Estrutura do sub-bosque lenhoso em ambientes de borda e interior de dois fragmentos de Floresta Atlântica em Igarassu, Pernambuco, Brasil

2009·5.9 MB·Portuguese

by  Juliana Silva Gomes

Estruturadosub-bosquelenhosoemambientesdebordaeinterior
DEDOISFRAGMENTOSDEFLORESTAATLÂNTICA EMIgARASSU,
Pernambuco,Brasil
u
Juliana Silva Gomes12 Ana Carolina Borges Lins e Silva
, ,
Maria Jesus Nogueira Rodai1,3 & Henrique Costa Hermenegildo da SilvalA
Resumo
(Estruturado sub-bosque lenhosoem ambientes debordae interiorde dois fragmentos de FlorestaAtlânticaem
Igarassu, Pernambuco, Brasil) Nointuitode avaliarafisionomia,estruturaeoefeitodebordade um sub-bosque
lenhoso, foramestudadosdois remanescentesde FlorestaAtlânticaemIgarassu, Pernambuco (MatadoPezinho-
MPZ,27haeMatadaBR-MBR,99ha).Paratanto,instalaram-se 10parcelasde5x5mnasbordas(até50mda
margem),interiorI(50-100m)einteriorII(>300m)emcadafragmento.EmMPZ,registraram-se1152indivíduose65
espécies(H’=3,186nats/ind.):36naborda,42e39,nointeriorIeII.Entreambientes,ocorreramdiferençasestruturais
queindividualizaramabordaepoucasdiferençasfisionômicas.EmMBR,registraram-se1405indivíduose67espécies
(H’ = 3,068 nats/ind.): 37 naborda, 36e48 no interiorI e II. Diferenças fisionômicase estruturais distinguiram,
principalmente,asparcelasreferentesaointeriorII.Floristicamente,osfragmentostiveramsimilaridadede45,5%,
sendoestruturalmentedistintos: em MPZ,hámaisindivíduostípicosdesub-bosqueemenosespéciesraras;MBR
conservamaiorriqueza,maisespéciesrarasemaisindivíduosregenerantesdodossel.Emambos,háumadiferenciação
doambientedeborda,maisevidentenomenorfragmento,edointeriorII,principalmentenomaiorremanescente.
Palavras-chave:efeitodeborda,fragmentação,regeneração.
Abstract
(Understorey structurewithinhabitats (edgeandforestinterior)oftwofragmentsofAtlantic Rainforest,Igarassu.
Pernambuco,Brazil) ThewoodyunderstoreyoftwoAtlanticRainforestremnantsinIgarassu, Pernambuco,were
studied(PezinhoForest-MPZ,27haandBRForest-MBR,99ha),aimingatassessingphysiognomy,structureand
edgeinfluenceoverthevegetation.Ten5x5mplotsweresetupattheedge(0-50mfromforestmargin),interiorI(50-
100m)andinteriorII(>300m)ofeachfragment.InMPZ, 1152individuaisand65specieswererecorded(H’=3.186nats/
ind.): 36,42and39ontheedge,interiorIandII,respectively. Structuraldifferenceswerefoundbetweenhabitats,
individualizingtheedge,althoughlittlephysiognomicdifferenceswereencountered. InMBR, 1405individuaisand
67specieswereregistered(H’=3,068nats/ind.):37speciesintheedge,36and48inInteriorIandII.Physiognomicand
structural differences mainly distinguished the InteriorII. Floristically, asimilarity of45.5% was found between
fragments,whichwerestructurallydifferent:inMPZ,thereweremoreunderstorey-typicalindividuaisandlessrare
species; MBR retained greaterspecies richness, morerare species and higherregeneration ofcanopy species. In
both,therewasanunderstoreydifferentiationattheedges,moreevidentin thesmallerfragment,and,inthelarger
rernnant,differentiationofinteriorII.
