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Prefácio
Há alguns anos, no Congresso Sindical do Ensino,
discutiu-se largamente o tema: se a História deve ser
ensinada sob o ponto de vista de classe ou sob o ponto de
vista da verdade.
Esta maneira absurda de abordar a questão só podia,
evidentemente, dar lugar a respostas absurdas. De fato:
uns afirmaram que o ensino da História deve ser feito
unicamente sob o ponto de vista de classe, pretextando
que só há verdades de classe; outros, pelo contrário,
disseram que ensinar a História sob um ponto de vista de
classe é adotar um modo de ver unilateral, que falseia a
verdade, porque a verdade existe independentemente das
classes.
Na nossa opinião, uns e outros estão errados.
Não se pode opor o ponto de vista de classe à verdade,
como dois termos de uma antinomia irredutível. Quem isso
faz, renuncia de antemão a toda possibilidade de unir
dialeticamente o ponto de vista de classe à verdade.
Na realidade, não há "verdade acima das classes” nem
“verdade de classe”. Admitir que existe uma verdade acima
das classes é acreditar na existência de uma verdade
absoluta. Por outro lado, afirmar que só há verdade de
classe é reconhecer que há tantas verdades quantas são as
classes existentes. Se a primeira asserção nos conduz
diretamente ao domínio do absoluto, onde todas as
afirmações são possíveis, porque escapam ao exame dos
fatos, a segunda nos faz emergir no reino do arbitrário e da
confusão, onde qualquer afirmação pode imediatamente
ser negada pela sua contrária. Ambas demonstram a
mesma incompreensão da marcha da História e do
progresso dos conhecimentos humanos.
Se, com efeito, admitirmos que a História não é mais que
a História da luta de classes, seremos necessariamente
obrigados a reconhecer que cada classe revolucionária
representa — historicamente — um progresso em relação à
precedente, no sentido de que reflete uma nova etapa no
caminho da dominação da natureza pelo homem. O
progresso, que cada classe realiza, não se faz somente no
terreno dos fatos, mas, também, no domínio das ideias.
Cada classe cria sua ideologia própria. Cada classe traz
consigo uma concepção do mundo oposta à ideologia e à
concepção do mundo da classe que deseja substituir. Mas
— e é aqui que está o nó da questão — esta nova
concepção do mundo significa um progresso em relação à
precedente, dado que fornece uma explicação do mundo
mais próxima da realidade, mais verdadeira que à da classe
precedente. É evidente, pois, que, embora cada classe
possua uma concepção própria, estas diferentes
concepções não têm o mesmo valor. Umas são mais
verdadeiras que outras.
Hoje, conhecemos a Terra melhor que no tempo de
Ptolomeu. Do mesmo modo que a teoria da evolução de
Darwin é uma explicação mais satisfatória da formação das
espécies, que a explicação bíblica; no domínio da História, o
materialismo histórico explica-lhe melhor a marcha do que,
por exemplo, Tito Lívio ou Bossuet.
A questão deve ser, portanto, submetida a estudo da
maneira seguinte:
"Qual a teoria que melhor permite explicar, e,
consequentemente, melhor ensinar a História?” Será a
teoria que afirma serem todos os acontecimentos da
História determinados pelos desígnios da Providência? Será
a que assevera que a História é feita pelos grandes homens
ou — o que dá no mesmo — a que explica a marcha da
História pelo progresso da razão ou da ideia da justiça? Ou
a teoria que vê no desenvolvimento das forças produtivas e
das formas de produção o fator fundamental da evolução
histórica?
Nós dizemos: o materialismo histórico é a teoria que
melhor explica a História. Isto acontece, não só porque é a
teoria da classe mais avançada dos dias atuais — o
proletariado, cuja missão histórica é continuar o progresso
até agora realizado — como também porque o materialismo
histórico é a teoria que melhor explica em que sentido esse
desenvolvimento se vai encaminhar no futuro. Isto não quer
dizer que as demais teorias sejam inteiramente falsas. São
falsas, apenas, quando confrontadas com o materialismo
histórico — e em relação a ele. De fato: o materialismo
histórico não se limita a negar, pura e simplesmente, as
concepções do mundo que lhe são opostas. Refuta-as,
explicando-as ao mesmo tempo, e integra-as numa nova
concepção do mundo, superior a todas as outras.
Não basta, porém, estabelecer o que acima dissemos. É
preciso, também, saber aplicar. Bem pouco se fez, até
agora, nesse sentido — é forçoso reconhecê-lo. No domínio
da História, particularmente, só possuíamos, até hoje,
pequenas monografias referentes a épocas ou fenômenos
isolados. Não tínhamos nenhum estudo de conjunto. Por
isso, até os dias presentes, não podíamos opor às
numerosas Histórias Universais burguesas, imbuídas de um
espírito mais ou menos idealista, uma teoria geral baseada
na concepção materialista.
Já se fez, é verdade, há um quarto de século, na
Alemanha, uma tentativa de elaboração de uma História do
socialismo sob o ponto de vista do materialismo histórico.
Mas tanto os escritores alemães, como os franceses, não
foram além das monografias dispersas, que, embora
tenham grande valor, estão longe de constituir um lado
homogêneo, coordenado. Demais, por serem
excessivamente volumosas e por não as organizarem
segundo um plano preconcebido, tais monografias não se
puderam prestar à difusão da História, sob o ponto de vista
materialista do proletariado, entre as massas operárias.
