Table Of ContentIdentidade e cidadania
como se expressa o judaísmo brasileiro
Helena Lewin (coord.)
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros
LEWIN, H., coord. Identidade e cidadania: como se expressa o judaísmo brasileiro [online]. Rio de
Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009, 821 p. ISBN: 978-85-7982-018-2. Available
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Helena Lewin
(coordenadora)
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Copyright © 2009, Helena Lewin
Copyright © 2009 desta edição on-line: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais
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Ano da última edição: 2005, Programa de Estudos Judaicos
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Rio de Janeiro
2009
SUMÁRIO Em terras gaúchas: a história da imigração judaico-alemã ................... 97
Gladis Wiener Blumenthal
Resiliência, judaísmo e cultura organizacional................................... 112
APRESENTAÇÃO .................................................................................. VII Izabella Lucena
AGRADECIMENTOS ............................................................................. XI Prestamistas judeus no Rio de Janeiro (1920–1960) .......................... 131
Fábio de Sá Earp e Fania Fridman
PARTE 1
Os judeus da Leopoldina .................................................................... 150
500 ANOS DE PRESENÇA JUDAICA NO BRASIL
Márcio André Sukman
O legado do judaísmo à civilização brasileira .........................................2
Imigrantes judeus do Oriente Médio
Anita Novinsky e sua inserção em São Paulo e no Rio de Janeiro ............................... 160
1º CAPÍTULO Rachel Mizrahi
RESGATE HISTÓRICO DA VIVÊNCIA JUDAICA NO BRASIL Judeus do Egito no Rio de Janeiro:
Da Península Ibérica para Pernambuco... Eles vieram para ficar ............9 uma imigração peculiar (1956/1957) .................................................. 174
Tânia Neumann Kaufman Joëllle Rouchou
Um conflito de identidades: judeus e cristãos-novos no Brasil .............21 2ª CAPÍTULO
Bruno Feitler O DISCURSO DO JUDAÍSMO BRASILEIRO
Origens da intolerância aos cristãos-novos no Brasil Colônia ..............29 ATRAVÉS DA LITERATURA E DA ARTE
Renata Rozental Sancovsky O olhar judaico: memória e testemunho ............................................. 189
Bella Jozef
As denúncias de uma tradição:
das velas do shabat às fogueiras da inquisição ......................................35 Literatura de imigrantes: a literatura iídiche no Brasil ....................... 198
Aleksandra Lavor Serbim Umbelino Rifka Berezin
Os marranos e a interculturalidade em Pernambuco .............................44 Para além do incêndio: a escrita feminina de Cíntia Moscovich ........ 203
Claudia Simonne Carneiro Gouveia Nancy Rozenchan
Mulheres da nação cristã-nova: Homenagem ao intelectual judeu Jacó Guinsburg .............................. 212
as marranas do Rio de Janeiro (século XVIII) ......................................54 Berta Waldman
Lina Gorestein
Entre o cheder e a rua:
“Gente da Nação”: figurações do judaico e do brasileiro na prosa de Samuel Bawet ....... 219
os judaizantes e a preservação do judaísmo no Brasil ...........................64 Rosana Kohl Bines
João Henrique dos Santos Carta exílio: Rui Barbosa e o processo do Capitão Dreyfus ................. 225
Comunidades judaizantes em Minas Gerais ..........................................72 Sarah Lerner Sadcovitz
Neusa Fernandes
O padre António Vieira (1608-1697) e os judeus:
Judeus no sul do Brasil, Porto Alegre-RS: as referências a São Paulo................................................................... 235
da dispersão grupal à construção institucional e comunitária ...............80 Florence Lévi
Ieda Gutfreind
I II
As influências do hebraico no português: A América e a reconstrução da identidade judaica ............................. 401
uma busca genealógica ........................................................................249 Pedro P. Geiger
Isabel Arco Verde Santos e Andréa de Melo Souza
Identidade em conflito: o segredo do padre Sanctos Saraiva
A temática judaica nos poemas de Borges ..........................................260 (1834-1900), um “judaizante” na corte de D. Pedro II ....................... 419
Leonor Scliar-Cabral Paulo Valadares
Por uma estética contra a ordem: Identidade judaica na família
dois contos de Jorge Luis Borges sobre o nazismo .............................278 do poeta marrano Antônio Serrão de Castro ....................................... 428
Lyslei de Souza Nascimento Benair A. Fernandes Ribeiro
Vozes consoantes: O judaísmo e a boa cidadania ............................................................. 437
os artistas judeus e a MPB nos anos de Vargas ...................................292 Yossef [Maurício] Zukin
Orlando de Barros
Em busca de uma identidade:
3º CAPÍTULO o comportamento de consumo de judeus bem-sucedidos ................... 448
TESTEMUNHOS E HISTÓRIAS DE VIDA Carlos Blajberg
O cálice sagrado: a saga da família Blajberg de Ostrowiec ................317 Identidade, cidadania:
Israel Blajberg como se expressa o judaísmo na Amazônia! ...................................... 463
Oro Serruya
Individual dactiloscópica:
Bruno Wiczer, a trajetória de um imigrante ........................................332 O dilema da educação judaica formal
Fábio Koifman numa comunidade judaica diáspora .................................................... 477
Anita Brumer
Hershell Pencak (B5156): memórias da dor ........................................347
Maurício Pencak Educação para a diversidade ............................................................... 502
Cheila Szuchmacher Huf
Na busca de raízes: desvendando mistérios e trajetórias .....................376
Micheline Raccah Mulheres judias, profissionais brasileiras:
entre a identidade e cidadania ............................................................. 508
Bat Yam ou Yemanjá, uma fiel consumidora .....................................381
Helena Lewin
Renée Avigdor
O pacto da memória:
PARTE 2 interpretação e identidade na fonte bíblica ......................................... 525
VERTENTES DIFERENCIADAS Cláudia Andréa Prata Ferreira
DO COMPORTAMENTO JUDAICO BRASILEIRO
A diáspora brasileira:
1º CAPÍTULO solução neurótica, anomalia e viver parcial? ...................................... 541
IDENTIDADE E ETNICIDADE Leopoldo O. C. de Oliveira
Identidade judaica: Criação de uma fundação de estudos e pesquisas sefaradis ................ 553
significados e pertinência em jovens judeus liberais paulistanos ........393 Max Nahmias
Sylvana Hemsi
III IV
Imigração e território: Relações entre a polícia política
o papel de Israel na construção da identidade judaica da Diáspora .....558 e a comunidade judaica na era Vargas ................................................ 685
Adriana Spilki e Anita Brumer Isabela Andrade Lima
A construção o de um lugar judeu no Recife ......................................581 Humanus ou a construção do antissemitismo ..................................... 694
Rosa Bernarda Ludemir Saul Kirschbaum
Censo 2002: perfil da comunidade judaica do Rio ..............................598 3.2 MILITÂNCIA POLÍTICA DOS JUDEUS BRASILEIROS
Daniel Sasson
Nem bandidos, nem heróis:
Atividade judaica na visão ampla do terceiro setor .............................612
os militantes judeus de esquerda mortos sob tortura no Brasil
Edda Bergmann [1969/1975] ........................................................................................ 701
2º CAPÍTULO Beatriz Kushnir
O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: Judeus e Estado no Brasil: repensando o conceito de integração ....... 712
UMA VIA DE MÃO DUPLA Esther Kuperman
Eu e tu: diálogo plural .........................................................................622 “Quando o calo aperta...”:
Hélio Albuquerque uma análise do imaginário político de jovens judeus
Dabru Emet..........................................................................................626 da cidade do Rio de Janeiro ................................................................ 726
Leon Mayer Marcelo Gruman
Educação para o diálogo ......................................................................628 3.3 DISCUTINDO O CONFLITO
Vera Porto ISRAEL / PALESTINA SOB A PERSPECTIVA BRASILEIRA
O Shabat e o diálogo entre judeus e adventistas no Brasil ..................632 Brasil e Oriente Médio nas Nações Unidas:
Reinaldo Siqueira equidistância, pragmatismo e realismo ............................................... 747
Norma Breda dos Santos
Neopentecostais e neo-ortodoxos em São Paulo:
diferenças e semelhanças nas estratégias Brasil e Israel:
de recrutamento de novos membros ....................................................647 da partilha da Palestina ao reconhecimento diplomático .................... 773
Matha Topel Alberto Kleinas Tullo Vigevani
3º CAPÍTULO O conflito no Oriente Médio e a possibilidade da paz ........................ 785
POLÍTICA E COMPORTAMENTO JUDAICO Nizar Messari
3.1 O DISCURSO ANTISSEMITA E SUAS MÚLTIPLAS EXPRESSÕES O veto brasileiro ao sionismo e
o “pragmatismo responsável” do governo Geisel ............................... 797
Demônios renascidos das cinzas: Monique Sochaczewski
reflexões acerca da intolerância no século XX e XXI .........................662
Maria Luiza Tucci Carneiro História de um conflito ....................................................................... 808
Paulo Geiger
As comunidades judaicas e o exercício da cidadania:
do direito à vida, à liberdade e à segurança .........................................677
Sinaida de Gregório Leão
V VI
APRESENTAÇÃO torno das múltiplas leituras, olhares, interpretações e problematizações sobre
o judaísmo brasileiro e sua moderna identidade, foco central desse Encontro.
