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O Resgate das Ciências
Humanas e das
Humanidades através de
Perspectivas Africanas
Volume I
Ministério das relações exteriores
Ministro de Estado José Serra
Secretário-Geral Embaixador Marcos Bezerra Abbott Galvão
Fundação alexandre de GusMão
Presidente Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima
Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais
Diretor, substituto Ministro Alessandro Warley Candeas
Centro de História e
Documentação Diplomática
Diretora, substituta Maria do Carmo Strozzi Coutinho
Conselho Editorial da
Fundação Alexandre de Gusmão
Presidente Embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima
Membros Embaixador Ronaldo Mota Sardenberg
Embaixador Jorio Dauster Magalhães
Embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão
Embaixador José Humberto de Brito Cruz
Embaixador Julio Glinternick Bitelli
Ministro Luís Felipe Silvério Fortuna
Professor Francisco Fernando Monteoliva Doratioto
Professor José Flávio Sombra Saraiva
Professor Eiiti Sato
A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública
vinculada ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade
civil informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática
brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional para os
temas de relações internacionais e para a política externa brasileira.
Helen Lauer e Kofi Anyidoho
(Organizadores)
O Resgate das Ciências
Humanas e das
Humanidades através de
Perspectivas Africanas
Volume I
Brasília – 2016
Direitos de publicação reservados à
Fundação Alexandre de Gusmão
Ministério das Relações Exteriores
Esplanada dos Ministérios, Bloco H
Anexo II, Térreo
70170-900 Brasília–DF
Telefones: (61) 2030-6033/6034
Fax: (61) 2030-9125
Site: www.funag.gov.br
E-mail: [email protected]
Equipe Técnica:
Eliane Miranda Paiva
Fernanda Antunes Siqueira
Gabriela Del Rio de Rezende
Luiz Antônio Gusmão
André Luiz Ventura Ferreira
Acauã Lucas Leotta
Márcia Costa Ferreira
Livia Milanez
Renata Nunes Duarte
Projeto Gráfico:
Daniela Barbosa
Tradução:
Rodrigo Sardenberg
Programação Visual e Diagramação:
Gráfica e Editora Ideal
Impresso no Brasil 2016
R433 O resgate das ciências humanas e das humanidades através de perspectivas africanas
/ Helen Lauer, Kofi Anyidoho (organizadores). – Brasília : FUNAG, 2016.
4 v. – (Coleção relações internacionais)
Título original: Reclaiming the human sciences and humanities through African
perspectives
ISBN 978-85-7631-589-6
1. Ciências humanas. 2. Globalização da economia. 3. África - aspectos sociais.
4. História - África. 5. Cultura - África. 6. Colonização - África. 7. Imperialismo - África.
8. Desenvolvimento social - África. I. Lauer, Helen. II. Anyidoho, Kofi. III. Série.
CDU 301.19(6)
Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lei n° 10.994, de 14/12/2004.
APRESENTAÇÃO
Sérgio Eduardo Moreira Lima*
É com satisfação que a Fundação Alexandre de Gusmão
(FUNAG) apresenta este ambicioso projeto de tradução para o
português, em quatro volumes, de Reclaiming the Human Sciences
and Humanities Through African Perspectives. Publicada em 2012,
a obra original reúne mais de oitenta textos, inéditos em nossa
língua, alguns verdadeiros clássicos contemporâneos escritos nos
anos setenta por ideólogos da descolonização e da emancipação
intelectual da África. Em seu conjunto, os autores apresentam
interpretação dos desafios e questões com que se deparam
os povos africanos de uma perspectiva própria, ainda pouco
conhecida, que busca conjugar autonomia cultural com cidadania
e desenvolvimento. Trata-se de um exercício essencialmente
crítico de aspectos etnocêntricos e padrões conservadores do
pensamento ocidental e de sua influência tanto sobre a realidade
africana, quanto sobre a percepção dessa realidade.
Apesar da abrangência e do alcance da obra, fatores
históricos, como o imperialismo, a colonização e a escravidão nela
se encontram subjacentes como parte de um sistema de políticas
de expansão e domínio territorial, cultural e econômico que
* Embaixador e Presidente da Funag.
deixaram marcas profundas e duradouras não só nos continentes,
mas também em suas populações reduzidas por séculos a objeto
de práticas mercantilistas, subjugadas e transferidas para outros
continentes sem que lhes fosse reconhecida a condição humana.
