Table Of ContentNEGRAS SENHORAS: As mulheres africanas forras e sua inserção sócio-econômica
na comarca do Rio das Mortes (1750-1810).
Vilmara Lúcia Rodrigues Teixeira
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em História
Social da Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
História Social.
Orientador: Prof. Dr. Manolo Garcia Florentino
Rio de Janeiro
Abril de 2006
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NEGRAS SENHORAS: As mulheres africanas forras e sua inserção sócio-econômica
na comarca do Rio das Mortes (1750-1810).
Vilmara Lúcia Rodrigues Teixeira
Dissertação de mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em História Social.
Aprovada por:
__________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Manolo Garcia Florentino
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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ProF.ª Dr.ª Ana Lugão Rios
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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Prof.ª Dr.ª Mônica Ribeiro de Oliveira
Universidade Federal de Juiz de Fora
__________________________________________
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Rio de Janeiro
Abril de 2006.
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Ficha Catalográfica
TEIXEIRA, Vilmara Lúcia Rodrigues.
Negras Senhoras: As mulheres africanas forras e sua inserção sócio-econômica na
comarca do Rio das Mortes (1750-1810)./ Vilmara Lúcia Rodrigues Teixeira. Rio de
Janeiro: UFRJ, PPGHIS, 2006.
xiii, f 128.: il, 31 cm.
Orientador: Manolo Garcia Florentino
Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ IFCS/ Programa de Pós-Graduação em História
Social, 2005.
Referências Bibliográficas: ff. 120-128
1 – Mulheres africanas forras. 2 – Inserção sócio-econômica. 3 – Mobilidade
Social. 4 – Família. 5 – Minas Gerais. I – Florentino, Manolo Garcia. II – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em História Social. III – Título:
Negras Senhoras: As mulheres africanas forras e sua inserção sócio-econômica na
comarca do Rio das Mortes (1750-1810).
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Resumo
O objetivo deste trabalho é mostrar que, durante o setecentos mineiro, uma
sociedade múltipla e complexa foi constituída. A intensa urbanização e a diversificação das
atividades econômicas permitiram que no abismo que separava os dois principais grupos
sociais (senhores e escravos) se formasse uma camada intermediária da qual se destacou,
em grande medida, as mulheres forras, principalmente as advindas da Costa da África. A
participação quase exclusiva no comércio ambulante transformou essas mulheres em
personagens importantes para a história do Brasil Colonial. Escondidas atrás de
designações como “Negras de tabuleiro”, essas mulheres se fizeram presentes nas mais
diversas atividades. Eram roceiras, mineradoras, cozinheiras, doceiras, fiandeiras,
parteiras, curandeiras e até feiticeiras. Estas libertas, não raras vezes, conseguiram criar
uma estrutura de vida que lhes garantia certa inserção na sociedade mineira, algumas,
inclusive, se transformaram em senhoras de escravos, casas e jóias. Este trabalho é sobre
estas negras forras que deixaram retratado em seus testamentos e inventários um elenco
diversificado de estratégias que contribuiram para a ampliação de suas possibilidades de
ascensão social.
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Abstract
The aim of this work is to show that, during the eighteenth century in Minas, a
multiple and complex society was built. The intense urbanization and diversification of the
economic activities allowed that, in the abyss which separated the two main social groups
(lords and slaves), an intermediary class was formed, in which the emancipated female
slaves stood out, in a great number, especially those who came from the African Coast.
The almost exclusive participation in the ambulant trade transformed those women into
important characters to Colonial Brazil’s history. Hidden behind the designation of
“Negras de tabuleiro” (black women of the tin to bake cakes), those women made
themselves present in the most diverse activities. They were planters, miners, cooks,
confectioners, spinners, midwifes, quacks, and even witches. These freed slaves were
almost always able to create a life structure that could guarantee to them certain insertion
in the society of Minas, some of them even became owners of slaves, houses and jewelry.
This work is about those emancipated black women who depicted in their testaments and
inventories a varied range of strategies which contributed to the amplification of their
.
social ascension possibilities
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Agradecimentos
Nesta longa, difícil e solitária caminhada, muitos foram aqueles que me
incentivaram e não me deixaram desistir. É a eles que dedico este trabalho.
Primeiro, e acima de todos, agradeço à Deus. “Senhor, se hoje percorro este
caminho é porque vós o brilhaste para mim. Deste-me a sabedoria para discernir, alegria e
entusiasmo para prosseguir, coragem para lutar e perseverança para vencer”. Obrigada
Senhor!
Agradeço a minha família, especialmente a minha mãe, pelo incentivo. Tantas
foram às vezes em que dividi minhas preocupações com você, mãezinha; faltam palavras
para traduzir a importância do seu silêncio quando eu reclamava e de suas palavras de
estímulo quando eu me calava. Obrigada pela compreensão quando distanciei-me da
família, apegando-me aos livros. Obrigada por tudo.
