Table Of ContentGestão do
Desenvolvimento Territorial
Karla Eugênia de Souza Andrade
Novos Desenhos Urbanos
Novos Desenhos Urbanos
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
Karla Andrade
Novos Desenhos Urbanos
Salvador, 2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Gerente Executiva Equipe Design
Maria Emília Batista Cordeiro
Reitor: João Carlos Salles Pires da Silva Supervisão: Alessandro Faria
Vice-Reitor: Paulo César Miguez de Oliveira Gerente Executiva Escola de Habitação Editoração / Ilustração:
Ana Carolina Rabelo de Castro Matos
Pró-Reitoria de Extensão Universitária
Ana Morina; Marcos do Nascimento Filho;
Gestão do Desenvolvimento
Pró-Reitora: Fabiana Dultra Britto
Territorial
Santana; Camila Leite; Marcone Pereira; Sumário
Escola de Administração
Coordenadora: Vitor Sousa; Flávia Moreira
Diretor: Horacio Nelson Hastenreiter Filho.
Gerente de AVA: Jose Renato Oliveira
Profa. Tânia Maria Diederichs Fischer
Centro Interdisciplinar de
Design de Interfaces: Raissa Bomtempo
Desenvolvimento e Gestão Social Design Educacional: Agnes Bezerra Freire
de Carvalho; Coordenação Executiva:
Tânia Maria Diederichs Fischer
Rodrigo Maurício Freire Soares; Supervisão Equipe Audiovisual
Superintendência de Educação a Acadêmica: Renata Lara Fonseca ;
Direção:
Supervisão de Tutoria: Gizele Amorim
Distância -SEAD
Conceição Haenz Gutierrez Quintana
Superintendente
Produção:
Márcia Tereza Rebouças Rangel
Produção de Material Didático Sobre a autora ..................................................................................07
Leticia Oliveira; Ana Paula Ramos
Coordenação de Tecnologias Educacionais
Coordenação de Tecnologias Educacionais
Câmera: Valdinei Matos
Haenz Gutierrez Quintana
CTE-SEAD Apresentação ....................................................................................08
Edição:
Coordenação de Design Educacional
Núcleo de Estudos de Linguagens &
Lanara Souza Deniere Silva; Flávia Braga; Irlan Unidade I - A Cidade em Transição .................................................10
Tecnologias - NELT/UFBA
Nascimento; Jeferson Ferreira; Jorge
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Coordenação Farias; Michaela Janson; Raquel Campos; 1.1 Desafios da sociedade contemporânea ...................................................10
Victor dos Santos
Presidente da Caixa Prof. Haenz Gutierrez Quintana 1.2 Iniciativas de transição .................................................................................15
Nelson Antônio de Souza
1.3 Cidades em transição ...................................................................................18
Vice-Presidente Interino/ Diretor de Prof. Haenz Gutierrez Quintana BAilamneciad aS;il Dvao;m Edinuiaqrudea A Gnodmraedse; ;M Raorbceelrav adle 1.4 Síntese da unidade ........................................................................................21
Habitação: Paulo Antunes de Siqueira
Foto de capa: Wikipedia Lacerda; Milena Ferreira
Superintendente Nacional SUHEN Equipe de Revisão: Edição de Áudio: Unidade II - Desenho Urbano Contemporâneo ............................23
Henrique Marra de Souza
Edivalda Araujo; Julio Neves Pereira Cícero Batista Filho; Greice Silva; Pedro 2.1 Princípios de sustentabilidade para o desenho urbano .......................23
Gerente Nacional GEHPA Henrique Barreto; Mateus Aragão
André de Souza Fonseca Márcio Matos; Simone Bueno Borges 2.1.1 Proteção ecológica e biodiversidade ...................................................26
2.1.2 Economia local e centros de bairro ......................................................29
2.1.3 Mobilidade e transporte sustentável ..................................................30
Esta obra está sob licença Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0: esta
licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do 2.1.4 Adensamento urbano .............................................................................31
seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam o devido
2.1.5 Revitalização e complexidade urbana ................................................32
2.1.6 Patrimônio e identidade cultural .........................................................34
2.1.7 Design urbano sensível à água .............................................................36
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
2.1.8 Energias alternativas ...............................................................................37
Sistema de Bibliotecas da UFBA
2.1.9 Políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reutilizar, reciclar) ..................38
A553
Andrade, KKarla Eugênia de Souza. 2.1.10 Moradias Economicamente Viáveis ...................................................39
Novos desenhos urbanos / Karla Eugênia de Souza Andrade. - Salvador: UFBA,
2.1.11 Agricultura urbana .................................................................................40
Escola de administração;Superintendência de Educação a Distân cia, 2019.
