Table Of Content1
Estudotaxonômico dePolygala subgêneroLigustrina (Chodat)
Paiva (Polygalaceae)1
Maria do Carmo Mendes Marques2 & Ariane Luna Peixoto™
(EstudotaxonômicodePolygalasubgêneroLigustrina(Chodat)Paiva(Polygalaceae)) OsubgêneroLigustrina
é caracterizado, dentro do gênero Polygala, sobretudo, pela presença de glândulas, geralmcnte cilíndricas,
laterais à base do pccíolo e, freqüentemente, na raque da inflorescência; pelo estilete terminado em uma
cavidade preestigmática infundibuliforme; por um disco subanular chanfrado lateralmente, circundando a
base do ovário O subgênero é restrito à América do Sul. Na busca de melhor delimitar os táxons desse
subgênero, procede-se a análise morfológica de caracteres vegetativos, florais e frutíferos. São incluídas,
também nasanálisesmorfológicas,aepidermeeavascularizaçãodalâminafoliareatestadassementes,por
meio da microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os táxons são descritos, ilustrados, comentados e
discutidosquantoasquestõestaxonômicasenomenclaturais;dadossobredistribuiçãogeográficaeformações
vegetacionaissãoapresentados,bemcomochaveparaaidentificaçãodasespéciesevariedades.Osresultados
odbetsicdroesved-esfeinuemma1 1noevspaéceisepséceiseetee tvraêrsiendoavdaess svuabroireddiandaedsa.sAaso seusbpgéêcnieesroPL.igbuasntrgiinaan.aDeentPr.eiensstiegsnitsáxsoãnos
restabelecidas; P. autraniiéredefinidacomovariedadede P. spectabilis eP. sinuataépropostacomonovo
sinônimo de P. laureola.
Palavras-chave:Polygala,Polygalaceae,taxonomia,flora,AméricadoSul.
^
fctract
(TaxonomicstudyofPolygalasubgenusLigustrina(Chodat)Paiva(Polygalaceae)) ThesubgenusLigustrina
is charactcrized specially by the glands, generally cylindric. situated laterally at the base ofthe pet.ole and
frequently in the rachisofthe infiorescenceand forlhestyle terminated inonepre-st.gmatic funnel - shaped
hollow and by a sublimar disk laterally eleved that surrounds the ovary basis. The subgenus Ligustrina is
restrieted to the South America. A detailed analysis ofthe floral and vegetative morphology charactenst.es
ofthesubgenus wasrealized,wilhtheaimoftoobtainabelterdclimitat.onotthetaxa.Itmcludesobscrvat.ons
about the epidermis and leafblade venation; the seeds are examined at scanning elctronic microscope. The
specificandinfraspecifictaxaaredescribcd,illustrated,commentedandd.scussedw.threlat.ontothetaxonomic
and nomenclatura! questions. An identification key for the spec.es and subgenus Ugustnna compnses 1
specics and seven varieties. Among the.setaxa. a new species and threc vanet.es aredescnbcd The spcc.es
P. bangiana e P. insignis are restablished; P. autranii is rcdefin.ded as one vancty and P. sinuata is
proposed as a new synonym ofP. laureola.
Keywords:Polveala. Polygalaceae,taxonomy.flora,SouthAmenca.
Introdução gêneros Barnhartia, Bredemeyera,
Amplamentedistribuídaportodooglobo, Diclidanthera, Monnina, Moutabea,
com exceção da Nova Zelândia e das zonas Polygala e Securidaca têm representantes
ÁrticaeAntártica, Polygalaceae compreende na florabrasileira e somam aproximadamente
19 gêneros e aproximadamente 1.300 240 espécies (Marques 1979, 1980, 1984a,
etPrsoêplséycgieaeslsteaaiebn,cellueMícodiuadstaaesbmepqaoueraterCohXotarnditabhotso,p(hd1ya8ls9lq6euaaae)i,,s d1o9s84dbP.eoml1ay9ig8s8a,lpa1e9lé8a9u,imn1f9lg9oê6rn,ees1rc9oê9nn7ca,ita2u0rea0lm2,crd2ia0sc0tic3n)mt.oo
Os simples e fruto cápsula rimosa. Paiva (1998)
e uma, Carpolobeae, por Eriksen (1993).
