Table Of ContentCopyright © Paulo Nogueira Batista Jr.
Todos os direitos reservados.
© Casa da Palavra/LeYa, 2019
Editor executivo: Rodrigo de Almeida Produção editorial: Anna Beatriz Seilhe Preparação: Veridiana
Cunha Revisão: Bárbara Anaissi Capa: Leandro Dittz Diagramação: Selênia Serviços Tradução de texto
nas páginas 43-53: Juliana Alvim Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Batista Junior, Paulo Nogueira
O Brasil não cabe no quintal de ninguém: Bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI
e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata / Paulo Nogueira
Batista Jr. – São Paulo: LeYa, 2019.
448 p.
ISBN 978-85-7734684-4
1. Economia - Ensaios 2. Economia - Brasil - Ensaios 3. Relações internacionais
19-1739CDD 330
Índices para catálogo sistemático:
1. Economia - Ensaios Todos os direitos reservados à
Editora Casa da Palavra
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Nacionalismo – herança, fio condutor
CAPÍTULO 1
Reforma da arquitetura financeira mundial: FMI e G20
G20 e FMI depois da crise internacional
FMI e controle de capitais
Um nacionalista no FMI: a estrutura da instituição e o papel do Brasil
A luta pela reforma do FMI
O Império contra-ataca
Sobrevivi
CAPÍTULO 2
BRICS e banco dos BRICS
BRICS no FMI e no G20
Novo banco e novo fundo monetário
Começo auspicioso do novo banco
Primeiro triênio do Novo Banco de Desenvolvimento – promessas,
resultados, decepções
O Banco dos BRICS e a minha demissão
CAPÍTULO 3
Nação, nacionalismo, caráter nacional
Nacionalismo e desenvolvimento
Nação versus globalização
A Marselhesa brasileira
Amazônia – de quem é?
Nacionalismo em Fernando Pessoa
Uma visita aos Estados Unidos
Síndrome de degredado
Caráter nacional – franceses e brasileiros
Brasil, um país desarmado
Dois partidos
Brasil, Estados Unidos, China
CAPÍTULO 4
Economia política brasileira
Macroeconomia do desenvolvimento nacional
Independência para o Banco Central?
A busca da “agenda perdida”
Carga negativa
O grande dilema
CAPÍTULO 5
Perfis
Brizola em 1961
Nenhuma derrota é definitiva
Cinco anos em cinquenta
Um iconoclasta
O maior brasileiro de todos os tempos
Um brasileiro
Um artista
A plataforma cedeu
Tempo cruel
Lembranças de um outro Brasil
CAPÍTULO 6
Humor econômico e outras crônicas
Um sobrinho no mercado financeiro
Banhas dogmáticas
Humor econômico
Exílio
Um sonho
Independência financeira
“Trabalho de Deus”
O complexo de vira-lata
À sombra da bufunfa
O economista bufunfeiro
Está extinta a escravidão?
Exit paquiderme
As montanhas do Rio
APRESENTAÇÃO
Nacionalismo – herança, fio condutor
“A experiência é uma lanterna que se carrega ao ombro – só ilumina o caminho
percorrido.”
La Rochefoucauld
“Nunca aprendo com a experiência
– só com a dos outros.”
Bismarck
O
que você, leitor, encontrará nas páginas deste livro é essencialmente um
relato, fragmentário, meio descosturado, de uma experiência particular. Pode-se
duvidar, reconheço, que isso tenha grande utilidade. Escolhi as duas epígrafes, a
de La Rochefoucauld e a de Bismarck, para expressar ambivalência em relação
ao valor da experiência.
A dúvida vale hoje mais do que nunca. Nada escapa ao efeito corrosivo de
um tempo que parece passar em velocidade sempre maior, reforçando a
advertência, velha de séculos, do moralista francês. Por outro lado, o primeiro-
ministro prussiano sugere, com ironia, que se deve ganhar tempo, aprendendo
com a experiência dos outros. Deixo ao leitor a decisão sobre essa questão eterna
e possivelmente insolúvel, mas ofereço antes de prosseguir algumas reflexões,
meros palpites talvez.