A desestruturação étnica e social, a privação da liberdade e a
negação da cidadania foram acompanhadas com certa cumplicidade
na evolução do pensamento político e social no Ocidente.
O Resgate das Ciências Humanas e das Humanidades através de
Perspectivas Africanas é uma compilação de estudos, apresentados
inicialmente em um simpósio na Universidade de Gana, em 2003,
no esforço de refletir sobre a questão do ponto de vista científico
com vistas a restabelecer, no plano mais alto do conhecimento,
a perspectiva ausente, resultante de longo período de domínio
e exploração externa, amparados em teorias que não poderiam
subsistir ao escrutínio da História. Os trabalhos elaborados para
o simpósio no campus da Universidade de Gana foram posterior-
mente complementados por outros ensaios, alguns dos anos 70,
editados pela Professora Helen Lauer e pelo professor e educador
Kofi Anyidoho, ambos daquela Universidade. O propósito original
da obra foi o de promover e estimular o conhecimento da África
a partir de uma visão autóctone, restauradora e enriquecedora
das ciências humanas. Anyidoho é um dos grandes acadêmicos e
poetas ganenses. Os autores dos artigos são ou foram também
personalidades destacadas da intelectualidade, da política e da
sociedade de regiões africanas, atualmente anglófonas, integradas
por grupos étnicos, como os iorubás, que tanto influíram na
formação do povo brasileiro.
Conhecer a África moderna é uma necessidade que decorre
de sua importância histórica, étnica e cultural para o Brasil.
Ainda existe um desconhecimento profundo a superar, apesar do
trabalho recente de acadêmicos e de centros de estudos africanos
criados em diferentes partes do País. Não é sem razão que a lei
10.639, de 9 de janeiro de 2003, introduziu a obrigatoriedade
no currículo oficial do ensino fundamental e médio de temas da
História e da Cultura Afro-brasileira, da História da África e dos
Africanos, bem como o dia da Consciência Negra. É por meio do
estudo, da pesquisa, do debate, da edição e tradução de livros e de
sua divulgação que se criam as condições para promover no Brasil
o conhecimento necessário ao desenvolvimento conceitual dessas
disciplinas e a formação de um juízo consolidado, autônomo,
capaz de superar preconceitos e estereótipos que advêm da
preponderância na literatura ocidental de uma visão de mundo
ainda influenciada por atitudes remanescentes do período colonial
e de suas consequências na evolução dos povos.
Recordo-me quando, na condição de Encarregado de Negócios
em Lagos, Nigéria, participei, em 1985, na Universidade de Ife,
berço da cultura iorubá, de uma cerimônia anual de formatura,
realizada inicialmente em inglês. Ali estive a convite do Reitor com
a missão também, que me fora confiada pelo Embaixador Alberto
da Costa e Silva, um dos mais respeitados africanistas brasileiros
e grande promotor dos estudos africanos no Brasil, de solicitar o
adiamento para o ano seguinte da data da solenidade da concessão
do título de Doutor Honoris Causa em Letras, a ele conferido em
razão do conjunto de sua obra sobre a África. Foi uma cerimônia
inesquecível, sobretudo o rito conduzido ao final da formatura na
língua iorubá, revelador da cultura autêntica daquele povo, de sua
musicalidade e religiosidade. Emocionado com o apelo espiritual
daquelas tradições ancestrais, pude perceber, então, com toda
intensidade, um universo distinto de características próprias do
grupo étnico da África Ocidental, o que me fez refletir sobre a
complexidade da formação das identidades africanas. Atualmente,
a Universidade é denominada Obafemi Awolowo, em homenagem
a um herói da independência nigeriana, conhecido também como
o “líder dos iorubás”.
A presente publicação compreende dois grandes campos
de pesquisa. O primeiro é o das ciências humanas ou sociais
que abrangem a sociologia, a antropologia, a ciência política e a
economia, com base em metodologia empírica. O segundo diz
respeito à reflexão sobre as humanidades com foco na introspecção
e abarca disciplinas como filosofia, literatura e belas artes. O
propósito do livro é examinar a realidade da África subsaárica de
um ponto de vista local e regional a fim de resgatar a legitimidade
dos estudos correntes sobre esses temas impregnados da visão e de
concepções etnocêntricas predominantemente europeias e norte-
americanas.
