Table Of ContentInstituto Superior de Psicologia Aplicada
AUTOCONFIANÇA E RENDIMENTO DESPORTIVO: ESTUDO LONGITUDINAL
NUMA EQUIPA DE FUTEBOL PROFISSIONAL
Ana Sofia Ferreira Neves
Dissertação Orientada por Mestre Pedro Almeida
Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Psicologia
Especialidade em Psicologia Social e das Organizações
2008
Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação de Mestre Pedro Almeida, apresentada no Instituto
Superior de Psicologia Aplicada para obtenção de grau de Mestre na especialidade de Psicologia Social e
das Organizações conforme o despacho da DGES, nº 19673 / 2006 publicado em Diário da República 2ª
série de 26 de Setembro, 2006.
Autoconfiança e Rendimento Desportivo: Estudo Longitudinal numa Equipa de Futebol
Profissional
RESUMO
São objectivos deste trabalho: explorar a acção da variável individual
autoconfiança estado vivida durante a época competitiva (ao longo de 17 jogos) do
Campeonato Nacional, de um grupo de 23 futebolistas seniores, nos seus níveis de
rendimento (objectivo e subjectivo) e sua competência psicológica (autoconfiança
traço); analisar as relações entre as diferentes medidas de rendimento (objectivo e
subjectivo). Para o efeito, num momento pré competitivo, os atletas responderam ao
questionário PODIUM individual (Abrantes, 2005). Durante a competição o rendimento
objectivo foi avaliado por meio de observação directa, tendo sido calculados rácios de
rendimento para cada atleta, por jogo. Após a competição, os jogadores preencheram
o questionário “Questionário Pós Competitivo” (Cruz, 1991; cit por Almeida, 2003),
onde avaliaram subjectivamente o seu rendimento. De igual forma, os treinadores
preencheram um questionário pós competitivo - “Avaliação dos treinadores” – (Ebbeck
e Weiss, 1988) onde avaliaram subjectivamente o rendimento de cada jogador em
cada jogo. Num momento neutro os jogadores preencheram o “Inventário de
Competências Psicológicas para o Desporto – Forma R5” (ICPD) (Cruz e Viana, 1993;
Viana, Carvalho, Barrocas e América, 1993). Em relação a esta amostra não se
verificaram correlações significativas ao longo dos 16 jogos entre a autoconfiança-
estado pré-competitiva e os diferentes tipos de rendimento. Da mesma forma, não
foram verificadas correlações significativas entre os diferentes tipos de rendimento ou
até mesmo entre a percepção da competência autoconfiança e a autoconfiança-
estado. Contudo, deixam-se algumas considerações para investigações futuras.
Palavras chave: Autoconfiança. Rendimento, Futebol.
ABSTRACT
The purposes of this investigation were to explore the relationship between
state self-confidence during a competitive season (17 home games) of the National
Championship, of a group of 23 senior soccer players, on their levels of performance
(objectively and subjectively accessed) and their skill levels of self-confidence; analyse
the relationships between the different measures of performance (objective and
subjective). The athletes in a pre-competitive moment responded to individual PODIUM
(Abrantes, 2005). During competition the objective performance was registered through
direct observation and later calculated individual ratios for each athlete per game. After
de competition the soccer players filled a pos-competitive questionnaire (Cruz, 1991;
cit. por Almeida, 2003) evaluating their performances and the coaches evaluated their
athletes using the questionnaire of Ebbeck e Weiss (1988). In a non competitive
moment all the players completed the ICPD (Cruz e Viana, 1993; Viana, Carvalho,
Barrocas e América, 1993) to access trade-self-confidence. In this athletes sample no
significant correlation were found between competitive self-confidence and the different
measures of performance. Even more, there were no significant correlations between
the different types of performance and between trade-self-confidence and state-self-
confidence. Nevertheless we finalize this article with some important considerations
and suggestions for future investigations.
Key-words: Self-confidence. Performance, Soccer.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 1
Definição de Autoconfiança Desportiva 2
Modelo Integrativo de Autoconfiança Desportiva 3
Autoconfiança e Rendimento Desportivo 5
MÉTODO 10
Amostra 10
Desing 10
Instrumentos 11
Autoconfiança-Traço 11
Autoconfiança-Estado 11
Rendimento Objectivo 12
Rendimento Subjectivo 12
Procedimento 13
RESULTADOS 13
Estudos Exploratórios 24
DISCUSSÃO 25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 36
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NTRODUÇÃO
A interacção recíproca entre o atleta, como pessoa e a situação desportiva
específica tem que ser considerada quando se procura compreender o comportamento
dos atletas. A investigação da influência dos processos psicológicos no rendimento
desportivo inclui uma vasta gama de estudos centrados nas competências psicológicas
dos atletas e os diferentes níveis de sucesso obtidos (Cruz, 1996).
