Table Of ContentJohn Russell-Wood
Histórias do Atlântico
português ❖
editora
unesp
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Mário Sérgio Vasconcelos
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José Castilho Marques Neto
Editor-Executivo
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Paula da Cruz Landim
Rogério Rosenfeld
Editores-Assistentes
Anderson Nobara
Jorge Pereira Filho
Leandro Rodrigues
JOHN RUSSELL-W OOD
HISTÓRIAS DO
ATLÂNTICO
PORTUGUÊS
Organização
Ângela Domingues
Denise A. Soares de Moura
editora
unesp
© 2014 Editora Unesp
Textos:
Antes de Colombo: o prelúdio africano de Portugal à Passagem Atlântica e sua contribuição à discussão sobre raça e
escravidão
Traduzido de “Before Columbus: PortugaPs Afirican Prelude to the Middle Passage and Contribution to Discourse on
Race and Slavery”, de A. J. R. Russell-Wood, In: Race, Discourse, and the Origm of the Américas: A New World View, ed.
Vera Lawrence Hyatt e Rex Nettleford. Washington, DC: Smithsonian Institution Press. Publicado com permissão da
Smithsonian Institution. © 1995.
Literatura portuguesa: panorama
Traduzido de “Portuguese Literature: An OverView", de John Russell-Wood, In: Oxford Encyclopedia Maritime History,
de John B. Hattendorf, com permissão da Oxford University Press.
O Atlântico português, 1415-1808
Traduzido de “The Portuguese Atlantic, 1415-1808, de John Russell-Wood, In: Atlantic History: A Criticai Appraisal,
editado por J. R Greene & R Morgan (2009), p.81-109, com permissão da Oxford University Press.
Portos do Brasil colonial
Traduzido de “Ports of Colonial Brazil”, originalmente publicado em Atlantic Fort Cities: Eccmomie, Culture, and Society
in the Atlantic World, 1650-1850, editado por Franklin W. Knight e Peggy K. Liss. © 1991 University of Tennessee
Press. Publicado com permissão.
Uma presença asiática no negócio de transporte de metais preciosos, 1710-50
Traduzido de “An Asian Presence in the Atlantic Bullion Carrying Trade”, ln: Portuguese Studies, London, 2001, n.17,
p.148-167. © Modem Humanities Research Assn. Publicado com permissão.
A dinâmica da presença brasileira no Indico e no Oriente. Séculos XVI-XIX
Publicação autorizada pela Revista Topoi. Publicado originalmente em Revista Topoi n.3, set. 2004, p.9-40.
Através de um prisma africano: uma nova abordagem ao estudo da diáspora africana no Brasil colonial
Publicação autorizada pela Revista Tempo. Publicado originalmente na Revista Tempo n.12, dez. 2001.
Fronteiras do Brasil colonial
Traduzido de “Frontiers in Colonial Brazil: Reality, Myth and Metaphor". Artigo originalmente publicado em Latin
American Frontiers, Borders and Hinterlands: Research Needs and Resources - Papers of the Thirty Semmar on the Acquisition
of Latin American Library Materials (Albuquerque, New México, 1990, p.26-61). Traduzido com permissão do Seminar on
the Acquisition of Latin American Library Materials (SALALM)
O governo local na América portuguesa: um estudo de divergência cultural
Traduzido de A. J. R. Russell-Wood, “Local Government in Portuguese America: A Study in Cultural Divergence",
Comparatives Studies in Society and History, v.16, 1974, p. 187-231. © Society for the Comparative Study of Society and
History, publicado por Cambridge University Press. Traduzido com permissão.
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CIP - Brasil. Catalogação na publicação
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
R924h
Russel-Wood, Anthony John R.
Histórias do Atlântico português / Anthony John R. Russel-Wood; organização Angela
Domingues, Denise A. Soares de Moura. - 1. ed. - São Paulo: Editora Unesp, 2014.
