Table Of ContentModa Ayê:  
Guia de elementos afro-brasileiros para moda 
Aye Fashion: 
Elements' guide Afro-Brazilian to fashion 
 
Ivan Luis Sérvulo Porto, graduado em Design 
[email protected], graduado pela IESB/PREVE de Bauru/SP 
Jennifer K. Silva Francisco, graduada em Design 
[email protected], graduado pela IESB/PREVE de Bauru/SP 
Profª. Drª. Lílian Henrique de Azevedo, docente da IESB/PREVE 
[email protected], Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de 
Mesquita Filho, campus de Assis  
 
RESUMO 
Com a inserção do negro em nosso país, desde sua chegada ao Brasil, retirados de suas 
tribos na África e trazidos em porões dos navios negreiros, ficando aqui cativos, obrigados a 
adaptar-se aos hábitos e costumes de seus senhores, houve, com a adaptação, a assimilação da nova 
cultura  e  reinvenção  da  sua  própria.  Desta  mistura  de  cores,  ritmos  e  fé,  emergem  os  afro-
brasileiros, com hábitos próprios - nem europeus, nem africanos. Buscamos informações para 
definir como fora dada esse processo de influência na moda, se houvera uma importação da moda 
africana ao Brasil ou se os negros passaram a produzir uma nova moda e em que momento puderam 
retomar sua cultura, através de suas vestimentas, pois a escravidão os impediu de praticar sua 
própria  cultura.  Visto  tudo  isso,  busca-se  identificar  as  influências  afro-brasileiras  na  cultura 
brasileira, especificamente através da moda, destacando algumas características da moda afro-
brasileira e elementos como os tipos de estampas, tecidos preferidos, e modelagem mais apropriada. 
Embora busca-se elementos afro-brasileiros, relacionou-se elementos contemporâneos, modernos e 
bonitos , pois não se trata de uma moda simplesmente folclórica ou  festiva, o intuito do guia gerado 
pela pesquisa foi relacionar elementos aplicáveis a peças de roupas, para desenvolvimento de peças 
contemporâneas, para o uso geral. Elementos aplicáveis a roupas masculinas e femininas, adulto ou 
infantil, enriquecidos através da singularidade da cultura afro-brasileira.  Podendo assim dar o 
devido valor, a esta cultura que faz parte dos pilares culturais brasileiros, mas é pouco conhecida, 
divulgada e apreciada.  
 
Palavras-chave: cultura, moda, África, Brasil, design
ABSTRACT 
 
With the insertion of the black in our country, since their arrival to Brazil, taken from their tribes on 
Africa and brought into the holds of slave ships, staying here, forced to adapt to the habits and 
customs of their lords, had , with the adaptation and assimilation the new culture and reinvention of 
their own. This mix of colors, rhythms and faith emerge the Afro-Brazilians, with their own habits - 
neither European nor African. We seek to define how information was given this process of 
influence in fashion, whether there had been an importation of African fashion in Brazil or if blacks 
started producing a new fashion and when they could resume their culture through their clothing, 
for slavery prevented them from practicing their own culture. With all, we seek to identify the Afro-
Brazilian influences in Brazilian culture, specifically through fashion, highlighting some features 
fashion  Afro-Brazilian  elements  and  the  types  of  prints,  fabrics  preferred,  and  modeling 
appropriate. While we seek Afro-Brazilian elements, related to elements of contemporary, modern 
and beautiful, because it is not just a fad or folk festival, the purpose of the guide was produced in 
the study relate to the applicable articles of clothing, for the development of contemporary pieces 
for general use. Elements applicable to male and female clothing, adult or child, enriched by the 
uniqueness of Afro-Brazilian culture. May thus give due weight to this culture that is part of the 
Brazilian cultural pillars, but is little known, disseminated and appreciated. 