Talvez a crítica que mais sobressaia da leitura dos textos
desta antologia tenha sua origem na reação a uma perspectiva
de inspiração ocidental que, ao promover viés eminentemente
individualista, subverte tradições, princípios e valores locais
responsáveis pela orientação comunitária das sociedades africanas
e simplifica sua rica e complexa diversidade étnica e cultural.
Os ensaios denotam perspectivas diversas e a afirmação de um
pensamento africano plural e multifacetado que corresponde a
uma unterschiedliche Weltanschauung, esse modo diferente de ser e
de viver, essa visão distinta do mundo.
A importância da obra reside no apelo à preservação da herança
cultural africana, do seu legado ético para as novas gerações, na
exploração de tradições e de um pensamento impregnado com
profundas raízes locais. O objetivo maior é evitar a simplificação
da análise, o que leva à perda de identidade daqueles povos,
inclusive em relação ao potencial de desenvolvimento teórico no
campo das ciências sociais e de outras disciplinas num esforço
para buscar alternativa à hegemonia acadêmica do Ocidente e seu
paroquialismo epistemológico.
A edição em português encontra-se dividida em quatro
volumes, em contraste com os dois pesados tomos da versão
inglesa. Essa fragmentação busca facilitar o manuseio do livro e
a leitura da obra. O processo de revisão da publicação em língua
portuguesa exigiu especial dedicação da equipe do núcleo de
editoração da FUNAG, com o ânimo de preservar o sentido dos
conceitos emitidos em cada área do conhecimento, bem como
das instituições regionais e internacionais mencionadas. Trata-
se de referenciais cuja exatidão revela-se condição essencial para
a correta compreensão dos ensaios de autores que representam a
elite intelectual da África contemporânea.
Espero que o esforço editorial para permitir aos leitores
de países lusófonos amplo acesso a uma perspectiva africana
autêntica possa contribuir à cultura universal, ao aprofundamento
dos estudos das relações internacionais e da própria historiografia.
O propósito maior é formar uma opinião pública sensível aos
problemas e as transformações de realidades que integram a
evolução do mosaico dos agrupamentos humanos, os dilemas
de sua interação através dos tempos e o impacto dessa dinâmica
na convivência internacional nas sociedades atuais. Além de
inspiradora, a iniciativa enriquece o acervo não só da FUNAG,
como também, por meio de sua Biblioteca Digital, de instituições
acadêmicas e bibliotecas em todo o mundo. Trata-se de obra que
mereceria inclusão na bibliografia de departamentos de história,
antropologia, sociologia, ciência política, economia, literatura
e relações internacionais de universidades e centros de estudos
sobre África.
Creio que a presente publicação acrescenta ao conhecimento
da África elementos de compreensão antropológica e se soma a
uma série de livros publicados recentemente no Brasil sobre temas
africanos. Não deixam eles de representar, direta ou indiretamente,
resposta às ações afirmativas inspiradas pela citada Lei Federal.
O Resgate das Ciências Humanas e das Humanidades através de
Perspectivas Africanas terá impacto no tratamento da temática
e na percepção correta do alcance da contribuição da África para
o desenvolvimento da humanidade. Muitas trilhas alternativas
poderão ser abertas com sua leitura para estimular pesquisas,
debates e reflexões sobre um continente que é parte da nossa
vizinhança de além-mar, que tanto marcou a formação e a evolução
do Brasil e que ainda busca o resgate pleno de sua identidade.
Em seu discurso por ocasião da cerimônia de transmissão de
cargo de Ministro das Relações Exteriores, o Senador José Serra
sublinhou o empenho de sua gestão em promover e atualizar o
intercâmbio com a África. Em suas palavras essa relação vai além
de “laços fraternos do passado e correspondências culturais”. Deve,
sobretudo, “forjar parcerias concretas no presente e para o futuro”,
com base em “um efetivo intercâmbio econômico, tecnológico e de
investimentos”. Tendo em mente que o desenvolvimento precisa
estar amparado em um conjunto de ideias e atitudes mentais
progressistas, as teses contidas neste livro contêm um fundamento
teórico e conceitual fecundo para a modernização da África e
atestam que seus países se encontram em um patamar propício
para o aprofundamento ainda maior da parceria com o Brasil em
diversas áreas.
Description:Maria do Carmo Strozzi Coutinho. Conselho Editorial da .. jovens, cujo miasma desinteressado os paralisa por falta de contato com modelos