ISBN 978-85-393-0554-4
1. Navegação marítima - Portugal - História. 2. Descobertas geográficas portuguesas.
3. Descobertas e explorações portuguesas. I. Domingues, Angela. II. Moura, Denise A.
Soares de. III. Título.
14-17701 CDD: 946.902
CDU: 94(469)
Editora afiliada:
Asoclación de Edltoriales Universitárias Associação Brasileira de
de América Latina y el Caribe Editoras Universitárias
SUMÁRIO
7 Introdução
27 Antes de Colombo: o prelúdio africano de Portugal à
Passagem Atlântica e sua contribuição à discussão sobre
raça e escravidão
73 Literatura portuguesa. Visão geral
89 O Atlântico português, 1415-1808
125 Portos do Brasil colonial
177 Uma presença asiática no negócio de transporte de metais
preciosos, 1710-1750
203 A dinâmica da presença brasileira no Indico e no Oriente.
Séculos XVI-XIX
235 Através de um prisma africano: uma nova abordagem ao
estudo da diáspora africana no Brasil colonial
279 Fronteiras do Brasil colonial
303 O governo local na América portuguesa: um estudo de
divergência cultural
367 Referências bibliográficas
INTRODUÇÃO
Em março de 2010, John Russell-Wood apresentou à Funda-
ção Editora da Unesp o que ele chamou, com seu marcante senso
de humor, de “três propostas indecentes”. Estas nada mais eram do
que o projeto de edição de uma trilogia com textos que ele havia
escrito e publicado em diferentes momentos de sua trajetória aca
dêmica, alguns ainda sem versão em português.
Os títulos que ele próprio deu a essas coletâneas - “O Atlân
tico luso-brasileiro”, “Identidade, etnicidade e gênero no Brasil
colonial” e “Ensaios sobre a historiografia e sobre dois ilustres
contribuintes” - representavam a variedade de temas sobre uma
das partes do mundo de tradição portuguesa da época moderna, o
Brasil, ao qual dedicou boa parte de sua vida.
Nascido em 1940 no País de Gales, no Reino Unido, John
Russell-Wood começou aquela que seria sua longa incursão na
história do mundo português através de uma vigorosa pesquisa
nos arquivos da Santa Casa de Misericórdia, uma das instituições-
-chave que proporcionou organicidade a um império difuso como
o português, que se estendia das ilhas-estado e cidades-porto do
Índico aos domínios territoriais do Atlântico.1
1 Thomaz, De Ceuta a Timor.
8 JOHN RUSSELL-WOOD
Os cinco anos de residência na Bahia, divididos entre os
arquivos, os livros e as ruas, também consideradas por ele como
um reservatório de conhecimentos que deveriam ser explora
dos pelo historiador preocupado em entender uma civilização,
mesmo de uma época distante, resultaram no clássico Fidalgos
e filantropos: A Santa Casa de Misericórdia da Bahia, 1550'1755,
livro originalmente publicado em 1968.2 Essa obra forneceu sub
sídios para as investigações do historiador inglês Charles Boxer,
que viria a ser seu orientador e principal referência humana e
intelectual, sobre grandes temas da história social, política e reli
giosa do império marítimo português, reunidos em um livro
publicado em 1969.3 De modo geral, a historiografia tributa a “O
império marítimo português” uma das motivações para a reno
vação teórico-metodológica que ocorreu na interpretação da
historia do Brasil da época moderna a partir dos anos de 1990.
Mas esse tributo também deve ser dado ao livro Fidalgos e filan-
tropos e seu tratamento transcontinental de uma instituição
religiosa.
John Russell-Wood sempre enfatizou a contribuição de
Charles Boxer para o alcance de uma perspectiva global na
abordagem dos temas do mundo português da época moderna.
