Mariane Tojeira Cara Almeida A IMAGEM DAS ADOLESCENTES NA WEB

249 Pages·2013·5.3 MB·Portuguese

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Mariane Tojeira Cara Almeida

A IMAGEM DAS ADOLESCENTES NA WEB:

A BUSCA PELA CORPOREIDADE ESPETACULAR

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de Doutora em
Comunicação e Semiótica sob orientação
da Profa. Dra. Maria Lucia Santaella Braga.
Área de concentração: Signo e significação

nas mídias

SÃO PAULO

2013
BANCA EXAMINADORA

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Agradecimentos

Dedico estas páginas para citar, não no sentido acadêmico, quando referenciamos
pessoas por suas proximidades conceituais, mas pelos laços emocionais e vínculos
profissionais desenvolvidos ao longo do tempo com pessoas muito especiais, que com sua
solidariedade, auxiliaram diretamente na conclusão da Tese.

Primeiramente, o reconhecimento aos meus pilares:
Fabio A. de Almeida, com seu amor incondicional e companheirismo inspirador. Muito
obrigada pela contribuição nas tantas tecnicidades deste projeto e motivação ininterrupta;
Sofia Cara Almeida, por sua bondade e acuidade e Elisa Cara Almeida, por sua vitalidade
e astúcia;
Tereza E. de Souza, pela manutenção das tarefas da casa e pelo cuidado com as crianças;
Clóvis Cara Mansano, pelos incentivos constantes e dedicação administrativa;
Isabel M. C. Mansano, por ensinar que a vida é um universo de possibilidades ao alcance;
Beatriz Cara Nóbrega, por sua insistência e encorajamento;
Daniel Tojeira Cara, por seu exemplo e conselhos;
Iracema Nascimento Cara, pelas conversas e dicas bibliográficas.

Reservo uma especial gratidão à Lucia Santaella, pela prontidão e disposição em
abraçar o projeto, sempre com uma palavra de incentivo. À você, Valquíria da
comunicação, minha admiração e respeito.

Meus sinceros agradecimentos também aos colaboradores:
Dulcília Lucia Oliveira Silva, pela orientação apaixonada na graduação e pelo carinho na
revisão desta tese;
Leda Tenório da Motta, por seu refinamento literário, apoio constante e disponibilidade;
Rolf Nohr, pelas oportunidades na Hochschule für Bildende Künste Braunschweig;
Patrícia Bertachinni Sala, pelo generoso apoio na tradução;
Cris Bedendo, pelo acompanhamento e suporte irrestrito;
Cida Bueno e Edna Conti, pela acessibilidade e resolução das mais diversas dúvidas;
Rubia Gravito, por sua enorme colaboração por meio do empréstimo de livros;
Patrícia Sant´Anna, pelo compartilhamento de experiências;
Rose de Melo Rocha, pela cortesia e indicação de bibliografias sobre juventude;
Maria Collier de Mendonça, por me apresentar alguns títulos da psicanálise;
Helena Katz e Arlindo Machado, pelas aulas esclarecedoras no COS-PUC;
Aos coordenadores das escolas participantes, por responderem às solicitações da
pesquisa;
Marina Espin e equipe da Revista Yes Teen, pela disponibilização de espaço para a
pesquisa nas enquetes do site;
Marcos do comitê de ética da PUC-SP, pela atenção dedicada ao processo na Plataforma
Brasil;
Ciceli Gravito, pela coleta e tabulação (impecável) dos dados;
Às garotas que disponibilizaram voluntariamente suas imagens para a análise semiótica;
Raquel A. de Almeida, Christyan Lucy, Ana Paula A. Oliveira e Marcia Maia, pela ajuda
na licença-maternidade;
E aos funcionários das bibliotecas do ITA, UNIVAP, HBK Braunschweig, TU
Braunschweig e PUC-SP, pelo acolhimento nas tantas horas de pesquisa.

