Table Of ContentTRADUÇÃO DE
Gabriel Zide Neto
1ª edição
Rio de Janeiro | 2015
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Whitfield, John, 1957-
W59p
O poder da reputação [recurso eletrônico] / John Whitfield; tradução Gabriel Zide Neto.
- 1. ed. - Rio de Janeiro: BestBusiness, 2015.
recurso digital
Tradução de: People will talk Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web
Sumário, introdução, Notas, agradecimento ISBN 978-85-7684-862-2 (recurso
eletrônico) 1. Ficção inglesa. 2. Livros eletrônicos. I. Neto, Gabriel Zide. II. Título.
14-13053
CDD: 823
CDU: 821.111-3
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Título original
PEOPLE WILL TALK
Copyright © 2012 by John Whitfield
Copyright da tradução © 2014 by Editora Best Seller Ltda.
Capa: Gabinete de Artes
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia
por escrito da editora, sejam quais forem os meios empregados.
Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela
Editora Best Business um selo da Editora Best Seller Ltda.
Rua Argentina, 171, parte, São Cristóvão
Rio de Janeiro, RJ – 20921-380
que se reserva a propriedade literária desta tradução Produzido no Brasil
ISBN 978-85-7684-862-2
ISBN 978-85-7684-862-2
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Para Tom
SUMÁRIO
Introdução
1. Siga o líder
2. Uma oferta inicial
3. Uma mão lava a outra
4. Lançando uma sombra
5. Mantendo as aparências
6. Tudo por uma reputação
7. Vizinhos abelhudos
8. Panóptico
9. Uma ferramenta e uma arma
10. Descontos futuros
11. Panóptico 2.0
12. Nós e eles
Agradecimentos
Notas
Introdução
CÁSSIO: Reputação, reputação, reputação! Ai, eu perdi a minha reputação. Perdi
minha parte imortal, e tudo o que ficou foi a parte bestial.
IAGO: De minha parte, como sou honesto, pensei que o senhor só tivesse sofrido uma
lesão física. Tem mais sentido que a reputação. A reputação é uma imputação vazia e
geralmente falsa, muitas vezes obtida sem mérito, e perdida sem que se mereça. O
senhor não perdeu nada da sua reputação, a não ser que se considere um perdedor.
— William Shakespeare, Otelo, ato II, cena III
No início de 1996, boa parte do tempo de Pierre Omidyar era consumido
por um site chamado AuctionWeb, que ele lançara alguns meses antes
como hobby. Uma das tarefas de Omidyar era lidar com uma dúzia de e-
mails por dia, entre compradores e vendedores que ficavam se acusando. O
AuctionWeb não tentava controlar os usuários, não cobrava nada e não
dava garantias; era apenas um mercado digital, um lugar onde
compradores e vendedores podiam se encontrar. Quando chegava uma
reclamação, Omidyar, que trabalhava como programador de computador
durante o dia, enviava a mensagem para a outra parte envolvida e pedia
que ambas resolvessem a questão entre si. Geralmente funcionava, mas
Omidyar teria preferido não se envolver.1
A AuctionWeb provavelmente era o ambiente de negócios menos
confiável que se poderia imaginar. Os compradores eram chamados a dar
lances sobre produtos que eles nunca tinham visto e mandar dinheiro para
pessoas desconhecidas, as quais se identificavam por nomes de usuários
que poderiam ser alterados gratuitamente e por vitrines virtuais que
também não custavam um centavo. Num caso como esse, o risco mais
óbvio era o de que, sem ter um encarregado capaz de punir o mau
comportamento, a AuctionWeb acabaria se transformando naquilo que os
economistas chamam de “mercado de limões”.* Os compradores, temendo
que os artigos que comprassem fossem chegar em um estado pior do que o
anunciado (ou que sequer fossem chegar), fariam uma oferta baixa. Os
vendedores de produtos de alta qualidade os levariam para ser vendidos
em outro lugar e o resultado seria uma queda generalizada da qualidade,
terminando numa liquidação em que quinquilharias seriam vendidas por
trocados.
Omidyar e os usuários do site estavam diante da questão de como saber
em quem confiar. Para a AuctionWeb, que parecia pedir uma fé cega da
parte dos usuários, essa era uma questão fundamental, mas o fato é que
nós lidamos com isso todos os dias, sempre que encontramos outra pessoa,
ao vivo ou na internet, em negócios, em amizades, em relacionamentos
amorosos, ou simplesmente ouvindo a previsão do tempo pela manhã.
Quando decidimos confiar em alguém, na verdade estamos investindo um
misto de tempo, energia e recursos em outras pessoas, acreditando que elas
vão fazer o que prometeram. E o outro lado também acredita.
Mas Omidyar era capaz de dizer com certeza que só a fé não bastaria.
