Table Of ContentUNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA 
 
 
 
 
O FASCISMO DOS HOMENS BONS 
Sobre padres e os Ayoreóde do alto Paraguay 
 
Leif Ericksson Nunes Grünewald 
 
 
 
 
 
 
Niterói, Agosto de 2015
O FASCISMO DOS HOMENS BONS 
Sobre padres e os Ayoreóde do alto Paraguay 
 
 
Leif Ericksson Nunes Grünewald 
 
 
 
 
Tese  apresentada  ao  Programa  de  Pós-
Graduação  em  Antropologia  da 
Universidade  Federal  Fluminense,  como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
Doutor em Antropologia 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Tânia Stolze Lima 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Niterói, Agosto de 2015 
 
 
  ii
G891   Grünewald, Leif Ericksson Nunes.  
 
                 O fascismo dos homens bons: sobre padres e os ayoréode do alto 
 
Paraguay / Leif Ericksson Nunes Grünewald. – 2015. 
 
                 327 f. : il. 
 
       Orientadora: Tania Stolze Lima. 
                                          
     Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de 
 
Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Antropologia, 2015. 
  Bibliografia: f. 294-302. 
 
 
 
 
 
 
  iii
O FASCISMO DOS HOMENS BONS 
Sobre padres e os Ayoreóde do alto Paraguay 
 
Leif Ericksson Nunes Grünewald 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade 
Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em 
Antropologia 
 
 
 
Aprovada por: 
_______________________________________ 
Profª. Dra. Tania Stolze Lima (Orientadora) 
Universidade Federal Fluminense 
_______________________________________ 
Prof. Dr. Renato Sztutman  
Universidade de São Paulo 
_______________________________________ 
Prof. Dr. Marcio Goldman 
Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro 
_______________________________________  
Prof. Dr. Antonio Rafael Barbosa 
Universidade Federal Fluminense 
______________________________________  
Prof. Dr. Ovidio Abreu 
Universidade Federal Fluminense 
 
 
Niterói, agosto de 2015 
 
  iv
- RESUMO [ABSTRACT]- 
Essa tese é uma tentativa de exame de algumas implicações de uma equivocação e não-
reciprocidade entre uma perspectiva Ocidental sobre o Outro e uma perspectiva Ayoreo-
um  grupo  falante  de  uma  língua  Zamuco  que  habita  o  Chaco  Paraguaio-  sobre  a 
alteridade no âmbito de uma missão salesiana no alto rio Paraguay. Ela examina, portanto, 
tanto a constituição e o desenvolvimento de um projeto civilizatório salesiano, quanto a 
maneira  como  os  Ayoreo  reinventaram  seu  mundo  convencional  para  acomodar  os 
padres salesianos. 
 
This thesis is an attempt some of the implications of the equivocation and non-reciprocity created by the 
intersection of a Western point of view about the Other and an Ayoreo- a Zamucoan-speaking group 
living in the Paraguayan Chaco- point of view about alterity in a Salesian mission on the upper Paraguay 
river throughout history. This thesis examines then both a salesian civilizatory project and how Ayoreo 
people had reinvented their conventional world to accomodate western priests. 
 
- PALAVRAS-CHAVES [KEY-WORDS]- 
Salesianos; Ayoreo; Chaco; Transformação; Equivocação 
Salesians; Ayoreo; Chaco; Transformation; Equivocation 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  v
1.  Para  Peebi,  ibijoi  dacasuté  pise  enga  jnani 
uerate. Yacaranguipise  
2.Para Mayra, dequedójnariejna. Yacaranguipise  
3.Para  Tucho,  Batigate. O  cumprimento  da 
promessa de 2005.  
 