57 p. : il. 2.2 Estudos de caso ............................................................................................41
2.2.1 Ecocidade Auroville .................................................................................41
Esta obra é um Componente Curricular do Curso de Especialização em
Gestão do Desenvolvimento Territorial com Ênfase em Política Habitacional 2.2.2 Bed ZED (Beddington Zero Energy e Development) ......................46
na modalidade EaD da UFBA/SEAD/UAB.
2.2.3 Cidade de Medellin .................................................................................49
ISBN: 978-85-8292-211-8 2.3 Síntese da unidade ......................................................................................53
1. Desenvolvimento urbano sustentável. 2. Planejamento urbano. 3.
Referências ........................................................................................55
Urbanização. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II.
Universidade Federal da Bahia. Superintendência de Educação a Distância.
III. Título.
CDU: 711
Sobre a autora Apresentação
Karla Andrade possui graduação em Arquitetura pela Universidade Prezados Cursantes,
Federal da Bahia (1988) e mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela O tema da nossa disciplina, “Novos Desenhos Urbanos”, é instigante
Universidade Federal da Bahia (2005), Pós-graduação em Reabilitação e nos estimula a imaginar diversas possibilidades para condução do
Ambiental Arquitetônica e Urbanística Sustentável pela Universidade conteúdo teórico, poderíamos escolher algumas abordagens como
a tecnológica, a social, a mobilidade, entre outras. No entanto,
Federal de Brasília (2015). Por quinze anos lecionou no Curso de Arquitetura
preferimos a ênfase da sustentabilidade e de sua aplicabilidade
e Urbanismo da UNIFACS. Atualmente integra o quadro de professores
no desenho urbano, devido ao momento planetário que urge em
do Centro Universitário Ruy Barbosa (WYDEN). Coordena o Projeto de ações mais sensíveis e comprometidas com o desenvolvimento
social, ambiental e econômico, com prioridade na biodiversidade e
entre a WYDEN e a CODESAL com atuação no Plano de Bairro Vila preservação dos ecossistemas naturais, em um design urbano sensível
à água. Objetivamos, a partir daí, o desenvolvimento da reflexão e
Tiradentes. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com
do debate crítico, além da capacitação de profissionais que possam
ênfase em projetos arquitetônicos, arquitetura de interiores, habitação social,
atuar e intervir conscientemente no planejamento e nas intervenções
avaliação pós-ocupação, sustentabilidade aplicada a projetos arquitetônicos urbanas.
e urbanísticos. Coordena pesquisas na área de sustentabilidade; habitação
Daremos início a um mergulho no universo da cidade
social; percepção ambiental; avaliação pós-ocupação. contemporânea, teremos duas unidades: na primeira, estaremos
conceituando “Novos Desenhos Urbanos” e refletindo sobre os
desafios que a cidade contemporânea enfrenta; em seguida, estaremos
apresentando algumas iniciativas de enfrentamento desses problemas.
Na segunda unidade, apresentaremos algumas teorias e princípios de
sustentabilidade aplicáveis à cidade e abordaremos alguns exemplos
de cidades contemporâneas alinhados com esses princípios.