Desde cedo nas investigações desenvolvidas se percebeu que a autoconfiança
dos atletas se revelava como uma competência imprescindível quando se queria atingir
performances bem sucedidas. Em igual nível de capacidades, os indivíduos mais
confiantes, são mais competentes e eficientes no uso de recursos cognitivos, têm um
maior número de padrões atribucionais produtivos e de competências atencionais,
orientação para objectivos, auto-percepção de sucesso e capacidade de estratégias de
coping. Quando o atleta se sente confiante a sua mente está livre para se concentrar na
tarefa em questão e assim, os atletas mais confiantes são os ganhadores das
competições.
No que diz respeito à investigação conduzida acerca Autoconfiança, foi Vealey o
autor mais dedicado. Os seus estudos desde meados de 1986, têm vindo a ser
melhorados pela própria e têm sido alvo de diversas replicações. Foi através destes
estudos que se ficou a conhecer melhor as características da variável e o seu efeito no
rendimento desportivo. A investigação conduzida por Vealey tem-se focado na
construção de um modelo explicativo da confiança desportiva e de instrumentos para
medi-la. Estes estudos foram a força motriz para as investigações mais recentes, onde se
constata que o modelo a considerar tem de ser integrativo de diversos aspectos
nomeadamente de factores demográficos e de personalidade, da cultura organizacional,
dos afectos, cognições, fontes de confianças, factores externos ao indivíduo, e
características físicas.
As diferenças individuais em termos de autoconfiança e os objectivos
competitivos, predispõem os atletas para responderem à situação de competição com
determinados níveis de autoconfiança-estado que, por sua vez, influenciam de forma
decisiva os comportamentos e respostas competitivas dos atletas (Cruz & Viana, 1996).
Assim, este trabalho perspectiva e equaciona alguns fenómenos numa
modalidade desportiva colectiva – o futebol profissional, que tem sido de certa forma
2
descurada nas investigações da psicologia do desporto. O objectivo principal deste
trabalho é estudar a relação entre o estado psicológico de autoconfiança pré-competitiva
no futebol, com a competência autoconfiança percebida e o rendimento desportivo.
Definição de Autoconfiança Desportiva
A confiança desportiva é definida como a crença ou grau de certeza que os
indivíduos possuem acerca da sua capacidade de serem bem sucedidos no desporto
(Vealey, 1986). Inicialmente nos seus estudos sobre a confiança desportiva, Vealey
(1986) conceptualizou-a em duas componentes: autoconfiança-traço (Trait Sport
Confidence – TSC) e autoconfiança-estado (State Sport Confidence – SSC). A primeira
refere-se à crença ou grau de certeza que os indivíduos normalmente possuem acerca da
sua capacidade de ser bem sucedido no desporto; enquanto a segunda refere-se à
crença ou grau de certeza que os indivíduos possuem, num momento particular, acerca
da sua capacidade para serem bem sucedidos no desporto (Vealey, 1986).
Deste modo, as diferenças individuais em termos de autoconfiança e objectivos
competitivos, predispõem os atletas para responderem às situações de competição com
determinados níveis de estados de autoconfiança que, por sua vez, influenciam de forma
decisiva os comportamentos e repostas competitivas dos atletas (Cruz e Viana, 1996).
Contudo a autora percebe que as designações (e medidas) separadas do TSC e
SSC e a sua dicotomia não eram tidas como bons predictores do comportamento nesta
área. Desta forma, Vealey (2001) realça que a confiança desportiva tem de ser vista
como um conceito que pode ser mais traço ou mais estado dependendo do
enquadramento temporal usado como referência (confiança na competição de hoje vs.
confiança acerca da próxima competição vs. nível típico de confiança durante o ano que
passou).
Simultaneamente, Martens (1987; cit. por Cruz & Viana, 1996) conceptualizou a
autoconfiança no desporto no contexto de um “continuum” que varia entre a falta de
confiança (pouca ou fraca confiança nas capacidades pessoais) e a confiança excessiva
(demasiada autoconfiança). Na opinião deste autor, o nível óptimo de autoconfiança
encontra-se entre estes dois extremos: o rendimento é prejudicado por níveis
extremamente elevados ou extremamente baixos de autoconfiança. Weinberg & Gould
(1996) realçam que a relação entre confiança e rendimento pode representar-se
mediante uma curva em forma de U invertido. O rendimento melhora à medida que o
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nível de confiança aumenta, até um ponto óptimo, a partir do qual aumentos adicionais de
confiança correspondem a diminuições nos níveis de execução.