 
Keywords: culture, fashion, Africa, Brazil, design
MODA AYÊ: Guia de elementos afro-brasileiros para moda 
As  raízes  da  cultura  brasileira  são  plurais,  mas  as  maiores  influências  vêm  das  etnias 
indígenas, que já habitavam nosso país quando a segunda etnia, a portuguesa, aqui chegou. E, 
devido a necessidades da época, uma terceira etnia foi trazida ao Brasil, a etnia negra, representada 
pelos escravos trazidos da África para trabalhar neste país. 
Então, a partir desta tríade cultural, foi se construindo a essência da cultura do Brasil, e esta 
cultura, segundo Darcy Ribeiro, é uma cultura própria que já não era mais uma cultura nativa, 
européia ou africana, uma cultura resultante do processo de desenvolvimento da nação brasileira. 
Nação  esta  que  mesmo  influenciada  por  indígenas  e  negros,  ainda  não  se  consolidou 
socialmente a estas etnias, visto que ainda nos dias de hoje necessita de políticas públicas que lhe 
assegurem respeito e igualdade de direitos. 
Prova disso que foi sancionada a Lei 11.465/08, que obriga a inclusão no currículo escolar a 
temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”, conforme visto na versão online do jornal 
Correio do Brasil do dia 12/03/2003. 
Desejamos  contribuir  para  a  divulgação  da  cultura  afro-brasileira,  através  da  moda. 
Desenvolvendo um instrumento o qual o usuário possa ter acesso à informações, voltadas para 
moda, sobre esta etnia. 
Devido  à  falta  de  uma  tradição  em  produção  de  moda,  nota-se  um  desinteresse  em 
documentar a moda afro-brasileira. 
Sabe-se que os negros desenvolveram muitos dos produtos típicos nacionais e influenciaram, 
juntamente com os índios, nosso vocabulário, mas pouco sabemos de como se vestiam nas senzalas 
e como passaram a se vestir quando alforriados, o por quê das negras baianas usarem branco e o por 
quê muitos negros evitam usar vermelho e preto? 
Existiria  um  sincretismo  negro  na  moda  brasileira,  assim  como  afirmam  existir  um 
sincretismo religioso com os negros, ou seja, a moda brasileira é negra ou existe uma moda étnica 
afro-brasileira? 
Partindo destas questões, este trabalho de conclusão de curso busca demonstrar que a cultura 
negra influencia a cultura brasileira muito além do que conhecemos e que observando mais de perto 
a cultura negra podemos desenvolver uma moda rica e com grande personalidade. 
A metodologia aplicada ao projeto foi adaptada de Munari (2008) e será linear. 
A partir da coleta e análise de dados, definirá o produto gráfico e os requisitos do projeto para 
desenvolvê-lo, segundo os objetivos deste trabalho.  
Para o desenvolvimento e produção deste produto gráfico poderá realizar-se uma análise de 
produtos similares, caso disponíveis, auxiliando assim na geração de alternativas.
O Design no Brasil 
Muitos têm a idéia de que o design existe somente nas classes dominantes deixando de lado 
seu  papel  social.  Da  mesma  forma  que  diferentes  pessoas  têm  diferentes  preferências  e 
necessidades, assim também ocorre nas visões que cada pessoa tem sobre o design. Além de ser 
uma profissão relativamente nova, pois obteve sua maturidade acadêmica nos últimos 30 anos.  
De acordo com Rafael Cardoso Denis (2000), para se entender um pouco mais sobre o 
trabalho de um designer, é só perceber que existe uma nítida separação de funções ao se fabricar 
determinado objeto, pois o designer o projeta, deixando com que o artesão ou o operário o fabrique. 
Ao se projetar determinado objeto, pode-se determinar uma função prioritária dentre a estética, 
funcional, mas não é somente isso, também há a preocupação em resolver problemas do cotidiano, 
tentando assim facilitar a vida de seus usuários, pesquisando, encontrando respostas e obtendo as 
melhores soluções, através de métodos, reconhecendo as características gerais do público-alvo. Este 
profissional necessita pesquisar o signo juntamente ao símbolo de seu usuário, para que possa 
interpretar  e  agir  com  responsabilidade,  criando  algo  útil,  funcional  e  estético,  utilizando  de 
metodologias, com base em muitas pesquisas e testes até chegar ao produto final. 