Como metodologia de ensino e aprendizagem, adotaremos em cada
unidade atividades que os estimularão à pesquisa, aprofundando com
isso o conhecimento, além de atividades práticas com a análise de uma
área degradada de sua cidade, oportunidade em que farão proposições
de possíveis soluções alinhadas aos parâmetros de sustentabilidade
debatidos nas unidades.
Acreditamos, também, que a melhor maneira de tirarem proveito
dessa experiência é fazer a leitura do e-book, viajar nos links e
bibliografias fornecidos, participar dos debates nos fóruns, o que
possibilitará a interação com os colegas e consequentemente a
ampliação da visão e do conhecimento sobre o assunto.
Um excelente curso para todos!
Karla Eugênia de Souza Andrade
10
Unidade I - A cidade em Transição
contemporaneidade e apresenta possíveis soluções alinhadas com os princípios
de sustentabilidade.
Esperamos que vocês estudantes sintam-se estimulados com a leitura, que
desenvolvam o conhecimento e a visão crítica sobre os assuntos abordados.
Importante ressaltar que, a partir de cada tema tratado, exercitem tecer associações
com a realidade de sua cidade e com outras cidades que conhecem.
1.1 Desafios da cidade contemporânea
Considerando-se que atualmente metade da população mundial é urbana,
se as tendências atuais permanecerem, em 2050, estima-se que a população
urbana global será de 80% e o território urbano aumentará entre 800 mil e 3,3
milhões de quilômetros quadrados. Essa expansão urbana é bem preocupante,
principalmente porque vem ocorrendo velozmente em áreas próximas a zonas
de grande biodiversidade (SCBD, 2012).
Se o território urbano está se expandindo e com a tendência de
agricultáveis e as áreas de preservação natural?
11 Unidade I - A Cidade em Transição 12
Novos Desenhos Urbanos
globais desde meados do século XX são incontestáveis e se devem ao aumento da
precisaremos adotar estratégias de novos desenhos urbanos, em resposta aos produção dos gases de efeito estufa produzidos pelos seres humanos, atualmente
derivam em três quartos dos combustíveis fósseis. O relatório, aprovado em
desenvolvimento sustentável, que integrem as dimensões ambientais, sociais e Incheon, na Coreia do Sul (2018), adverte para a necessidade de limitar o
econômicas, que promovam um design sensível aos ecossistemas naturais e que aquecimento a 1,5ºC em vez de 2ºC, como anteriormente estabelecido no
contribuam para a manutenção da biodiversidade na cidade. Acordo Climático de Paris, e considera que as emissões atuais causarão impactos
irreversíveis, com possibilidade de levar a limites inadaptáveis à vida planetária
A produção do espaço urbano desde a revolução industrial, em resposta ao
e, consequentemente, à economia.
paradigma tecnológico, tem sido gerada com a lógica do capital, estimula-se o
consumo predatório, gastos excessivos de eletricidade, petróleo, mobilidade,
espaços internos e bens materiais. Somam-se Saiba mais:
a estes o uso indevido dos recursos naturais O que acha de conhecer o Relatório do IPCC sobre o aquecimento global de
e o lançamento de resíduos nos diversos Sugestão de Leitura 1,5ºC, realizado por noventa e um autores e revisores de quarenta países
em outubro de 2018?