Segundo os autores podemos ter atletas que têm competências físicas e técnicas
para terem bons desempenhos, mas não tendo confiança, não as conseguem executar
em condições de pressão. No lado oposto temos os atletas excessivamente confiantes:
os seus rendimentos diminuem porque crêem que não necessitam preparar-se ou realizar
o esforço necessário para levar a cabo a sua tarefa. Consequentemente este excesso de
confiança baixa a competência e a capacidade.
A teoria emergente e as investigações suportam a confiança como sendo um
constructo multidimensional (Maddux & Lewis, 1995; cit. por Vealey, 2001). Além disso,
os factores organizacionais e culturais parecem influenciar o desenvolvimento e
manifestação da confiança dos atletas.
Modelo Integrativo de Confiança Desportiva
Em 2001, Vealey chama a atenção para a importância de um modelo integrativo
do processo psicossocial que é a autoconfiança. O esquema do modelo encontra-se
representado na Figura 1.
Características Demográficas e
de Personalidade Cultura Organizacional
Execuções
Passadas
Confiança
Auto-regulação Clima Social
Desportiva
Afectos Comportamento
Cognição
Características e
Factores Externos Competências Físicas
Performance
Incontroláveis
Figura 1: Modelo integrativo de confiança no desporto (adaptado de Vealey, 2001).
De acordo com Vealey (2001), o centro do modelo contém o próprio constructo de
confiança desportiva, os três domínios (execução, auto-regulação e clima social)
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representativos das fontes de confiança nos atletas (ex.: perícia/mestria, performances
anteriores, preparação física e mental, suporte social, liderança do treinador, entre
outras) e o triângulo ACC (que são as iniciais de afectos, cognições e comportamentos),
que influenciam directamente a performance dos atletas.
Todos os conceitos da parte do processo central do modelo de confiança
desportiva interagem continuamente e reciprocamente para influenciar a performance,
daí estarem representados por setas de duplo sentido. Os três domínios principais de
fontes de confiança influenciam directamente o nível de confiança desportiva dos atletas.
A confiança desportiva, como mediador primário dos afectos, comportamentos e
cognições dos atletas, pode ser considerada um modificador mental já que, altera o modo
como os atletas sentem, respondem e pensam acerca de tudo o que lhes acontece no
desporto o que influência a performance dos mesmos. Mas também a auto-regulação e o
clima social influenciam directamente o triângulo ACC, tendo impacto na maneira como
os atletas pensam, sentem e respondem num ambiente competitivo.
O triângulo ACC contém o afecto, o comportamento e a cognição. Os afectos,
comportamentos e cognições são tão interactivos ou determinados reciprocamente
(Bandura, 1978; cit. por Vealey, 2001) que eles são ilustrados juntos dentro de um
triângulo para enfatizar a sua reciprocidade interacional contínua (Vealey, 2001).
A confiança ao actuar como mediador dos afectos; a sua presença estimula
emoções positivas enquanto a sua falta está relacionada com afectos negativos. Desta
forma, segundo Cruz & Viana (1996), os indivíduos que têm um elevado nível de
autoconfiança e um forte sentido de eficácia pessoal dirigem toda a sua atenção e
esforço para as exigências da situação competitiva. Crêem na sua capacidade para
adquirir as competências necessárias (tanto físicas como mentais) que lhes permitam
alcançar o seu potencial máximo (Weinberg & Gould, 1996). Enquanto, os que se julgam
incapazes de enfrentar com sucesso determinado adversário, por exemplo,
sobrevalorizam as suas deficiências pessoais e imaginam as possíveis dificuldades mais
inultrapassáveis do que aquilo que realmente são, criando stress, medo de falhar e
impedimento na execução do rendimento óptimo (Cruz & Viana, 1996).
Quando duvidamos da nossa capacidade para triunfar ou supomos que algo
correrá mal, estamos a acreditar no que se conhece como uma profecia auto-realizada:
antecipamos que algo irá ocorrer, e na realidade estamos a ajudar que suceda. As
profecias auto-realizadas negativas são barreiras psicológicas que provocam um círculo
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vicioso: a expectativa de fracasso conduz ao fracasso real, o que baixa a autoconfiança e
incrementa as perspectivas de fracassos futuros (Weinberg & Gould, 1996).