Janeiro, RJ, Brasil.
'Bolsistade Produtividade em Pesquisa, CNPq.
SciELO/JBRJ
cm _2 13 14 15 16 17
Marques, M. C. M. & Peixoto,A.L
assinala cerca de 725 espécies, sendo 400 MaterialeMétodos
americanas, 211 africanas, 22 européias, 60- As espécies de Polygala subgênero
70asiáticas,8-12australianase 1-2introduzidas
na Polinésia e na Groenlândia. Estimava-se Ligustrina, com exceção de P. laureola, não
para o Brasil cerca de 180 espécies (Marques são facilmente encontradas na natureza.
Apesar dos esforços na realização de
1979, 1984a).Atualmenteestima-se 140táxons
(110 espécies e 30 variedades). excursões em campo, em busca de alguns dos
Chodat (1891, 1893) divide o gênero táxonsdemaisdifícildelimitação,nemsempre
Polygala em dez seções, das quais cinco selogrouêxitoemencontrá-los.Assim,contou-
têm representantes no Brasil se principalmente com a análise das coleções
CAcanthocladus Ligustrina, Gymnospora, deherbáriosnacionaiseestrangeiros,inclusive
Hebeclada e ,Polygala). As espécies tipos e fotografias de tipos, cuja as siglas
brasileiras das seções Acanthocladus, encontram-se citadas no material examinado.
Gymnospora e Polygala foram estudadas Asestruturasforamanalisadasutilizando-
por Marques (1984a, 1984b, 1988). se estereomicroscópio, acoplado com sua
HeCxehibasmetacPeeaanibtrvuepasxau,(s1)9B(9reP8alh)celhveayabcteosrietotçapaõeiensos,isaAscH,auenbbtgehêBocnacledlraiaodedsarusaj,,èá ccaséuâopmmmaealnarNstaoai.nOctelHPraanrar5asa,%efoomereacsdmotiruafadsedormaeesdnsatmceasnosemrecsvlscaaaraçfilãfraoiascnadiddanaesas
Ligustrina, Gymnospora e Rhinotropis a hidroalcoólica a 5%, montadas em glicerina-
subgêneros,criaosubgênero Chodatia, ecom água (50%) e observadas em
o subgênero Polygala, engloba ao gênero um estereomicroscópio, em visão frontal, em um
total de 12 subgêneros. Adota-se aqui esta únicoaumento.
classificação e, com o objetivo de dar Para estabelecer o padrão de nervação,
continuidade aos estudos que vêm sendo eavascularizaçãofoliar,comanálisedasredes,
desenvolvidos na família, propõe-se, neste malhas e bordos as lâminas foliares foram
trabalho, o estudo taxonômico do subgênero diafanizadas, empregando-se a técnica de
Ligustrina. Este subgênero é caracterizado Strittmater (1973), coradas, com safranina
ppeelcaíoplroeseençfardeequgelânntdeumleasntleatenraaisràabqausee ddao hAidmroeaslmcoaóltiéccaniac5a%teammobnétmadfaois eutmilgilziacdearinnoas.
inflorescência, pelo estilete geniculado estudos das epidermes foliares, tricomas e
terminado em cavidade preestigmática estômatos, visto que o material dissociadoem
infundibuliformecomtricomasemseusbordos, mistura de Jeffrey (Johansem 1940) não se
por um disco unilateralmente chanfrado mostrousatisfatório.Noexamedalâminafoliar,
circundando a base do ovário glabro, pelas adotou-se o conceito de Hickey (1974) e no
sementescarunculadasuniapendiculadasepelo da epiderme foliarempregou-se oconceitode
pólenprolatoebrevicolpado. Willdnson(1979).