Para saber mais sobre a Sociedade
subterrâneas, gerando poluição ambiental em Rede e o paradigma tecnológico • https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/11/
pr_181008_P48_spm_en.pdf
e esgotamento dos recursos. Tudo isso
sugerimos a leitura da trilogia, escrita
tem acarretado um quadro de grande
pelo sociólogo Manuel Castells,
degradação ambiental e com sua expansão
A Era da informação: Economia,
poderemos chegar à carência de recursos sociedade e cultura, composta pelos
naturais, principalmente da água, além da diz respeito ao declínio do fornecimento do petróleo, alertado desde a crise do
ocupação de terras agricultáveis, o que vai
impactar no abastecimento de alimento na a sua extração inviável e cara, ao mesmo tempo em que a demanda por petróleo
cidade. continuará a aumentar com o tempo. Grandes quantidades de petróleo abastecem
o crescimento das economias globais e todos os principais elementos das
Segundo a Global Footprint Network (GFN), A GFN é uma organização de
sociedades urbanas: transporte, produção industrial e de comida, aquecimento
pesquisa que mede a pegada ecológica das atividades humanas no mundo. Segundo
doméstico, construção, etc. O declínio da produção do petróleo tende a promover
capacidade de carregamento ecológico do planeta, ou seja, condições para que a
causa do modo de vida contemporâneo, totalmente dependente do petróleo e
humanidade obtenha recursos naturais para a vida e que permitam a absorção
seus derivados. Existem opções de intervenções viáveis tanto no abastecimento
de seus resíduos e emissões de gases. A manutenção do modo de vida atual da
como na demanda, mas para conseguir um impacto substancial, elas devem ser
humanidade implicaria hoje na necessidade de 1,6 planetas para dar conta dos
iniciadas mais de uma década antes de alcançar o pico. (COENTRO, 2017)
recursos necessários para a vida humana na Terra. Esse quadro vem causando
espécies, em catástrofes naturais como furacões, secas extremas, enchentes, etc.
Como também resultando no aumento de doenças derivadas da má nutrição, em riqueza e, ao mesmo tempo, má distribuição de renda, provocando a desigualdade
problemas cardiorrespiratórios e infecções. (https://www.footprintnetwork.org/ social e ampliando o número de pobres. Nas cidades brasileiras, como também
our-work/countries/) nas cidades de países em desenvolvimento, o processo de urbanização agravou o
Segundo o relatório publicado pelo Painel Intergovernamental em 2018 (IPCC),
se a ocupação das periferias, das áreas de encostas e de mananciais por uma
13 Unidade I - A Cidade em Transição 14
Novos Desenhos Urbanos
população carente, desprovida de recursos para pagar o valor do solo nos centros Constata-se a partir desses dados, que há uma tendência mundial da
urbanos, acentuando o quadro das ocupações informais e ilegais: favelas, invasões, supervalorização do transporte privado (automóvel) em detrimento do
transporte público, assim como o aumento das distâncias médias percorridas
de vida das camadas populares, que são sempre desprovidas de serviços urbanos, nos trajetos diários. Isso determina impactos ambientais e sociais consideráveis,
de infraestrutura, suas moradias geralmente localizam-se em áreas de risco, como poluição, aquecimento global, aumento das taxas de acidentes e
periféricas, de difícil acesso ou distantes de seus trabalhos, gerando dependência congestionamentos. Provoca também a exclusão social, por grande parte da
de transportes públicos e de grandes deslocamentos. população pobre não ter capacidade de pagar as tarifas. (MOLLINEDO, 2006)
A predominância do uso do carro como meio de transporte, a privatização dos
segregação dos espaços da cidade em territórios bem delimitados em bolsões de espaços públicos e a criação de grandes condomínios, têem separado cada vez
pNoborevzao, cson dtraestsanedon chomo cso nudormbínaions odes padrão médio e alto. Decorrentes mais as pessoas da vida da cidade, o que vai impactar diretamente na segurança.
da ausência de políticas públicas voltadas para o bem estar social, e sim para Segundo Jacobs (2000), a segurança da cidade acontece através da presença das
o capital e para o lucro, com grande concentração de renda para a minoria, pessoas nas ruas vivenciando os espaços públicos.
INSERIR TEXTO DE DESCRIÇÃO
ocasionando imensas diferenças sociais, com a predominância da informalidade e
Por outro lado, o estilo de vida sedentário da sociedade contemporânea, traz
da precariedade das condições de vida e de moradia.
um grande prejuízo à saúde. As caminhadas foram substituídas pelos carros,
que passaram a ser o principal meio de transporte. Atividades simples como
urbana, ofertadas pela especulação imobiliária, são os condomínios residenciais subir escadas, foram substituídas por elevadores e escadas rolantes; as pessoas
fechados, bairros dentro de bairros, cercados por muros, que oferecem serviços passam grande parte do tempo vendo TV ou em frente ao computador, além
de cultivarem hábitos alimentares ruins, excesso de alimentação, comidas com
mesmo tempo em que favorece a segregação na cidade e a falta de apropriação dos gordura saturada.
espaços públicos disponibilizados.
