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Idea
A evolução do conceito de belo
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Erwin Panofsky
Idea
Contribuição à história do conceito
da antiga teoria da arte
Erwin Panofsky, crítico e historiador de arte, nasceu em
Hannover, Alemanha, em 1892.Foiprofessor na Universidade
de Hamburgo. Em 1933,abandonou aAlemanha e se instalou
nosEstadosUnidos,indolecionarnaUniversidade dePrinceton.
wmjmartinsfontes
Faleceuem 1968.Escreveu,entre outros livros,Arquitetura gótica
eescolástica eSignificado nas artes visuais.
SÃO PAULO 2013
TItulo originai: IDEA.
Copyright ©Erwin Panofsky eBruno Hessling Verlag.
Copyrighl ©Liuraría Marlins Fontes Editora LIda., SãoPaulo, 1994,
paraapresente edição,paracorda comaDra. Cerda Panofsky·
1~edição 1994
1!edição 2013
2.'tiragem 2013
Tradução
PAULO NEVES
.~ ,
Revisão datradução
j Moni"" Slahel
Preparação dooriginal
Marise Simões Leal ÍNDICE
Revisões gráficas
Maurício BalllUlzar Leal
FábioMaximiliano Alberti
Produção gráfica
Geraldo Alves
Composição
Antonio JoséCruz Pereira Prefácio à primeira edição . 1
Prefácio à segunda edição . 3
DadosInternacionais deCatalogaçãunaPublicação(ClP) Introdução . 7
(CâmaraBrasileiradoLivro,SP,Brasil)
Panofsky, Erwin, 1892-1968.
Idea:contribuição àhistória doconceitodaantigateoriada I. A Antiguidade . lS
arte / ErwinPanofsky;[tradução PauloNeves).-~ed.-São
Paulo: EditoraWMF Martins Fontes,2013.(Bibliotecadopen- 11.A Idade Média . 3S
samento moderno) 111.O Renascimento . 4S
TItulooriginal:ldea: contribution à)'histoire du concept IV. O "Maneirismo" . 71
deI'ancienne theorie del'art
ISBN978-85-7827-654-6 V. O Neoclassicismo . 99
1.Arte-História 2.Estética -História 3.Idealismo I.TItu- VI. Miguel Ângelo e Dürer . 111
lo.Il.Título:Contribuição àhistória doconceitodaantiga
teoria daarte.Ill.Série.
Apêndice I. Capítulo deG. P. Lomazzo sobreasbelas
12-15417 COD-lll.85
proporções e Comentário aoBanquete de Marsilio
Índices para catálogo sistemático:
1.Estética: Filosofia 111.85 Ficino . 125
Apêndice I!. G. P. Bellori. A idéia do pintor, do es-
Todososdireitos desta edição reservados à cultor e do arquiteto, obtida das belezas natu-
Editora WMFMarfins Fontes Ltda.
Rua Prof Laerte Ramos deCarvalho, 133 01325.030 SãoPaulo SP Brasil rais e superior à natureza . 143
Te/.(11) 3293.8150 Fax (11) 3101.1042 Notas ....................................................... lS9
e-mail: info®wmfmartinsfontes.com.br http://www.wmfmartinsfontes.com.br
PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO
o
presente estudo estáem estreita relação comuma
conferência dada pelo professor E. Cassirer na Biblio-
teca Warburg, "A idéia do Belo nos diálogos de Pla-
tão" (Die Idee desSchõnen in Platos Dialoguen), que seen-
contra publicada notomo II das Conferências daBiblioteca
Warburg (Vortriige derBibliothek Warburg); nossa pesquisa
propõe-se seguiraevoluçãohistórica desseconceito, cuja
significação sistemática foiprecisamente elucidada pela
conferência deCassirer. Aintenção dosdoisautores era
exprimir essa conexão pela própria publicação; mas o
presente estudo - sobretudo em razão das notas, au-
mentadas em parte por curtas digressões, bem como pe-
las citações das fontes, dificilmente evitáveis em nosso
caso - tornou-se demasiado volumoso para poder fi-
gurar nas Conferências daBiblioteca Warburg. O abaixo as-
sinado deve portanto limitar-se aremeter oleitor àcon-
2
lDEA
ferência mencionada anteriormente e a agradecer pro-
fundamente ao professor Cassirer suas múltiplas suges-
tões e sua ajuda sempre benevolente.
