Table Of ContentLauraceae nomunicípio de Corumbá, Mato Grosso do Sul,
Brasil
Flávio Macedo Alves' & Iria Hiromi Ishii1
(Lauraceae no município de Corumbá, Mato Grosso do Sul, Brasil) O presente estudo teve por finalidade
estudarasespéciesdafamíliaLauraceaenomunicípiodeCorumbá-MS,baseadoprincipalmenteemcoleções
botânicas depositadas em herbários. Foram também realizadas coletas em várias regiões do município,
principalmente na morraria SantaCruz. São registradas parao município 10espécies subordinadas acinco
gêneros,asaber:Aioueatrinervis.Anibaheringerii,Cassythafiliformis,Nectandraamazonum.N. assolara
N. gardneri, N. hihua, N.psammophila, Ocoteadiospyrifolia e O. velloziana.Aruba heringeriiécitadapela
primeira vez para o Mato Grosso do Sul. Chaves para a identificação, descrições e ilustrações dasespécies
são apresentadas.
Palavras-chave:Taxonomia,flora.Pantanal,morfologia.
Abstract
(LauraceaeinthemunicipalityofCorumbá,MatoGrossodoSul,Brazil) Thepresentstudywascanriedoutin
Corumbá-MS, aiming to make a survey ofthe occurrence ofthe species ofthe fam.ly based on herbanum
specimens.FurthercollectionsweremadealsoSantaCruzhill.Inthissurvey 10spec.esbelong.ngto5genera
Nw.ergeariddneenrtii,fiNed:hAiihouau,eaN.trpisnearmvmiso,phAinliab,aOhecroitnegaerdiiio,sCpaysrsiyftolhiaafialnidfoOr.mivse,llNoezcitaanan.drAamabmaazheorniungme,riNi.cisisrse,pfolrotread
for the first time for Mato Grosso do Sul, Brazil. Identifications keys, descnpt.ons and illustrat.ons ofthe
species are presented.
Keywords:Taxonomy,flora.Pantanal,morphology.
Introdução diversidadenasflorestaspluviaisetambémnas
OnomeLauraceaeéoriginadodogênero restingas e no cerrado (Barroso 2002).
Laurits L., que em latim significa louro. Os inventários botânicos têm revelado
Contudo, a literatura indica que esse nome é que Lauraceae está em termos florísticos e
oriundo de laus — louvor, em referência às econômicos,entreasmaisimportantesfamílias
coroas de louro que eram oferecidas aos de angiospermas, mas, infelizmente, a
heróis em louvor a atos de bravura (Alves & identificação de suas espécies é tarefa difícil
de Paula 1997). (Baitello 2001). Porseruma família de difícil
Comum em regiões tropicais e identificação e aliado à pouca citação acerca
subtropicais, a família é especialmente dafamílianaliteraturalocal, fez-senecessário
diversificada no sudeste da Ásia e norte da este estudo, a fim de subsidiar estudos
América do Sul (Judd et al. 1999), ou seja, é florísticos, fitossociológicos, ecológicos, de
em conservação e recuperação de áreas
pantropieal com poucos representantes
regiões temperadas (Vicentini et al. 1999). degradadas no Pantanal.
Lauraceae é composta por Otrabalhotevecomoobjetivoidentificar,
em descrever as espécies da família Lauraceae
aproximadamente 2500 espécies incluídas
o5c2orgêrneemrocserc(aRodhew2e9rg1ê9n9e3rao)s. eNa9s00Ameéspréicciaess eoscotrurdeanrtessuaemdiCstorriubmubiçáã,oMnaotomuGnriocsíspoiod,obSuelm,
como confeccionar chaves de identificação e
com grande diversidade na América Central
(Vicentini et al. 1999). No Brasil é ilustração para os gêneros e espécies a fim de
representada por 22 gêneros com alta facilitar sua identificação.
™
AB•irUotnliiogvgoeirars.eicdCeaxbd.iedPoFoesedtmearla05l24/d92,o007M69a.0t7Ao0c-eG9ir0to0os,spoaCradamoppSuoublhGr-caaHnçedareot.emMmnSo.1,2CB/r2eanWsi6l-o, tiauracev.y«uBiológSicaseidraiaS@aúcdeeu,c.Duefpmas.rbtramentode
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Alves. F.M. &Ishii, I. H.