A organização deste livro, composta de duas Partes, I e II, segue o
programa desenvolvido durante o referido Encontro, contendo capítulos e
módulos.
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro por intermédio de seu
A inauguração desta publicação coube à Professora Dra. Anita
Programa de Estudos Judaicos, vinculado à Sub Reitoria de Extensão e
Novinsky, que abriu o III Encontro ao proferir a conferência “O Legado Do
Cultura, apresenta este volume intitulado Identidade e Cidadania: como se
Judaísmo À Civilização Brasileira: O Princípio De Liberdade Em Joaquim
expressa o judaísmo brasileiro composto de textos que foram apresentados
Nabuco” na qual abordou a questão da herança cultural judaica no Brasil,
durante o III Encontro Brasileiro de Estudos Judaicos, realizado de 23 a 25
no sentido de sua participação na construção de uma mentalidade de luta a
de Abril de 2002, nesta Universidade.
favor da igualdade social, tão bem caracterizada na figura de Joaquim
O objetivo acadêmico-institucional do Programa De Estudos Judaicos Nabuco e em seu engajamento no processo de abolição da escravatura.
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro centra-se em promover a
A Parte I, intitulada “500 Anos de Presença Judaica no Brasil”,
ampliação de conhecimentos nessa área de saber, filiando-se à tradição de
desdobra-se em três capítulos. O primeiro “Resgate Histórico da Vivência
estudos multidisciplinares que alargam o horizonte de apreensão de seu
Judaica no Brasil” representa-se por uma multiplicidade de trabalhos cujos
conteúdo e de suas implicações metodológicas. Em seu sentido amplo, o
autores analisam o fenômeno dos cristãos-novos no país desde o
Programa de Estudos Judaicos deve ser considerado como um centro de
descobrimento, ou achamento, do Brasil por Portugal, passando pelos
reflexão, pesquisa e produção de saberes no campo da história, cultura,
vários períodos da historiografia brasileira e suas inserções no cenário
religião e sociologia do judaísmo e de Israel, além de estudos especializados
nacional, apresentando as formas vigentes de adaptação desse segmento ou
sobre a comunidade judaica brasileira e sua configuração social.
sua rejeição por parte da sociedade brasileira e suas autoridades
Considerando, portanto, as premissas norteadoras do Programa De constituídas. Ainda nesse capítulo, deu-se ênfase à presença judaica no
Estudos Judaicos e a obrigatoriedade de sua presença nas atuais discussões Nordeste Brasileiro à época do Brasil Holandês, e sua importância histórica
que estão a ocorrer dentro das ciências sociais sobre questões étnicas e nos empreendimentos econômicos açucareiros, demarcando um período de
raciais assim como àquelas referentes à construção da cidadania, direitos e grande tolerância religiosa caracterizadora da dominação holandesa.
democracia, e as sobre movimentos sociais, globalização e transformações Concomitantemente, vários estudos apresentados tratam dos primeiros
científicas e tecnológicas, além das complexas mudanças em relação aos fluxos imigratórios judaicos que se sucederam no Império, dirigidos,
conceitos de tempo e espaço, e; considerando as relevantes modificações principalmente, para o Norte do Brasil; outros pesquisam a chegada dos
que se desdobram no interior do judaísmo brasileiro e mundial, resolveu o judeus imigrantes da Europa Central e Oriental, já no século XX, e a
Programa de Estudos Judaicos dar continuidade a sua programação de construção de uma sólida infraestrutura comunitária urbana após a
realizar Encontros Nacionais a cada três anos, tendo promovido o primeiro experiência agrícola no sul do país.
Encontro em outubro de 1994.
“O Discurso do Judaísmo Brasileiro Através da Literatura e da Arte”
Em assim sendo, o presente livro tem como objetivo permitir a ampla é o tema do segundo capítulo, que cobre um amplo espectro de indagações
circulação e interação de ideias decorrentes das questões discutidas no III intelectuais sobre a variedade da produção do discurso judaico no Brasil, via
Encontro Brasileiro de Estudos Judaicos, tendo em vista possibilitar pleno as falas de escritores nacionais sobre a temática acima, caracterizando-os por
acesso à variada temática judaica discutida, então, quando professores, seu conteúdo e estilo, sublinhando a contribuição da chamada literatura dos
pesquisadores, e alunos pós-graduados, de todo país, estiveram reunidos em
VII VIII
imigrantes, além da presença feminina, dos cancioneiros e daqueles que se político-nacional relacionadas a esses dois povos. As discussões, entre outros
vão inspirar nos textos bíblicos e cabalísticos. enfoques, enfatizaram a visão brasileira e suas relações internacionais vis a
vis os seus diferentes interesses de ordem econômica e política naquela região.