Obrigada igualmente àqueles que me inspiraram com suas atitudes e
ensinamentos práticos:
Beth Brait, pelo primeiro contato com a semiótica;
Kazuyo Yamada, por seu amor ao ensino e memoráveis aulas;
Marco Andreoni, pelas oportunidades profissionais;
Eliana Amorim, pela iniciação científica;
Jason Brito, por suas ideias fora do cubo;
Suzana Avellar, pela cordialidade e por me apresentar o COS-PUC;
Sergio Bairon, pelas aulas sobre metodologia científica;
Sheila Gies, pelas tantas horas de conversa e por sua companhia agradável;
Carol Garcia, por seu estilo único e inspirador de pesquisar Moda;
Kathia Castilho, por seu empreendedorismo e empenho em prol da área de Moda;
Bárbara Camargo, Robson Mikio e José Luís Ovando, pelo exemplo de profissionalismo;
Patrícia Fanaya, Adriano Messias, Maria Ribeiro e os demais colegas do Sociotramas -
grupo de pesquisa multitemático sobre redes digitais, pelas conversas produtivas e
reuniões agradáveis.

Finalmente, agradeço à FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo, pelo financiamento deste projeto em forma de bolsa de doutorado, processo
2010/07193.

À Deus, existência sutil e marcante.
Resumo

Desde meados do século XX, as adolescentes utilizam os recursos da
comunicação interpessoal mediada com fins de sociabilidade, tendo como
primeiro meio o telefone fixo, que perdurou até o final dos anos 1990. No início
do século XXI, com o advento das redes sociais, a invisibilidade corporal da
telefonia fixa foi suplantada pela extra-visibilidade das fotografias digitais
postadas em páginas pessoais. Trata-se de imagens detalhadamente trabalhadas
para apresentarem uma corporeidade espetacular bidimensionalizada. Este se
constitui no objeto de estudo desta pesquisa que tem por objetivo analisar, sob um
ponto de vista semiótico, essas imagens que, longe de advir da simples captação
do corpo anatomofisiológico, apresentam, na realidade, o Ideal de Eu emulado nas
imagens midiáticas. A seleção do corpus de fotos voltou-se para as imagens de
adolescentes, porque esses são sujeitos que vivenciam uma fase biológica
peculiar, num momento em que o corpo passa por modificações próprias da
puberdade, rendendo-se às interferências da edição de imagem, seja na fase de pré
produção, produção ou pós produção. O arcabouço conceitual passa
primeiramente pelo entendimento da juventude enquanto classe inventada no
século XIX, destacando os principais teóricos latino-americanos que se debruçam
sobre o tema e reforçam a relevância das mídias para os recortes temporais
juvenis a partir da década de 1950. No que tange às imagens fotográficas,
trazemos à luz os textos de Vilém Flusser, Roland Barthes e Lucia Santaella. Por
tratarmos de imagens corporais evidenciadas pelo ato fotográfico digital, foi
importante considerar o conceito de narcisismo, de Sigmund Freud, o estádio do
espelho de Jacques Lacan e a autoconstituição do sujeito de Michel Foucault.
Apoiados nesse referencial teórico, a pesquisa seguiu para a aplicação empírica.
Esta se baseou em uma metodologia composta de um levantamento quantitativo
analisado estatisticamente, seguido de duas análises qualitativas: a primeira
aborda o conteúdo das frases escritas pelas adolescentes a respeito do ato de
edição de imagens, a segunda apresenta um conjunto de fotografias de usuárias
das redes sociais, estudadas pelo viés da semiótica peirciana. Concluiu-se disso
que as adolescentes, ao postarem seus autorretratos na rede, tornam-se déspotas de
si, habilitando e desabilitando sua própria representação com a finalidade de
receberem a aprovação dos amigos nos comentários e nos atos de "curtir".
Comprovou-se também que a corporeidade espetacular é predominantemente a
produção visual de sujeitos objetificados em imagens alienadas, prontas para
satisfazer o olhar do outro.

