Table Of ContentCarlos Guilherme Mota
Livre-Docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo.
IDEOLOGIA
DA CULTURA BRASILEIRA
19331974
( - )
(Pontos de partida para uma revisão histórica)
3.a edição
São Paulo, Editora Ática, 1977.
COMP. E ARTES: PPG Planej. e Prod. Gráf. Ltda.
CAPA (layout): Ary Almeida Normanha
PREPARAÇÃO DOS ORIGINAIS: Katumi Ussami
DIAGRAM AÇÃO: Elaine Regina de Oliveira
SUPERVISÃO GRÁFICA: Ademir C. Schneider
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fontc
Câmara Brasileira do Livro, SP
Mota, Carlos Guilherme.
M871i Ideologia da cultura brasileira: pontos de partida
3.ed. para uma revisão histórica. 3. ed. São Paulo, Ática,
1977.
(Ensaios, 30)
Apêndice: Caderno fotográfico.
Bibliografia.
1. Brasil — Vida intelectual 2. Cultura — Brasil
3. Intelectuais — Brasil I. Título.
CDD—301.2981
—001.20981
—301.4450981
77-1190 —320.50981
índices para catálogo sistemático:
1. Brasil: Cultura: Sociologia 301.2981
2. Brasil: Ideologia: Ciência política 320.50981
3. Brasil: Intelectuais: Sociologia 301.4450981
4. Brasil: Vida intelectual 001.20981
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CONSELHO EDITORIAL
Alfredo Bosi, cia Universidade de São Paulo.
Azis Si MÃO, da Universidade de São Paulo.
Duglas Teixeira Monteiro, da Universidade de São Paulo.
FlÁvio Vespasiano di Giorgi, da Pontifícia Universidade Católica.
Haquira Osakabe, da Universidade de Campinas.
Rodolfo Ilari, da Universidade de Campinas.
Ruy Galvão de Andrada Coelho, da Universidade de São Paulo.
Coordenador: José Adolfo de Granville Ponce
Para Janice, para Tereza.
Para Eduardo d’Oliveira França, meu professor, mestre em liberdade de
pensamento (e expressão).
“Coisas da velha Escola: assim todos nós, publicamente
ou no segredo de nossos corações, temos legitimamente
dedicado fragmentos de nossa obra a esses companhei
ros de nossa juventude que foram os confidentes de
nossos sonhos e de nossos trabalhos, aqueles que foram
os primeiros a conhecer nosso jovem pensamento;
mas muitas vezes nós fomos também os primeiros a
conhecer o pensamento de outros. .. ”
L. FEBVRE
“O meu passado não é mais meu companheiro. Eu
desconfio do meu passado.”
Mário de Andrade, 1942
“Ah, recomeçar, recomeçar
Como canções e epidemias
Ah, recomeçar como as colheitas,
Como a lua e a covardia,
Ah, recomeçar como a paixão e o fogo
E o fogo
E o fogo . ..”
Aldir Blanc e João Bosco,
numa era dc “Caça à Raposa”.
Sou eu, o poeta precário
que fez de Fulana um mito
nutiindo-me de Petrarca,
Ronsard, Camões e Capim;
que a sei embebida em leite,
carne, tomate, ginástica,
e lhe colo metafísicas,
enigmas, causas primeiras.
Mas, se tentasse construir
outra Fulana que não
essa de burguês sorriso
e de tão burro esplendor?
Mudo-lhe o nome; recorto-lhe
um traje de transparência;
já perde a carência humana;
e bato-a; de tirar sangue.
E lhe dou todas as faces
de meu sonho que especula;
e abolimos a cidade
já sem peso e nitidez.
E vadeamos a ciência,
Mar de hipóteses. A lua
fica sendo nosso esquema
de um território mais justo.
E colocamos os dados
de um mundo sem classe e imposto;
e nesse mundo instalamos
os nossos irmãos vingados.
(Extraído de “0 Mito”, de CARLOS DRUMMOND DE
Andrade, n’A Rosa do Povo, 1943-1945.)
L
-
AGRADECIMENTOS
Ao Prof Dr. Eurípedes Simões de Paula, nosso
Decano, presente em todas as etapas de minha car
reira - agradecimento especial. A Paulo da Silveira,
cuja perspectiva crítica muito auxiliou na feitura
deste ensaio. A Francisco Iglésias, sempre disposto
a “conferir opiniões”, de modo fraterno, no melhor
estilo universitário. A Michel Debrun, questionador
constante das premissas desta investigação, amigo
fraterno e argüidor contundente. A Octávio Ianni,
que retificou meu roteiro intelectual mais de uma vez.
Aos meus amigos e colegas da Faculdade de Filosofia,
em especial ao Alfredo, Adalberto, Eduardo, Heloísa,
Maria Sylvia, Marilena, Ulysses, Witter e Déa
(UNICAMP). A Maria de Lourdes Rabetti, que
auxiliou na preparação dos originais, nem sempre
poupando críticas, e a Maria Cristina Cortez.