O
Aopartirdapremissaqueonomecorreto estudo das testas das sementes contou
deumaplantaéoprimeiropassoparaqualquer com o auxílio da microscopia eletrônica de
pesquisacientífica,têm-secomoobjetivoneste varredura (MEV). Utilizou-se material
tnroambeanlchloa:tudriariimsi;r rdeúavviadlaisartoasxocnaôrmaicctaesrese Ahesrbosreimzeandoteosriusnodbordeecoáspsusluapsojrátdeesiscfeontreasm.
taxonômicosutilizadosnasrevisõesanteriores metalizadasemouroportrês minutos, levadas
e identificar novos caracteres que possam para a observação ao MEV e fotografadas.
O
permitir a elaboração de uma chave analítica, teste microquímico para comprovar a
o mais fidedigna possível, para ò impregnação de cutina nas paredes dos
reconhecimento das espécies extremamente tricomas foi realizado com material recém-
polimorfas do subgênero Ligustrina. coletado apenas de P. laureola, fazendo-se
cortes da lâmina foliarà mão livre e tratando-
Rodriguésia 58 (1): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
cm 12 13 14 15 16 17
..
EstudotaxonômicodePolygalasubgêneroLigustrina 97
os com Sudan III, que evidencia a presença existentes entre eles. Afinalidade principal de
de cutina (Purvis 1964). seu trabalho é completar sua proposição feita
O teste microquímico para comprovar a em 1809, isto é, a de reuniresses gêneros sob
natureza das glândulas laterais ao pecíolo e uma nova família. A demora de Jussieu em
raquiais laterais ao pedicelo, como nectários concluirtal proposição deu a Brown (1814) a
extraflorais, foi feito, usando-se material primazia de ser considerado por muitos anos
recém-coletado de P. grandifolia, fazendo- autor da família Polygalaceae.
se cortes à mão livre das glândulas do caule e Humboldt, Bonpland & Kunth (1821)
da raque da inflorescência, submetendo-os ao apresentam uma descrição ampla do gênero
Teste de Fehling, (Johansen 1940) que Polygala, classificam 17 novas espécies,
evidencia a presença de açúcar. algumas ilustradas.
DeCandolle 824) subordinaogênero
(1
Rsultados e Discussão Psychanthus ao gênero Polygala e
classifica para este oito seções:
Histórico do gênero Polygala e seus
Psychanthus, Polygalon, Blepharidium,
subgêneros
Clinclinia, Timutua, Senega,
Linnaeus (1753) estabelece o gênero
Chamaebuxus, Brachytropis, baseado no
Polygala, subordinando-o à classe Octandria,
hábito das plantas, na presençade glândulas
tomando por base a ilustração feita por
Toumefort (1694). Descreve 22 espécies, não lateraisnabasedopecíolo, nacarenacristada
ou não cristada, na extensão curta ou
encontradas na flora do Brasil, reconhecendo
dois grupos: um com flores com carena alongada dos racemos e na persistência ou
caducidade das brácteas. Relaciona 163
cristada e outro de carena não cristada, ditas
espécies para o gênero Polygala, das quais
“Imberbes”.
37 sãoencontradas no Brasil, dasquais nove
Willdenow(1802)fazsucintadiagnosedo constituem espécies novas.
gênero Polygala, rcdescreve as espécies de
Linnaeus(1753)epublica 19binômiosnovos. do gêSnaeirnot-HPiollayigreal(a18p2a9r)areolaBcriaosnial,50daesspqéucaiiess
Jussieu (1809) considera Polygala parte
da primeira seção entre as três pertencentes à 39sãoespéciesnovas,eVellozo [1829(1825)]
descreve 14 novas espécies.
famíliadas“PedicularesouRhinanthées (hoje
Scrophulariaceae), cujo, gênero Polygala Bennctt(1874)divideogêneroPolygala
inclui-se entre as famílias polipétalas e não ceamdaseutmeas.eçClõaessisesiffaizcau-masacpoemqubeansaeannoálhiásbeitdoe,
monopétalas como, até então, é observado e,
na carena cristada ou trilobada, nas sépalas
assim, propõe que o gênero Polygala c seus
afinsformemumafamíliadistinta,sobonome externas superiores mais ou menos soldadas
oulivres,nacarúnculagaleadaouapendiculada,
de “Polygalées”.