Hamburgo, março de 1921- E. PANOFSKY
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
o
projeto de reeditar um livro publicado há trinta
e cinco anos e há muito esgotado representa para seu
autor algo de excepcionalmente lisonjeiro. Mas, simul-
taneamente, essa reedição coloca-lhe uma questão de
consciência. Éóbvio que nesse meio tempo não apenas
a própria pesquisa avançou, como também as intenções
do autor, ainda que permaneçam inalteradas quanto ao
essencial, modificaram-se em numerosos detalhes.
Levar em conta essa evolução só teria sido possível
se o autor se dispusesse a redigir um livro inteiramente
novo e, provavelmente, três a quatro vezes mais volu-
moso; mas para isso faltam-lhe tempo, forças e - "pa-
ra falar cIaramente"d - vontade. A outra solução con-
siste numa reimpressão sem o acréscimo de nenhuma
mudança, limitando-se àcorreção de um certo número
de falhas eerros tipográficos. Em particular, o parágra-
fofinal do capítulo "O 'Maneirismo''', bem como a no-
ta 239 que fazia parte dele, foram suprimidos, pois
4 IDEA PREFAcIO A SEGUNDA EDIÇÃO 5
revelou-se que orelato por Giulio Clovio de um encon- tot Bevordering der Kennis van deAntieke Beschaving,
tro com ElGreco, publicado por Hugo Kehrer epor nós XXIII, 1948, pp. 1ss.; R. Bianchi-Bandinelli, Osseroa-
utilizado, era uma falsificação de caráter "patriótico". zioni storicho-artistiche a unpasso deisophista Platonico , Stu-
Deixamos portanto aoleitor atarefa de completar ecor- di in onore di Ugo Enrico Paoli, Florença, 1956, pp.
rigir o antigo texto - "essa antiga composição"c, pa- 81 ss.; T. B. L. Webster, Plato and Aristotle as Critics of
ra citar um colegaitaliano - àluz de recentes publica- GreekArt, Symbolae Osloenses, XXIX, 1952, pp. 8ss.;
ções, tarefa que talvez lhe seja facilitada por algumas e ainda: B. Schweitzer, Xenokrates tion Athen (Schriften
breves indicações. der Kõnigsberger Gelehrten-Gesellschaft, Geisteswissens-
A propósito do capítulo" A Antiguidade' " dentre chaftliche Klasse, IX, 1),Halle sur Saale, 1832;H. Juc-
os inúmeros e recentes trabalhos consagrados às rela- ker, Vom Verháltnis derRõmer zur bildenden Kunst der Grie-
ções de Platão com a arte, e cujo conhecimento deve- chen, Frankfurt, 1950, principalmente pp. 126-140.
mos sobretudo ao professor Harold F. Cherniss, convi- O capítulo dedicado à Idade Média deveria sercom-
ria consultar: P. M. Schuhl, Platon et l'art de son temps, pletado sobretudo com osmonumentais Études d'esthéti-
primeira edição, Paris, 1933 (segunda edição, Paris, quemédiévale deE. deBruyn, Bruges, 1946,ecomobreve
1952); H. J. M. Broos, Plato's Beschouwing oan Kunst en mas esclarecedor artigo de M. Schapiro, On theAesthetic
schoonheid, Leiden, 1948;E. Huber-Abrahamowicz, Das Attitude of theRomanesque Age, Art and Thought, Londres,
Problem derKunst beiPlaton, Winterthur, 1954;B. Schweit- 1948, pp. 130 ss.