 
 
 
 
 
  vi
- AGRADECIMENTOS - 
Agradeço  a  Coordenação  de  Aperfeiçoamento  de  Pessoal  de  Nível  Superior 
(CAPES), pela concessão de uma bolsa integral de estudos que me permitiu tanto dedicar-
me exclusivamente as cadeiras quanto realizar minha pesquisa, bem como agradeço à 
PROAES  -  UFF  pelo  financiamento  de  minhas  viagens  ao  Reino  Unido,  ao  Royal 
Anthropological Institute por ter financiado minha estada em 2014, e ao fundo da Iniciativa 
Amotocodie por ter financiado os equipamentos, transporte e alimentação durante todo o 
tempo que estive no Chaco. 
  A Tania Stolze Lima, por ter me ensinado quase tudo que sei sobre Etnologia e 
por ter me dado algo que reconheço ter sido um dos melhores presentes que ganhei 
nesses últimos 6 anos: o prazer de sua amizade e de ser seu aluno. Se no mestrado a 
agradeci  pela  orientação  à  là  Guimarães  Rosa,  gostaria  de  fazê-lo  dessa  vez  à  là 
Montaigne: Tania, muito obrigado por você ser você e por ter permitido, ao longo desses 
anos, que eu fosse eu. 
  Aos professores Ana Cláudia Cruz, Antônio Rafael Barbosa, Ovídio Abreu, Els 
Lagrou, Luisa Elvira Belaunde e Marcio Goldman, pela amizade e pelas valiosas lições 
durante os cursos do doutorado. 
  A Eduardo Viveiros de Castro, Joana Miller, Antonio Rafael Barbosa e Oiara 
Bonilla, por terem aceitado, em diferentes momentos, integrar as bancas de meus dois 
exames de qualificação e pelas orientações que espero ter conseguido incorporar no meu 
trabalho e por outras que temo não ter conseguido incluir. 
  Ao pessoal da Iniciativa Amotocodie, no Chaco Central: Sonia Castillo, Liz Piris, 
Sibeli Birck, Benno Glauser, Jien Chang, Malena Chamorro e, especialmente, à Junior 
Alarcón, por terem me abrigado, cuidado de mim, me emprestado dinheiro, me carregado 
de Toyota de um lado para o outro, e me apresentado aos Ayoreo. Creio que nunca 
poderei lhes retribuir tal favor a altura e gostaria de registrar aqui meu sincero pedido de 
desculpas por não ter podido prolongar a pesquisa conforme prometi inicialmente. 
Agradeço  ainda,  mesmo  temendo  esquecer  alguém,  pelo  que  peço  desculpas 
antecipadamente, a Pedro Alex Rodrigues Viana, Ana Célia Rodrigues, Priscila Santos da 
Costa, Carolina Duarte Gava, Weksley Gama, Regina Tristão Duarte, Maria Zélia Tristão 
  vii
Duarte,  Marcus  Freitas,  Vanessa  Alvarenga,  Gustavo  Alvarenga,  Tiago  Cau,  Patricia 
Flavia Cau, Edgar Bolívar, Marco Antonio Iusten, Sandro Silva, Carolina Llanes, Celeste 
Ciccarone,  Patricia  Pavesi,  Mariana  Meireles,  Natalia  Sartório,  Pedro  Otávio,  Mauro 
Pereira Junior, Alessandra Barbosa, Clara Parker, Thor Leif Grünewald, Norma Astrea 
Nunes Grünewald, Thor Lincoln  Nunes  Grünewald, Nandressa  Nuñez, Nilo  Nuñez, 
Andrea  Cavalero,  Ana  Camila,  Nilton  Franco  Nunes,  Marja  Nunes,  Mauricio  Viana, 
Christopher Hewlett, Victor Cova, Juan Pablo Sarmiento Barletti, Jan Grill, Juan Rivera, 
Justin Shaffner, Casey  High, Alberto Corsín-Jîmenez, Giovanni Dal  Col, Peter Gow, 
Bernd Fischermann, Volker von Bremen, Salvatore D’Onofrio, Isabelle Combès, Luca 
Ciucci, Alfonso Otaegui, Paola Canova, Lorena França, Gilton Mendes, Taíssa, Antonio e 
Clarinha  Tavernard,  Camila  Fernandes,  Pedro  Pio,  Pedro  Guilherme  Mascarenhas, 
Rodrigo Villagra, Miguel Aparício, Fabiana Maizza, Marta Amoroso, Tatiana Cipiniuk, 
Rafael Fernandes, Tiago Rigo Guasti, Anderson Benassi, Neolucio Bragatto, Ducubide 
Picanerai, Enrique Peebi, José Maria Cutamorajai, José Fernando Jnurumini, Mariano 
Dosapei,  Denis  Picanerai,  Claudia  Kikome,  Dionisia  Uguijña,  Ysidro  Kuisi,  Clotilde 
Ajoté, Alana Stein, Samuel Farina, Barbara Jnurumini. 
Agradeço à minha família, a quem amo muito, por ter sempre respeitado minhas 
ausências, escutado atentamente minhas histórias, e por terem se feito presentes para 
mim, sempre na medida do que foi possível. Ao meu pai, minha mãe, e meu irmão em 
Linhares, pelo amor, apoio e cuidado comigo. A minha mãe e meus irmãos em Belém, 
pelo sopro de vida que me anima a existir. A Andrea, que é meu anjo da guarda, a quem 
devo de um tudo. 
 Agradeço a toda família Duarte, por terem se transformado, pouco a pouco, em 
minha família também. 
A todos os Ayoreo de Tiogai, a quem devo de um tudo e mais um pouco, e por 
quem nutro um enorme carinho. Todos dali são minha maior saudade. 
A Mayra, a quem amo muito, apesar de. Por ela ter me deixado ir e por ela ter me 
permitido  voltar.  Por  ter  respeitado,  quando  preciso,  a  minha  solidão  e  por  ter  me 
resgatado dela, quando necessário. Por ter me ajudado a respirar em meio ao caos em que 
a vida se transformou, em alguns momentos, durante essa tese. Por corporificar a frase: 
“me ame quando eu menos merecer, porque é quando mais preciso”. 
   