A maior parte da população ainda não tem essa consciência, fugindo do conceito, e às vezes 
até ridicularizando esse profissional, utilizando termos como designer de carnaval, hair designer, 
design de sobrancelhas, entre outros. Interferências como estas fazem com que o profissional 
designer perca seu real significado, dificultando a valorização exata que este profissional tem com a 
sociedade. 
Na década de 50 não se conhecia a expressão design, mas sim Industrial Design, ou Desenho 
Industrial, um equívoco que limitava o significado exato da profissão. Na década de 70, seu nome 
foi alterado para design, originado pelo idioma inglês, com origem do latim designare, com o 
sentido de designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O português de Portugal se assemelhou 
tendo o significado de projetar, configurar, desenhar e inovar. Percebe-se claramente que na maioria 
de suas definições, o design atribui na junção de conceitos intelectuais com sua forma material. 
No seu livro, Rafael Cardoso Denis (2000) afirma que no Brasil o design teve influência 
européia, seguindo modelos de estruturações educacionais da Alemanha. Em 1963, a ESDI (Escola 
Superior de Desenho Industrial), primeira escola do gênero no Brasil, teve como seus primeiros 
professores  profissionais  estrangeiros  ou  formados  no  exterior,  isso  fez  com  que  o  ensino 
permanecesse  com  suas  características  culturais,  estéticas  e  éticas,  obtendo  expressão  estética 
modernista, impedindo assim que seus alunos construíssem uma linguagem formal própria, pois 
obtinham essa forma de aprendizado por um longo tempo. Somente em 1993, com a renovação do 
corpo docente, a instituição criou uma comissão de pós-graduação, formada por professores de três 
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departamentos, obtendo a junção do Projeto de Produto, Programação Visual e Integração Cultural, 
assim formando uma nova base de ensino para o design. 
Em décadas passadas o Brasil era considerado como inferior, por ser um país com variada 
mistura de etnias e povos de diferentes culturas e etnias. Esse é um detalhe, ou melhor, uma 
prioridade que o design brasileiro tem acima de outros países, pois podemos criar novos horizontes, 
ampliando e exibindo nossas riquezas materiais, sociais e culturais, riquezas únicas, que não podem 
ser encontradas em nenhum outro lugar no mundo.  
Nos dias de hoje o design brasileiro é visto por outros países como muito criativo, colorido e 
até mesmo exótico, podendo ser um elemento simples que expresse determinado cotidiano regional, 
ou um elemento que transforme o simples em algo muito sofisticado, tornando-se um objeto de 
desejo. Bons exemplos de designers brasileiros são grandes renomes como os irmãos Campana, 
Sergio Rodrigues, Romero Brito entre muitos outros, reconhecidos no Brasil e exterior. 
 
A Origem do povo afro-brasileiro	
  
Ao longo de quatro séculos (de 1530 a 1880), mercadores europeus rumavam à África onde se 
negociavam negros e os destinavam para o território brasileiro, por serem submetidos à condição 
escravos, assim assimilando os valores da cultura dominante, sem abandonar os fundamentos das 
culturas de suas origens. 
Estes  negros  eram  trazidos  para,  na  grande  maioria,  servirem  nas  lavouras,  garimpos  e 
serviços braçais. 
Segundo Darcy Ribeiro (1995), a cultura africana trazida ao Brasil se distingue em três 
grandes grupos étnicos. O primeiro desses grupos nos trouxe a cultura sudanesa das tribos Yorubás, 
Dahomey, Fanti-Ashanti, Gâmbia, Serra Leoa, Costa Malagueta e Costa do Marfim; o segundo 
grupo que é de tribos do norte da Nigéria como Peuhl, Mandinga e os Haussa, que trouxeram a 
cultura islamizada; e o terceiro grupo, o Congo-angolês, das tribos Bantu, Angola e Moçambique.  
Cada um destes grupos tinha sua sociedade completamente desenvolvida com uma cultura 
rica e distinta, e muitos já dominavam a metalurgia e faziam escravos, e todos eles tinham seus 
processos de tecelagem.  