Material eMétodos sem estipulas. Inflorescência axilar,
O municípiodeCorumbáestálocalizado raramente terminal, tirsóide, tirsóide-
no estado de Mato Grosso do Sul (17°15’S, paniculada, racemiforme, raramente
20°54’W e 55°10’S, 58°12’W) e grande parte capitulada ou reduzida a uma única flor
desuaárealocaliza-senaplaníciedoPantanal, (Rohwer 1993a). As flores são bissexuadas
uma região alagável com aproximadamente ou unissexuadas com 6 ou 9 tépalas
140.000km2 quechamaaatençãopelabeleza distribuídas em dois, raramente 3 verticilos.
de sua pais,agem e da riqueza de plantas e Estames com anteras de deiscência valvar,
animais silvestres, constituindo uma das biloceladas ou tetraloceladas, dispostos em 4
maioresemaisdiversificadasregiõesalagáveis verticilos (séries I, II, III e IV), a IV série
do mundo (Silva & Junk 1999). É uma área estaminodial ou ausente, podendo ter 3, 6 ou
com características extremamente peculiares 9 estames férteis, acompanhados ou não de
quedefinemumapaisagemprópriaecomplexa estaminódios (Werff 1991). Gineceu com
redehidrográficasujeitaainundaçãoperiódica ováriomediano,supero,unicarpelar,unilocular
(Brasil 1982).Oclimadomunicípioétropical, euniovulado;estiletesimples,terminaleóvulo
megatérmico,com invernos secosechuvas no pêndulo; fruto em geral bacáceo com
verão.Atemperaturamédiaanualéde 25,1 °C, e&xocarpo fino e mesocarpo carnoso (Quinet
com máximas absolutas atingindo 40°C, Andreata 2002).
mínimas próximas a 0°C, umidade relativa Para o município de Corumbá foram
média anual de 76,8% (Soriano 1997) e registradas 10 espécies de Lauraceae,
pere1c.i4p0i0tamçãmom(éCaddiaavaindu-aGlaorscciiala1n9d8o4)e.ntre 1.000 Asunbiobradinhaedarsinagceirnicio,gêCnearsossy:tAhiaouefailtirfionerrmviiss,,
Para a realização do presente estudo Nectandra amazonum, N. cissiflora, N.
foram examinadas as coleções dos herbários gardneri, N. hihua, N. psammophila, Ocotea
CGMS, CH, COR, MBM, SPF, SPSF e UB diospyrifolia e O. velloziana.
(siglas segundo Holmgren et al. 1990). Foi verificadonamaioriadostratamentos
Tam2.bém foram realizadas coletas na morraria sobreafamílianoBrasilqueOcoteaéogênero
Santa Cruz. As formações vegetacionais são mais ric&o em espécies (Vicentini et al. 1999,
classificadas segundo Veloso (1992). Quinet Andreata 2002, Baitello etal. 2003,
Quinet 2005), porém, neste trabalho foi
encontrada maior riqueza de espécies em
Resultados e Discussão
Nectandra (5 spp.). Este resultado foi
Lauraceae Jussieu, Gen. Pl. 89. 1789. observado também por Killeen (1993) que
Arvores ou arbustos, com exceção do identificou um maior número de Nectandra
gênero Cassytha (trepadeira parasita), (9 spp.) em relação à Ocotea (5 spp.) para a
monóicas, dióicas ou ginodióicas. Folhas provínciade SantaCruznaBolívia, vizinhaao
simples, alternas, raro opostas a subopostas, municípiodeCorumbá.
Chave para identificação dos gêneros de Lauraceae do município de Corumbá
1 Trepadeiras parasitas com folhas escamiformes 3. Cassytha
1’.Árvores ou arbustos com folhas desenvolvidas.
Anteras biloceladas.
3. Estames férteis 9
2. Aniba
3'.Estames férteis 6
Aiouea
2’. Anteras tetraloceladas. .... 1.
4. Locelos dispostos em dois pares sobrepostos
4’.Locelos dispostos em linhahorizontal ou em arco .... 5. Ocotea
4. Nectandra
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LauraceaenomunicípiodeCorumbá-MS 181
1. Aiouea Aubl. Hist. Pl. Guiane 1: 310, t. 18.IX.1996,fl.,/. M. Bortoloto& D. P. RodriGguez
120. 1775. 377(COR);campodealtitude, 11.'VII.1992,fl., A.
Árvores ou arbustos monóicos. Folhas Damasceno-Júnioretal. 64(COR).
Aiouea trinervis ocorre no Brasil nas
alternas, peninervadas ou 3-plinervadas.