Palavras-chave: corporeidade espetacular, adolescentes, redes sociais, fotografia
digital, comunicação mediada.
Abstract

Since the beginning of the twentieth century, the teenagers use interpersonal
communication resources mediated for sociability purposes, having as first mean
the wire line telephone, which lasted until the end of the 1990’s. In the early 21th
century, with the advent of social networking, the body invisibility of the wire line
telephone was supplanted by extra-visibility of digital photos posted on personal
pages. These are images worked in details in order to present spectacular bi-
dimensionalized corporeality. This is the object of this research that aims to
analyze, from a semiotic point of view, these images that, far from simple capture
of the anatomic-physiologic body arise, present, in fact, the Ideal I emulated in
media images. The selection of the corpus of pictures focused on images of
teenagers, because these are subjects who experience a peculiar biological stage,
at a time when the body undergoes changes of puberty, surrendering to image
editing, either it in stage of pre-production, production, or post-production. The
conceptual frameworks first by understanding youth passes while class invented
in the 19th century, highlighting the main Latin American theorists that study on
the subject and reinforce the relevance of the media to the juvenile temporal
clippings from the early 1950. Regarding the photographic images, bring to light
the texts of Vilem Flusser, Roland Barthes and Lucia Santaella. By handling
bodily images highlighted by digital photo, Act was important to consider the
Sigmund Freud´s concept of narcissism, Jacques Lacan's mirror stage and the self-
constitution of the subject by Michel Foucault. Supported in this theoretical
framework, the research followed to the empirical application. It is based on a
methodology composed by a quantitative survey examined statistically, followed
by two qualitative analysis: the first discusses the content of sentences written by
teens about the Act of editing images, and the second presents a set of
photographs of users of social networks, studied by the bias of peircian semiotics.
From this research it was concluded that when adolescent girls post their self-
portraits in the network, they become despots about themselves, enabling and
disabling the signs that they represent in order to receive the approval of friends
by the comments and by acts of "enjoy". It proves that the spectacular corporeality
is predominantly visual production of the objectified subject on disposed images,
ready to meet the gaze of the other.