Segundo Gehl (2013), criamos um modelo no qual os indivíduos não têm
A dinâmica da vida nas cidades oportunidade natural de exercitar o corpo e gastar energia diariamente. Com
Sugestão de Leitura
contemporâneas caracteriza-se também pela isso, paga-se um preço alto com a perda da atividade física como parte da rotina
aceleração excessiva através das diversas Convido-o a ler o artigo “Metrópole, diária, a diminuição da qualidade de vida, o dramático aumento nos custos de
legislação e desigualdade”, de Ermínia
saúde e uma menor expectativa de vida.
Maricato, que discorre sobre uma
pela circulação dos transportes públicos e
análise da metrópole brasileira do final
privados, de pessoas, de mercadorias, além
do século XX, destacando a relação entre se constatar que a humanidade já está experimentando as consequências de
da circulação das informações ampliada pelas a aplicação da lei para manutenção
suas ações desrespeitosas em relação aos sistemas vivos da natureza, sendo o
redes tecnológicas digitais. do poder concentrado em privilégios,
seu modo de vida uma grande ameaça para a manutenção da vida no planeta.
o que irá refletir na desigualdade
Segundo dados estatísticos da União social, segregação territorial e no meio Dessa forma, ativistas e estudiosos advertem que precisa emergir uma nova ética
Europeia, 80% dos trajetos dentro da Europa ambiente. planetária se a humanidade quiser sobreviver como espécie. Fazem-se necessárias
são realizados por veículos motorizados • http://www.scielo.br/pdf/ea/ transformações profundas principalmente na relação das pessoas com a natureza,
particulares, em sua maioria com apenas um v17n48/v17n48a13.pdf no seu padrão de consumo excessivo e principalmente no planejamento das
passageiro (European Union Road Federation, cidades. Dentro desse cenário, tem-se o surgimento de iniciativas de transição
2017). Nos Estados Unidos, este valor chega como resposta à crise planetária no âmbito do desenvolvimento ambiental, social
a 91%, com também um único passageiro. No Brasil, a frota de veículos aumentou e econômico.
em 63% de 2009 a 2018, destacando-se, nesse cenário, o automóvel, que teve sua
frota ampliada em 55,21% (CNT, 2018).
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Novos Desenhos Urbanos
Em resposta às crises ambientais que assolam todas as regiões do planeta,
“(...) Energia, água, fluxos de materiais, a explosão
da distribuição urbana, o uso maciço de veículos como demonstra o Relatório sobre o panorama da biodiversidade nas cidades
particulares, telecomunicações, etc.: elas são, entre
produzido pelo SCDB (2012), que faz uma avaliação global das conexões entre
outras, variáveis q ue atendem aos desafios da sociedade
a urbanização, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. Apresenta diversas
atual e que nem poderiam ser imaginadas pela sociedade
experiências bem sucedidas em cidades e dá orientações fundamentais sobre a
do século XIX. O fato é que o urbanismo atual, ancorado
em um urbanismo que bebe do funcionalismo (...) não conservação e o uso sustentável da biodiversidade. Sua mensagem principal é
1 é capaz de abordar as variáveis das diferentes escalas,
que as cidades devem promover a conservação e a restauração dos ecossistemas
sendo urgente levar em conta.
