Table Of Contento CAFÉ
no segundo eentenárlo de
sua Introduçfto no Brasil
eOIÇAO DO DEPARTAMENTO
NACIONAI. DO CAFÉ
Rio DE Janeiro
1984
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Sistemas adotados pelos fazendeiros de
S. Paulo na venda do café
A
ôção negativa e positiva do instituto no desenvolvi-
mento da lavoura paulista
Antonio de Queiroz Telles
o COMISSARIADO tes recebiam em pagamento do seu serviço
outros géneros de produção do fazendeiro,
O sistema geral de venda do café no como era o caso do açúcar, e entregavam
Estado de S. Paulo, desde os mais remotos por sua vês produtos de importação de que
tempos a que nos chega a tradição, era, de- os fazendeiros mais precisavam como o sal
pois de transportado o produto ao porto de e os tecidos.
mar, consigna-lo a um comerciante que, .por O sistema de contas de vendas dirétas
uma comissão sobre o valor da venda, ao produtor parece ter tido o seu inicio no
transferia-o a um exportador, que, por sua século passado-
vez, o colocava no mercado consumidor. Nos primeiros decénios desse século já
Era, embora em estado rudimentar, o existiam cm Santos, isto é, especializadas
mesmo comerciante que hoje designamos por no serviço, operando quasi que única e di-
comissário, e que, com j>equenas variações rétamente no negocio do recebimento do
naturais a evolução dos tempos, perdura até produto a consignação, e apresentando ao
nossos dias como principal agente de negó- fazendeiro a conta de venda, da qual era
cios de café, no que toca ao produtor, em deduzida a sua comissão.
nosso porto de exportação. Alguns exemplares dessas contas ainda
'Esse systema de venda operava-se em se encontram em poder de pessoas que se
Santos da mesma fórma que no Rio de Ja- interessam por antiguidades.
neiro, onde, aliás, em tempos idos, teve
muito maior importância que em nosso UMA CURIOSIDADE
Estado.
Já nos últimos decénios do século XViIII A titulo de curiosidade vamos narrar
se efetuavam vendas de café em Santos, um caso muito conhecido em nossa familia,
mediante comissão, sendo o produto des- o qual representa uma fórma, de certo pou-
pâcbado para Portugal, de onde era reex- co comum, da venda do produto naquele
portado para os seus destinos definitivos, tempo. Em 1826 um tio-avô nosso, contando
visto não ser então permitido o livre co- então deseseis anos, remeteu para Santos
mercio do Brasil com o estrangeiro, que só toda a safra de açúcar e café colhida na
mais tarde, em 180S, se realizou pela aber- sua propriedade em Itú, despachando-a, em
tura dos portos do paiz ao comercio inter- Santos, para a 'Europa num veleiro alemão,
nacional, no reinado de D. João VI. a cujo bordo êle seguiu com a sua produ-
O café, naquela época cultivado nas re- ção, disposto a negocia-la e com os lucros
giões do chamado norte do Estado (real- fazer os seus estudos na Alemanha. '
mente léste) de onde se escoava p«r portos Realizou integralmente o seu intento,
como S. Sebastião e Ubatuba, e nas proxi- voltando ao Brasil seis anos mais tarde,com
midades de Jundiai, Itú e Campinas, era o curso da Universidade de Heidebberg.
transportado ao porto de mar, nesse caso
Santos, por meio de tropas, pois não exis- AS DOCAS DE SANTOS
tiam as estradas de ferro. Os comerciantes
exportadores, então em numero muito li- A produção cafécira do Estado de São
mitado, eram no geral estrangeiros, predo- Paulo foi, no correr do século XIX, relati-
minando os inglêses, holandêses e alemãis. vamente pequena. Sómente no ultimo
Os comissários vendiam-lhes o café dos quartel desse século foi que ela se desen-
fazendeiros e êles, por sua vês, o reven- volveu de fórma notável, deixando á dis-
diam aos consumidores. O lucro que aufe- tancia a da cana de açúcar, que lhe fazia
riam os comissários nesse negocio parece concurrencia. Passou de pouco mais de um
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Elm tempos mais remotos esses comercian- grandes safras que marcaram a supremacia
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de S. Pallio na produção da valiosa rubia- OS ARMAZÉNS GERAIS
cea, e tornaram Santos o mais importante
empório do comercio produtor de café do O decreto federal de 21 de novembro
mundo. de 1903 instituiu as regras para o estabe-
A organização da Companhia de Docas, lecimento de empresas de armazéns gerais,
eodensdssieeumeponoptrotoioo,caeppmoiprtarljeiusslatgaasn-alecositodrneaanlrjeeasiurcolustjaodnoeesgmapprroaeu-m- dsleaatsverraemdmoiprnreaesnsdaosis.eonsAtosdpiarretdiietrosdceoesmspaorboréimpgioacsçasõoemssuicdteoosms-
co satisfatórios ás suas ambições, veio, por casas comissárias iniciaram o sistema de
sua vês, emprestar grande incremento á vendas de seu café dirétamente ao exporta-
importância de Santos nos negócios de café. dor, despachando-o das fazendas para as
companhias de armazéns gerais, onde lhes
era cobrada uma taxa de armazenamento.