Hoffmannsegg & Link (1809) no caule áfilo, subáfiloou com muitas folhas,
estabelecem a família Polygalaceac tendo nas folhas alternas e verticiladas ou somente
como gênero tipo Polygala. Brown (1814) alternas. Nesse trabalho, Bennett (1874)
sem conhecer a obra de Hoffmannsegg & redescreve 63 espécies, já classificadas por
Link (1809) cria a família Polygalaceae para outros botânicos, e acrescenta mais 24táxons.
conter os gêneros Polygala, Comesperma, Mais de 100 anos depois Chodat (1893)
faz, pela primeira vez, a revisão de todas as
Salomonia e outros.
Jussieu (1815) amplia a diagnose de espécies de Polygala. Subordina os gêneros
Willdenow (1802) com observações sobre a Phlebotaenia, Semeiocardium e
corola e a carúncula das sementes, citando Acanthocladus a Polygala e estabelece 10
apenas algumas das espécies de Linnaeus seções para este gênero: Phlebotaenia,
(1753). Estuda outros gêneros, além de Acanthocladus, Hebecarpa, Semeiocardium,
Polygala, relacionando as afinidades Hebeclada, Ligustrina, Gymnospora,
Rodrigufsia 58 (I): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
12 13 14 15 16 17
,
Marques, M. C. M. & Peixoto,A. L.
Brachytropis, Chamaebuxus e Orthopolygala, Grondona (1942) relaciona 13 espécies
tomando como caracteres fundamentais a de Polygala para Buenos Aires e Grondona
presença ou ausência de crista na carena, a (1948) estuda as Polygalaceae ocorrentes na
forma do estigma, a persistência das sépalas Argentina. Das espécies relacionadas porele,
no fruto, a presença de espinhos no caule e seis são encontradas no Brasil. Brade (1954)
ramos, a soldadura de duas sépalas externas, descreve sete espécies de Polygala para o
a formação, na semente, de estrofíolo ou Brasil,ilustrandotodaselas.Wurdack&Smith
carúncula, que pode ser trilobada ou não. (1971) relacionam 19 espécies de Polygala,
Dentre essas 10 seções, seis são americanas, ocorrentes no estado de Santa Catarina.
uma européia, uma asiática e duas estão Marques (1979), ao revisar as espécies
distribuídas portodosos continentes. Naflora do gênero Polygala para o estado do Rio de
brasileiraestãorepresentadascincodasseções Janeiro, aceita a divisão do gênero em 10
apresentadas por Chodat em sua monografia. seções apresentadas por Chodat (1893).
As espécies subordinadas ás seções Reconheceparaesteestado25espécieseduas
Ligustrina e Gymnospora correspondem às variedades englobadas em cinco seções.
que integram a seção A de Bennett (1874). Marques (1984a) estuda as espécies da
Chodat (1983) divide a seção Orthopolygala seçãoAcanthocladus do Brasil, definida com
0Polygala), que apresenta maior número de quatro espécies e três variedades e a seguir
espécies em subseções, estas em séries, as (Marques 1984b) estuda asespécies daseção
séries em subséries. Apresenta ilustrações e Gymnospora do Brasil, com duas espécies.
descrições detalhadas das espécies estudadas Marques (1988) faz umarevisão das espécies
erealizasinonimizações.
de Polygala, seção Polygala do Brasil,
Chodat (1896a), introduz algumas
reconhecendo aí 88 espécies e 22 variedades.
modificações na descrição do gênero Ao
estudar as Polygalaceae para o estado do
GPoylmyngoaslap,orcao,moq,uep,oremexesmupalom,onnoagrsaefçiãao Rio de Janeiro, Marques (1997) reconhece 37
táxonsnafamília, dosquais 23 espécieseseis
anterior (Chodat 1893), é caracterizada pelas variedades pertencem a Polygala.