RegiõesCentro-Oeste, Sudestee Sul (Pedralli
Inflorescência paniculada, axilar. Flores
bissexuadas, pediceladas, hipanto profundo, 1984), sendo freqüente no cerrado do Mato
obcônicoacampanulado,6tépalas,eretasmais Grosso do Sul. No município de Corumbá, a
ou menos iguais, glabras por fora e papilosas espécie é encontrada no campo rupestre na
Morraria do Urucum, possuindo aí porte
por dentro, 6 estames férteis, anteras
biloceladas, série I sempre fértil, séries II e III arbustivo,jánaflorestaestacionaisemidecidual
férteis ouestaminodiais, série IV formadapor da morraria Santa Cruz apresenta porte
estaminódios triangulares, estipitiformes ou arbóreo. Coletada com flores e frutos entre
clavados.Pistilocomovárioovóideougloboso, junhoenovembro.
estigma discóide. Fruto bacáceo, elipsóide,
cúpula de margem inteira. 2.Aniba Aubl. Hist. Pl. Guiane 1: 327. 1775.
Aiouea é um gêneroneotropical e abriga Árvores ou arbustos, monóicos. Folhas
19 espécies (Kubitzki & Renner 1982) sendo alternas,peninervadas. Inflorescênciatirsóide-
14 registradas no Brasil (Quinet 2005). No paniculada,axilarounoápicedosramos.Flores
Mato Grosso do Sul, o gênero é representado bissexuadas,hipantocupuliformeoutubular;6
tépalas eretas, iguais ou sub-iguais; estames
apenas por A. trinervis.
com
férteis 9, anteras biloceladas, séries I, II
1.1 Aiouea trinervis Meisn. in A. DC., Prodr. filetesem geral mais longos e mais largosque
15(1): 83. 1864. Fig. 1 a-d as anteras, locelos apicais-extrorsos, série III
Árvores, arbustos até 7 m alt. Folhas subextrorsos, estaminódios da série IV
alternas, lâmina 3-10 x 2-7 cm, ovada, ápice inconspícuos ou ausentes. Pistilo com ovário
obtuso, base aguda, face adaxial glabra, face elipsóide, incluso no hipanto. Fruto elipsóide,
abaxial com tricomas esparsos, grandes e liso, cúpula lenhosae lenticelada.
adpressos, nervuras laterais de 3-5 pares, Ogêneroédistribuídoquaseinteiramente
3t.riplinérvias, pecíolo 10-25 mm compr., naregiãotropical sul-americana, representado
4g.labrescente, canaliculado. Inflorescência ca. por 41 espécies no neotrópico e 27 no Brasil
20 cm compr., panícula, axilar, glabrescente, (Baitello et al. 2003). No Mato Grosso do
pedúnculo de 4—8 cm compr. Flores 3 mm Sul, o gênero é representado apenas por A.
diâm., glabras, urceoladas, tépalas ovadas, heringerii.
estames férteis 6, bilocelados, séries I e II
férteis,osdaserieIIIestaminodiais,colunares, 2.1AnibaheringeriiVattimo-Gil,Rodriguésia
sérieIVcomestaminódiostriangulares.Pistilo 23-24:253.1961. Fig. 1 e-g
ca. 1,5 mm compr., ovário globoso, glabro, Arvores até 12 m alt. Folhas alternas,
estilete do mesmo tamanho do ovário. Fruto lâmina 4-15 x 2-6 cm, elíptica a ovado-
ca. 10x5 mm,elipsóide,cúpulaca. 7 x5 mm, elíptica, ápice agudoe baseagudaou obtusa,
margem lobada. face adaxial glabra, face abaxial com
Materialexaminado:BRASIL.MATOGROSSODO tricomas esparsos, grandes e adpressos,
SUL:Corumbá,morrodoUrucum, 12.VI.1996,fl.e nervuras laterais de 6-8 pares, nervação
mm
fr.,I.M.Bortolotoetai.328(COR);idem,22.VI.1995, broquidódroma, pecíolo 1-14 compr.,
fl., GA.Damasceno-Júnioretal.840(COR),idem, canaliculado. Inflorescência6-10cmcompr.,
VII.1993,fl.,LC.Baracat s.n.(COR3233);idem, paniculada, subterminal,paucifiora,emgeral
5.DXÍ..11998824,,fl.f,l.C,.AC.CAo.nceCioçnãcoesi.nç.ã(oCO1R5902337()C;OidRe)m;, mais longa que as folhas, com tricomas
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182 Alves. F. M. &Ishii.1. H.
longos, crespos, adpressos, pedúnculo 2-4 I, II e III com filetes delimitados da antera,
cm compr. Flores 2-3 mm diâm., hipanto anterasoval-triangulares,sérieIVformadopor
profundo, tépalas ovadas a elípticas estaminódios triangulares ou glanduliformes.