No  início  da  formação  da  cultura  brasileira,  a  contribuição  cultural  do  negro  foi  pouco 
relevante, sendo muito mais passiva que ativa. Darcy Ribeiro (1995) explica que estes negros 
produziam  tecidos,  roupas,  objetos  de  cerâmica,  praticavam  agricultura,  criavam  gado, 
domesticavam diversas plantas e dominavam técnicas da metalurgia. Existia um valor sagrado ao 
ferro, celebravam sua potência divina. Nas aldeias, possuíam casas e campos, sendo senhores 
proprietários da terra, da água, das florestas e dos sertões com todos os animais em que neles 
viviam e em alguns casos eles mantinham inimigos derrotados como escravos. 
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Preservando a herança cultural africana os escravos conservaram planos ideológicos próprios 
como  crenças  religiosas,  práticas  de  magias,  reminiscências  rítmicas,  musicais,  culinárias  e 
associada às culturas indígenas juntamente com as culturas dos portugueses, assim iniciou-se a 
cultura brasileira.  
 
A influência da cultura negra na formação da cultura brasileira	
  
O negro escravo, capturado na África, passou a ser a massa trabalhadora durante o período 
colonial e imperial no Brasil, em decorrência da demanda de mão de obra nas fazendas açucareiras, 
cafezais e nas minas de ouro. Mas também havia os que viviam nas cidades, que tinham funções 
domésticas,  como  carpinteiros,  pedreiros,  construtores  de  móveis  e  carruagens,  joalheiros, 
sapateiros, barbeiros, ferreiros entre muitas outras funções, pois os portugueses que aqui moravam 
obtinham uma enorme rejeição por qualquer que fosse o trabalho manual, assim sendo, quando um 
português pobre conseguia um pouco a mais de dinheiro a primeira coisa que este fazia era comprar 
um escravo, para que fizesse todos os serviços possíveis para ele. E também através deste fato 
temos a reflexão de que os negros escravos foram a base para a desenvolvimento de nosso país 
neste período.  
Os negros que discordavam da condição de escravo e rebelavam-se contra seus feitores e 
buscavam a fuga. Quando bem sucedidos na fuga organizavam-se em comunidades denominadas 
Quilombos, em geral, escondidas em áreas de difícil acesso, onde pudessem se sentir realmente 
livres. 
Nos quilombos, os negros relembravam suas origens africanas, além de juntamente incorporar 
elementos da cultura indígena e da cultura branca, dando origem a novas expressões culturais. 
Ainda hoje existem muitas comunidades remanescentes de quilombos, onde pode-se constatar a 
cultura negra ancestral preservada.  
O catolicismo para o negro foi uma forma de se aproximar do ideal do senhor, conquistando 
seu prestígio e confiança. Mas, por outro lado, se formou diversas irmandades religiosas negras, 
impondo resistência cultural e étnica do grupo negro, muitas dessas arrecadavam dinheiro dos 
negros que conseguiam fazer trabalhos extras para comprar a alforria de seus membros. 
Os negros não tinham a liberdade de cultuarem seus ancestrais e orixás, tendo que esconder 
seus orixás por trás de santos católicos, assim fingindo que aceitaram os valores e costumes dos 
brancos, desta forma eram tratados melhor, sofrendo castigos menos violentos. Pois a principal 
“desculpa” para a escravização dos negros e indígenas era que como eles tinham hábitos diferentes, 
cultuavam a outros deuses e não reconheciam a Deus como o Criador de todas as coisas, seriam eles 
criaturas comparadas a animais, daí a facilidade na sociedade aceitar a relação de propriedade dos 
portugueses com os negros. 
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A cultura negra, juntamente com a indígena e a branca, se reuniu formando características e 
rituais próprios, dando origem ao Candomblé e a Umbanda.  