sementes estrofioladas, nessa redescrição é Paiva (1998) estudando as Polygala da
identificada pelas sementes sem
Também arilo. África e Madagascar, revalida o gênero
substitui o termo carúncula, Heterosamara Kuntze, e apresenta dados
empreBglaakdeo (n1a9o1b6r)aealnetvearidoru,aspodrasarisleoç.ões de paaglriunpoalrógeiscpoéscieefsisteogmeeolghraánftiecsos,.mEosstteraautaolrg,upmaarsa
Chodat (1893), Hebecarpa e Hebeclada à tentativas para o emprego da taxonomia
categoria de subgênero, cria a seção numéricaecomoúltimofenograma,demonstra
Rhinotropis para o subgênero Chamaebuxus que a divisão do subgênero Polygala, para os
e rebaixa os gêneros Badiera e Phlebotaenia táxonsafricanos,temconsistência.Finalmente,
dàecsaetengvoorlivaedeusmubegêxnteernos.oEtsrtaebaaulthoro,ceomm1912749, eefeptauraaeasstusdeoçsõecsladdíostsicuobsgêpnarearoosPosluybggaêlnae.roOs
PoescpoércrieemsnnoorBtraes-ialm:ePr.iclaepntaosc,audlaissTquoamis&qGuraatyr,o a1u2tosrubcgoênnseirdoesr,aoegaêpnreersoenPtoalyugmaalacdhiavviedipdaoreama
glochidiata H.B.K, P. paniculata L. e P. identificação dos mesmos, faz uma sucinta
brizoides A.St.-Hil.
dSeouuoxtrcrgieaênçsOnaãoeomorrcetood(r1eP1r1o9elP3em.y9sgp)nsaéoftlcaiaiBzp,erusualasmeasialtsu.aipnmeaCaqlhauovnedadnraoaite,nrdeaadtdefoesl.docarrCsaioçdaãmoso edpgecsoeeepnPorsétogtccilreridyánieagfcçssaieãlncemoaaam.taidevsNdeaeeosçsiacõntsceaaersdseÁauúefsblrcsutgieuiêcmbnmna.sot,ee,raeCçoõaomsesn:asus.eiCmsddhDpiteaéasorcntstaiarmleeiessdqbbpeuuéueiec2sxçit1uãeaã1sosso
Rodriguésia 58 (1): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
cm _2 13 14 15 16 17
..
99
EstudotaxonômicodePolygalasubgêneroLigustrina
apresentadas por Paiva (1998), apenas P. do cerrado. Os hábitos mais comuns são os
paniculata ocorre na flora brasileira. subarbustos e arbustos eretos.
Bemardi (2000) classifica o gênero em Raiz - O sistema radicularno subgênero
apenastrêssubgêneros,Polygalaedoisoutros Ligustrina é muito variado. Em Polygala
criados por ele, Ecristatae e Procerae. Além laureola, a raiz varia muito de indivíduo para
dereduzirossubgênerosde 12paratrês,reduz indivíduo. Às vezes, apresenta-se como uma
onúmerodeseçõeseodeespéciesamericanas raiz típica das dicotiledôneas, prevalecendo o
já descritas por outros autores. Ao seu desenvolvimento da raiz axial, seguida de
subgêneroEcristatae,Bemardi(2000)engloba ramificações secundárias, terciárias e
apenas as seções Hebecarpa p.p., Laureolae finalizadassemprecomraízesmuitofinas;ora
e Hebantha. À seção Laureolae, põe em araizprincipalnãoémuitodistintadasdemais;
sinonímia as seções Chamaebuxus p-P-, raramente apresenta-se mais ou menos
Ligustrinae Gytnnospora, totalizandoaseção espessa, alongadaecompoucasramificações;
independentemente das formas acima
Laureolae com 12 espécies americanas, as
quais apresentam muitas sinommias que são, observadas, na região do caule, geralmente,
formam-seváriasraízesadventíciasmuitofinas.
neste trabalho, reavaliadas.