Keywords:edgeeffect,fragmentation,regeneration.
Introdução
2005), que podem levara transformações nos
No Brasil, a Floresta Tropical Atlântica sistemas biológicos e a extinções (Rodrigues
tem sido reduzida e fragmentada há vários &Nascimento2006).Nacomunidadevegetal,
séculos, levando a uma série de mudanças na umdosefeitos imediatosdafragmentaçãoéo
fisionomiaeestruturadavegetação devidoàs aumentodamortalidadedeindivíduosadultos
influênciasexternas,particularmenteochamado dodosseleaumentonaabundânciadeindivíduos
efeito de borda (Murcia 1995; Harper et al. pequenos e pouco espaçados (Delamônica
Artigorecebidoem 10/2007.Aceitoparapublicaçãoem03/2009.
'UniversidadeFederalRuraldePernambuco(UFRPE).
:BolsistaDTI/CNPq, Proj. Sustentabilidade deremanescentes de Floresta Atlântica em PE e suas implicações para a
conservaçãoedesenvolvimentolocal(590039/2006-7).
'DepartamentodeBiologia.
'ProgramadePós-graduaçãoemCiênciasFlorestais,Doutorado.
Endereçoparacorrespondência: UniversidadeFederalRuraldePernambuco(UFRPE),Depto. Biologia,Lab.Ecologia
Vegetal,R.D.ManoeldeMedeiross/n.DoisIrmãos,52171-900. Recife,[email protected]
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2001 essesúltimoscompondooestratoflorestal 1994; Vilelaetal. 1995; Carvalhoetal. 1995;
),
maisbaixo, envolvendo ochamadoestrato de Oliveira-Filhoetal.2004;Carvalhoetal. 2005)
regeneração (Salles & Schiavini 2007), ou menos (Saporetti Júnior et al. 2003). Este
regeneraçãonatural (Finol 1971 Felfili 1997; últimocritério,commedidadodiâmetroàaltura
;
Oliveira&Felfili2005;Schom&Galvão2006) do solo e ausência de limite de altura, é
ou sub-bosque (Meira Neto & Martins 2003; presumivelmente mais abrangente do que os
Saporetti Júnior et al. 2003). demais,poispennitequeummaiornúmerode
Oestratodenominadoregeneraçãonatural indivíduossejaamostrado(Oliveira-Filhoetal.
écomumentedefinidacomooconjuntodetodos 1994).Porém,naopiniãodeFelfilietal. (2000),
osindivíduosarbóreosapartirde0,1 mdealtura apenasosindivíduoscomalturasuperiora 1 m
atéodiâmetroàalturadopeito(DAPa 1,30m) representariam o potencial regenerativo
imediatamenteinferioraoqueéutilizadonoestudo florestal,porjáteremultrapassadoafasemais
doestratoarbóreo(Finol 1971).Apesardealguns críticademortalidade.
estudos no Brasil seguirem a metodologia Amaioriadosestudosenvolvendoosub-
sugeridaporFinol(1971),quedefiniuolimite bosquetemamostradoocomponenteherbáceo-
de DAP máximo em 9,99 cm para estudo da arbustivo sob plantios mono-específicos de
regeneração, geralmente o DAP da classe de espécies arbóreas, a exemplo da regeneração
inclusão empregado é < 5,0 cm, comumente sob bracatinga Mimosa scabrella Benth.
definidoparaestudodoestratoarbóreo(Araújo (Nappo et al. 2004, 2005), sob o eucalipto
et al. 2006). Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden
Oconceitodesub-bosqueparecesermais (Saporetti Júnior et al. 2003) ou espécies de
abrangente, nele incluindo-se as pequenas Piniis (Aubert & Oliveira-Filho 1994).
