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Jacaranda micrantha Cham. e Koelreuteria bipinnata Franch. NO AMBIENTE
URBANO DE PORTO ALEGRE, RS
Vladimir Stolzenberg Torres¹
¹Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade / Prefeitura Municipal de Porto
Alegre
Resumo:
Decorrente do pouco conhecimento morfológico de muitas espécies similares entre si,
erros taxonômicos são cometidos, o que gera frustrações quando da evolução dos
espécimes. Neste estudo, apresenta-se características que possibilitem uma apropriada
distinção entre Jacaranda micrantha Cham. (Bignoniaceae) e Koelreuteria bipinnata
Franch. (Sapindaceae).
Palavras-chave: Bignoniaceae; Jacaranda micrantha; Sapindaceae; Koelreuteria
bipinnata.
Jacaranda micrantha Cham. and Koelreuteria bipinnata Franch. IN THE URBAN
CONTEXT OF PORTO ALEGRE CITY, RS
Abstract: Due to the little morphological knowledge of many species that are similar to
each other, taxonomic errors are made, which generates frustrations when the specimens
evolve. In this study, we present features that allow an appropriate distinction between
Jacaranda micrantha Cham. (Bignoniaceae) and Koelreuteria bipinnata Franch.
(Sapindaceae).
Keywords: Bignoniaceae; Jacaranda micrantha; Sapindaceae; Koelreuteria bipinnata.
Introdução Como regra geral, existindo (ou
Ao se observar Porto Alegre percebe-se inexistindo) esforços do poder público
que, como toda urbe, possui uma para o estabelecimento de um plano de
elevada plasticidade no que tange a arborização urbana, e considerando que
mutabilidade da paisagem aí existente, as árvores possam ser encontradas em
particularmente dos elementos vários ambientes da urbe, os passeios e
construtivos e do intenso manejo canteiros centrais das vias públicas se
arbóreo, seja pela remoção, seja pela constituem no local tradicional de sua
introdução ocasionada por interferência ocorrência, onde são plantadas
antrópica. enfileiradas nas calçadas, muitas vezes
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sem qualquer planejamento prévio e complicadores que ocasionam
manutenção adequada em razão do transtornos ao manejo vegetal.
próprio munícipe atuar no processo. Por conta destas questões taxonômicas,
Em decorrência da falta de um plano de e por falta de uma maior acuidade dos
arborização urbano (público), ou sua gestores ambientais, não somente em
desconsideração quando existente, bem Porto Alegre, mas em outros municípios
como, a intensa participação dos que integram esta região metropolitana,
munícipes evidencia-se uma ausência de mudas de Koelreuteria bipinnata
planejamento na implantação e na Franch. tem sido equivocadamente
manutenção da arborização urbana, plantadas como se Jacaranda
ocasionando, conforme Mcpherson micrantha Cham. (Bignoniaceae) o
(2003), Silva et al. (2007) e Melo et al. fossem (fig. 1), especialmente
(2007), problemas tais como, considerando que se tratam de espécies
diversidade reduzida de espécies, ou da mesma família (Fabaceae) com
conforme Biondi e Pedrosa-Macedo presença de sinapomorfias que se
(2008), o uso excessivo de espécies revelam um fator complicador para
exóticas, aspectos estes que se identificação de espécies, especialmente
expressam como contestáveis quando na condição de mudas.
analisados os dados de Torres et al. Desta forma, o presente estudo buscou
(2015) e Torres (2018) para o âmbito de revisar e apresentar dados para a correta
Porto Alegre, RS. identificação e, consequente,
Em decorrência das inúmeras diferenciação taxonômica das espécies
intervenções ocorrentes, uma elevada de Jacaranda micrantha Cham.
combinação de espécies vegetais se (Bignoniaceae) e Koelreuteria
apresenta e se apropria dos espaços bipinnata Franch. (Sapindaceae)
disponíveis (ADLER; TANNER, 2015). apresentando informações que
Decorrente destes “encontros urbanos” favoreçam seu correto reconhecimento,
de espécies distintas, mas com para uso no contexto do ambiente
evidentes sinapomorfias, surgem urbano.
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Fonte: modificado do Google Maps, Street View - acesso Jan. 2016.
Figura 1: Projeto de arborização viária - passeio público da Praça Frederico Arnaldo Ballve,
frente para Av. Cristóvão Colombo - realizado com exemplares de Koelreuteria bipinnata
Franch. (Sapindaceae).