subiguais, papilosas na face interna; filetes Pistilo cm ovário fusiforme, glabro. Fruto
dos estames das séries I e II iguais, pouco núcula globosa, envolvido pelo hipanto
mais largo que as anteras, anteras acrescente.
quadráticas, ápice acuminado, filetes dos São reconhecidas 17 espécies de
estames da série III da mesma largura que Cassytha para o mundo, sendo a maioria
a anteras, anteras elípticas, ápice obtuso, australiana, poucas africanas e asiáticas e
série IV com estaminódios liguliformes. apenas Cassytha filiformis é cosmopolita
mm
Pistilo ca. 1,6 compr., ovário elipsóide, (Weber 1981). No Mato Grosso do Sul, o
estilete do mesmo tamanho a pouco maior gêneroérepresentadoapenasporestaespécie.
mm
que o ovário. Fruto ca. 2 x 1 compr.,
elípsoide, cúpulaca. 10 x 8 mm, lenticelada, 3.1 Cassythafiliformis L„ Sp. Pl. 1:35-36.
pedicelo muito curto a ausente. 1753. Fig. i h_j
Materialexaminado:BRASIL.MATOGROSSODO Herbácea parasita, ramos filiformes,
SUL: Corumbá, morraria do Acurizal (córrego clorofilados,glabrescentes. Folhasreduzidas
Chapada),23.XI.2001,fl.,G A. Datnasceno-Júnior a escamas diminutas. Inflorescência
etai3025(COR);matadegaleria,23.XI.2001,fl.,G espiciforme. Flores ca. 2 mm diâm., hipanto
A. Damasceno-Júnioretai 3024 (COR); córrego
Chapada,23.XI.2001,fl.,G A. Damasceno-Júnior profundo, tépalas muito desiguais, as
et ai 3025 (COR); idem, 23.XI.2001, fl., G A. externas menores que as internas, 9 estames
Damasceno-Júnior et ai 3026 (CGMS); córrego férteis, anteras biloceladas, estames das
Fundão, fazendaAcurizal, 12.XII.2002, fr., E. A. séries I, II e III com filetes delimitados da
Silveira5(CH). antera, anteras oval-triangulares, série IV
Segundo Baitello et al. (2003) Aniba formado por estaminódios estipitiformes ou
mm
heringerii é restrita aos estados do Mato subtriangulares. Pistilo 1,5 compr.,ovário
Grosso, Goiás, Distrito Federal, Minas globosoaelíptico,glabro,estilete domesmo
Gerais e São Paulo, sendo coletada na tamanho a levemente menor que o ovário.
floresta ombrófila densa aluvial e floresta Fruto 4-7 x 3-5.
estacionai semidecidual no estado de São Materialexaminado:BRASIL.MATOGROSSO
Paulo. Em Corumbá é encontrada na DOSUL.Corumbá,florestasemidecidualdomorro
floresta ombrófila densa aluvial da região SantaCruz, 18.VI.1998,fl.efr.,G A. Fernandeset
da borda oeste do Pantanal, Morraria do al. 7 (COR); Jacadigo, 5.VIII.1986, fl. e fr., R.
Acurizal. Esta é a primeira vez que a Almeida 724 (COR);estradaParque, 10.VI.1986,
fl., R. Almeida I (COR); fazenda Nhumirim,
efCrsoupltéeoctsiaedeaémccidoteamzdeafmlpboarrroea.soeMmatnoovGermosbsroodeocSuolm. Rm1ea4.tgVaoI.s71e92m84i6d,(efCclG.i,dMSuS.a)lT.doVaJsaccoandcieglol,os5.eVtIaIIi.3149486(,CfOr.R.)A;.
Cassytha filiformis é encontrada na
3. Cassytha L., Sp. Pl. 1: 35. 1753. florestaestacionai decidual, savana, floresta
Trepadeira parasita, monóica, com ombrófila densa aluvial e na restinga
pequenos haustórios. Folhas escamiformes. (Baitello et al. 2003). Ocorre em todas as
Inflorescênciaemgeralespiciforme. Floresca. subregiões do Pantanal, na savana
2mm, bissexuadas, sésseis, hipanto profundo, florestada, florestaestacionai semidecidual
urceolado, 6 tépalas muito desiguais, as e na bancada laterítica (Pott & Pott 1994).
externas menores que as internas, 9 estames Coletada com flores em junho a setembro
férteis, anteras biloceladas, estames das séries e com frutos em agosto.
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Lauraceaenomunicípiode Corumbá-MS
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184 Alves. F.M. & Ishii, I. H.
