Table Of ContentRuy Moreira
O PENSAMENTO GEOGRÁFICO BRASILEIRO:
vol. 1: as matrizes clássicas originárias
Copyright© 2008 Ruy Moreira
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Contexto (Editora Pinsky Ltda.)
Foto de capa
Jaime Pinsky
Montagem de capa
Gustavo S. Vilas Boas
Diagramação
GAPP design
Preparação de textos
Ruth Kluska
Revisão
Daniela Marini Iwamoto
Dados Internacionais de catalogação na publicação (CIP)
(câmara Brasileira do livro, SP, Brasil)
Moreira, Ruy
O pensamento geográfico brasileiro, vol. 1 : as matrizes
clássicas originárias / Ruy Moreira. 2. ed. — São Paulo :
Contexto, 2010.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7244-398-2
1. Geografia I. Título.
IV. Título.
08-02991 CDD-910
Índices para catálogo sistemático:
1. Geografia 910
EDITORA CONTEXTO
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05083-030 – São Paulo – SP
PABX: (11) 3832 5838
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www.editoracontexto.com.br
2006
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
Os geógrafos do início do século foram,
de certo modo, os poetas de uma economia
triunfante projetada no globo.
Pierre George
A natureza ignora as nossas divisões
formais em ramos de ciência.
Jean Tricart
Mas que coisa é homem,
que há sob o nome:
uma geografia?
Carlos Drummond de Andrade
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
A GEOGRAFIA CLÁSSICA
A Geografia moderna e a Geografia clássica
As linhas de força da Geografia clássica
Sobre escolas, geografias setoriais e matrizes
OBRAS, OLHARES
Elisée Reclus: comunidade e libertarismo em O homem e a
terra
Vidal de La Blache: civilização e contingência em Princípios
de geografia humana
Jean Brunhes: ordem e desordem espacial em Geografia
humana
Max Sorre: ecologia, sociabilidade e complexidade em O
homem na terra
Pierre George: espaço organizado e não organizado em A
ação do homem
Jean Tricart: morfogênese e meio geográfico em A Terra
planeta vivo
Richard Hartshorne: diferença e significância em Propósitos e
natureza da geografia
IDEIAS E ESTRUTURA DO DISCURSO
Continuidade e descontinuidade no pensamento clássico
Modelos e fundamentos
As matrizes, diferentes ontologias
O que se aprende com os clássicos
BIBLIOGRAFIA
O AUTOR
APRESENTAÇÃO
Este livro dá sequência às reflexões e propostas de Para onde
vai o pensamento geográfico?. E tem uma história.
Tenho notado nos debates de temas como globalização, meio
ambiente, arranjos espaciais determinantes da organização
estrutural de nossas sociedades, conflitos de territorialidades,
uma curiosidade do público participante com as fontes originárias
das teorias que os embasam e a surpresa agradável de saber
que essas fontes são os clássicos da Geografia. Curiosidade e
surpresa seguidas de um enorme interesse em conhecer as
obras em que esses clássicos da Geografia externam suas
ideias.
Esse interesse geral em conhecer a literatura geográfica
básica vem aumentando o interesse doméstico também dos
geógrafos, entre os quais principalmente os professores da rede
escolar e universitária e os estudantes de graduação e pós-
graduação, estimulados por um diálogo público que está sempre
crescendo.
Daí a estrutura deste livro. Seu objetivo é contribuir, para
dentro e para fora da Geografia, para o crescimento deste
diálogo, oferecendo alternativas que sanem a dificuldade de
acesso à bibliografia procurada e dando subsídios à sua leitura
crítica. Para isso, escolhi sete dentre os geógrafos que tiveram
papel-chave na formação da Geografia brasileira – Elisée Reclus,
Paul Vidal de La Blache, Jean Brunhes, Max Sorre, Pierre
George, Jean Tricart e Richard Hartshorne – e uma obra para
base do estudo, uma para cada clássico, optando
pelas obras disponíveis em língua portuguesa e espanhola e
representativas do seu pensamento. A influência desses
clássicos sobre a formação da Geografia brasileira – chamo-os
por isso matrizes clássicas originárias – é o critério da escolha.A
intenção é desembocar seu estudo na análise das matrizes
geográficas brasileiras.