À Banca Examinadora, composta dos professores
Manuel Correia de Andrade, Raymundo Faoro, Michel
Debrun, Sônia Apparecida Siqueira e Eduardo d’Olivei
ra França, que argüiu a tese em 15 de maio de 1975,
meu particular agradecimento. A José Paulo Paes e a
J. A. de Granville Ponce.
/
ÍNDICE
UM TESTEMUNHO DO PRESENTE: Alfredo Bosi .... I
INTRODUÇÃO ......................................................................... 17
a. Uma história da cultura brasileira?......... 17
b. Por uma periodização da produção cultu
ral nos últimos quarenta anos .................. 22
1. Marcos na historiografia geral do
Brasil ................................................... 22
2. Quadro referencial para uma análise
da produção cultural ........................ 47
Gap. i — CRISTALIZAÇÃO DE UMA IDEOLOGIA:
A “CULTURA BRASILEIRA” .................... 53
a. Segundo Gilberto Freyre ........................ 53
b. Segundo Fernando de Azevedo ............... 74
Cap. ii — O “QUINTO ATO CONCLUSIVO”: TESTA
MENTO DE UMA GERAÇÃO (1944) .... 84
a. Matrizes ideológicas ................................. 84
b. Mário de Andrade: consciência-limite? . . 105
Cap. iii — RAIZES DO PENSAMENTO RADICAL ... 110
a. Plataforma da Nova Geração (1945). ... 110
1. Uma geração política: Edgar da Mata-
-Machado ............................................ 113
2. O desaparecimento de “Brasil for
mal”: Paulo Emílio ............................. 117
3. Antonio Cândido e o combate às
formas de pensamento reacionário . . 126
4. Mário Schenberg e o progressismo
historicista .......................................... 132
b. OI Congresso Brasileiro de Escritores (São
Paulo, 1954) 137
Cap. iv — NACIONALISMO, DESENVOLVIMENTIS-
MO, RADICALISMO: NOVAS LINHAS DA
PRODUÇÃO CULTURAL.................................... 154
a. Tendências e problemas ............................. 154
b. A ideologia sem aspas: Hélio Jaguaribe 157
c. O “ser” da cultura dependente: R .Corbi-
sier ................................................................ 164
d. Contra o nacionalismo deformante: Anto-
nio Cândido .............................................. 173
e. Razões da frustração do aparecimento da
“cultura brasileira”: Raymundo Faoro . . 178
f. Uma trajetória radical: Florestan Fernandes 181
Cap. v — A ÉPOCA DE REVISÕES RADICAIS E
ABERTURAS TEÓRICAS (1965-1969) .... 203
a. A Revista Civilização Brasileira (1965-
-1968) 205
b. Ferreira Gullar: vanguarda e subdesenvol
vimento ....................................................... 229
c. Dante Moreira Leite e a “superação” das
ideologias: diálogo com um intérprete . . 239
d. Vanguarda e conformismo: R. Schwarz . 245
e. Antonio Cândido: da literatura e da cons
ciência nacional. Análise de uma proposta
para uma história da cultura no Brasil . . 249
Cap. vi — IMPASSES DA DEPENDÊNCIA CULTURAL
(1969-1974) 258
CONCLUSÕES ......................................................................... 283
POSFÁCIO ................................................................................ 291
BIBLIOGRAFIA ....................................................................... 295
UM TESTEMUNHO DO PRESENTE
“Os discursos de quem não viu, são discursos; os
discursos de quem viu, são profecias”.
Padre Vieira
Alfredo Bosi
Balanço dos balanços que alguns dos nossos intelectuais fize
ram ou estão fazendo do Brasil: este me parece o objetivo primeiro
do ensaio dé Carlos Guilherme Mota que tenho a satisfação de
apresentar.
A sua questão candente, que atravessa o livro de ponta a
ponta é: o que tem significado a expressão cultura brasileira tão
empregada por aqueles intelectuais nos últimos quarenta anos?
Mas o interesse maior do autor, diria mesmo a sua paixão, é
medir a profundidade das raízes ideológicas que se escondem sob
as várias definições de cultura brasileira ou de “consciência na
cional” que sustêm os ideários de tantos homens de pensamento
dentro ou fora da nossa Universidade.1
O projeto de Carlos Guilherme Mota não é só complicado,
é complexo. Ê complicado porque fazer um balanço das idéias
contemporâneas sobre cultura brasileira é arriscar-se a perder-se
em um labirinto de textos históricos, literários, políticos, socioló
gicos. . . O corpus abre-se em grande leque e as omissões são
quase fatais. E é complexo porque, dentro do balanço, as ideo
logias não são tão definidas quanto aparentam ser. Sob a más
cara do tradicionalismo, pode encontrar-se um convite ao contacto
direto de aspectos sociais bem concretos e um salutar empirismo;
ou, no outro extremo, um fácil jargão dialético-literário pode es
conder teimoso modelo funcional ou positivista.
Complicado na hora da escolha do material, complexo na
hora da interpretação, o projeto ambicioso de Carlos Guilherme 1
1 Carlos Guilherme Mota é Livre-Docente de História Moderna e Contem
porânea na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Univer
sidade de São Paulo. Seus outros livros estão voltados para o ocaso do
sistema colonial e cruzam igualmente o limiar da história de nossas ideo
logias: Atitudes de Inovação no Brasil 1789-1801. Lisboa, Livros Hori
zonte, 1970; e Nordeste 1817. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1972.