Mas também sempre destacou a importância de outro grande
mestre, polêmico na historiografia britânica, H. R. Trevor
Roper, que o alertou para ter uma visão mais comparativa e glo
bal do que era verificado no caso da Santa Casa da Bahia, como
o próprio Russell-Wood escreveu nos agradecimentos do livro
Fildagos.
Essa perspectica metodológica transcontinental, hoje apri
morada pela historiografia brasileira através do conceito de
monarquia pluricontinental,4 pode ser acompanhada em um dos
volumes da trilogia idealizada por John Russell-Wood e que a
2 Russell-Wood, Fidalgos and Phãantropiscs.
3 Boxer, O império marítimo ponuguês: 1415-1825, p. 409.
4 Cunha; Monteiro (orgs.), Governadores e capitães-mores do império atlân
tico português nos séculos XVII e XVIII. In: Cardim; Cunha; Monteiro,
Optima Pars: elites ibero-americanas do Antigo Regime, p. 191-252. Fragoso;
Gouvêa, Monarquia pluricontinental e repúblicas: algumas reflexões sobre
a América lusa nos séculos XVI-XVIII, 7empo, v. 27, p.49-63. Fragoso;
HISTÓRIAS DO ATLÂNTICO PORTUGUÊS 9
Fundação Editora da Unesp traz a público. Para dar viabilidade à
sua edição, a proposta original sofreu algumas alterações. A versão
final, contudo, que teve de ser levada adiante sem a presença de
John Russell-Wood, dada sua repentina morte, traz uma mostra
importante e precisa de textos publicados entre 1977 e 2009 e que
representam o ecletismo e algumas vezes a inovação de suas temá
ticas de pesquisa, sua metodologia e perspectiva analítica global
e em certos momentos original na abordagem de objetos muito
tratados pela historiografia do império português.
Alguns desses textos já são bastante conhecidos dos histo
riadores de língua portuguesa e outros apenas agora aparecem
traduzidos para o português. Há também alguns escritos que
contêm advertências para questões já resolvidas pela historiogra
fia, como acontece com a introdução do texto “A dinâmica da
presença brasileira no Índico e no Oriente. Séculos XVI-XIX”,
publicado na revista Topoi em 2001.
Contudo, a densidade da pesquisa empírica de seus textos, a
originalidade de algumas temáticas e a forma de problematizá-las
os tornam atuais e sugestivos para os investigadores luso-brasilei-
ros da atualidade.
Muitos dos avanços alcançados pela historiografia brasileira
nos últimos quinze anos5 é tributário das problematizações, resul
tados de pesquisas e perspectivas analíticas de John Russell-Wood
publicadas em vários desses textos que dissecaram questões como
os fluxos humanos migratórios forçados e espontâneos da África e
Portugal para o Brasil, as consequências culturais e biológicas desse
processo; a readaptação de instituições político-administrativas
de origem portuguesa em território americano, a formação nesse
Sampaio, Monarquia pluricontinental e a governança da terra no Ultramar atlân
tico luso, séculos XVI-XVIII.
5 Marco desse avanço pode ser acompanhado nos trabalhos publicados em
Fragoso; Bicalho; Gouvêa, O antigo regime nos trópicos: a dinâmica impe
rial portuguesa (séculos XVI-XVIII), que inclusive foi prefaciado por John
Russell-Wood. Entre 2005-2009, o projeto temático Dimensões do Império
Português, coordenado por Laura de Mello e Souza, resultou em uma cen
tena de pesquisas da iniciação científica ao pós-doutoramento que tinha
como uma das questões de fundo conceituar as bases de unidade do império
português.
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mesmo território de um complexo amálgama étnico-cultural, o
fator cor da pele herdado das tensas relações entre portugueses e
árabes na Península Ibérica e dos embates entre civilização cristã
e árabe na formação do mundo moderno, como categorizador
social; e a formação do Brasil para além de outros espaços que
a África ou a Europa ibérica. A perspectiva de um império glo-
bal com suas várias partes, do Indico ao Atlântico, funcionando
articuladamente, decerto é a grande contribuição no tocante ao
enfoque analítico.