naturais, minimizando os impactos ambientais, promovendo uma maior
Um novo urbanismo se impõe e acomoda uma cidade
mais sustentável e uma cidade que, por sua vez, dá lugar
cidades podem reconciliar a sociedade
à estratégia de competir baseada em informação, ou seja,
que atende às premissas da sociedade do conhecimento humana e a biodiversidade, criando
de uma maneira mais eficiente.” (traduçao da autora)1 Saiba mais: ambientes que sejam ecologicamente
(RUEDA, 2010, p.9) sustentáveis, economicamente
Sugiro a leitura do texto “Panorama
da Biodiversidade nas Cidades” que produtivos, socialmente justos,
foi elaborado pelo Secretariat of the politicamente participativos e
Convention on Biological Diversity para
1.2 Iniciativas de transição culturalmente vibrantes.
servir como referência para os tomadores
de decisões e formuladores de políticas Nos últimos quarenta anos,
no que tange aos papéis complementares
realizaram-se importantes conferências
de autoridades nacionais, subnacionais e
Queridos estudantes, e seus resultados envolveram acordos
locais na preservação da biodiversidade.
internacionais, planos de ação e
Imagino que, após esse relato sobre os problemas que se
(SCBD) Secretariat of the Convention on
defrontam as cidades neste início de século, vocês possam
Biological Diversity. Cities and Biodiversity
estar desanimados, acreditando que não há solução a Conferência das Nações Unidas
Outlook. Montreal, 2012.
ou possibilidades de enfrentamento, no entanto vários
em prol do Ambiente Humano
movimentos e medidas têm sido adotados. Apresentaremos • Disponível em: https://www.cbd.int/
alguns no decorrer do texto. doc/health/cbo-action-policy-en.pdf em Estocolmo (1972), a Comissão
Brundtland (1984); o Protocolo de
Montreal (1987); A Cúpula da Terra do
Rio de Janeiro Eco92 (1992); o Protocolo de Quioto (1997); a Cúpula da Terra
1 (...) La energía, el agua, los materiales, la explosión de la distribución urbana, el uso
de Joanesburgo (Rio+10) (2002); a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre
masivo del vehículo privado, las telecomunicaciones ,etc. son, entre otras, variables que a
los retos de la sociedad actual y que no podían ser ni siquiera imaginados por la sociedad del siglo Mudanças Climáticas em Bali (2007); e mais atualmente a Rio+20 (2012).
XIX. El caso es que el urbanismo actual, anclado en un urbanismo que bebe del funcionalismo (...),
tampoco es capaz de abordar las variables que, a escalas, es urgente tener en cuenta. Dentre as conferências realizadas, vamos enfatizar a Eco92 e a Rio+20:
Se impone un nuevo urbanismo, uno que se acomode a una ciudad más sostenible y a una ciudad
que, a su vez, dé salida a la estratégia para basada en la información, es decir, que
conferências das Nações Unidas, como também por ter elaborado a Agenda 21
a las premisas de la sociedad del conocimiento de un modo más Se impone un nuevo
urbanismo, uno que se acomode a una ciudad más sostenible y a una ciudad que, a su vez, dé salida
a la estrategia para basada en la información, es decir, que a las premisas de la
indicações muito claras de intervenções sustentáveis a serem adotadas na cidade;
sociedad del conocimiento de un modo más salida a la estrategia para basada en
la información, es decir, que a las premisas de la sociedad del conocimiento de un modo más
debate.
17 Unidade I - A Cidade em Transição 18
Novos Desenhos Urbanos
Na Eco92, foram consideradas as relações entre os direitos humanos, a população, o anteriormente pelas cúpulas. A Conferência teve dois temas principais: a economia
desenvolvimento social, as mulheres e os assentamentos humanos, além da necessidade verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e a
de um desenvolvimento ambientalmente sustentável. Estabeleceram-se importantes estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. Gerou-se, no final, uma
princípios a fim de viabilizar a cooperação entre os países e entre os segmentos da Declaração, denominada “O Futuro que queremos”, com a definição da agenda em
sociedade, promovendo a melhor compreensão sobre o desenvolvimento sustentável prol do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. (GUIMARÃES;
e suas conexões, com temas como a participação de minorias e a promoção da paz. FONTOURA, 2012)
No evento foi elaborada a Agenda 21, documento firmado por 179 países, que se
O resultado da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU, a Rio+20,
trata de um roteiro de ações em prol do desenvolvimento sustentável para o século
enfatiza que “se forem bem planejadas e construídas, incluindo abordagens integradas
XXI, integrando a proteção ambiental, a justiça social e a eficiência econômica, além
de planejamento e gestão, as cidades podem promover sociedades econômica, social
de estabelecer parcerias entre governos e comunidades.
