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Os mais b
acordes d) subúrbio
GRYPHUS
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DE
blé. Tremenda bobagem, primeiro porque no gi
chamado candomblé não há feiticeiro e, sim,
sacerdotes, ritualistas, acólitos e fiéis. Segundo
porque o hipocoristicó "Guinga" é um carinhoso
apelido de infância, inspirado no jeitinho meio
gringo que tinha o menino Carlos Althier Lemos
Escobar.
Esse nome, ele sim, é que me impressionava.
Porque, pela sonoridade dele, eu pensei,
durante algum tempo, que o Guinga fosse um GUINGA E CHICO BUARQUE
burguesinho da Gávea Pequena (desses que
usam apelido com sobrenome, tipo "Guinga Mas acontece que esse músico
Escobar") forçado a ser menino prodígio por meticuloso, não era nenhum
uma família daquelas que a gente conhece e burguesinho da Gávea Pequena.
que põem nos palcos e nas redações tantos E foi aí que eu soube que o Guinga
artistas e jornalistas bobões. Pensava também, jogou pelada nos mesmos rala-
pelo que dizia certa imprensa, que o Guinga ralas suburbanos onde eu não me
frequentasse poetas concretistas, só gostasse consagrei; frequentou os mesmos
de músicos experimentalistas, comesse bailes no Madureira Ténis Clube
endívias ao invés de chicória e preferisse rúcula que eu; fez calças num alfaiate
a agrião. Essa impressão ainda perdurava que morava atrás do cemitério de
quando fui honrado com a primeira melodia que Irajá; conhecia e curtia o Gigante
ele me deu para letrar. Era uma obra complexa, da Fábrica de Balas, o Amador, o
cheia de notinhas coladinhas umas nas outras, viado Carlinhos de Madureira;
indo e voltando, subindo e descendo. namorou, frequentou macumba,
Tentei descobrir a letra que estava ali dentro. respeitou os mais velhos, rezou
E o melhor meio que eu tinha era sair andando cobreiro e nervo torcido, comeu a
pela Vila com aquela estrutura melódica na filha dos outros - tudo igualzinho
cabeça. Foi aí que veio a história do fictício a mim.
Parsifal, um militar linha dura reformado que se Foi aí que eu vi que ele só come
apaixona pela copeira da estatal, uma passista endívias e trufas para tirar onda e
mangueirense que... eu vou te contar! Achando curtir em cima dos corifeus da
que tinha matado a pau, liguei pro parceiro pra superficialidade.
mostrar a obra. Ele gostou e tal, mas disse que Nei Lopes
estava faltando letrar o final.
"Mas aquilo não era uma coda, pra ser
repetida com a mesma letra?" - perguntei.
"Não." - respondeu o malandro.(A melodia
parece a mesma, mas tem outras notinhas ali
no meio).
Era isso, realmente. Então, tive que me virar
pra arranjar um outro epílogo pra historinha do
Parsifal, o que ocorreu ainda uma outra vez. Capa e Projeto Gráfico: Télio Navega
Em 88, Guinga veio aqui em
casa pela primeira vez, num
encontro marcado, se nõo me
engano, por Raphael Rabello.
Estava com uniforme de
dentista. Pessoalmente, sou
avesso a visitas. Só que entre
Guinga e eu havia uma paixão
comumf o "abre-te Sésamo
"
universal: Música. Quando
Guinga começou a mostrar suas
composições com Paulo César
Pinheiro, e outras sem letra, fui
sendo arrastado para uma
paisagem que julgava
impossível. Lá conviviam, na
varanda de uma casa de
subúrbio, Cândido das Neves e
Debussy, Pixinguinha e Ravel,
Villa-Lobos e Charlie Mingus,
entre muitos outros músicos.
Disse tudo isso que sentia ao
Guinga, que me olhou com uma
expressão inesquecível, entre
feliz e incrédulo. Depois desse
dia, pessoas mais importantes
do que eu confirmaram minhas
palavras: Turíbio Santos avalizou
a presença de Villa-Lobos em
Guinga; Paco de Lucia invejou o
universo de seu violão; Oscar
Castro Neves elogiou a sutileza
da fusão entre harmonia e
melodia; Sérgio Mendes, vez por
outra, vem visitar o Guinga pra
levar pra fora as notas mais
preciosas do Brasil; Hermeto
Pascoal declarou para a
posteridade que Guinga é um
dos maiores compositores do
mundo. Hoje penso em Guinga
da mesma forma como a que o
vi naquele primeiro dia: é um
gênio puro, desses que aparecem
uma vez a cada cem anos, e a
importância de sua música para
o Brasil sequer começou a ser
avaliada com a profundidade
que merece. Faço daqui,
publicamente, uma declaração
de amizade que me comove;
porque fui eu - e isso ninguém
pode tirar de mim - uma espécie
de Colombo tijucano meio de
porre, quem, pela primeira vez,
se me permitem, botou o ovo
em pé.
Aldir Blanc
Mario Marques,
vascaíno
de berço, nasceu
em Nova Iguaçu
em 8 de
novembro
de 1969.