zer, Plato und die bildende Kunst der Griechen, Tübingen, Quanto aoscapítulos" O Renascimento' " "O 'Ma-
1954;E. Wind, Theios Phobos: untersuchungen über diepla- neirismo' " e "O Neoclassicismo", conviria acrescentar-
tonische Kunstphilosophie, Zeitschrift für Aesthetik und All- lhes: A. Blunt, Artistic Theory in Italy, Oxford, 1940; do
gemeine Kunstwissenschaft, XXVI, 1932, pp. 349 ss.; mesmo autor, Poussin 'sNotes on Painting, Journal ofthe
A. W. Bijvank, Platon et l'art grec, Bulletin van de Ve- Warburg Institute, I, 1938, pp. 344 ss.; e R. W. Lee,
reeniging tot Bevordering der Kennis van de Antieke Ut Pictura Poesis: The Humanistic Theory of Painting, Art
Beschaving, XXX, Leiden, 1955, pp. 35 ss.; do mes- Bulletin, XXII, 1940, pp. 197 ss. Mas o mais impor-
mo autor, De beeldendeKunst in den tijd oan Plato, Mede- tante é que aMagna Carta da concepção clássicada arte,
delingen der K. Nederlandse Akad. van Wetenschap- que considera oestilo "idealista" dosCarracci ede Do-
pen, Afd. Letterkunde, N. R., XVIII, 1955, pp. 429 menichino como a solução definitiva do conflito entre
ss.(acompanhado deum resumo emfrancês);H. F. Bou- o Maneirismo "alheio à natureza" eo "grosseiro" Na-
chery, Plato en de beeldende kunst, Gentse, Bijdragen tot turalismo - a Idea deipittore, dello schultore, edell 'architet-
de Kunstgeschiedenis, XI, 1954, pp. 125ss.; H. J. M. to de Giovanni Pietro Bellori, publicada pela primeira
Broos, Platon en de kunst, Bulletin van de Vereeniging vezem 1672-, mostrou ser a recapitulação e a codifi-
6 IDEA
caçãodemodosdepensar correntes no círculodessepin-
tor e que, entre 1607e 1615,já haviam recebido uma
primeira formulação dasnotas manuscritas deseucom-
patriota, amigo e mecenas, o erudito monsenhor Gio-
vanni Battista Agucchi (ou Agucchia): D. Mahon, Stu-
diesin SeicentoArt and Theory (Studies ofthe Warburg Ins-
titute, XVI), Londres, 1947. (A respeito de um estudo
de Agucchi sobre a teoria da arte e sobre asconvicções
estéticas de seu amigo Galileu, ver E. Panofski, Galileo
as a Critic oj the Arts, Utrecht, 1954.)
INTRODUÇÃO
Noqueconcerneaocapítulo "Miguel ÂngeloeDü-
rer", o autor permite-se igualmente remeter a duas de
1
suas obras: Studies in Iconology: Humanistic Themes in the i
Art ojthe Renaissance, Nova York, 1939, pp. 242 ss.; e
Albrecht Dürer, 3~ edição, Princeton, 1948, pp. 279 ss. Platão, que conferiu aosentido eaovalor metafísi-
Em suma, oleitordestareimpressãodeveráter sem- cosda Belezafundamentos universais, ecuja teoria das
pre presente que estetexto foiredigido há mais deuma Idéias adquiriu para a estética das artes plásticas uma
geração e que não foiem absoluto "atualizado". Se os significação cada vezmaior, não foicapaz, no entanto,
livros fossem sujeitos às mesmas normas legais que os dejulgar equanimemente essas mesmas artes plásticas.
produtos farmacêuticos, cada exemplar deveria conter Seria ir longe demais, seguramente, querer caracteri-
na capa a inscrição: "Utilizar com prudência" * - ou, zar e definir a filosofia platônica como uma "inimiga
como diziam os antigos frascosmedicinais: CA VTIVS. pura e simples das artes", que de uma maneira muito
geral teria contestado aopintor e aoescultor opoder de
Princeton, outubro de 1959 E. PANOFSKY contemplar asIdéias'; pois, assim comoem todososdo-
mínios da vida - e issovale também ou sobretudo pa-
ra aprópria atividade filosófica- Platão separa nitida-
mente asatividades profissionaissegundo oscritérios do
verdadeiro e do falso, dojusto e do injusto, do mesmo
modo ele opõe, quando setrata das artes plásticas, aos
• Amesma prudência deve ser recomendada apropósito de uma tra-
representantes desacreditados da "arte mimética' "',
dução italiana, publicada emFlorençaem 1952:ldea, Contributoaliastonaddi'es-
tetica, introdução e tradução de E. Cione. que sabem apenas imitar a aparência sensíveldo mun-
8 IDEA INTRODUÇÃO 9
dodoscorpos, aqueles artistas que - na medida em que estética das artes plásticas não pode encontrar lugar em
issoé possível na sua atividade, que seexerce no plano
seu sistema filosóficoa título de domínio específico do
da realidade empírica - procuram em suas obras valo-
espírito (aliás, somente no século XVIII irá se instau-
rizar a Idéia e cujo trabalho pode servir de "paradig-
rar uma separação, fundada em princípios, entre a es-
ma"d ao do legislador. "Eles passam depois (isto é, de-
fera da estética e as da teorética e da ética); Platão aca-
poisde terem limpado a superfície do quadro e esboça-
ba portanto necessariamente delimitando de maneira
do as linhas principais) à execução propriamente dita"
bastante estrita ocírculodas produções artísticas que ele
- trata-se aqui certamente dos pintores que, em ter-
.