4. Nectandra Rol. ex Rottb., Acta Lit. Univ. antera da série III com 4 locelos extrorsos ou
Hafn. 1:279. 1778. os superiores dispostos lateralmente, série IV
Árvores monóicas. Folhas alternas, formadoporestaminódiosreduzidos,filiformes
raramenteopostasesubopostas,peninervadas. ou ausentes. Ovário globosoaelipsóide, livre.
Inflorescênciageralmentetirsóide-paniculada, Frutoglobosoaelipsóide,cúpulapateliformea
raramenteracemiforme,axilarounoápicedos trompetiforme ou hemisférica.
ramos. Flores bissexuadas, hipanto raso ou Nectandra é um gênero restrito à
profundo,glabrooupiloso,6tépalas,iguaisou América tropical e subtropical, com 114
subiguais e, em geral, densamente papilosas espécies conhecidas até o presente (Rohwer
na face interna; estames férteis 9, dispostos 1993b) sendo 43 registradas para o Brasil
em 3 séries; anteras tetraloceladas, papilosas, (Baitello et al. 2003). Em Corumbá foram
ante2r.as das séries I e II com locelos dispostos identificadas cinco espécies: N. amazonum,
em linh3.a horizontal ou em arco, filetes largos, N. cissiflora, N. gardneri, N. hihua e
bem delimitados das anteras a inconspícuos. N. psammophila.
Chave para identificação das espécies de Nectandra no município de Corumbá
1 Conectivo das anteras das séries I e II com prolongamento igual ou pouco maior que 50% do
c4.omprimento da antera.
Folhas com ambas as faces pubescentes amazonum
1
2’. Folhas com ambas as faces glabrescentes a glabras.
Anteras dos estames das séries I e II pentagonais e estames da série II com ápice não
contraído; estilete do mesmo tamanho a levemente menorque o ovário, cerca de 1/2 do
tamanhodopistilo 3 yy gardneri
3’. Anteras dos estames das séries I e II pentagonais a oval-triangulares e estames da série
II com ápice contraído acima dos locelos formando um acume; estilete menor que o
ovário, cercade 1/6 do tamanho dopistilo 4 hihua
1'. Conectivodas anteras das séries I e II com prolongamento menorque 45% do comprimento da
antera.
Folhas largamente obovadas ou largamente ovadas com face adaxial tomentosa a glabra e
face abaxial tomentosa a glabrescente 2. N. cissiflora
4’. Folhas elípticas a ovado-elípticas com face adaxial glabra e abaxial glabrescente
5. N. psammophila
4.1 Nectandra amazonum Nees, Syst. Laur. interna, conectivo dos estames das séries I
282.1836. Fig. 2 a-c e II com prolongamento igual ou superior a
Árvores até 20 m alt. Folhas alternas, 50% do comprimento da antera, filetes dos
lâmina 8-25 x 2-8 cm, lanceolada a oblonga, estames das séries I e II 1/5 da antera ou
ápice acuminado,baseatenuada, facesabaxial mais curtos a inconspícuos, anteras
e adaxial pubescente, nervuras larerais de 6- pentagonaisaoval-triangulares, série III com
9 pares, nervação semicraspedódroma, sem filetes curtos, anteras subquadráticas, série
mm
domácias, pecíolo 10-21 compr., IV com estaminódios levemente clavados.
pubescente,canaliculado.Inflorescência3-5cm Pistilo ca. 2 mm compr., ovário globoso,
compr., tirsóide-paniculada, axilar, com glabro, estilete levemente menor que o
tricomas grandes, crespos e adpressos, ovário. Frutoca. 15 x 10mm. elíptico,cúpula
pedúnculo 2-5 cm de compr. Flores7-10 mm ca. 13 x 8,5 mm, campanulada, pedicelo ca.
mm
diâm., tépalas desiguais, papilosas na face 6,5 compr.
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Júnior2304',d-f.Solza84\g-i.Smael9)
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(
f, i
186 Alves, F. M. &Ishii, 1. H.
Materialexaminado:BRASIL.MATOGROSSODO truncado, série IV com estaminódios
SUL:GCorumbá,mataciliardorioParaguai,4.V.2001 subclavados; pistiloca. 1 mmcompr., glabro,
fl., A. Damasceno-Júnior 2304 (COR); idem, ovário globoso a elíptico, glabro, estilete
M1a7t.eX.ri2a0l02a,difcl.ioenfarl,.I.BMR.ASBoIrLt.olMotAtToO11G4R0O(SCSORO):.Vila menor que o ovário. Fruto ca. 18 x 10 mm,
BeladaSantaTrindade,rioGuaporé, 19.VIII.1997, elipsóide a globoso, cúpula ca. 2 x 10 mm,
fl., G Hatschbach et ai 67010 (SPF, MBM). trompetiforme, pedicelo ca. 1,7 cm compr.