E destes cultos vem a maior riqueza cultural afro-brasileira pois neste panteão cada orixá 
corresponde a um elemento da natureza, tem sua própria história, hábitos que são muito comuns aos 
humanos e tem suas vaidades, vestindo-se de maneira distinta preferindo por determinada cor e 
cada uma destas características vem carregada de significados, a exemplo de Yemanjá que segundo 
alguns corresponde a Nossa Senhora Aparecida, é a rainha do mar, veste-se de um vestido longo 
tem  os  cabelos  lisos  e  prefere  as  cores  azul  e  branco,  a  partir  daí  podemos  imaginar  seu 
temperamento e costumes e sendo assim cada orixá tem uma veste apropriada. 
 
O afro-brasileiro  
Darcy Ribeiro (2003) nos lembra que o negro não teve atuação relevante na formação da 
cultura brasileira no período colonial, pois viera para o Brasil cativo na condição de mão de obra. 
A princípio, o negro teve dificuldade de se organizar como uma única etnia pois, segundo 
Darcy Ribeiro (2003), eles eram capturados em diversas regiões e de diversas etnias africanas 
diferentes, onde cada grupo tinha uma língua e cultura diferente e os escravistas usavam isso para 
dificultar sua socialização, Darcy Ribeiro (2003, p. 115) nos trás um depoimento interessante do 
conde de Arcos:  
[...] A diversidade lingüística e cultural dos contingentes negros introduzidos no Brasil, e 
essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África e à política de evitar a concentração 
de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos 
navios negreiros, impediu a formação de núcleos solidários que retivessem o patrimônio 
cultural africano. o conde de Arcos.  
Darcy Ribeiro (2003, p. 115) cita que, devido a essa dificuldade de socializarem-se, os negros 
se viram obrigados aceitar a aculturação dos seus senhores. 
[...] ao lado de outros escravos, seus iguais na cor e na condição servil, mas diferentes na 
língua, na identificação tribal e freqüentemente hostis pelos referidos conflitos de origem, 
os negros foram compelidos a incorporar-se passivamente no universo cultural da nova 
sociedade.  
A partir desta citação entende-se que o negro se viu obrigado a homogeneizar seus costumes 
para que pudesse se comunicar, entender e organizar para assim tentar reverter sua condição cativa. 
Darcy Ribeiro (2003) segue afirmando que assim conseguiram aportuguesar o Brasil, além de 
influenciar de muitas maneiras certas regiões onde se concentravam, “uma flagrante feição africana 
na cor da pele, nos grossos lábios e nos narigões fornidos, bem como na cadência e ritmos e nos 
sentimentos especiais de cor e gosto”, neste trecho refere-se especialmente a regiões do nordeste e 
do centro do país.  
Uma prática que ajudou a desgastar a cultura dos negros escravos, no período do Brasil 
colônia, foi sua relação com a produção, visto que a princípio eram utilizados nas minas e nos 
engenhos de cana-de-açúcar, atividades diferentes as que exerciam nas suas terras natais, assim 
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eram incorporados a um universo novo e a cultura africana ia sendo erradicada, em partes visto que 
o negro buscava formas de preservar algo de sua cultura ancestral, e foram mais bem sucedidos em 
preservar, adaptando, suas crenças, religiões e práticas mágicas, além de seus ritmos musicais, 
saberes e gostos culinários. 
Ou seja, neste período o negro não podia produzir nada além dos produtos exigidos pelos seus 
senhores, que se travava basicamente açúcar, farinha e, como mineiros, extrair ouro e pedras 
preciosas,  sem  falar  dos  trabalhos  braçais  das  propriedades,  sendo  assim  não  poderiam  ter 
produzido roupas ou moda pra si, e se vestiam com trapos fornecidos pelos seus senhores. 
Ao  longo  dos  séculos,  com  os  negros  adaptando-se  a  cultura  aportuguesada  brasileira, 
passaram a desempenhar funções na casa grande, e assim estarem, de certa maneira, mais próximos 
dos seus senhores e isso levou esses senhores a vestir esses negros com roupas “melhores”, mas 
roupas conforme o costume das suas senhoras, a moda branca dominante. 