podia, de seu ponto de vista, aprovar; e, mesmo nessa
mosplatônicos, podemos qualificar como "poéticos" ou
,f perspectiva estritamente limitada, a arte só pode rece-
"heurísticos". "Então elesdeixam seu olhar demorar- ,
seora de um lado, ora de outro, voltados primeiro para ber, a seus olhos, um valor condicional: se a arte tem
o que é verdadeiramente justo, belo, sóbrio e pertence por missão ser verdadeira no sentido "idealista", ou se-
àmesma ordem, depois para oque oshomens conside- ja, sedeve entrar numa espécie de concorrência com o
ram comotal; misturando ecombinando suascores, eles conhecimento racional, seu objetivo deve consistir ne-
fazem assim oretrato do homem edeixam-se guiar nes- cessariamente então, ao preço de uma renúncia à indi-
sa composição por aquilo que Homero chamava de di- f vidualidade e à originalidade em que vemos habitual-
vino ou semelhante aosdeuses, toda vez que issoapare-
mente a marca distintiva das produções da arte, em re-
cia aos homens.'
'2 duzir o mundo visível às Formas, que nunca mudam
Mas, a despeito dessas afirmações e de outras
eque sãouniversal eeternamente válidas. (Conseqüen-
semelhantes", não deixa de ser legítimo designar a fi-
temente dá prioridade, sobre a arte indisciplinada dos
losofiade Platão, senão como inimiga declarada da ar-
gregos, à arte "canonicamente fixada" dos egípcios,
te, ao menos como uma filosofiaestranha à arte; isso
cujasobras, dezmilanosantes, nãoeram nem maisbelas
secompreende apartir do fatode que quase toda apos-
nem mais feias que as daquele tempo, e, mais ainda,
teridade - éocasoparticularmente de Plotino - rete-
eram executadas sempre segundo o mesmo estilo.}" E,
vede seus numerosos ataques contra as artes "miméti-
cas" a lição de uma condenação geral da arte plástica mesmo quando esse objetivo, na medida das possibili-
enquanto tal. Com efeito, a partir do momento em que dades humanas, éalcançado, nem por issoaobra de arte
Platão avalia o valor das produções da escultura e da pode pretender uma categoria mais elevada que a da
pintura em função doconceitode um conhecimento ver- "imagem"b; ora, a imagem, apesar de sua aparente
dadeiro, isto é, de uma conformidade com a Idéia - semelhança com a Idéia, sob muitos aspectos está em
conceito que lhes é fundamentalmente alheio -, uma contradição com ela e tão afastada dela quanto o "no-
10 IDEA INTRODUÇÃO 11
me" *, com a ajuda do qual ofilósofo,submetido à ne- ro nossoolhar, elepróprio imperfeitoê; daí resulta que a
cessidade (da linguagem), exprime suas reflexões'. obra dearte aumenta ainda mais aconfusãoemnossaal-
Com isso, o valor de uma criação artística de- ma econstitui, em relação àverdade, einclusive aquém
termina-se, para Platão, como valor de uma investiga- domundo sensível, "uma espéciedeterceiro termo afas-
ção científica, ou seja, em função da inteligência teoré- tado da verdade"> 9. Segundo uma poesia conhecida de
tica e sobretudo matemática que nela se acha investi- João Tzetzes, Fídias, que enquanto "ótico"b e "geôme-
da"; do mesmo modo, a maior parte do que se consi- tra' 'blevava em consideração a redução das coisassitua-
derou e ainda se considera geralmente arte, mesmo a das a grande altura, acabou por conferir a uma estátua
grande arte, inclui-se para ele no conceito de "arte mi- de Atena proporções objetivamente inexatas, e precisa-
mética' 'b, contra a qual, no livro X da República e no mente por issotriunfou sobre seurivalAlkamenes'"; ora,
Sofista, lança suascondenações bem conhecidas; há duas essaobra poderia ter fornecido aPlatão um exemplotípi-
possibilidades: ouoartista - eéamelhor delas - pro- codessaarte inferior - tem-se quase aimpressão deque
duz escrupulosas imagens que, tomadas no sentido da suacríticavisaexplicitamenteaesculturadeFídias- que
"imitação por cópia'?", reproduzem os conteúdos da écensurada porquerer considerarasdeformaçõesdepers-
realidade que seoferece à percepção sensível, mas ape- pectiva edeste modo fazervaler não" asproporções efe-
nas esses conteúdos, e de acordo com as coisas (nesse tivamente existentes", mas" aquelas que dão a ilusãode
casooartista contenta-seem duplicar inutilmente omun- serem belas"b 11. Issopermite compreender também em
do sensível que, por sua vez, não é mais do que uma quemedida correspondiam aoidealplatônicoasobrasdos
imitação das Idéias"); ou então engendra aparências in- pintores e escultores egípcios, que não apenas pareciam.