No presente trabalho, ratifica-se o Em P. ulei, própria de região do cerrado,
tratamento de Paiva (1998) em relação à observa-se, in loco, uma raiz muito robusta e
divisãodogêneroPolygalaem 12subgêneros, longa, quase maior que a parte aérea e, em
sendo um deles Ligustrina. P grandifolia, a raiz principal logo bifurca-se
e numerosas raízes muito finas partem dessas
Distribuição geográfica de Polygala ramificações secundárias. Segundo Chodat
(1891), as células do parênquima radicular
subgênero Ligustrina
possuem, como reserva, glicosidios
O subgênero Ligustrina, com 1 1 espécies
característicos da família Polygalaceae
e sete variedades, é restrito à América do Sul, (saponinas), ácidosgraxose amidonasespécie
com ocorrência nas Guianas, Peru, Venezuela,
americanas.
Bolívia e Brasil do Acre até Santa Catarina
(Fig. 1). São ervas, subarbustos ou arbustos
eretosouescandentes, umbrófilosou heliófilos
que habitam preferencialmente florestas, tanto
primárias como secundárias, ocorrendo cm.
floresta pluvial,florestaestacionaisemidecidual,
floresta de araucária, floresta de restinga e
florestas de galeria nos cerrados. A frequência
é menor nos cerrados, onde duas espécies são
características, P ulei e P oleaefolia e, mais
raramente, em caatinga, onde apenas um táxon
O
ocorre (P. spectabitis var. autranii). estado
da Bahia é aquele que concentra o maior
número de táxons (Tab. 1).
Aspectos morfológicos e anatômicos de
Polygala subgênero Ligustrina
Hábito - As espécies do subgênero
Ligustrina são ervas, subarbustos, arbustos
eretos ou escandentes. A espécie de menor Figura 1 - Mapa de dislribuiçüo do gênero Polygala
porte é P. ulei com 15—30 cm, característica subgêneroLigustrina.
Rodríguésia 58 (1): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ.
L2 13 14 15 16 17
Tabela 1. Ocorrênciados táxons Polygala subgêneroLigustrina nospaíses daAméricado Sul assinalandoaocorrêncianosestados brasileiros. 5
VEN = Venezuela; GUI = Guiana Francesa; PER = Peru; BOL = Bolívia
VEN GUI PER BOL BRASIL
AM PA AC RO RR AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MT MS GO DF MG ES RJ SP PR SC RS
P. oleaefolia XXX X
P. oxyphylla
var. oxyphylla X
P. oxyphylla XX
var. salicina X
P. grandifolia X X X
XXX
P. ulei X
P. martinellii
var. martinellii X
P. martinellii
var. carnosa X
XX
P. gigantea X
XXXXXX
P. spectabilis XX
var. spectabilis X X
P. spectabilis
var. X X
amazonensis
Marques,
Rodriguésia P. spectabilis
var. autranii
M.
58 P. warmingiana X C.
M.
(1): P. bangiana X <6
XXX
P. insignis X X
095-146. XXX Peixoto,
XX
P. laureola X X
A.
2007 L.
SciELO/JBRJ
cm 1 1 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
(
EstudotaxonômicodePolygalasubgêneroLigustrina 101
Caule - O caule é cilíndrico, estriado, A vascularização da lâmina foliar de P.
muitas vezes, na região inferior, desnudo e oleaefolia, P oxyphylla var. oxyphylla, P.
glabro, com cicatrizes oriundas da queda das martinellii var. martinellii, P. spectabilis var.
folhas, naregiãosuperior, folhoso, simplesou spectabilis e P spectabilis var. amazonensis
O
pouco ramificado, pubérulo, glabrescente ou apresentam rede de nervação laxa (Fig. 6).