árvores, que durante seu ciclo de vida não Também sãocomunsestudosqueamostremo
alcançam o dossel (Tabarelli et al. 1993), os sub-bosque visando ao entendimento da
indivíduosjovensdasespéciesarbóreasdodossel, regeneração em áreas degradadas, como por
osarbustos,palmeirasefetosarborescentes,com atividade de mineração (Araújo et al. 2006)
auto-sustentação (Oliveira et al. 2001), além ou de exploração madeireira (Souza et al.
Em
de plântulas e ervas, tendo vital importância 2002). áreas de vegetação natural, o sub-
paraoestabelecimentoedesenvolvimentodas bosque tem sido estudado com diferentes
espéciesqueirãoconstituirosdemaisestratos metodologias, na floresta de terra firme da
dafloresta(Oliveira &Amaral 2005). Apesar Amazônia(LimaFilhoetal. 2002;Oliveira&
daimportânciadosub-bosquenacomunidade Amaral 2005); no cerrado (Oliveira & Felfili
vegetal, ainda há pouco consenso em relação 2005)e,principalmente,emflorestasestacionais
àmetodologiautilizadaparasuacaracterização (Carvalhoetal. 1995; Vilelaetal. 1995; Salis
e amostragem. Alguns estudos utilizam o et al. 1996; Meira Neto & Martins 2000;
perímetrooudiâmetroàalturadopeito(1,30m) Oliveira-Filhoetal. 2004;Araújo etal. 2005;
&
como critério de amostragem (Tabarelli etal. Araújo et al. 2006; Sales Schiavini 2007).
1993; Salis et al. 1996; Caldato et al. 1996; Sãopoucososestudosdesub-bosquedisponíveis
Tabarelli&Mantovani 1999;Souzaetal. 2002; para a MataAtlânticasensu stricto (Tabarelli
&
Araújo et al. 2007), podendo ser associado à et al. 1993; Tabarelli Mantovani 1999;
altura(MeiraNeto&Martins2000;LimaFilho Oliveira et al. 2001) ou em floresta atlântica
et al. 2002; Meira Neto & Martins 2003; comaraucária(Caldatoetal. 1996).Noestado
Oliveira & Amaral 2005; Oliveira & Felfili de Pernambuco, o interesseemestudaro sub-
2005; Higuchi et al. 2006). Outros utilizam a bosque na mata atlântica é recente, havendo
alturaassociadaaodiâmetroà alturado solo - pouca literatura sobre o tema na região,
DAS (Nappo et al. 2004; Salles & Schiavini abordando a estrutura (Silva etal. 2007) ou a
2007), ou apenas odiâmetro ao nível do solo, fenologiadas espécies de arvoretas, arbustos,
comlimitemínimode5cm(Oliveira-Filhoetal. subarbustos e ervas (Souza et al. 2006).
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Sub-bosqueemfragmentosflorestaisdePernambuco 297
Entre a escassa literatura sobre sub- da comunidade em três diferentes ambientes
bosque na mata atlântica, o efeito de borda e analisar o efeito de borda neste estrato.