Com essa aproximação entre senhores e escravas a prática de estupro com as mesmas passou 
a ser ainda mais comum, visto que as negras eram obrigadas a entregar-se sobre pena de severos 
castigos em caso de negativa e o risco de terríveis castigos e suas senhoras se descobertas. Como 
fruto de abomináveis atos, as escravas deram a luz a mestiços os mulatos. Os mulatos nasciam na 
condição de escravo, mas em alguns casos recebiam o privilégio de servir na casa-grande em 
serviços mais brandos comparados a lida nas plantações, engenhos ou minas. 
Com passar das décadas alguns privilégios eram oferecidos aos negros, como a concessão de 
escravas para satisfação sexual de grupos de . 
Séculos depois, o Brasil passou por um processo de desenvolvimento sócio-cultural, além 
disto, a escravidão passou a ser mal vista na comunidade internacional e vários fatores vieram a 
dificultar o sistema escravista brasileiro, tais como: dificuldade em adquirir escravos trazidos da 
África, pois o tráfico de escravos passou a ser ilegal e passou a ser combatido por outros países; 
crescentes revoltas dos escravos, que agora se encontravam mais organizados; grande ocorrência de 
fugas para os muitos quilombos existentes no final do século XVIII. 
Paralelo a estes fatos, o Brasil passa por uma reforma política, onde deixa de ser colônia e 
passa a ser império, e começaram a surgirem leis que vieram a favorecer os escravos, permitindo 
que tivessem a possibilidade de comprar sua alforria, seguida pela lei do ventre livre que favorecia 
aos filhos de escravos nascidos a partir da data de sua sansão e a lei dos sexagenários que favorecia 
aos negros em idade superior a 65 anos. 
O mais importante a ser percebido nos fatos acima citados é a maneira que a vida no Brasil 
mudara, não esquecendo que mesmo o negro não recebendo o devido respeito e reconhecimento, 
naquela época, como cidadão brasileiro, mas com a possibilidade de alforria, a vida do mesmo 
mudou. 
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Passando a existir principalmente nas regiões urbanas os escravos de ganho, que tinham 
direito de receber uma parte da remuneração dos trabalhos que executavam a mando do seu senhor. 
Os escravos de ganho conseguiam comprar roupas melhores e em alguns casos alguma jóia, mas 
como todo escravo brasileiro era proibido de utilizar sapatos.  
O afro-brasileiro é uma etnia que passou por muitas transformações. Se originou de diversas 
etnias retiradas das suas terras natais, subjugadas e trazidas cativas ao Brasil. Então, essas etnias 
passam a aprender a cultura de seus algozes para unirem-se e, nesse momento, nasce o afro-
brasileiro, que durante séculos sobrevive a um alto preço de sangue, suor e lágrimas. O afro-
brasileiro se rebela e após anos de lutas conseguem a libertação. Quando libertos, sofrem um novo 
choque, pois mesmo livres não são respeitados, visto que o racismo está enraizado na cultura 
brasileira da época, perdem espaço nas lavouras para imigrantes. 
Sendo obrigados, mais uma vez, a se adaptar e se reinventar, e seguem assim até chegarem ao 
que são hoje, tendo uma vida digna e condições justas para conviver e ser tratado como igual por 
qualquer brasileiro. 
Não entenda esta afirmação como se o racismo e o preconceito não existam mais, mas 
observe que, hoje, existem muitas maneiras de superá-lo e combatê-lo. 
Existe esta condição mais privilegiada que outrora, o afro-brasileiro tem condições de buscar 
mais efetivamente suas relações ancestrais, firmando-se como etnia e neste esforço, ou desejo, de 
reforçar sua personalidade oferecem-se neste guia, elementos para o desenvolvimento de uma moda 
étnica afro-brasileira. 
 
Moda 
Desde que o ser humano iniciou o uso de vestimentas para cobrir sua nudez, iniciou-se 
também a moda, transformando-se em uma forma especializada de ornamentação para o corpo, 
sendo tudo o que é lançado ou usado naquele momento.  