O terceiro capítulo, “Testemunhos e Histórias de Vida”, refere-se ao
registro vivido de familiares e de casos específicos, em sua condição
existencial judaica.
A Parte II, “Vertentes Diferenciadas do Comportamento Judaico
Brasileiro”, inicia-se com o capítulo “Identidade e Etnicidade”, que abarca
textos referidos à discussão desses dois conceitos, aplicados em fontes
primárias e secundárias, ao mesmo tempo que compara historicamente seus
diferentes desempenhos ao longo da evolução da sociedade brasileira, e a
especificidade da inserção comunitária judaica em seu interior. Nesse
capítulo inclui-se, também, a questão referente ao espaço e à territorialidade
vinculada à demografia judaica no Brasil, tendo em vista a imbricação
temática desta com a dimensão da identidade judaico-brasileira.
O segundo capítulo da Parte II, “Diálogo Inter-Religioso: Uma Via
de Dupla Mão” apresenta uma sólida análise sobre a configuração atual dos
debates que se estão processando entre as grandes religiões monoteístas
para discutir suas convergências e diferenças, assentando-se na visão
pluralista da democracia moderna e da cidadania, na qual o processo
educativo tem o papel primordial de dirimir conflitos que se ancoram na
intransigência e no preconceito.
Para finalizar, o terceiro capítulo “Política e Comportamento
Judaico” trata de questões contemporâneas no campo da ordem política
nacional e internacional, compondo-se de três módulos. O primeiro, “O
Discurso Antissemita nas suas Múltiplas Expressões” fala sobre o discurso
político discriminatório em relação aos judeus brasileiros em vários
momentos da modernidade nacional, enquanto o segundo módulo,
“Militância Política dos Judeus Brasileiros”, trata da questão do
envolvimento dos judeus brasileiros nas lutas políticas que caracterizaram a
conjuntura nacional do período militar.
O terceiro módulo refere-se ao painel “Discutindo o Conflito Israel/
Palestino sob a Perspectiva Brasileira” cujos participantes debruçaram-se,
analiticamente, sobre a temática referida ao Oriente Médio no qual
israelenses e palestinos encontram-se em conflito além da tensa problemática
relacionada com as questões da identidade étnico-religiosa e da soberania
IX X
PARTE 1
AGRADECIMENTOS
500 ANOS DE PRESENÇA JUDAICA NO BRASIL
Uma publicação de natureza acadêmica, como esta, que se oferece ao
público sob responsabilidade do Programa de Estudos Judaicos da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, engloba a participação de vários
atores que se dedicaram para que sua produção fosse realizada dentro das
exigências de orientação intelectual-científica como determinam as
premissas universitárias de competência e relevância.
A realização do III Encontro Brasileiro de Estudos Judaicos
congregou professores e pesquisadores de todo o país, especializados nessa
área de conhecimento, gerando um profícuo debate em relação à variada
temática consagrada aos estudos judaicos e, por sua vez, produzindo um
significativo resultado, ora objeto da presente divulgação.
O Programa de Estudos Judaicos da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro reitera seus agradecimentos à Diretoria Executiva e ao Conselho
Diretor da Sociedade Israelita Religiosa Chevra Kadisha do Rio De Janeiro,
que com sua reconhecida sensibilidade em relação às questões do judaísmo
como prática e ação social, possibilitou a publicação desta obra, decorrente
de seu inestimável apoio financeiro.
Garante-se, assim, o acesso ao conteúdo deste III Encontro Brasileiro
de Estudos Judaicos a todos os Centros de Educação do Brasil, judaicos e
não judaicos, objetivando o conhecimento desta temática, além de
converter-se em fonte de consulta para pesquisas, material de aula, debates
e outras atividades pedagógicas.
XI 1
O legado do judaísmo à civilização brasileira Lina Gorenstein, Lana Lage, Luis Nazario e outros, que este espaço não me
permite citar, cujas obras já são um marco na historiografia brasileira.