certas e enganosas que, no sentido em que entendemos manter-se imutavelmente fiéisafórmulassolidamente es-
"imitação por sirnulacro+'", diminuem o que é grande tabelecidas, mas também rejeitavam amenor concessão
eaumentam oque épequeno de modo ainduzir em er- à percepção ótica; afinal, para Platão, não era o artista,
esimodialético, que tinha a missãode revelar omundo
das Idéias. Pois, enquanto a arte seinstala na produção
• Sabemos que, especialmente no Crâtilo (430e-432c), Platão elucida dasimagens, afilosofiapossuiosupremoprivilégiodeuti-
metaforicamente onome (ovoJLa) como retrato (-ypáJLJLa) ecomo pintura ou lizar as "palavras" apenas comoprimeiros degraus con-
quadro (l'w-ypá<{JT/JLa) dacoisa(1fplx-YJLa), antes dedefini-Ia, mais conceitual- duzindo aocaminho doconhecimento que permanece in-
mente, como sua imagem (fiKWV). Sabemos também que essa definição de
terdito ao artista, justamente porque esteapenas produz
certo modo "iconográfica" da linguagem institui entre osnomes eascoisas
uma "Imagem "> 12.
uma,relação "mimética" ou de "representação", que significa referência
Se, em contrapartida, interrogarmos agora um pen-
ediferença, emtodocaso"afastamento" donome em relação àcoisa. (Nota
da tradução francesa - a partir daqui N.T.F.) sador do séculoXVI - istoé, pertencente a uma época
T
.
,,
12 IDEA INTRODUÇÃO 13
em que seconcebia geralmente a arte plástica como "imi- vidade artística, pôde transformar-se, ou quase, por uma
tação"'", o que não quer dizer reprodução no sentido inversão de seu sentido, num conceito específico da teoria
"realista" da época - sobre sua maneira de conceber a da arte? A resposta a essa questão nos é sugerida pelo
própria essência da Idéia platônica, eis o que lemos, por próprio Melanchton; para justificar sua interpretação do
exemplo, em Melanchton: "É certo que Platão designa conceito de Idéia, ele se baseia em Cícero!" e nos dá a
sempre sobotermo Idéias uma noção clara eperfeita, aná- entender que já a Antiguidade, preparando assim o ter-
loga à imagem incomparavelmente bela do corpo huma- reno para as concepções do Renascimento, havia inver-
no que seencontra encerrada no espírito de Apeles"d 13. tido o sentido conceitual da Idéia platônica, a ponto de
Essa interpretação (que, de maneira implícita, procura fazer dela uma arma contra a própria concepção platô-
reconciliar Platão e Aristóteles'") diferencia-se de uma nica da arte.
concepção originariamente platônica sobretudo em dois
pontos. Primeiro ponto: as Idéias já não são substâncias
metafísicas que existem fora do mundo das aparências sen-
síveis, e nem mesmo fora do Intelecto, num "local su-
praceleste">; são, ao contrário, representações ou intui-
ções que residem no espírito do próprio homem. Segun-
do ponto: o pensador da época considera a partir de en-
tão perfeitamente natural que as Idéias sejam reveladas
preferencialmente na atividade do artista. Ésobretudo no
pintor, enão mais no dialético, que sepensa agora quan-
do se discute o conceito de Ideal5.
A opinião de Melanchton (que não era propriamen- .,
te um teórico da arte ejamais demonstrou interesse es-
pecial pelas artes plásticas) parece significativa por um
duplo aspecto. Por um lado, leva-nos a prever que do-
ravante a teoria da arte propriamente dita se empenha-
rá cada vez mais em anexar a doutrina das Idéias, ou
melhor, será cada vez mais atraída para essa esfera de in-
fluência; por outro lado, ela coloca-nos a seguinte ques-
tão: de que maneira o conceito da Idéia, do qual o pró-
prio Platão freqüentemente deduziu a inferioridade da ati-