Ele precisava de um mecanismo que os usuários da AuctionWeb pudessem
operar para gerar essa confiança. A solução que ele criou era permitir que
os usuários atribuíssem notas uns aos outros, sendo +1 recompensa, -1
punição e 0 se a opinião for neutra. Se os usuários quisessem, poderiam
deixar também um breve comentário. O que todos dissessem sobre os
outros seria revelado ao público. Assim, ao gerar um histórico do
comportamento do usuário, esse tipo de feedback buscava dar aos
vendedores honestos, de mercadorias de qualidade, uma alternativa ao
mercado de limões e dar aos compradores uma maneira de encontrar esses
vendedores.
Em fevereiro de 1996, Omidyar levou a público esse sistema, ao postar
um comunicado no site:
A maioria das pessoas é honesta e age de boa-fé. Tem gente que faz um esforço
enorme para fazer tudo certo. Já ouvi muitas boas histórias sobre a honestidade de
algumas pessoas daqui. Mas também tem aquelas que são desonestas — ou
trapaceiras. Isso vale para este site, para os murais de avisos, para os classificados dos
jornais e até para um vizinho. Faz parte da vida. Mas aqui, esse pessoal não vai poder
se esconder, porque nós vamos afastá-los. Vamos proteger as pessoas. Essa grande
esperança depende da sua participação ativa. Cadastre-se como usuário. Use o nosso
fórum para dar feedback. Elogie quando o outro lado merecer e reclame quando for o
caso.2
Naquele mês, o site recebeu tantos visitantes que o provedor de internet
subiu o preço, e Omidyar começou a cobrar dos vendedores uma
porcentagem sobre o preço das vendas feitas pela AuctionWeb. Agora
vamos dar um pulo de 14 anos no tempo; no primeiro trimestre de 2011, o
eBay (atual nome da antiga AuctionWeb) anunciou um faturamento de
US$ 2,5 bilhões.
O feedback do eBay é o que se chama hoje de um sistema de reputação
on-line. Se você for daqueles que gostam de medir o significado de uma
coisa pelo seu valor em dinheiro, a alquimia de Omidyar prova o poder da
reputação. Ele utilizou a vocação que as pessoas têm de falar umas das
outras para transformar seu hobby num grande sucesso de bilhões e
bilhões de dólares.
O manifesto de Omidyar representa um resumo da natureza humana
difícil de ser superado. Mas seus princípios de bom senso abriram portas
para uma série de mistérios e maravilhas. A maioria das pessoas realmente
é honesta e age de boa-fé. É possível confiar na maioria de nós, na maioria
das vezes. Mas por que, se há tantas vantagens em ser desonesto? E, por
falar nisso, por que há tanta gente desonesta e trapaceira? Por que
Omidyar pôde confiar que seus clientes iriam desmascarar e excluir essas
pessoas? Afinal, mesmo que eu faça um bom negócio, talvez eu nunca mais
venha a comprar alguma coisa do mesmo vendedor — então, por que
perder meu tempo o elogiando? E, se me passarem para trás, eu sei que
nunca mais vou tratar com aquele cara — nesse caso, por que perder
tempo alertando os outros contra ele?
Este livro trata exatamente das maneiras que utilizamos para confiar
nos outros e como nós os convencemos a confiar em nós. Como os
usuários do eBay foram os primeiros a descobrir, o mundo digital e sem
rosto onde passamos cada vez mais tempo e gastamos cada vez mais
dinheiro começou a apresentar esses problemas numa nova forma. Mas se
a nossa espécie não tivesse sido capaz de lidar com isso no passado, não
haveria sequer a possibilidade de ser fraudado no eBay, nem haveria
internet, computadores, livros, lojas, cidades, civilização ou sociedade.
Nossa boa vontade ao confiar em estranhos e de ganhar a confiança de
alguém que não nos conhece é uma das coisas mais incríveis e poderosas
na história da humanidade, e uma das mais difíceis de explicar.
Toda vez que as pessoas interagem, elas criam ondas de informação que
repercutem pelos círculos sociais. As pessoas são consistentes. A maneira
como se comportaram no passado tende a ser uma boa indicação de como
vão se comportar no futuro, de modo que, ao detectar e interpretar essas
ondas, os outros decidem se devem confiar em nós ou nos evitar. Em
outras palavras, a reputação é uma forma de experiência indireta, um
mecanismo econômico que nos permite experimentar uma amostra das
pessoas antes de “comprá-las”.
É claro que a reputação não se baseia somente no comportamento. Ela
também ajuda a moldá-lo. Saber que talvez a forma como os outros nos
tratarão no futuro dependa do que fizermos agora acaba se contrapondo
ao benefício rápido de uma trapaça rasteira. Saber que tem gente olhando
acaba fazendo com que nos comportemos de uma maneira que mostre
nossa personalidade e nossos interesses da melhor forma possível. A