O livro de Max Beer vem, por esse lado, preencher uma
lacuna evidente. Nele, Beer estuda toda a História do
socialismo, desde a mais remota Antiguidade até os
Tempos Hodiernos. Numa linguagem viva, ágil, animada de
um movimento rápido, que arrasta o leitor sem que este o
perceba, que o mantêm empolgado pelas descrições. Mas
Beer expõe a História do socialismo de cada povo, de cada
país, de cada nação, com respeito à escala social,
econômica, política e cultural.
Apesar das dimensões relativamente pequenas, este livro
é, na realidade, uma verdadeira História Universal escrita
ao modo de ver socialista, isto é, materialista.
Max Beer é um dos mais célebres escritores socialistas
contemporâneos. Seu livro História do Socialismo na
Inglaterra, assim como a excelente monografia intitulada
Carlos Marx, sua vida e sua obra, já haviam chamado a
atenção do público. A História Geral do Socialismo e das
Lutas Sociais, que agora publicamos, alcançou, no mundo
inteiro, um êxito completo e merecido.
Não queremos dizer, entretanto, que este livro e uma
obra impecável, sem defeitos. Pelo contrário. Muitos pontos
fracos há que é necessário criticar. Poderíamos também
fazer alguns reparos sobre grande número de pormenores.
Em primeiro lugar: não concordamos com o seu método,
que muitas vezes dá aso, inevitavelmente, a algumas
confusões. Não nos parece igualmente acertado começar a
História do socialismo na Antiguidade e confundir, numa só
obra, a História do socialismo e a História das lutas sociais,
que não são coisas idênticas, mas diversas.
Acresce ainda que a teoria exposta pelo autor sobre a
divisão cronológica da História merece mais acurado
exame, porque se baseou numa análise insuficiente das
diferentes épocas a que se refere. Não basta dizer que cada
forma de sociedade — escravagista, feudal e capitalista —
possui uma fase antiga, medieval e moderna. É ainda
preciso mostrar claramente em que base econômica
assenta cada um desses períodos. E, em particular, se
verificarmos que a sociedade capitalista, logo que surge,
adota certas ideias e teorias elaboradas na Antiguidade,
faz-se mister explicar as causas econômicas desse
fenômeno. Ao lado das analogias, é necessário ainda
mostrar as diferenças profundas que existem entre certas
teorias da Antiguidade e certas teorias modernas. Em nossa
opinião, o autor não fez isso.
Poderíamos, também, apresentar numerosas objeções no
que concerne à própria exposição dos fatos. Nem todos
aqueles que se servem de um bom método histórico
chegam a ser bons historiadores. Isto explica as falhas e os
senões desta obra de Beer. Finalmente, mesmo o método
utilizado pelo autor — o materialismo histórico, de que
também somos adeptos — não foi, possivelmente, aplicado
sempre com o rigor necessário.
Não podemos, pois, ser acusados de miopia intelectual
pelo fato de recomendarmos a leitura deste livro.
Conhecemos-lhe os pontos vulneráveis. Contudo, embora
os tenhamos em vista, podemos dizer, sem receio de errar,
que esta obra de Max Beer é a melhor de todas as
exposições da História da Humanidade, desde as suas
origens até os dias de hoje.
Há muito tempo que se sentia a necessidade de uma
História que não fosse escrita apenas para a justificação e a
glorificação das classes dominantes. Por este prisma, a
obra de Beer é uma obra sem par. Eis porque será recebida
por todos os espíritos criteriosos com a atenção que
merece.
Mais alguns capítulos, e esta obra tornar-se-ia
indiscutivelmente completa. É lamentável que tais capítulos
não tenham sido escritos. Mesmo assim, porém, o valor
deste livro é incontestável.
Acreditamos não tecer um elogio exagerado ao dizermos
que esta obra será de imensa utilidade não só para o
público que estuda, como mesmo para historiadores
profissionais, que terão interesse em consultá-la, porque
nela irão aprender muita coisa que atê então ignoravam. E
aprenderão, em primeiro lugar, a interpretar a própria
História.
Marcel Ollivier
Nota Preliminar Sobre o Materialismo
Histórico
Nas Musas de Heródoto há material abundante para o
estudo dos costumes e das instituições dos povos da
Antiguidade. Mas, antes de Heródoto, que é considerado o
Pai da História, os faraós egípcios e os reis da Babilônia já
haviam mandado gravar, nos monumentos, varias
inscrições que descreviam as suas principais façanhas.
Inspirando-se nesses primeiros documentos da civilização
humana, muitos historiadores contemporâneos julgam,
ainda, que, escrever a História, é apenas narrar a vida das
personagens mais notáveis das diferentes épocas. Adotam,
portanto, nos nossos dias, o mesmo método histórico dos
faraós egípcios.
Mas, na realidade, essa “História dos acontecimentos" ou
“História pragmática”, como alguns também a denominam,
é somente uma parte da verdadeira História. Para prová-lo,
basta lembrar que eventos tão importantes como, por
exemplo, a invenção da máquina a vapor, o descobrimento
das bactérias ou o aparecimento do Fausto de Goethe, não
estão contidos nessa ‘História pragmática”.
Compreendendo a insuficiência das “narrativas”, alguns
historiadores procuraram completá-las, criando, na História,
uma parte especial consagrada ao estudo da “maneira de
viver” dos homens, nas diversas épocas. Todavia, esse
complemento, destacado do conjunto, perde quase todo o
valor: a “maneira de viver” aparece como uma coisa rígida,
imutável, cristalizada, quando, na verdade, a História tem
como objetivo fundamental o estudo do movimento, o
estudo das transformações, que se processam na
sociedade, através dos tempos.