não tem sido um tema abordado, apesar dos
estudosemecossistemasflorestaismostrarem MaterialeMétodos
queesseestratoresponderapidamenteàcriação Os remanescentes florestais estudados
de bordas, definindo uma zona de contato na estão inseridos no domínio da mata atlântica
qual ocorrem modificações na estrutura e ou floresta ombrófila densa das terras baixas
composição florística (Harper et al. 2005). (IBGE 1992).Foramestudadosdoisfragmentos
Mudanças na fisionomia e estrutura do sub- localizados na Usina São José (Fig. 1), em
bosque aparecemcomorespostas secundárias Igarassu, Pernambuco (07°41’04,9” e
ao surgimento das bordas, principalmente na 07°54’17,6”S; 34°54’17,6” e 35°05’07,2”W),
formade aumentodadensidadeecoberturade apresentando 27 ha (Mata do Pezinho,
arvoretas (Williams-Linera 1990; Oosterhorn doravante chamada MPZ) e 99 ha (Mata da
& Kappelle2000; Harperetal. 2005),embora BR, aqui chamada MBR). Segundo a
em alguns trabalhos tenha sido registrada classificaçãode Koppen, oclimadaáreaé do
densidademenornasbordas(Young&Mitchell tipo As’ (tropical quente e úmido) com
1994; Benitez-Malvido 1998). São esperadas precipitação média anual de 1687 mm, as
tambémmudançasnacomposiçãodeespécies chuvas são concentradas de abril a agosto e a
(Oliveira & Felfili 2005) e aumento nas taxas temperatura média é de 25,1°C (dados da
de recrutamento perto das margens florestais Usina São José, período de 1998 a 2006). A
(Laurance et al. 1998). geologiapredominantenaregiãoéadoGrupo
Nestetrabalho,foiestudadaafisionomia Barreiras,deidadeplio-pleistocênica,constituído
e estrutura do sub-bosque lenhoso em dois porsedimentosareno-argilososnãoconsolidados,
fragmentosdeflorestaatlânticaemPernambuco. de origem continental. O relevo é constituído
Além da caracterização do sub-bosque, o portabuleiros,quesãofeiçõesdetoposplanos,
estudopermitiuavaliarecompararaestrutura entrecortados porvales estreitos e profundos,
Figura 1-Localizaçãodasáreasdeestudodosub-bosquelenhoso.MatadoPezinho(MPZ)eMatadaBR(MBR),em
Igarassu,Pernambuco.
Figure 1 - Study areas where the understorey woody species were surveyed. Mata do Pezinho (MPZ) and Matada BR (MBR),
at lhe municipality ofIgarassu, Pernambuco.
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cujas vertentes apresentam declividade alta, (PEUFR) da Universidade Federal Rural de
maiores de 30% (CPRH 2003). Pernambuco, após identificação botânica,
Emcada fragmento, foram instaladas 30 seguindo aclassificaçãode Cronquist(1981).
parcelas nãocontíguasde5 x5 m, novérticede Acoletade algunsindivíduosnãofoipossível,
m
parcelasmaioresde 10x 10 ondefoiamostrado devido àausênciade partes aéreas suficientes
o componente arbóreo. As parcelas foram para identificação ou por estarem muito
distribuídasem três diferentesambientes: dez danificadas. Essas plantas foram incluídas na
nosprimeiros50mdolimiteflorestal(borda), análisefisionômicae tratadasem categoriasà
dez entre 50 e 100 m de distância da borda parte nos resultados de estrutura. Agrafiados
(interiorI)edezalémde300mdaborda(interior nomes científicos e autoria das espécies
II), semprecom espaçamento de 5 m entre si. seguiramabasededadosTropicos,doMissouri
Oambientedebordafoidefinidocomoaté50m BotanicalGarden.
da margem do fragmento considerando que a Paracadaambiente,foramcalculadosos
maioriadosefeitosdebordatendeadesaparecer valores absolutos de densidade, frequência e
até esta distância (Murcia 1995). Nessas área basal por espécie (Martins 1993), no
unidades,foramamostradostodososindivíduos softwareFITOPAC(Shepherd 1995),alémda
lenhosos (árvores e arbustos) vivos e mortos diversidadeH’(Shannon-Weaver),comparada
de pécomperímetrodocaule aonível do solo entre áreas pelo test t (Magurran 2003).