glabro.Ramoseraminhosestriados,pubérulos, bordo, cm P oleaefolia apresenta a nervação
hirsutos,velutinos,glabrescentesou,raramente, últimamarginalanastomosada;emPoxyphylla
glabros. Presença de duas glândulas laterais à é incompleta, com pequenas trechos
base do pecíolo ou, raro, uma, geralmente, anastomosados; P martinellii var. martinellii,
cilíndricas e variáveis no tamanho. P. spectabilis var. spectabilis e P. spectabilis
Folha - As folhas são pecioladas ou, var. amazonensis, apresentando nervação
raramente, subsésseis (P. ulei), alternas, ainda últimamarginalincompleta.Malhasdestituídas
quepossamaparecerfolhas subverticiladasnos de terminações vasculares, observadas em
nós dos ramos apicais, próximo às todas as espécies, ocorrendo em maior
inflorescências,namaioriadasespécies.Lâmina proporção em P. spectabilis var. spectabilis;
inteira, às vezes, em um mesmo indivíduo assimcomoterminações vascularessimplesou
variando de inteira, sinuada ou até lobada para duplas, raramente, triplas.
o ápice. A forma varia de linear, “lorifortne , Inflorescência - As flores se dispõem
oblonga, elíptica, lanceolada, obovada ou emracemosterminais,menosfreqüentemente,
oblanceolada (Figs. 2 e 3), consistência axilares e extra-axilares ou na bifurcação dos
membranácea, papirácea, cartáceaou coriácea, ramos. Freqüentemente,nasmesmasespécies,
superfície glabriúscula, pubérula, pubescente, podem ser curtas (1 cm) ou longos (29 cm),
pilosa ou velutina, ciliada ou não ciliada na laxos ou densos.
margem,quepodeserplanaourevoluta.Padrao As gemas florais são protegidas poruma
de nervação broquidódromo (Figs. 2 e 3). bráctea e duas bractéolas, sendo a bráctea
Epidermes adaxial e abaxial, em vista frontal, sempre maior que as bractéolas, geralmente,
comcélulasdeparedesretas,levementecurvas caducasaindaem botão; às vezes, persistentes
ou sinuosas; estômatos, de um modo geral, na flor ou rarissimamente no fruto; a raque é,
freqüentemente, provida de duas glândulas
anomocíticos ou, raramente, intermediários,
dPioslpyogsatloas unlaei,faccoemabeasxtiôalm,atcosomdiesxpocsetçoãsoedme càiblíansderidcoasp,eddiectelaom,aànshovevzaersi,ávseól,delautmcrallamdconotuc,,
raramente, ausentes. (Fig. 7)
ambas as faces (Figs. 4, 5 e 6).
As lâminas foliares, em secções Flor - No gênero Polygala, as flores
transversais, de P. laureola e P martinellii são perfeitas, zigomorfas e, basicamente,
apresentam estrutura dorsiventral e epiderme pentâmeras, constituídas por cinco sépalas
uniestratificada sendo que em P martinellii, e cinco pétalas, sendo as duas pétalas
as células epidérmicas de ambas as faces se laterais chamadas pétalas rudimentares por
apresentaram isodiamétricas e de contorno serem muito pequenas, às vezes, quase
com pequenos imperceptíveis. Os botões florais
ondulado; o tecido lacunoso,
empeiadtéormsicae,s,eprmincPi.pallmaeunrteeo,lad,a faacse icnéfleuriloars, aappreensaesntaPm. pogurcaanddiiffoelrieanciadçiãsotienngturee-ssie,
facilmente das demais por apresentar
apresentam-se de forma variável e o tecido
lacunoso com grandes meatos. Segundo botões de maior tamanho e ápice atenuado
Metcalfe & Chalk (1950), o limbo é, a acuminado. No subgênero Ligustrina, as
geralmente,dorsiventral;pontilhadoounaopor flores podem ser alvas, alvo-amareladas,
róseo-amareladas, amarelas, alaranjadas,
glândulas, com ou sem cavidades secretoras,
cavidades secretoras, quando presentes, violáceo-alvacentas atévermelhasou roxas,
membranáceas ou carnosas.
lisígenasecontendoóleo.