Formou-se em
jornalismo em
1992, atuando
paralelamente desde 1988 como
editor da revista de música "A Clava
do Som" até 1994. Em 1995, ingressa
no jornal 0 GLOBO, onde trabalha
desde então como repórter e crítico
do Segundo Caderno. Nesse período
produziu discos de artistas como
Flávio Venturini ("Linda juventude -
50 anos") e Renata Gebara ("Todos os
pedaços são seus").
Mario Marques
pinga
Os mais belos
acordes do subúrbio
GRYPHUS
© Copyright
Mario Marques
Gerente de Produção
Cesar Lourenço Caneca
Coordenadora Editorial
Ana Montenegro
Editoração Eletrônica
Télio Navega
Copy Desk
Flávia Pereira e Equipe Cia Editora Forense
Revisão
Andréa Sales
Capa
Télio Navega
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
M319g
Marques, Mario
Guinga: os mais belos acordes do subúrbio / Mario Marques. - Rio de Janeiro:
Gryphus, 2002
. - (Gryphus musical)
Inclui bibliografia.
ISBN 85-7510-025-4
1. Guinga, 1950-. 2. Compositores - Brasil - Biografia. 3. Música
popular - Brasil - Textos. I. Titulo II. Série
02-0401. CDD 927.8042
CDU 92(GUINGA)
Direitos autorais das fotografias reservados e garantidos.
GRYPHUS
Um selo da Companhia Editora Forense
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www.gryphus.com.br - e-mail: [email protected]
Aos meus paiS Mano e Maria Luiza,
sobreviventes da dignidade.
À Antonia MullW de Mello
(in memoriam)\
que me emprestlou a alma.
À minha filha M.aria Antonia
Marques, que rec\ebeu seu
nome e sua pureza.
Agradeço a.
Guinga (peia Nei Lopes Jefferson Mello
generosidade,
confiança e por me Nelson Motta Paulo Luiz, Paulo
deixar debruçar Moreira e à equipe
na sua música) Chico Buarque do GDI do Globo.
e à sua família,
Fátima, Constance Paulinho Aos amigos, meus
e Branca. Albuquerque e de Guinga:
Quinzinho,
Gisela Zingoni, Ed Motta Zé Nogueira,
Leila Pinheiro e Turíbio Santos,
Ana Montenegro Maria na Timóteo Paulo Sérgio
(por acreditarem (...) Santos,
na força da obra Fátima Guedes,
de Guinga e Di/iey Fernandes Chiquito Braga,
impulsionarem Sérgio Mendes,
o proje to). Ana Lu cia Borges e Zé Renato,
Luciana Cala za Moacyr Luz,
Antonio Carlos Lula Ga l vã o,
Miguel (pelo belo Guto Costa (pelas Jards Ma calé,
prefácio, pela habituais Hélio Delmiro,
paciência, e pela maravilhosas Lenine,
existência na fotos, pela Alceu Valença,
minha trajetória dedicação e pelo Djavan,
profissional e na profissionalism o). Jodacil
minha vida). Damasceno,
Arnaldo Bloch Fran co Pa ulin o,
Meu trio de Mauro Dias,
parceiros L uiz / João Máximo IIerme to Pascoal,
Neto, Marlon Br um Carlos Malta,
e André Valle. Simone Intrator Toots Thielemans,
Mauro Ferreira,
Aldir Blanc Is a bei la Cantai Lu cia no Ribeiro e
Tárik de Souza.
Ana Paula Araújo Télio Navega
..."Paz de violão que o coração
disparando em mim, ai, contradiz
estrada estranha a vereda do amor,
luas e lírios onde piso, onde o exílio e
o paraíso são quase uma coisa só,
onde a crueldade é dó
e o retorno é o degredo...
giro no Baile Perdido dos meus 15 anos...
vem a mulher de vermelho
e encantos ciganos violarem meu
segredo...
ao olhar no espelho há amores tais
que o par só vê um, ninguém mais..."
(Exílio e Paraíso, Guinga e Aldir Blanc)
S U M A R I O
11 PREFÁCIO 107 CAPÍTULO 9
Retrato (musical) de Picotado
Guinga em movimento 117 CAPÍTULO 10
17 CAPÍTULO 1 Cheio de pernas
Um delírio para lá de 123 CAPÍTULO 11
carioca Conclusão
25 CAPÍTULO 2 129 DISCOGRAFIA
Estação Subúrbio
41 CAPÍTULO 3 135 CRONOLOGIA
Quem vem vindo ali?
51 CAPÍTULO 4 139 GRAVAÇÕES POR OUTROS
Caiu do céu na hora ARTISTAS
61 CAPÍTULO 5
Cortando um dobrado 151 ENTREVISTAS
e as harmonias
81 CAPÍTULO 6 155 BIBLIOGRAFIA
Exasperadas e mulheres
91 CAPÍTULO 7 157 CRÉDITOS DAS
Violão desconcertante FOTOGRAFIAS
97 CAPÍTULO 8
Impressionados e
marcantes