(PNS) > 3 cm e < 15 cm, que correspondem Para comparação da fisionomia entre
ao diâmetro de 0,95 a 4,77 cm, sem limite de ambienteseentrefragmentos,foramutilizados
altura.Osestudosdesub-bosquenoBrasilpodem os valores de densidade, área basal, altura
ser divididos em dois grandes grupos, com médiaediâmetromédioporparcela.Paracada
relaçãoàamostragem. Há osque caracterizam fragmento, diferenças significativas foram
osub-bosquedefinindoum limitesuperior(em avaliadas utilizando-se Análise de Variância
diâmetro ou altura) para amostragem dos (ANOVA)deumcritério,complementadopelo
indivíduos (p.ex. Vilela etal. 1995; Nappo et teste t para amostras relacionadas para
al. 2004); há os que incluem plântulas e comparações entre médias amostrais, quando
ANOVA
herbáceas (p.ex. Lima Filho etal. 2002); e os a indicassediferençaentreambientes
que são restritos aos indivíduos lenhosos. No com nível de decisão de 5%. No caso de
outro grupo, estuda-se o estrato arbóreo com variânciasdesiguais,queinviabilizassemouso
um critério de amostragem mais inclusivo, do teste paramétrico entre amostras, optou-se
medindoosindivíduosàalturadosolo(Oliveira- pelotestenão-paramétricode Kruskal-Wallis.
Filho et al. 1994; Carvalho et al. 1995; A comparação entre ambientes de diferentes
Saporetti Júnior, etal. 2003; Oliveira-Filhoet fragmentos foi feita utilizando-se teste t para
al. 2004; Carvalho etal. 2005) ou à altura do amostrasindependentes.Todosostestesforam
peito com um menor diâmetro (Tabarelli & feitos utilizando o software Bioestat 2.0.
Mantovani 1999; Araújo et al. 2006). Para (Ayres et al. 2000).
comparação entre estudos, a definição da Paracomparaçãoflorísticaentrefragmentos
amostra tem que ser considerada, pois influi e ambientes, utilizou-se o índice de Sprensen
diretamente nos resultados encontrados. O (Magurran2003).Paraavaliaçãodasimilaridade
presente estudo insere-se no primeiro grupo, estrutural do sub-bosque, elaborou-se, para
incluindoapenasosindivíduoslenhosos(jovens cada fragmento estudado, uma matriz de
do dossel e arbustivas). densidade absoluta das espécies por parcela,
Todas as espécies amostradas tiveram de forma que as parcelas representassem as
seusramosférteisouestéreiscoletados,secos amostras e as espécies, os descritores. Essas
emestufaa50°C,esuasexsicatasdepositadas matrizes foram submetidas a análises de
no Herbário Professor Vasconcelos Sobrinho agrupamento (ClusterAnalysis) de amostras,
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;
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utilizando-se o programa PC-ORD for Resultados e Discussão
Windows versão 4.0 (McCune & Mefford Nosub-bosquedeMPZ,foramregistrados
1999). Nessaanálise,utilizou-seadistânciade 1152 indivíduos,dosqumais3,38%mortos,com
Sorensen / Bray Curtis como coeficiente de área basal de 0,335 2. Neste fragmento,
associação e Média de Grupo (UPGMA) ocorreram65 espécies (Tabs. 1 e 2), sendo 36,
como método de agrupamento, gerando 42e39espécies/moifoespéciesnosambientesde
dendrogramas para interpretação. Para borda, interiorI e II, respectivamente (Tab. 1).
avaliação de semelhanças estruturais entre os O índice de Shannon-Weaver (H’) para o
fragmentos, gerou-se uma única matriz com fragmentofoi 3,186nats/ind., sendoinferiora
60 parcelas submetida a análise de ordenação 3,0 quando avaliado por ambiente (Tab. 1), o
(DCA). Em todas as análises multivariadas, mais baixo na borda (2,457 nats/ind.), que
foram consideradas apenas as espécies diferiuestatisticamentedoInteriorI(t=2,001
amostradascom maisde cinco indivíduos. p < 0,05) e do Interior II (t = 2,316; p<0,05).
Tabela 1 - Descritores da fisionomia e estrutura da amostra total de sub-bosque em dois fragmentos
florestaisemIgarassu,Pernambuco.DNS=diâmetroaoníveldosolo,s=desviopadrão,H’ =índicede
diversidadedeShannon,J=equitabilidadede Pielou. MPZ=MatadoPezinho, MBR=MatadaBR.