Cáceres, rio Paraguai, 24.VIII.1999, fr., S. I. Materialexaminado:BRASIL.MATOGROSSODO
Castrillon 38 (CH). SUL:Corumbá,morroSantaCruz,9.XI.1999,íl„S.
Nectandra amazonum é uma espécie S. Solza 84 (COR); idem, 18.VI.1998. fl., G A.
característica da Amazônia brasileira, AFlevrensan&deI.sH.7I(sChOiiR3)3;(iCdOemR,).20.VIL2004, fl., F. M.
alcançandoonordestedasGuianaseosudeste Materialadicional:BRASIL.MATOGROSSODO
da Bolívia. É provavelmente a mais SUL:Rochedo,córregoRochedo,28.VIII.1988,fl.,
característica espécie da floresta inundada ao GA.Damasceno-Júnior1547(CGMS).RioNegro,
longo do rio Amazonas e seus tributários riodoPeixe,26.VIII.1988,fr., V.J.Pottetal.3507
(Rohwer 1993b), encontrada em toda região (CGMS);idem,riodoGarimpo,26.VIII.1988,fr., V.
norte,eestadosdoMatoGrossoeMatoGrosso J. Pottetal. 3555(CGMS).
do Sul. Em Corumbá a espécie foi registrada Nectandra cissiflora é encontrado nas
noPantanalnaflorestaombrófiladensaaluvial Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, na
dorio Paraguai. Coletadacom floresem maio floresta estacionai semidecidual, floresta
e com frutos em outubro. ombrófila densa aluvial e savana florestada
(Baitello et al. 2003). Em Corumbá, é
4.2 Nectandra cissiflora Nees, Syst. Laur. encontrada apenas na floresta estacionai
296. 1836. Fig. 2 d— semidecidual da Morraria Santa Cruz.
m
Árvore até 30 alt. Folhas alternas, Coletada com flores dejunho a setembro.
lâmina 12—20 x 6—12 cm, largamente
oovbaodvaa,daá,pilcaergcaomemntuemelcíuptritcoaaocuulmaermg,amebnatsee 41-535.N1e8c6t4a.ndra gardneri Meisn., ProFdi.g.152(g1—):
atenuada a obtusa, face adaxial tomentosa Arvore ou arbustos até 10 m alt. Folhas
a glabra e face abaxial tomentosa a alternas, lâmina 6,5—19,5 x 3-8,5 cm, ovada,
glabrescente, nervuras larerais de 5-8 pares, largo-ovada,largo-elíptica,ovado-elíptica,raro
semicraspedódroma, sem domácias, pecíolo lanceolada,ápiceacuminado, base levemente
mm
10-25 compr., tricomas densos, curtos atenuada, faceadaxialeabaxialglabrescente,
eretorcidos,canaliculado. Inflorescência7- nervuras laterais de 5—8 pares,
25 cm compr., tirsóide-paniculada, axilar, broquidódroma, domácias nas axilas das
puberulenta,geralmentemaiorouexcedendo nervuras laterais em forma de tufos de
as folhas, pedúnculo 6-10 cm compr. Flores tricomas, pecíolo 5-19 mm compr., com
mm
4-5 diâm.,pubérulas, tépalas subiguais, tricomas curtos, numerosos e adpressos,
elípticas, densamente papilosas na face canaliculado. Inflorescência9-20cmcompr.,
interna e na extremidade; conectivo dos tirsóide-paniculada, axilar, coberto por
estames das séries I e II com prolongamento tricomas grandes, retorcidos e eretos, com
não superior a 45% do comprimento da comprimento igual ou menor que as folhas,
antera, filetes dos estames das séries I e II pedúnculo 3,5-9,2cmcompr. Flores7-9 mm
muito curtos ou inconspícuos, anteras diâm., tépalas elípticas aovadas, densamente
transverso-elípticas, ápice arredondado, papilosas na face interna e na extremidade,
densamentepapilosos nafaceabaxial;filetes conectivo dos estames das séries I e II com
dos estames da série III curtos, anteras prolongamento igual ou superior a 50% do
subquadráticas a obtrapeziformes, ápice comprimento da antera, filetes dos estames
Rodriguésia 58 (I): 179-192. 2007
SciELO/JBRJ
cm 2 13 14 15 16 17 18
..