Desde que comecei a trabalhar como economista, a velocidade dos
acontecimentos foi muito maior do que eu poderia esperar. Minha primeira
passagem pelo governo coincidiu com a crise da dívida externa da década de
1980. Fiz parte da equipe negociadora que tentou alcançar em 1985, sem
sucesso, um acordo com o FMI para substituir os programas fracassados do
período Delfim Netto. Dois anos depois, entrávamos em moratória unilateral
com os credores bancários privados, que detinham na época o grosso da dívida
externa brasileira. Como imaginar que eu mesmo seria, na condição de diretor
brasileiro no FMI, responsável pela negociação de um empréstimo, não do FMI
ao Brasil, mas do Brasil ao FMI! As reviravoltas que o tempo traz… E, no
entanto, a experiência adquirida nos anos 1980 certamente me serviu vinte anos
depois. O FMI que eu reencontrei em 2007 não era e, ao mesmo tempo, era, sim,
a instituição que conhecera em 1985.
“Não te banharás duas vezes no mesmo rio”, reza a mais célebre das
máximas pré-socráticas, “o rio não é o mesmo, tu não és o mesmo”. Tudo muda,
tudo se transforma – verdade inegável, mas parcial, como todas. Mais
interessante, a meu juízo, é outra observação, também atribuída a Heráclito:
“Entramos e não entramos duas vezes no mesmo rio, pois somos e não somos.”
Esses fragmentos renderam volumes. Para meus propósitos limitados, poderia
dizer simplesmente que nada escapa intacto à passagem do tempo. E acrescentar
que o tempo devolve, como que regurgita, elementos do passado, que
reaparecem modificados, metamorfoseados, transtornados. E é isso, afinal, que
confere valor ao estudo da história, às memórias, à experiência.
No frigir dos ovos, prefiro Bismarck a La Rochefoucauld – como seria de
esperar, considerando a fase da vida em que me encontro. Os jovens não podem
avaliar o valor da experiência, pois ainda não a têm. Os mais velhos, por seu
turno, tendem a supervalorizá-la, pois é só o que lhes resta, no fim.
A estrutura deste livro é semelhante à de um outro que publiquei em 2000
sob o título A economia como ela é… – uma antologia de pesquisas,
conferências, estudos e artigos. Mas entre o livro de 2000 e este jaz toda uma
experiência de mais de dez anos em organismos internacionais, primeiro no FMI,
em Washington, e depois no banco de desenvolvimento criado pelos BRICS, em
Xangai. O núcleo deste livro são os capítulos que tratam da minha vivência no
exterior. Os capítulos 1 e 2 trazem uma combinação de análise econômica e
institucional com relatos dos bastidores do governo brasileiro, do FMI, do G20 e
dos BRICS. Joguei a pimenta dos embates que não vêm a público na avaliação
de questões impessoais como a economia internacional, a organização da
governança global e o papel de países emergentes como o Brasil. Limitei-me,
leitor, a apresentar depoimentos sobre os episódios que vivenciei diretamente,
sem complementá-los com informações indiretas, relatadas por terceiros.
Os textos aqui incluídos foram escritos em sua maioria ao longo dos
últimos dez anos, no Brasil e durante a permanência no exterior. Os trabalhos
inéditos, redigidos em 2019, especialmente os que abordam FMI e BRICS,
correspondem a cerca de 2/3 do livro. O terço restante foi publicado
anteriormente, só que muitas vezes em livros ou periódicos de difícil acesso,
inclusive no exterior. Para esta publicação foram todos revistos e parcialmente
rescritos, sem alterar a sua essência original. Eu mesmo os selecionei, fugindo de
repetições e evitando sempre a inclusão de textos mais perecíveis.
Não sei se fui bem-sucedido. O resultado é um livro que aborda uma grande
variedade de temas, e não só econômicos, em diferentes registros de linguagem.
Cada texto é independente e pode ser lido isoladamente. É uma vantagem. Se
quiser, o leitor pode abrir o livro em qualquer capítulo e começar ali. Se sentir
afinidade comigo, migrará a esmo para outras partes. O percurso será um pouco
acidentado, mas há um traço de união – o temperamento do autor. Mais ou
menos a mesma voz fala em cada parte do livro, em que pese diferenças de tema,
época e tratamento.
Exceções ao que acabei de dizer são o capítulo 1 – sobre FMI e governança
internacional – e o capítulo 2 – sobre BRICS e banco dos BRICS – que ganham
com uma leitura em sequência – até porque a criação de entidades independentes