Rodriguésia 58 (1): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
cm 12 13 14 15 16 17
102 Marques, M. C. M. & Peixoto,A. L.
S
K
Figura 2 - Padrão de neMrvaçãMo foliare forma da lâmina- a Polvonln r /• ,r~, ™
o1x7y0p2h)y;lgl.aA(G*lavWou1Í4456)-,c-d.poMxyMp)hy;llha.»Pa.r.gs,salJlc“ma(Curaa680) frf* ‘íí!*’^<í0);b^'f-P*W<*““*
2505S. 190S. Ifefertagr7540),I.P ,pfcum,var.L, (C^,ST
Rodriguésia 58 (1): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
12 13 14 15 16 17
EstudotaxonômicodePolygalasubgêneroLigustrina 103
2F3i0g)u;rac-3e.-PPadinrsãiogndiesn(eGruvearçrüao2f1o.liParercefiorarm1a66d.aSloâumiznaa:82a7.)P;ofl-iy.gPalalwaaurremoitnagi(aGnwar^daanromi1n2g174.36M)a;rqbu.ePs.b4a12n.giMaenlao-(SBdavnag
1008).
O cálice tem cinco sépalas que são duas pétalas rudimentares, que se prendem,
também, ao dorso da bainha estaminal,
persistentes no frutoe encontram-se dispostas
em dois verticilos, três externas desiguais e variando o comprimento da parte soldada,
livres entre si, pubérulas no dorso e ciliadas às vezes, na mesma espécie, alcançando,
nas margens; duas internas petalóides, assim, as pétalas rudimentares ‘/h, Va, Vi ou
estreitamente ovadas a largamente ovadas, Va do comprimento do ungüículo da carena;
elípticas ou suborbiculares, levemente duaspétalasbemdesenvolvidassubfalcadas,
assimétricasou simétricas, ciliadasou nãonas pubérulas na base da face interna,
margens, maiores que as sépalas externas e concrescidas até mais ou menos 2/3 de sua
altura com o dorso-marginal da bainha
mais curtas que a carena.
A corola, caduca no fruto, tem cinco estaminal, pouco menores, atingem ou
superam o comprimento da carena.
pétalas, uma inferiorque constitui a carena,
constando de um ungüículo longo, de base As duas pétalas rudimentares, estão
estreitíssima, que pouco se alarga para o presentes no subgêneros Ligustrina,
Acanthocladus e Gymnospora e ausentes
ápice orbicular-cuculado, não cristado,
trilobado com lobo central levemente nos subgêneros Hebeclada e Polygala.
esumpaerrgaidnoapdeolomsaliosboasltloa,tenraaismpelsicmaadosa,ltgulraabroau, pAocrsesdaistear-csoensqiudeeraadporeusmeneçsataddeopclienscioompóértfaiulcamos
a carena prende-se ao dorso da bainha e a presença apenas de três pétalas, seja
estaminal pelaporção inferiordo ungüículo, caráter apomórfico.
Rodriguésia 58 (I): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
12 13 14 15 16 17
104 Marques, M. C. M. & Peixoto.A. L.
^
F((v1aMiF8ra2go.0run1tars)imae:nac4soza--o9pnE147ep0P0ni22sd))gie-;isree(mka--Cefn1a..tfmoePPlpa..ioa(sromA^axas5rdynt8apixh3hni)myeal.dlllliaeniav7bvaaUarxr.\i.asl„a:mlarair-ctbpii.nnPaeolll(iyGiglaa(VlcCai.a.o.orulveWaalehf‘ooliJJa-v(7TI3ry>w-imSn-„Pnn.gPpr.anmdar‘ftoijln.‘ealol^iLi«ov*ba>rã.=oc«4a•0rV>n*-aors"sJaOp-eX(c>PtHpaahbryiullleeilays
Rodriguésia 58 (1): 095-146. 2007
SciELO/JBRJ
cm 1 12 13 14 15 16 17