Lauraceaenomunicípiode Conimbá-MS 187
adanstesréarsiespIenetIaIg1o/n5adiasanctoerma oáupimcaeisacguurtdoos,, dgliambirneusicnendtoe enom ápdiicree;çãroeceapstáctuélpoalaesm,
arredondado a truncado, anteras da série III forma de cálice, tépalas elípticas a ovadas,
obtrapeziformescomápiceobtusoatruncado, raramente pentagonais, densamente
sérieIVcomestaminódiostriangulares.Pistilo papilosas na face interna e na extremidade;
ca. 2,2 mm compr., ovário globoso, glabro, conectivo dos estames das séries I e II com
estilete do mesmo tamanho a levemente prolongamento igual ou superior a 50% do
12x8 mm, comprimento da antera e papiloso, filetes
menor que o ovário. Fruto ca.
elíptico, cúpula ca. 5,5 x 8,5 mm, dos estames das séries I e II 1/5 da antera
trompetiforme, pedicelo ca. 6,5 mm compr. ou mais curtos a inconspícuos, anteras dos
Materialexaminado: BRASIL.MATOGROSSO estames da série I pentagonais a oval-
DOSUL:Corumbá,morrocommatasemidecídua, triangulares, ápice obtusos a levemente
13.VI.2002,fl.efr.,V.Smaeletal. 9(COR). agudo, antera dos estames da série II oval-
Materialadicional:BRASIL.MATOGROSSODO triangulares com ápice contraído acimados
SUL:CampoGrande,reservabiológicadaUFMS, locelos formando um acume, série III
8.VI.1988, fl., M. Carmo 4 (CGMS); idem, obtrapeziformes com ápice obtuso a
15.IX.1988, fl., W. G. Silva 126 (CGMS); idem, truncado, estaminódiosevidentes. Pistiloca.
30.IV.1990, fr„ U. M. Resende93(CGMS); idem, 2,3 mm compr., ovário globoso, glabro,
21.III.1992, fl., K. N. Cação 22 (CGMS); idem, estilete muito curto, cerca de 1/6 do
18.IV.1988,fr., W.S.Silva126(CGMS). tamanho do pistilo. Fruto ca. 13x8 mm,
Nectandra gardneri é encontrada no globoso a elíptico, cúpula ca. 2 x 6 mm,
cerradodoBrasil,naflorestaombrófíladensa pateriforme, pedicelo ca. 1,1 cm compr.,
aluvial, entre 400 e 1000 m de altitude atenuado na base.
(Rohwer 1993b). No município de Corumbá, Materialexaminado: BRASIL.MATOGROSSO
ocorre na floresta estacionai semidecidual. DOSUL:Corumbá,morrodoUrucum,9.IX.1984,
Coletada com flores e frutos em abril. fl., F Bucci 1578 (COR); morro da Tromba dos
Macacos, 9.IX.1984, fl., C. A. Conceição 1578
4Fl..4.NNeoetcrtoapn.dr60a:h1i9l6t.ua1(9R93u.iz & Pav.F)igR.o3h.wear-,d (MaCtGeMrSi,alCOaRdi,ciUoBn)a.l: BRASIL. MATOGROSSO
lâminÁarv5o-r2e6atxé 21-49,m5 acltm.,Foolvhaadsa,alotvearndaos-, GD1u4O.arVIiSIrUIoL.b:1a9,9C02a,.mXfp.l.1o,99UG.7r,aMn.fdl.e,R,eUs.feanMzde.endR1ae2s9Sean(ndCteaGM1ISn3ê)6s;6,
elíptica, largo-elíptica a lanceolada, ápice (CGMS). Bodoquena, 23.V.2002, fl., U. M.
acuminado, base curtamente atenuada e Resende 983 (CGMS). Rio Brilhante, BR 163,
geralmente revoluta, face adaxial 9.VII.2001, fl., A. Sciamarelli 877 (CGMS).
G
glabrescente a glabra, face abaxial Bonito,fezendaPitangueiras, 10.IX.2001, fl.,
glabrescentes, nervuras laterais de 6-8 P. Nunes et al. 2 (CGMS). Dourados, estrada
pares, eucampdódroma, presença de paraMaracaju,27.IX.2001, fr.,A. Sciamarelliet
domácias nas axilas das nervuras laterais, al. 1049(CGMS).
em forma de tufos de tricomas em algumas Nectandra hihua é encontrada do oeste
folhas, pecíolo 10-20 mm compr., do México e Antilhas até a região noroeste
5-15 cm doestadode SãoPaulo, naflorestaestacionai
glabrescente, plano. Inflorescência
com semidecidual, solos úmidos, periodicamente
compr., tirsóide-paniculada, axilar,
tricomas curtos, levemente crespos e inundados ou encharcados (Baitcllo et al.