Table 1-Descriptorsofthevegetation physiognomy andstmcturefromtheunderstoreyoftwoAtlanticRain
ForestremnantslocalizedatthemunicipalityofIgarassu,Pernambuco.DNS=diameteratsoillevei,ó=standard
deviation,H’=Shannon'sdiversityindex,J=Pielou'sequitability.MPZ=MatadoPezinho.MBR=MatadaBR.
Descritores Borda InteriorI InteriorII Total
MPZ
Densidade absoluta (ind) 427 422 303 1152
Densidadeestimada(ind/ha) 17080 16880 12120 15360
Áreabasal(m2 0,117 0,135 0,083 0,335
)
Alturamedia±o(m) 1,64± 0,91 1,98±1,25 1,68±1,02 1,78±1,085
DNSmédio±o(cm) 1,70+0.78 1,83±0,86 1,68±0,82 1,74±0,822
Númerodefamílias 24 26 24 32
Númerodeespécies 36 42 39 65
Percentual de espécies raras 27,27 30,00 21,05 17,19
H’ (nats/ind) 2,457a 2,885b 2,959b 3,186
J 0,703 0,777 0,813 0,758
MBR
Densidade absoluta (ind) 326 274 805 1405
Densidadeestimada(ind/ha) 13010 10960 32200 18733
Áreabasal(m2 0,108 0,092 0,184 0,385
)
Alturamédia±DP(m) 1,67±1,37 1,68±0,85 1,66±0,85 1,66±0,99
DNSmédio±DP(cm) 1,82±0,95 1,87±0,90 1,55±0,72 1,67±0,827
Númerodefamílias 23 26 29 31
Númerodeespécies 37 36 48 67
Percentual de espécies raras 45,95 30,56 29,17 26,87
H’ (nats/ind) 2,154a 2,953b 2,620ab 3,068
J 0,596 0,824 0,677 0,725
Valoresseguidosdasmesmasletrasminúsculas,noíndicedediversidadedeShannon-Weaver,nãodiferementresipelo
teste t (Magurran 2003) a 5% de probabilidade. / ForSlumnon'sdiversityindex(SP), distinctleltersindicatedifferentvalues
determined by a t-test (Magurran 2003) at 5% ofprobability.
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300 Gomes!J. S. etal.
Tabela 2 - Lista de famílias e espécies inventariadas em dois fragmentos de Mata Atlântica em
Pernambucoenúmerodeindivíduosregistradoporespécieemcadaambienteestudado. MPZ=Mata
do Pezinho, MBR =MatadaBR. Espécies marcadas com * são consideradas típicas de sub-bosque.
Table2- Plant families and species surveyedin two remnants ofAtlantic Rain Forest atPernambuco and
numberofindividuaisperspeciesfoundedateachstudiedarea.MPZ=MatadoPezinho,MBR=MatadaBR.
Plant species followed by * are considered here as typical understorey ones.