Material e métodos A nomenclatura, assim como as
O estudo de Torres (2019), Jacaranda sinonímias, foi estabelecida com base
micranta Cham., apresenta registros de nos dados do Missouri Botanical
ocorrência, desta espécie, de Minas Garden, acrescido do Banco de Dados
Gerais até o Rio Grande do Sul, Tropical, e do Sistema de Informação
fazendo-se integrante da biota da sobre a Biodiversidade Brasileira. A
floresta atlântica, na floresta do Alto denominação de família segue o sistema
Uruguai e na floresta da encosta de Classificação APG IV (2016), em
meridional do planalto, daí para o sul consonância com o estabelecido pelo
até a bacia do rio Jacuí, enquanto o Missouri Botanical Garden.
gênero Koelreuteria Laxm., por sua As descrições taxonômicas foram
vez, apresenta ocorrência natural no sul estabelecidas com base nos dados de
da China (incluindo Taiwan), Japão, Torres (2019), Lorenzi et al. (2003) e
ilhas Fiji, com um total de onze Santos-Jr. e Silva (2017), sendo,
espécies, seis variedades e pelo menos posteriormente, confrontadas com
uma subespécie, conhecidas. dados de verificação in loco em
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exemplares dispersos pelo ambiente Possuindo Jacaranda intermedia Sond.
urbano de Porto Alegre. como sinonímia, sem infra-taxa
conhecidos, esta espécie foi
Resultados e discussão detalhadamente comentada no estudo de
Jacaranda micrantha Cham. Torres (2019).
(Bignoniaceae) - figura. 2.
Fonte: mosaico organizado pelo autor.
Figura 2. Exemplar de Jacaranda micrantha Cham.: A) detalhes dos ramos e flores; B) detalhes
dos frutos; C) detalhes do fuste.
Gênero Koelreuteria Laxm. )5 sépalas valvadas, sendo as mais
(Sapindaceae) externas de menor tamanho; corola com
Este gênero abarca árvores e arbustos 4(-5) pétalas, ligeiramente desiguais,
caducifólios, polígama-monoica ou com formato lembrando uma unha
polígama-dioica. Folhas imparipinadas (unguiculados), com uma escama basal
ou bipinadas, sem estípulas; folíolos bilobada na face interna de cada uma
alternados ou opostos, geralmente delas. Disco nectarífero espesso, muitas
serrilhados ou partidos, raramente vezes crenado. Androceu com (5-)8
inteiros. Inflorescências terminais, estames inseridos no disco, com
raramente axilares, em ramos filamentos distintos, muitas vezes
paniculares, muito ramificados. Flores pilosos. Ovário trilocular, com dois
zigomórficas, com o cálice contendo (4- rudimentos seminais em cada lóculo;
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estilete mais curto que os estames, com Koelreuteria bipinnata Franch.
o estigma inteiro ou trilobado. Fruto em (Sapindaceae) - Figuras 3 - 5
cápsula inflada, ovoide, elipsoides ou Sinonímias: Koelreuteria bipinnata var.
subglobosas, trigônica, abrindo-se em integrifoliola (Merr.) T.C. Chen;
três valvas membranáceas. Sementes na Koelreuteria bipinnata var. puberula
condição de uma em cada lóculo, Chun; e Koelreuteria integrifoliola
globosas, negras, sem arilo. 2n = 22, 30, Merr.
32. Taxa subordinado: Koelreuteria
O Missouri Botanical Garden elenca bipinnata var. apiculata (Rehder &
onze espécies conhecidas para este E.H. Wilson) F.C. How & C.N. Ho;
gênero, a saber, K. apiculata Rehder & Koelreuteria bipinnata Franch. var.
E.H. Wilson, K. bipinnata Franch., K. bipinnata; Koelreuteria bipinnata var.
chinensis (Murray) Hoffmanns, K. integrifoliola (Merr.) T.C. Chen; e
elegans (Seem.) A.C. Sm., K. Koelreuteria bipinnata var. puberula
formosana Hayata, K. henryi Dümmer, Chun.