Em Corumbá, ocorre na floresta
conuummmceoermnopsoror.sqFauloeerseapssar6fs—oo1lsh2,asmc,ompmepddriúâinmm.ce,unlttoroi2ci-og9mu,aa5sl de2se0tn0as3ca)i.oanlauivisaelmdiodemcoirdruoaldoe Uflrourcesutma.oCmoblreótfaídlaa
curtos e mais densos no receptáculo, com flores em setembro.
Rodriguésia 58 (I): 179-192. 2007
SciELO/JBRJ
2 13 14
188 Alves, F.Aí. &Ishii. I. H.
4.5. Nectandra psammophila Nees & C. também em floresta estacionai semidecidual
Mart., Syst. Laur. 303. 1836. Fig. 3 e-f na Bolívia. Em Corumbá, a espécie foi
m
Árvore até 12 alt. Folhas alternas, encontradanaflorestaestacionai semidecidual
lâmina 5-12 x 2,5-3,5 cm, elíptica a ovado- da região do Jacadigo. Coletada com flores e
elíptica, ápice acuminado, base atenuada, face frutos emjunho.
adaxial glabra e face abaxial glabrescente,
nervuras laterais de 6-10 pares, 5.OcoteaAubl.,Hist. Pl. Guiane2:781. 1775.
broquidódroma,semdomáciaspecíolo5-10mm Árvores ou arbustos, monóicos, dióicos
compr., tricomas curtos, adpressos e esparsos, ou gimnodióicos. Folhas alternas, raramente
canaliculado. Inflorescência 5-7 cm compr., opostas ou subopostas, peninérveas.
racemiforme, axilar, com tricomas curtos, Inflorescência tirsóide-paniculada ou
adpressos e esparsos, pedúnculo 2-4 cm racemiforme. Flores unissexuadas,
compr. Flores 5-6 cm diâm., tépalas elípticas bissexuadas ou polígamas, tépalas iguais ou
a ovadas, as externas menos denso-papilosas subiguais, geralmente eretas na antese, 9
que as internas; conectivo dos estames das estames férteis, anteras das séries I, II e III
séries I e II com prolongamento não superior tetraloceladas, estaminodiais nas flores
a 45% do comprimento da antera, filetes dos femininas, locelos dispostos em dois pares
estames das séries I e II inconspícuos, filetes sobrepostos, séries I e II geralmente
dos estames das séries I e II 1/5 da antera ou introrsos, série III com locelos inferiores
mais curtos a inconspícuos, série III com extrorsos, os superiores laterais extrorsos.
anteras quadrangulares a obtrapeziformes, Pistilóide da flor masculina estipitiforme,
série IV com estaminódios subclavados. conspícuo aausente. Frutobacáceo, globoso
mm
Pistilo ca. 1,8 compr., ovário globoso a a elíptico, cúpula envolvendo o fruto em
elíptico, glabro, menorque oovário. Frutoca. proporções variáveis, tépalas caducas ou
10x8mm,elíptico,cúpulaca.7x4mmcompr., podendo persistir no fruto.
trompetiforme, pedicelo ca. 6,5 mm compr. Ocotea possui aproximadamente 350
Materialexaminado:BRASIL.MATOGROSSODO espécies, sendo a maioria encontrada na
SUL:Corumbá,Jacadigo,29.VI.1997,fl.,fr„S.R.S. América tropical e subtropical, cerca de 50
Pereira2(COR). espécies ocorre em Madagascar, sete nas
Nectandra psammophila é encontrada Antilhas e uma nas Ilhas Canárias (Baitello
no Brasil do sul da Bahia até São Paulo, na et al. 2003). Em Corumbá foram registradas
vegetação arbórea de vales e planícies duas espécies: O. diospyrifolia e O.
litorâneas associadas ou não a floresta velloziana. Pott& Pott(1994, 1999), também
ombrófiladensa aluvial (Baitello etal. 2003). referiram às mesmas espécies para a região
SegundoKillen(1993),aespécieéencontrada do Pantanal.
Chave para identificação das espécies de Ocotea no município de Corumbá
1. Filetes dos estames das séries I e II 1/5 a 1/4 do comprimento da antera, sésseis a sub-sésseis;
folhas lanceoladas a elípticas 1.Ocotea diospyrifolia
r.Filetes dos estames das séries I e II 1/3 a 1/2 do comprimento da antera; folhas largo-elípticas,
ovadas a obovadas
2. Ocotea velloziana
Rodriguésia 58 (1): 179-192. 2007
SciELO/JBRJ
cm L2 13 14 15 16 17