  viii
The Other of the Others is always Other 
-  Eduardo  Viveiros  de  Castro,  Perspectival 
Anthropology  and  the  method  of  controlled 
equivocation  
 
 
 
 
  ix
- SOBRE A GRAFIA E A PRONÚNCIA – 
 
  Busquei  ao  longo  desse  trabalho  reproduzir,  na  grafia  dos  termos  na  língua 
Ayoreo, que aparecem em itálico, o padrão estabelecido pelos missionários da New Tribes 
Mission nas gramáticas e nos dicionários que produziram. Padrão que coincide, por sinal, 
com a grafia dos próprios Ayoreo de Tiogai. Reconheço, contudo, que a maneira pela 
qual grafei um ou outro termo divirja da maneira pela qual outros autores que trabalharam 
em outras comunidades Ayoreo os grafaram. Por exemplo, a grafia do termo tu yure, ‘Eu 
mesmo’, que também pode ser encontrado em outros trabalhos grafado na forma i’yui. 
À vista disso, eis algumas indicações de pronúncia: 
 As vogais soam como na língua portuguesa. Assim como as consoantes b, c, ch, d, g, 
ng, h, j, m, n, p, s, t, y.  
  jm deve ser lido com som de m, nasalizado. 
  jn deve ser lido com som de n, nasalizado. 
  ñ deve ser lido como o ñ espanhol, tal como empregado na palavra niño. 
  jñ deve ser lido com som de ñ, nasalizado. 
  r é uma consoante muda. 
 
  Sobre acentos: eles são empregados na língua Ayoreo para indicar que parte da 
palavra deve ser tonificada. Por exemplo, nas palavras yirídai: ‘meu pé’, daté: ‘mãe’, guedé: 
‘sol’, yipésu: ‘eu faço’. No entanto, parece ser uma regra geral da língua Ayoreo: a não ser 
que assinalado graficamente, a maior parte das palavras é oxítona.  
Além disso, deve-se salientar também que acentos e tildes podem sem empregados 
na mesma vogal. 
 
 
 
 
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Description:22o de latitude sul e os meridianos 58o e 63o de longitude Oeste,  5 É o que se registrou no extenso trabalho de Combès.  monografia de Novaes (1993), em que essa autora se dedica a investigar, basicamente  26 São as hipóteses da teoria de Lamarck as de que há uma tendência dos seres