Famílias Númerodeindivíduos
MPZ MBR
Espécies
Borda IntI IntB Borda IntI Int.11
Anacardiaceae
Tapirira guianensis Aubl. 1 _ 21 2 1
ThyrsodiumspruceanumBenth. 3 3 12 9 5
Annonaceae
Atmona montana Macfad. _ _ _ 6 . 1
Guatteria schomburgkiana Mart. - 8 9 - 1 -
XylopiafrutescensAubl. 1 8 1 - -
Apocynaceae
Himatanthus phagedaenicus (Mart.) Woodson 3 _ _ _ 2 10
TabemaemontanaflavicansWilld.exRoem.&Schult. - - - - - 11
Aquifoliaceae
Ilex sp. - - - - - 4
Araliaceae
Scheffleramorototoni(Aubl.)Maguire, 3 - 12 _ _ 4
&
Steyerm. Frodin
Boraginaceae
CordianodosaLam.* 3 8 5 1 3
CordiasuperbaCham. - 5 - 5
Cordia sp. - 1 - -
Burseraceae
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand 3 6 1 5 5 6
Tetragastris catuaba Soares da Cunha " 1 9
Caesalpiniaceae
Abaremacochliocarpos(Gomez)Bameby&Grimes - - - 1 - -
Dialiumguianense (Aubl.) Sandwith - 1 2 - - 2
Hymenaea sp. " 2 -
Sennageorgica H.S. Irwin&Bameby 3 " -
Caesalpiniaceae 1 - _ " 1
Celastraceae
Maytenus distichophyla Mart. ex Reissek 4 6 - - 4 3
Chrysobalanaceae
HirtellaracemosaLam. 1 - - 1 1 3
Clusiaceae
ClusianemorosaG.Mey _ _ _ 2 - 5
Vismiaguianensis (Aubl.) Pers.* - - 1 -
Clusiaceae 1 1 3 “ “ _
Erythroxylaceae
ErythroxylumcitrifoliumA. St.-Hil. 3 5 4 1 8 -
Erythroxylumcf.nobileO.E.Schulz - - 1 _ -
Erythroxylum sp. 2 - " ' '
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Sub-bosqueemfragmentosflorestaisdePernambuco 301
Númerodeindivíduos
Famílias MPZ MBR
Espécies
Borda InLI Intn Borda InLI intn
Euphorbiaceae
ChaetocarpusmyrsinitesBaill. - 1 1 - - -
Peraferruginea (Schott)Müll.Arg. “ 3 ‘ ' '
Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. 7 1 “ 27 21 141
Fabaceae
Andira nitida Mart. ex Benth. - 3 - 1 1 1
HymenolobiumjaneirenseKuhlm. “ 2 “ “ ”
Fabaceae 1 ” 1 ' *
Fabaceae2 “ “ “ “ 1
Flacourtiaeeae
Caseariajavitensis Kunth - 4 - 5 1 -
Casearia sp. ' ' " " 1 3
Humiriaceae
Sacoglottis mattogrossensis Malme - - - - - 1
Lauraceae
Ocoteagardneri(Meisn.)Mez - - - - - 1
OcotealimaeVattimo 2 3 16 9
Ocotea sp. “ “ ” 1 “
Lecythidaceae
Eschweilera ovata (Cambess.)Miers 52 50 23 38 49 49
Gustavia augusta L. " 2 18 "
Lecythispisonis Cambess. “ “ “ “ 3 2
Melastomataceae
Miconiaciliata(Rich.)DC.* 1 - - - - 3
Miconia hypoleuca (Benth.) Triana 1 " " -
Miconiaminutiflora (Bonpl.)DC.* 1 - 2 -
Miconiaprasina(Sw.)DC. 5 4 8 " - -
Miconia sp. “ “ - 1
Melastomataceae 1 “ - - 1
Melastomataceae2 - - - " 1
Meliaceae
Trichilia lepidota Mart. - - - 2 1 3
Mimosaceae
Albiziapedicellaris(DC.)L.Rico - - - - - 214
Ingasessilis(Vell.)Mart. - - - 1 -
IngasubnudaSalzm.exBenth. _ 9 - -
Inga thibaudiana DC. - 2 - "
Inga sp.l 1 1 3 - - "
Inga sp.2 - - 2 7 1
Inga sp.3 - " 1 2 4
Parkiapendula (Willd.) Benth. exWalp. 2 - - "
Plathymenia reticulata Benth. - 1 - 2 2 -
Monimiaceae
Siparuna guianensis Aubl.* 2 13 3 - - -
Moraceae
Brosimumguianense(Aubl.)Huber 7 15 _ _ - -
Sorocea hilarii Gaudich. 7 8 12 - 2 -
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302 Gomes, J. S. etal.