K. integrifoliola Merr., K. minor Tradicionalmente, suas flores secas
Hemsl., K. paniculata Laxm., K. eram usadas como remédio fitoterápico
reticulata (Ettingsh.) Edwards, W. N., e para o tratamento de doenças oculares, e
K. vitiensis A.C. Sm. Destas espécies, a madeira utilizada para a produção de
são citadas como de ocorrência em móveis na China. Apresenta grande
território brasileiro, mediante rusticidade, sendo tolerante a uma
introdução como tantas outras espécies ampla variedade de tipos de solo, e
exóticas, K. paniculata Laxm. através aprecia o frio, contudo tolera o clima
dos registros de Santos-Jr. e Silva subtropical (PEREIRA, 2017). Tem
(2017) e Potenza (2016); K. bipinnata uma beleza notável, sendo adequada
Franch. mediante dados de Pereira para composição de parques e utilizada
(2017), e de Lorenzi et al. (2003). Os na arborização de ruas, destacando-se
dados de Lorenzi et al (2003), e as pelo efeito decorativo de suas flores e
informações decorrentes do estudo de frutos vistosos. No outono, em regiões
Gomes et al. (2011), dão conta de que a frias, sua folhagem adquire coloração
espécie ocorrente em Porto Alegre seja amarelada (GRIFFITHS, 1994;
Koelreuteria bipinnata Franch. LORENZI et al., 2003). Seu
crescimento é um tanto lento a
moderado, quando adulta alcança de 7 -
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10 (- 15) m de altura (fig. 5). Tronco sementes pequenas. Na fase inicial de
grosso com a casca acinzentada, que se formação são rosáceos (fig. 4B) e, após
torna frágil com os anos, marcada com maturação, passam a apresentar uma
cicatrizes de ramos caídos. Monoica e coloração marrom. Flores de coloração
caducifólia. Folhas bipinadas, com amarela (fig. 4C), pequenas fornadas
folíolos serrilhados, mas não lobulados, nos meses de abril-maio (LORENZI et
ligeiramente oblíquos na base, de ápice al., 2003). Pereira (2017), agrega uma
agudo ou fortemente acuminado (fig. interessante informação para esta
3A); eles medem de 7 a 14 cm de espécie, qual seja, a do comprimento de
comprimento por 3 a 5 cm de largura. suas raízes no ambiente urbano, para
Flores com 4(-5) pétalas. Apresenta espécimes adultos (8,0 - 12,5 m), na
frutos deiscentes, ovoide-globosos, com ordem de 4,76 - 7,75 m.
6 cm de comprimento, contendo
Fonte: mosaico organizado pelo autor; D-H) modificado de Meyer (1976).
Figura 3. Koelreuteria bipinnata Franch. A) folha e folíolos; B) inflorescência e flores; C)
plântula; D) parte de um ramo com frutificação; E) flor estaminada; F) corte longitudinal de flor
estaminada revelando a inserção de pétalas e estames, androginóforo e disco nectário; G) corola,
vista ventral; H) corola, vista dorsal.
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Fonte: banco de imagens do autor (A e C); B) foto legada pelo Eng. Florestal Ricardo Litwinski
Suffert, 2017.
Figura 4. Exemplar de Koelreuteria bipinnata Franch.: A) detalhe das folhas; B) detalhe dos
frutos; e C) inflorescência e flores.
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Fonte: foto legada pelo Eng. Florestal Ricardo Litwinski Suffert, 2017.
Figura 5: Exemplar de Koelreuteria bipinnata Franch. (Sapindaceae), frutificado, na área do
estacionamento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de
Porto Alegre.
Koelreuteria bipinnata Franch. informações colhidas no presente
(Sapindaceae) versus Jacaranda estudo para Koelreuteria bipinnata
micrantha Cham. (Bignoniaceae) Franch. (Sapindaceae), torna-se possível
Com base nas informações estabelecer um protocolo diagnóstico
disponibilizadas no estudo de Torres que possibilite a diferenciação de ambas
(2019) a respeito de Jacaranda as espécies, particularmente na
micrantha Cham. (Bignoniaceae) e as condição de mudas.
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Considerando que o objeto principal da Conclusões
análise consiste em diferenciar as duas Com a presente revisão, espera-se que
espécies quando, ainda em estágio de menos identificações incorretas venham
mudas, caracteres como inflorescências, a ocorrer no contexto da floresta urbana
flores e frutos não podem ser de Porto Alegre e municipalidades
computados. circunvizinhas, relativamente aos taxa
Assim, enquanto K. bipinnata possui Jacaranda micranta e Koelreuteria
folhas grandes, aglomeradas na bipinnata, com isto, melhor
extremidade dos ramos, compostas favorecendo as definições de projeto de
bipinadas, com 4 - 5 pares de pinas plantio e manejos futuros.
opostas e um par terminal (LORENZI et
al., 2003) com folíolos serrilhados, mas
não lobulados, ligeiramente oblíquos na
base, de ápice agudo ou fortemente
acuminado, medindo de 7 a 14 cm de
comprimento por 3 a 5 cm de largura; J.
micranta, conforme Torres (2019),
apresenta folhas pinadas ou bipinadas,
com aproximadamente 60 - 80 cm de
comprimento (LORENZI, 2002),
apresentando 4 - 8 pares de pinas com
20 - 25 cm de comprimento, lustrosas
na face superior; foliólulos elípticos a
oblongo-elípticos, em número de 4-10
pares (REITZ et al., 1983;
RODRIGUES, 2012), com nervuras
imersas na face superior de 4 - 7 cm de
comprimento e folíolos com menos de
30 mm de comprimento e de bordos
inteiros.
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