Anita Novinsky1 Há uma pergunta que muito frequentemente me tem sido feita, tanto
por colegas como por curiosos, e que eu faço a mim mesma: se os judeus,
O s estudos sobre a imigração judaica para o Brasil nos séculos bem ou mal convertidos, marcaram com sua presença três séculos da história
coloniais têm feito consideráveis progressos. O papel que os judeus colonial, atuando em todos os níveis, econômico, político, social, o que ficou
representaram na construção e colonização do Brasil está hoje constatado dessa presença na nossa cultura, qual foi o legado que nos deixaram? Dos
em diversos trabalhos científicos. Durante os três séculos coloniais, negros nos ficaram a musica, as danças, a culinária, as crenças; dos índios, a
ininterruptamente, portugueses de origem judaica, conhecidos como toponímia, o banho e outros costumes, mas o que nos legou essa numerosa
cristãos-novos e denominados marranos na historiografia judaica, população judaica de suas tradições, de seus rituais, de suas crenças religiosas
procuraram fugir do ambiente de terror que se havia constituído em e de sua cultura. Ainda não temos um retrato nítido desse legado, mas a sua
Portugal e na Espanha depois do estabelecimento de uma Corte de Justiça, riqueza já chamou a atenção de um ilustre professor francês Nathan Wachtel,
criada inicial e exclusivamente para punir os judeus: o Tribunal do Santo ex-diretor do Laboratoire d’Antropologie Lévi-Strauss de Paris, que hoje
Ofício da Inquisição. ministra no College de France um curso sobre os marranos portugueses.
Apesar desse tema exigir pesquisas mais exaustivas e aprofundadas, já temos
Convertidos todos os judeus, através da violência, ao Catolicismo,
elementos consideráveis, susceptíveis de reflexão, que mostram uma corrente
muitos deles procuraram chegar ao Novo Mundo, em busca de um sonho de
de pensa- mento que se estende do século XVI ao XX, uma rede de ideias,
liberdade. Vieram atrás deste velho sonho, que desde a destruição de
cuja continuidade pode ser detectada ao compararmos os documentos,
Jerusalém e da perda da sua pátria, lhes foi negado por todas as nações: a
percorrendo os séculos, uma diacronia de ideias que nos mostra que, por mais
liberdade. A discriminação legal proibia no mundo ibérico, aos
forte que tenha sido a influência da sociedade ampla sobre os cristãos-novos,
descendentes dos judeus, cargos, honras e educação superior. E em todas as
certos traços da filosofia de vida judaica permaneceram.
naus que saiam do Tejo, embarcavam judeus, legal ou clandestinamente,
violando as leis que os impediam de sair de Portugal. A realidade que os judeus convertidos enfrentaram no Novo Mundo
não foi sempre a de seus sonhos. As nações ibéricas, nas suas ambições
Hoje, com a abertura dos arquivos da Inquisição e a publicação de
expansionistas, transferiram para a América sua legislação discriminatória e
novas fontes, uma outra História do Brasil começa a emergir, já pressentida
sua política racista e antissemita e montaram um sistema de fiscalização que
pelos nossos ilustres historiadores como Varnhagen, Capistrano de Abreu,
fazia de cada cidadão um cúmplice em potencial. Mesmo assim, na
Rodolfo Garcia, Eduardo Prado, Paulo Prado, o que levou este último a
multirracial e pluricultural sociedade americana, o racismo e a intolerância
publicar uma coleção que denominou Para melhor se conhecer o Brasil. Na
não conseguiram vencer totalmente. Nem o Estado português, nem a Igreja
Universidade de São Paulo, uma equipe de historiadores se dedica hoje a
conseguiram impor de maneira absoluta as suas regras. Os brasileiros
desvendar manuscritos que contam a história deste “outro” Brasil, que
subverteram a ordem e os cristãos-novos conseguiram penetrar nos mais
palpitava nas “sociedades secretas” espalhadas pela Bahia, Rio de Janeiro,
altos círculos das elites coloniais, compraram títulos de nobreza e
Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraíba e outras regiões. E eu me orgulho
conseguiram, muitas vezes, apagar suas origens judaicas. Foram eles os
dessa nova geração de historiadores, que foram meus alunos, como Ronaldo
antepassados de muitas famílias brasileiras de hoje. Pagaram, porém, um
Vainfas, Laura de Melo e Souza, Luis Mott, Maria Luiza Tucci Carneiro,
preço, a liberdade em troca da identidade judaica.
Nem todos os cristãos-novos, porém, tiveram a mesma sorte. Apesar
de nunca se ter instalado oficialmente um Tribunal da Inquisição no Brasil,
1 Professora Drª da Universidade de São Paulo.
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