil.
10- The sculpture of Saint Stanislaw Kostka].
The sculpture wood of Saint Stanislaw Kostka, housed atMissions Museum (São Miguel das Missões, Rio
Grande do Sul, Brazil), was anatomically identified as Cedrela fissilis Vel1ozo (Meliaceae), the Spanish
cedar of southern Brazil.
Key words: Wood anatomy, Cedrelafissilis, Spanish cedar, Jesuitic Missions, Rio Grande doSul state, Saint
Estanislau Kostka.
INTRODUÇÃO do, os dedos da mão direita, o sapato direito e
Catalogada, inicialmente, como São Luiz parte da veste, na manga (Figura IA).
Gonzaga, aimagem de Santo Estanislau Kostka
éde autoria desconhecida edata, provavelmen- MATERIAL E MÉTODOS
te, do século XVIII. Conservada no Museu das O material estudado consiste de uma amos-
Missões (São Miguel das Missões, RS), foi es- tra de madeira (Figura lB, C), retirada da parte
culpida em bloco único de madeira (170 x 58 x posterior da imagem em julho de 2005, pelo
37 cm), apresenta sinais do ataque de insetos restaurador Ariston Correia Filho.
xilófagos efoi restaurada em 1985. Representa A amostra foi registrada em fichário, foto-
uma figura masculina jovem e sorridente, em grafada, acondicionada em envelope com iden-
pé, com rosto defisionomia européia, levemen- tificação eenviada aoLaboratório deAnatomia
te inclinada para a direita, de cabelos curtos, da Madeira, do Instituto Nacional de Pesquisas
com batina preta emão direita ao peito (Figura da Madeira, em Lohbrügge (Hamburgo - Ale-
IA). O panejamento etraços do rosto denotam manha), onde foram realizados os trabalhos de
erudição. Falta parte do nariz, o braço esquer- microtécnica efotomicrografia. Osautores agra-
decem a Sra. Eda John, pela colaboração pres-
tada nestas tarefas.
Da amostra de madeira foram preparados
Recebido em 25-VI-2009 e aceito para publicação em
I
21-11-2010. corpos-de-prova orientados para a obtenção de
2 Engenheiro Florestal, Dr.,bolsista de Produtividade em cortes nos três planos anatômicos. Os corpos-
Pesquisa (CNPq - Brasil), Professor Titular do
de-prova foram amolecidos porfervura em água
Departamento de Ciências Florestais, Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. e seccionados em micrótomo de deslizamento,
[email protected]
regulado na espessura nominal de 20 Ilm. Os
3 Arquiteta, Dra. IPHAN - Instituto do Patrimônio
cortes anatômicos não sofreram coloração; no
Histórico eArtístico Nacional. [email protected]
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A
FIGURA 1- Santo Estanislau Kostka. A- Fotografia da imagem missioneira. B, C - Frente e verso da amostra de
madeira coletada.
caso dos radiais, parte deles foi tratado com deparênquima marginal. Porosidade difusa (Fi-
hipoclorito de sódio, com vistas a salientar a gura 2A).
visualização de eventuais estruturas cristalinas Vasos pouco numerosos (5 - 8/mm), circu-
nas células lenhosas. As fotomicrografias da lares ou ovais, de diâmetro pequeno a grande
Figura 2 foram tomadas com câmera Olympus (60 - 300 j..lm),com abundante óleo-resina e
AX, com diferentes aumentos. geralmente solitários, menos comumente
geminados ou em múltiplos de poucas unida-
DESCRIÇÃO ANATÔMICA des (Figura 2A, B). Elementos vasculares
Madeira porosa, de Angiospermae retilíneos, com placas de perfuração simples,
Dicotyledoneae ouMagnoliophyta (Figura 2A, horizontais ou ligeiramente oblíquas.
B).Anéis de crescimento demarcados por faixa Pontoações intervasculares alternas, poligonais,
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FIGURA 2- Fotomicrografias da madeira da imagem de Santo Estanislau Kostka. A- Porosidade difusa, poros pouco
numerosos esolitários (seção transversal). B- Poros geminados, raios finos efibras deparedes finas (seção transversal).
C - Raios heterogêneos, de células procumbentes, com células mais altas na margem (seção longitudinal radial). D-
Fibras de paredes finas eraios predominantemente bi atetrasseriados, com menos de 25células de altura (seção longi-
tudinal tangencial).
de 5- 10Ilmde diâmetro, com abertura elíptica (Figura 2C).
inclusa, por vezes coalescente. Tecido fibroso proeminente, composto de
Parênquima apotraqueal marginal, emfaixas fibras libriformes curtas a longas, estreitas a
regulares de 1- 7 células de largura, além de médias ede paredes muito delgadas adelgadas
apotraqueal difuso e paratraqueal escasso. Sé- (Figura 2B - D).
ries parenquimáticas axiais de 2- 6células (Fi-
gura 2C), com abundante óleo-resina e, por ve- ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA
zes, cristais rombóides de oxalato de cálcio. Amadeira édefácil identificação, com base
Raios pouco numerosos (4 - 7/mm), muito em chave dicotômica para madeiras argentinas
baixos até baixos (menos de 25 células de altu- (Tortorelli, 1956): lenho fundamentalmente
ra) e predominantemente bi a tetrasseriados, vascular; madeira sem estrutura estratificada;
com escassos uni emultisseriados (Figura 2D). vasos com pontoações simples epontoações al-
Estrutura radial homogênea até heterogênea, ternas; canais intercelulares ausentes; poros com
reunindo células procumbentes, no centro, e freqüência inferior a45/mm2, emdisposição não
uma fileira de células quadradas, na margem dendrítica ou ulmiforme; raios lenhosos bi a
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multisseriados, com escassos unisseriados e A respeito da espécie botânica, cabe salien-
sempre com menos de 1mm de altura; parên- tarquenão existe nafloraregional madeira mais
quima predominantemente apotraqueal margi- dócil para esculturas e obras de talha, aliada à
nal;poros pouco numerosos; efibras com lúmen boa durabilidade natural eacabamento. De odor
de Y2a% do diâmetro total. agradável, esta madeira também aceita muito
A comparação dos detalhes anatômicos aci- bem a aplicação de pigmentos, aspecto impor-
ma relacionados com descrições de Cedrela tante em obras religiosas (policromia).
fissilis (Mainieri & Chimelo, 1989; Marchiori
et aI., 2009; Tortorelli, 1956), bem como com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
amostras da referida espécie, representadas no MAINIERI, c.;CHIMELO, 1.P.Fichas de caracte-
Larninário do Departamento de Ciências Flo- rísticas das madeiras brasileiras. São Paulo:
IPT, 1979.418 p.
restais da Universidade Federal de Santa Ma-
MARCHIORI, 1.N.C.;MUNIz, GI.B. de;SANTOS,
ria, não deixa margem a dúvidas: a estátua de
S.R. dos. Madeiras do Rio Grande do Sul. 1-
Santo Estanislau Kostka foi realizada em ma-
Descrição microscópica de 33espécies nativas.
deira de cedro - Cedrela fissilis Vellozo
Santa Maria: [s.n.], 2009. 80p.
(Meliaceae) -, espécie também conhecida, po- TORTORELLI, L.A. Maderas y bosques argentinos.
pularmente, como cedro-vermelho. Buenos Aires: ACME, 1956.910 p.
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