Keywords: spectacular corporeality, teenagers, social networking, digital
photography, mediated communication.
Sumário
Alinhavos ................................................................................................................ 1 
Capítulo 1 Juventude: invenção instigante .......................................................... 9 
1.1 O conceito de Moratória .............................................................................. 12 
1.2 Breve Histórico do Estudo da Juventude nos EUA e Europa ...................... 14 
1.3 Considerações sobre o estudo da juventude na América Latina .................. 18 
1.4 O Zeitgeist de cada vivência juvenil: Gerações e Coortes ........................... 21 
1.4.1 Gerações ................................................................................................ 22 
1.4.2 Coortes .................................................................................................. 26 
1.5 O Zeitgeist pelos meandros das mídias ........................................................ 27 
Capítulo 2 Da invisibilidade do telefone à superexposição imagética das redes
............................................................................................................................... 32 
2.1 A invisibilidade do telefone fixo e suas representações idealizadas ........... 33 
2.2 E eis que as redes viabilizaram a imagem ................................................... 40 
2.3 A ubiquidade da comunicação e a visibilidade corporal dos smartphones .. 43 
Capítulo 3 Tipologia das imagens compartilhadas ........................................... 49 
3.1 Os quatro paradigmas da imagem ................................................................ 50 
3.1.1. Paradigma Pré Fotográfico .................................................................. 51 
3.1.2. Paradigma Fotográfico ......................................................................... 51 
3.1.3. Paradigma Pós Fotográfico .................................................................. 52 
3.1.4. Paradigma Híbrido ............................................................................... 53 
3.2 A questão do dispositivo .............................................................................. 54 
3.3 Entre a referencialidade do ato fotográfico e a manipulação da pós produção
........................................................................................................................... 56 
3.3.1 A contribuição de C. S. Peirce .............................................................. 56 
3.3.2 A contribuição Barthesiana ................................................................... 58 
3.4 As intencionalidades da Pré-Produção-Pós ................................................. 60 
3.5 Questões sobre os limites das edições fotográficas ..................................... 63 
3.6 A questão do autorretrato amador ................................................................ 67 
Capítulo 4 Revisão bibliográfica e contribuições do presente estudo ............. 72 
4.1 Os dez trabalhos selecionados ..................................................................... 73 
4.2 Quadro Comparativo .................................................................................... 86 
4.3 Delineamento das Contribuições do Projeto "A imagem das adolescentes na
web: a busca pela corporeidade espetacular" ................................................... 87 
Capítulo 5 Metodologia da pesquisa quantitativa ............................................ 89 
5.1 Sede da Pesquisa .......................................................................................... 90 
5.2 Motivações que nos levaram ao Ensino Médio ........................................... 91 
5.3 Objetivos da Pesquisa Quantitativa ............................................................. 93 
5.4 Hipóteses ...................................................................................................... 93 
5.5 Definição da Amostra .................................................................................. 93 
5.6 Formulação do Questionário ........................................................................ 95 
5.7 Técnica de Coleta de Dados ......................................................................... 96
5.8 Métodos Estatísticos Utilizados para verificação de hipóteses ................... 96 
5.8.1 ANOVA ................................................................................................ 97 
5.8.2 Tabelas de Contingência e o teste de Resíduo Padronizado de Pearson
....................................................................................................................... 98 
Capítulo 6 Sala de aula / Cozinha de dados Resultados da pesquisa ............ 100 
6.1 Intensidade de Uso ..................................................................................... 101 
6.1.1 Análise de Variância dos recursos mais relevantes ............................ 104 
6.1.2 Fator Gênero ....................................................................................... 105 
6.1.3 Fator Idade .......................................................................................... 107 
6.1.4 Intensidade de Usos - Conclusões ...................................................... 107 
6.2 Projeções Sociais ....................................................................................... 108 
6.2.1 Tabelas de Contingência e Resíduos Padronizados de Pearson das
atividades mais relevantes ........................................................................... 111 
6.2.2 Sociabilidade ....................................................................................... 114 
6.2.3 Processos de Autoestilização .............................................................. 116 
6.2.4 Projeções Sociais: Conclusões ............................................................ 118 
Capítulo 7 To edit or not to edit? A opinião das adolescentes ......................... 121 
7.1 Pesquisa nas Escolas .................................................................................. 122 
7.2 Enquete no site da Revista Yes Teen .......................................................... 125 
7.3 Com a palavra, as adolescentes .................................................................. 128 
7.3.1 Fotografias Autorizadas e Desautorizadas .......................................... 128 
7.3.2 Autoestima em questão ....................................................................... 131 
7.3.3 Imagem corporal dominante ............................................................... 132 
7.3.4 Efeitos contra os defeitos .................................................................... 133 
7.3.5 O (nada misterioso) desaparecimento das espinhas ............................ 134 
7.3.6 Redes de aprovação social .................................................................. 136 
7.3.7 Eis a luz! ............................................................................................. 137 
Capítulo 8 Estilização ubíqua / Imagerie de avessos ...................................... 139 
8.1 Panorama da Estilização/Autoconstituição ................................................ 141 
8.2 Cultura do Narcisismo ou Narcisismo Estrutural? .................................... 145 
8.3 Imagerie de avessos ................................................................................... 150 
8.3.1 Metodologia da Análise ...................................................................... 153 
8.3.2 Strike a Pose! ...................................................................................... 154 
8.3.3 Moldura em primeiro plano ................................................................ 156 
8.3.4 Fragmentariedades .............................................................................. 160 
8.3.5 Insinuações .......................................................................................... 163 
8.3.6 Replicâncias ........................................................................................ 167 
8.3.7 A garota da capa ................................................................................. 170 
Capítulo 9 A Imagem Especular como Corporeidade Espetacular .............. 176 
9.1 Definição de Imagem Especular em Jacques Lacan .................................. 178 
9.2 Definição de Corporeidade em Maurice Merleau-Ponty ........................... 182 
9.3 A Sociedade do Espetáculo em Guy Debord ............................................. 182 
9.4 Entre o Voyeurismo e o Exibicionismo - Janela Indiscreta ....................... 183 
9.5 A Imagem Especular como Corporeidade Espetacular ............................. 185 
9.5.1 Corporeidade Espetacular Primária/Tridimensional ........................... 187
9.5.2 Corporeidade Espetacular Secundária/Bidimensional ........................ 189 
9.6 A corporeidade espetacular das fotografias digitais .................................. 192 
9.7 As andanças e desandanças da edição de imagens - Excessos do trabalho no
signo ................................................................................................................. 197 
Conclusão / Botão de Retrocesso ...................................................................... 203 
Referências Bibliográficas ................................................................................. 211 
Anexos ................................................................................................................. 224