Muito recentemente, Hardy, Woodman e Carrington (2004) realçaram que altos
níveis de autoconfiança parecem proteger contra, ou sobrepor-se, às interpretações
negativas de ansiedade, facilitando o recurso às estratégias de coping e permitindo aos
atletas percepcionarem que podem permanecer em controlo face às pressões do
ambiente competitivo. Segundo Hanton, Mellalieu & Hall (2004) os atletas com falta de
confiança não persistem perante sintomas de ansiedade, atravessam uma ruminação
repetitiva negativa, auto-dúvida e percepções de inadequação, impeditivas da
performance.
Sobretudo tem sido sugerido (Hagtvet & Ren-Min, 1992; cit. por Edwards & Hardy,
1996) que a relação entre autoconfiança e performance pode variar ao longo do tempo,
por isso, deverá ser medida como um constructo de processo e não como de resultado.
Autoconfiança e Rendimento Desportivo
O impacto relativo da autoconfiança na performance desportiva durante a
competição permanece pouco clara perante os diversos estudos desenvolvidos pelos
investigadores. Este aspecto levou Woodman & Hardy (2003) a efectuarem uma meta-
análise onde se focaram unicamente nos estudos sobre os efeitos da autoconfiança
sobre a performance.
Os autores depararam-se com 42 estudos onde 32 (76%) mencionavam uma
relação positiva, 6 (14%) mencionavam resultados não significativos e 4 (10%)
mencionavam uma relação negativa. Isto levou os autores a considerar três grandes
variáveis moderadoras que na sua opinião poderiam estar a afectar a relação entre a
autoconfiança e a performance, dando azo a que os resultados dos diferentes estudos
revistos fossem discrepantes. São elas: a) medições – ao utilizar-se o CSAI-2 (Martens,
Burton, Vealey, Bump & Smith, 1990) este tem pouca especificidade em relação à tarefa
(Moritz, Feltz, Fahrbach e Mack, 2000) e portanto poderá não ser o mais indicado para
avaliar a relação autoconfiança-rendimento, assim como as medidas inter-individuais; b)
tipo de desporto – os autores contudo não verificaram diferenças significativas entre
desportos colectivos e individuais e c) diferenças individuais – os efeitos da autoconfiança
eram maiores nos atletas com níveis de competição mais elevados e em relação ao
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género a autoconfiança pré-competitiva tinham maior impacto nas performance dos
atletas em detrimento das atletas.
Assim enumeram-se aqui alguns exemplos de investigações desenvolvidas com
resultados dissonantes.
Gould, Petlichkoff e Weinberg (1984) descobriram não haver resultados
significativos para a relação entre autoconfiança e performance. Também Vealey (1986)
no seu primeiro estudo, administrou o questionário SSCI a 48 ginastas de elite, 90
minutos antes da competição, e constatou que estes resultados não estavam
correlacionados com o rendimento obtido pelos atletas (avaliado por um júri
especializado). Vealey e Campbell efectuaram um estudo posterior em 1988 (cit. por
Pickens & Rotella, 1996) com patinadores artísticos, onde o SSCI foi administrado 30
minutos antes da competição e as correlações entre o resultado dos atletas no SSCI e a
classificação (1º, 2º, 3º lugar, etc.) não foram igualmente significativas.
Similarmente, no seu estudo com atiradores com pistola Gould, Petlichkoff,
Simons e Vevera (1987; cit. por Woodman & Hardy, 2003) uma relação negativa
significativa entre a autoconfiança e a performance foi revelada. Outros estudos não têm
revelado relações significantes entre autoconfiança e performance (Williams & Krane,
1992; Maynard & Cotton, 1993; cit. por Woodman & Hardy, 2003).
Martens et al. (1990) evidenciaram uma relação linear positiva entre a
autoconfiança e a performance. De igual modo, Martin & Gill (1991) num estudo
efectuado com 73 corredores (em oito competições diferentes) descobriram que a
autoconfiança dos atletas, acedida através do SSCI (aproximadamente 25 a 35 minutos
antes da competição), estava correlacionada positiva e significativamente com a distância
percorrida pelos atletas.
Buceta, López de la Llave, Pérez-Llantada, Vallejo e Pino (2003) num estudo
efectuado recentemente com maratonistas constataram que, os atletas com os melhores
tempos de corrida apresentavam níveis mais elevados para a autoconfiança, o que
sugere que os atletas nos dias antes da competição, controlam e percebem que podem
alcançar os seus objectivos, demonstrando uma grande confiança nas suas capacidades.
Gayton e Nickless (1987; cit. por Pickens & Rotella, 1996) pediram a 35
maratonistas (o que conferia heterogeneidade à amostra) para completarem o SSCI, 15
Description:RESUMO. São objectivos deste trabalho: explorar a acção da variável individual autoconfiança estado vivida durante a época competitiva (ao longo