Ao meu marido, Adriano, agradeço o tempo que se dedicou a mim, secando
minhas lágrimas e ouvindo minhas murmurações; por toda a verdade que me fez ver; por
toda a sorte que trouxe para minha vida; pelas asas que me fizeram voar e pelos sonhos que
transformou em realidade, por todo amor que encontro em seus braços, serei etermamente
grata. Sem você não teria conseguido.
Ao meu orientador, Manolo Florentino, obrigada por me transmitir seus
conhecimentos e me guiar para além das teorias. Obrigada pela compreensão e pelo
carinho que sempre teve comigo, mesmo nas horas mais difíceis. Sua orientação foi
imprescindível.
Aos componentes da banca de qualificação, Professora Doutora Ana Lugão
Rios e Professor Doutor Antônio Carlos Jucá de Sampaio, meus siceros agradecimentos;
muito deste trabalho se deve às suas sugestões.
Às amigas Maria das Graças, Janaína e Vanessa, que me acolheram de forma
carinhosa, em minha passagem pelo Rio de Janeiro.
À Professora Sívia Brügger que com carinho sempre me atendeu e gentilmente
cedeu o banco de dados de registros de batismo e casamento do Arquivo da Matriz de
Nossa Senhora do Pilar da cidade de São João Del Rei.
No árduo trabalho de coleta das fontes contei com o apoio de Edriana e Rafael,
amigos do Museu Regional de São João Del Rei. Serei eternamente grata pela ajuda.
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À Professora Edna Maria Resende, quem começou isto tudo, quando eu ainda
estava na graduação. Obrigada por acreditar que eu era capaz. O que está nesta dissertação
tem muito de seus ensinamentos. Agradeço-lhe por me mostrar a História.
Aos meus mais novos irmãos: Valéria Baêta, Paulinho, Elizângela, Vanderlan,
Lulu, Goreti, Luís e Valéria. Minhas sinceras desculpas pelas ausências e meus
agradecimentos pelas orações.
Aos meus pequenos Natan, Letícia, Vitória, Sara e Jamile, agradeço pelo
carinho e pelos sorrisos que sempre alegram o meu dia.
Agradeço a Sandra, secretária do PPGHIS, pela sua sensibilidade em me ouvir
lamentar as saudades de casa, pelo papo descontraído que me fazia companhia quando eu
era uma estranha nas terras de ninguém.
Por fim, agradeço à CAPES por tornar possível, através do financiamento
concedido, a realização desta pesquisa.
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Abreviaturas
AHU – Arquivo Histórico Ultramarino
AMNSP-SJDR – Arquivo da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de São João Del Rei
AMRSJDR – Arquivo do Museu Regional de São João Del Rei
APM – Arquivo Público Mineiro
SG – Secretaria do Governo
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Lista de Tabelas e Gráficos
TABELAS
Tabela 01: Passagem: distribuição da população livre, segundo a cor (1804) 25
Tabela 02: Porcentagem de escravos e livres na população de Minas Gerais (1786 – 1823)
32
Tabela 03: Distribuição da população da capitania de Minas Gerais por comarcas – 1821
32
Tabela 04: Distribuição da riqueza da Comarca do Rio das Mortes (1750 – 1822) 51
Tabela 05: Distribuição da riqueza entre as forras da Comarca do Rio das Mortes (1750 –
1822) 52
Tabela 06: Composição da riqueza, em mil-réis, por faixa de fortuna nos inventários das
mulheres africanas forras da Comarca do Rio das Mortes no período de 1750 a 1810 58
Tabela 07: Investimento em imóveis entre as mulheres forras por faixa de fortuna 59
Tabela 08: Crescimento da população livre e escrava em Minas Gerais (1718 – 1872)
95
Tabela 09: Número médio e % de escravos nas roças, nas lavras e nas fazendas, por
Comarca – 1766 99
Tabela 10: O contingente escravo da Capitania de Minas (1698 – 1786) 102
Tabela 1: Quadro da população escrava de Minas Gerais – 1821 103
Tabela 12: Estrutura e posse de escravos entre as mulheres africanas forras da Comarca do
Rio das Mortes (1750 – 1810) 107
Tabela 13: Origem dos escravos, por sexo, registrados em inventários post-mortem, por
períodos, na Comarca do Rio das Velhas (1713 – 1773). 110
GRÁFICOS
Gráfico 01: % das mulheres africanas forras casadas segundo a etnia 80
Gráfico 02: % em relação ao estado civil e presença de filhos 85
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SUMÁRIO
Introdução 11
Capítulo I: A comarca do Rio das Mortes: notas acerca de uma região agrícola e
mercantil. 15
Capítulo II: Mulheres forras: acumulação de pecúlio e prestígio social 42
O poder do ouro e da seda 69
Capítulo III: Liberdade, mobilidade social e família 72
Capítulo IV: As negras forras e seus cativos 92
A mão de obra escrava em Minas Gerais 93
Estrutura e posse de escravos 105
Considerações finais 118
Fontes e Bibliografia 120
Description:The almost exclusive participation in the ambulant trade transformed those women into important characters to Colonial Brazil's history. Hidden behind