O livro está dividido em três partes.A primeira parte traça o
quadro da formação histórica da Geografia moderna e da
Geografia clássica dentro dela, analisa o conceito e o contexto do
que aqui se entende por clássicos e a razão de por que assim
nomeá-los e oferece um conceito de matriz em Geografia à luz
dos comentários críticos do que se chama a tradição de escolas e
tradição de geografias setoriais. Para facilitar, pensando num
diálogo simultâneo com o leitor dentro do livro, apresento na
segunda parte um resumo crítico de cada obra escolhida,
tomando por base o que entendo exprimir o núcleo lógico do
pensamento nela desenvolvido, às vezes transcrevendo pedaços
inteiros do texto original quando é preferível deixar a palavra ao
próprio autor.
A terceira parte, por fim, faz o balanço analítico das ideias dos
autores, comparando seus conceitos e enfoques, mostrando seus
alinhamentos, estabelecendo os entrecruzamentos e
correspondências de epistemologias e apresentando o quadro
sintético do modelo matricial de cada um.
Pede-se atenção especial para o método de síntese utilizado.
A síntese é, no fundo, uma leitura do livro feita a partir do que se
entende por seu nexo discursivo (seu núcleo racional). Corre-se,
assim, o risco de, na prática, torcer-se o pensamento original do
autor, adulterando-se o seu conteúdo real com o fim de adequá-lo
a uma interpretação que se quer fazer. É um risco, certamente.
Mas talvez haja também a vantagem de poder estimular o leitor a
ir ao livro original, lê-lo na sua integralidade, ajudando-o a
quebrar a inibição do contato direto com o clássico
e,assim,também saborear,como eu,o livro em sua frescura (muito
embora já sabendo tratar-se de uma tradução). E, quem sabe,
através dele toda a obra do clássico. Não é preciso dizer o quanto
isto é necessário na Geografia brasileira, ausente, literalmente,
desse hábito.
O leitor é convidado,assim,a conferir ele mesmo a atualidade e
influência desses clássicos no pensamento recente, na e para
além do âmbito imediato da Geografia. E, então, descobrir que
muitos conceitos e teorias atuais já se encontravam neles, a
exemplo da teoria da complexidade de Edgar Morin, Henri Atlan,
Isabelle Stengers e Ilya Prigogine, já presente em Max Sorre; da
construção técnica do espaço de Milton Santos, já presente em
Pierre George; do meio técnico e científico, também de Milton
Santos, já presente no conceito de gênero e modo de vida de
Vidal de La Blache; do movimento do real
como instituição da diferença de Jules Deleuze e Jacques
Derrida, já presente na teoria da diferenciação de áreas de Alfred
Hettner e Richard Hartshorne; da Terra como um produto da
interação dos seres vivos com o meio físico no planeta da teoria
Gaia de James Lovelock, já presente no conceito de meio
geográfico de Jean Tricart; da superfície terrestre como morada
do homem dos ambientalistas, já presente em Vidal de La Blache,
Jean Brunhes, Max Sorre e Richard Hartshorne; dos conflitos
sociais entre os povos de vida comunitária (a exemplo de
comunidades indígenas, camponesas e quilombolas) e o modo
de vida e produção do capitalismo que hoje domina a teoria social
brasileira, já presente em Elisée Reclus.
O leitor em questão é múltiplo. É o estudante universitário, o
acadêmico e o professor da escola, em seu afã de ir ao encontro
da Geografia – sobretudo se não lhes foi oferecido o contato vivo
e direto com a obra dos clássicos
– em suas próprias raízes. Mas é também o público em geral,
interessado em conhecer a bibliografia e a essência do
pensamento geográfico e assim nela encontrar uma chave de
teorização dos temas atuais, atraindo-o para o conhecimento
direto de sua literatura. À exceção dos livros de Reclus e Sorre,
acessíveis somente em espanhol, todos os demais estão
disponíveis em língua portuguesa, em edição brasileira ou
portuguesa, mas de fácil acesso nas bibliotecas do Brasil. Além