Três aspectos essenciais fornecem unidade ao escritos ora
apresentados nesta coletânea de ensaios: a influência incontes
tável de Charles Boxer; a perspectiva teórico-metodológica da
história atlântica, que teve como um de seus berços a Johns Hop-
kins University, intituição à qual John Russell-Wood esteve ligado
como professor, pesquisador e orientador de pesquisas desde 1971;
e a história do império português.
Lições do amigo e mestre Charles Boxer
Um mundo em movimento, livro publicado primeiramente em
inglês em 1992 e traduzido para o português seis anos depois,
representa a síntese da influência de Charles Boxer sobre toda a
trajetória do pesquiador e historiador John Russell-Wood.
Assim como em O império marítimo português,6 nesse livro Rus
sell-Wood aborda por meio de densa base empírica vários aspectos
econômicos, sociais, religiosos e culturais do império português
desde sua expansão, mas através da ideia-chave do movimento
dos portugueses, um povo para ele tido como de natureza global,
diferente de outros povos europeus, e que estabeleceram relações
frutíferas e duradouras em todo o lugar em que estiveram, fosse
na Ásia, África ou América.
Além disso, o movimento dos portugueses foi responsável por
alterar a maneira “como os povos do mundo se viam a si próprios
nos séculos XV XVI e XVII”, contribuindo assim para a formação
6 Boxer, op. cit.
HISTÓRIAS DO ATLÂNTICO PORTUGUÊS 11
do mundo moderno.7 Afinal, como ele conclui, foi o movimento dos
portugueses que fez os povos da América, África e Ásia terem a
percepção da “existência uns dos outros” e alterou hábitos de con
sumo, culinária, técnicas, os produtos do meio agrário.
A visão transcontinental do império português compartilhada
por ambos os historiadores residiu também na força de curiosidade
que os levou a percorrer arquivos e lugares, de Goa às várias partes
do Brasil. Ao mesmo tempo, a preocupação em sentir o “espírito do
lugar”, conversando inclusive com pessoas comuns, contribuiu pa
ra que tivessem uma perspectiva mais humanizada da história do
mundo português.
Tanto Boxer como Russell-Wood se preocuparam com o
movimento das gentes, das travessias atlânticas de portugueses
e africanos, aos movimentos humanos intracontinentais no Bra
sil que levaram à sua ocupação e colonização em ampla escala,
embora John Russell-Wood tenha feito dessa mobilidade inces
sante uma chave interpretativa e construído um conceito.
Cada ensaio apresentado nesta coletânea tem atrás de si
histórias das viagens de John Russell-Wood, da mesma maneira
como acontecia com os textos de Charles Boxer. Como visto
anteriormente, o livro Fidalgos já o havia levado a residir seis
anos em Salvador. O ensaio “Uma presença asiática no negócio
de transporte de metais preciosos, 1710-50”, que aparece na
presente coletânea, o fez revirar os códices de remessas de ouro
das embarcações que saíam do Brasil, especialmente de Salva
dor, e seguiam para a região do Indico e que estão na Casa da
Moeda de Lisboa; o clássico texto “O governo local na América
portuguesa” saiu de uma vigorosa incursão no Arquivo Público
Mineiro, em Ouro Preto; além das inúmeras visitas à Bahia, ao
Rio de Janeiro, Goa ou ao arquivo Histórico Ultramarino em
Lisboa.
A plena amizade e a sintonia intelectual com o mestre Char
les Boxer não impediram que John Russell-Wood erguesse um
trabalho de personalidade própria e que, inclusive, avançava em
relação ao seu mestre. Embora ambos os historiadores tenham se
7 Russell-Wood, Um mundo em movimento: os portugueses na África, Ásia e
América (1415-1808), p.341.