e ambientalmente sustentáveis”. Cidades bem projetadas podem acomodar grandes
A Agenda 21 distribui-se em seis eixos temáticos: agricultura sustentável; cidades números de pessoas de maneira sustentável em uma quantidade relativamente
sustentáveis; infraestrutura e integração regional; gestão de recursos naturais; redução pequena de espaço, oferecendo maior qualidade de vida e proporcionando maior
das desigualdades sociais; ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável. eficiência no uso de recursos e a preservação de maiores áreas naturais intactas.
Na ocasião, definiram-se agendas específicas para as nações desenvolvidas e em (SCDB, 2012, p.4)
desenvolvimento. Considerando que possuem problemas e interesses diferentes.
O documento final da Rio+20 apresenta várias finalidades e joga para os próximos
Nas prioridades de ação, ficou nítida a separação de agendas denominadas verde e
anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente.
marrom.
Muitos analistas afirmam que a crise econômica mundial, principalmente nos Estados
Nos países desenvolvidos, os problemas ambientais locais já foram superados, sem Unidos e na Europa, prejudicou as negociações e as tomadas de decisões práticas.
grandes problemas sociais. Ao contrário dos países em desenvolvimento, os problemas Segundo vários autores, a inação política foi o principal motivo para seu fracasso,
dos países ricos dizem respeito à riqueza e ao consumo em excesso. Para esses, a ocasionada pelo “conflito de interesses na atual governança ambiental global, no qual
agenda verde prevê ações que se concentram em torno da proteção e preservação do cada ator busca ter seus interesses favorecidos, tornando cada vez mais distante a
espaço natural, com ações que emergem do interesso público e coletivo, tendo como adoção de pontos convergentes”. (GUIMARÃES; FONTOURA, 2012, p.30)
ênfase a resolução de problemas ambientais globais: desflorestamento, mudança
climática, efeito estufa e destruição de zonas costeiras, etc.
1.3 Cidades em transição
Nos países em desenvolvimento a agenda marrom preocupa-se mais em elevar os
padrões sociais emergenciais do que na antecipação dos problemas socioambientais
Concomitantemente às reuniões de cúpula, aconteceram importantes movimentos
e na capacidade de suporte dos serviços ecossistêmicos. As ações concentram-se em
na direção do desenvolvimento sustentável das comunidades, a Permacultura a partir
torno de intervenções de transformação do espaço natural, tendo como prioridade
de 1970 (HOLMGREIN, 2013) e o movimento Transitions Towns (Cidades em
a solução de problemas ambientais urbanos: a poluição do ar, da água e do solo, a
Transição) a partir dos anos 2000 (HOPKINS, 2008), que estimularam a formação
coleta e reciclagem de lixo, o ordenamento urbano, etc.
de comunidades intencionais como as ecovilas, os ecobairros e as ecocidades, entre
Vinte anos depois da Eco92, percebe-se que existe uma tensão entre o processo e o
outras ações.
resultado, com muitos governos nacionais ignorando os processos de envolvimento
O movimento Cidades em Transição, encabeçado pelo Professor Rob Hopkins em
local, quando poderiam ser obtidos resultados mais rápidos e eficientes. Em 2012,
2002, foi criado com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis,
ocorreu a Rio+20, com o objetivo de aperfeiçoar e reafirmar o compromisso político
menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises
em relação ao desenvolvimento sustentável no Planeta Terra. Fez-se um balanço do
externas, tanto econômicas quanto ecológicas, como também com o objetivo de
que se realizou nos últimos vinte anos em relação ao meio ambiente, avaliaram-se
reduzir a pegada de carbono local. (HOPKINS, 2008)
os avanços e foram identificadas as falhas na implantação das resoluções definidas