Segundo  o  livro  de  Sue  Jenkyn  Jones  (2005),  houve  um  tempo  em  que  o  estudo  das 
vestimentas  era  reconhecido  como  parte  da  antropologia.  Exploradores  e  viajantes  foram  os 
primeiros  a  documentar  e  a  comentar  os  ornamentos  corporais  e  os  estilos  de  se  vestir  que 
encontravam ao redor do mundo. Assim voltando de suas viagens com desenhos e exemplos de 
vestimentas, ampliando o desejo não só de artefatos em si, mas também por um conjunto deles. 
Atualmente,  o  foco  está  no  uso  das  roupas  que  vem  de  manifestação  e  passagem  de 
inquietações sociais e de mudanças culturais, a moda obtém como fonte formas e materiais do 
passado que inspiram e complementam novos estilos.  
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A  grande  maioria  dos  consumidores  normalmente  escolhe  suas  roupas  tendo  em  mente 
questões como: o que está na moda, o conforto, a durabilidade, a praticidade e a valorização o seu 
tipo físico. A composição do vestuário além da roupa, também conta com os adornos. 
Os adornos possibilitam enriquecer atrativos físicos, afirmar a criatividade e individualidade 
ou  sinalizar  nossa  associação  ou  posição  dentro  de  um  grupo  ou  cultura.  As  pessoas  usam 
acessórios como jóias, bijuterias, calçados, maquiagens, penteados e cortes de cabelo para afirmar 
sua identidade dentro de uma sociedade.  
As pessoas também podem usar as roupas para diferenciar e reconhecer profissões, filiações 
religiosas, níveis sociais e estilos de vida. Uniformes são expressões de autoridade e fazem com que 
o usuário se destaque na multidão. Um bom exemplo é o traje recatado de uma freira, que identifica 
sua fé, ou o uniforme de funcionários de determinada empresa, pois a mesma peça pode ser 
produzida em série alterando cores ou pequenos detalhes. 
A sociedade exige adequação no vestir-se, mas cada pessoa tem seu estilo próprio sendo este 
clássico, básico, romântico, contemporâneo entre outros, fazendo com que suas roupas, acessórios e 
maquiagem se transformem em um ícone que revele seu gosto, inibindo pontos fracos e valorizando 
pontos fortes.  
Crenças políticas, sociais e éticas podem obter grande impacto sobre a moda. As pessoas se 
vestem de modo semelhante para indicarem que pertencem a um determinado grupo. Aquelas que 
não se moldam aos estilos aceitos são consideradas divergentes ou inconfiáveis, e em último caso 
são  excluídas.  Inversamente,  a  vítima  da  moda  que  segue  as  regras  correntes  de  estilo  sem 
sensibilidade, é percebida como alguém sem personalidade nem gosto, tentando desesperadamente 
pertencer a um grupo.  
Em alguns casos as roupas são afirmações de uma rebelião contra a sociedade e a própria 
moda. Embora os punks não tenham um uniforme, podem ser reconhecidos por uma gama de signos 
identificadores: roupas rasgadas, coleiras, algemas, alfinetes, penteados extravagantes entre outros 
acessórios. Esse código de vestir foi desenvolvido pela estilista britânica Vivienne Westwood, como 
uma provocação a moda convencional e bem-comportada da segunda metade dos anos 1970. 
As peças de roupas precisam ser adequadas ao estilo de vida de seus usuários, pois estilos 
usados em subúrbios são significativamente diferentes dos usados em áreas empresariais de grandes 
metrópoles, não sendo necessariamente menos modernos ou fora de moda. Tendências podem ter 
significados para determinado grupo etário ou círculo social, podendo não se adequar a outros. 
Segundo  Jones  (2005),  muitos  comerciantes  varejistas  trabalham  de  perto  e  cotidianamente 
garantindo  e  fornecendo  tipos  de  roupas  que  seus  clientes  solicitam,  obtendo  uma  leitura  de 
condições  socioeconômicas  locais,  identificando  nichos  de  mercado,  assim  oferecendo  uma 
mercadoria adequada.  
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