A PRODUÇÃO PAULISTA Chegado o café ao porto de destino, a com-
panhia de armazéns gerais apresentava ao
O grande surto das plantações caféeiras proprietário, ou ao seu corretor, as amos-
em S. (Paulo originou-se, nos primeiros tras tiradas á chegada do produto aos ar-
anos da República, da inflação papelista que mazéns; e, mediante uma comissão que
deu imi suposto cunho de prosperidade hoje é de 500 réis por saca, èste efetuava
àquela época, pela abundância de numerário a venda dirétamente ao exportador, em
e elevado preço do produto. nome do próprio fazendeiro.
A produção paulista nestes últimos vin- Este sistema teve largo uso por fazen-
te e sete anos tem-se mantido na média dos deiros independentes, e causou sensível di-
10 000.000 de sacas, com as naturais alter- minuição nos negócios de vendas por in-
nativas dos anos mais e menos propícios. termédio de comissários.
O numero de cafeeiros em produção no Foram seus apologistas entusiastas mui-
Etes,-taddeo,95s0e.g0u0n0.d0o00d,adeosa omféicdiiaais,toétaáltudaelmperno-- mtoasisprfoadvuotroárveesl, áquseuajumlegracvaadmorieassedo'Sqiusteemoa
dução tende sempre aumentar com as novas comissariado.
plantações em zonas recentemente abertas, Ultimamente, porém, por efeito da fa-
máu grado o depauperamento das regiões lência de alguns desses estabelecimentos,
mais antigas, onde a custa de fertilizantes com apreciáveis prejuízos aos fazendeiros,
se vai conseguindo impedir o declin—io e se estabelecimentos esses que pôr lei não po-
restabelece aos poucos a produção, pelo deriam falir, pois são proibidos de fazer
menos em escala de impedir o abandono das transações com quem quer que seja, deven-
lavouras pela falta de lucro. do restringir-se tão somente á função de
guardas do género e recebedores do preço
PAPEL PREPONDERANTE da venda, depositando-o na conta do con-
sinatario após a dedução das suas desp—esas;
por efeito desse desastre, dizíamos, as
O comissário de café tem desempenha- companhias de armazéns gerais perderam
dd«osspaapceulltpurreapoenmdeSr.anPtaeulno.o desenvolvimento gseranodselpaavrrtaedodraessuoautproapuvlêasripdaadrea,ovsolctoamnidso--
Desde o incremento verificado na pro- sários.
dução dos fins do século passado, que o
comissário se tornou, por força das circuns- OPERAÇÕES A TERMO
tancias, o banqueiro natural de grande par-
te da nossa lavoura. Não existindo àquela As operações a termo que foram esta-
é^oca, no Estado, o credito agrícola, como belecidas em Santos por algumas institui-
não existe até hoje, nas proporções em que ções para êsse fim organizadas, desempe-
era licito esperar da colaboração da própria nharam desde o seu inició uma importante
classe na organ—ização de seu estabelecimen- missão no comercio caféeiro daquela praça,
to de credito, o comissário, sendo comer- como caixas de liquidação de acordo com os
ciante e, portanto, gosando da confiança principios em voga nos mercados consu-
dos estabelecimentos bancários, era quem midores. Essas organizações, muito necessá-
supria aos fazendeiros com os custeios rias para o comércio legitimo do café, mas
anuais de suas propriedades, mediante con- pouco usadas pelos fazendeiros, pelo seu
trátos de penhor agrícola, hipoteca ou sim- natural afastamento dos centros de nego-
ples promessas de receber o produto colhi- ciação do produto, foram oficialmente re-
do. Segundo colculos recentes, o comercio conhecidas de utilidade pela lei 1310, de 30
comissário de Santos deve adiantar a la- de dezembro de 1911, criando a Bolsa de.
vradores, anualmente quantia não inferior a Café de Santos, que deu a esses negócios
500.000:0001000. uma feição oficial mais adequada ao nosso
Description:Basta dizer que o café é ainda a bebida mais bara- ta do mundo, mais barata que Convinha que os fazendeiros de S. Paulo organizassem uma socie- dade particular, em que Alfredo de Escragnol?' Taunay, no seu opúsculo