Famílias Númerodeindivíduos
MPZ MBR
Espécies
Borda IntI IntII Borda IntI bitII
Myrtaceae
Calyptranthes brasiliensis Spreng. 21 18 12
Campomanesiadichotoma (0. Berg) Mattos 2 2 4 - - -
Myrciaracemosa(0.Berg)Kiaersk.* 23 46 7 - 4 -
Myrcia guianensis(Aubl.) DC.* 44 75 41 - - -
Myrciasylvatica (G.Mey.)DC.* 3 2 6 14 23 -
Myrcia sp.* " " - 1 5 3
Eugenia sp.* - - 1
Myrtaceae 1* " - - - 13
Nyctaginaceae
Guapiraopposita(Vell.)Reitz - - - 1 - 4
Guapiranitida(Schmidt)Lundell ~ 1 _ 2 3 20
Ochnaceae
Ourateacastaneifolia(DC.)Engl. - - - 1 21 108
Ouratea cfpolygynaEngl. ~ 1 “
Piperaceae
Pipermarginatum Jacq.* 31 - 6 - - -
Polygonaceae
CoccolobamollisCasar. 2 2 - 2 1 17
Rubiaceae
AIseispickeliiPilger& Schmale* - - - - - 1
Palicourea sp.* ~ “ “ 1
Psychotriacapitata Ruiz& Pav.* ~ 4 - "
Psychotria carthagenensis Jacq.* “ 4 1 1 26
Palicoureacrocea(Sw.) Roem. &Schult.* - 33 - 1
Psychotria barbiflora DC.* - 12 " -
Psychotria platypoda DC.* _ _ " 1 _ _
Psychotria sp.* - “ 4 3
Rubiaceae * 1 “ “
1
Psychotriaerecta (Aubl.)Standl. & Steyerm.* - - 1 1 24
Sapindaccae
Allophylusedulis(A. St.-Hil.,Cambess. 5 - 2 5 6 7
&A.Juss.)Radlk.
Cupania oblongifolia Mart. 13 3 48
Cupaniaracemosa(Vell.)Radlk. 25 15 11 2 9 15
Cupania paniculata Cambess. 4 2 4
Sapotaceae
Pouteriagardneri(Mart. &Miq.) Baehni 122 6 1 145 21 4
Simaroubaceae
Simarouba amaraAubl. - - 4 - - -
Tiliaceae
Apeiba tibourbou Aubl. - - 1 - - -
Luehea paniculata Mart. " 1 “ ‘
Violaceae
Paypayrola blanchetiana Tul. - - - - 1 -
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13 14 15 16 17 18 19
Sub-bosqueemfragmentosflorestaisciePernambuco
Númerodeindivíduos
Famílias
MPZ MBR
Espécies
Borda Intl Intn Borda Intl InLII
Solanaceae
Solanittn asperum Rich.* - - - 5 - 11
Indeterminadas
Indeterminada 1 1 - - - -
1
Indeterminada2 1 1 “ “ " "
Indeterminada3 “ ” 1 ” ”
- “ “ “ “ 9
Indeterminada4
“ 4 ”
Indeterminada5
Mortas 16 17 6 20 8 3A
Nãocoletadas 2 2 - 3 4 1
Muitodanificadas/semfolhas - 28 - - - -
427 422 303 326 274 805
Totalporambiente
1152 1405
Totalporfragmento
Istopodeserdevidoàdistribuiçãodiferenciada guianensis as de maior importância. Entre
dasespéciesnosambientes,reduzindoariqueza, ambientesemMPZ,assimilaridadesflorísticas
a equitabilidade e, consequentemente, a registradas foram acima de 50%, sendo de
diversidade.Ascondiçõesdebordaproduzem 54,32% entre Interior I e II e 61,54% entre
as alterações ambientais de que falam Meiia borda e Interior I. O número de espécies
Neto & Martins (2003), que propiciariam exclusivas foi de apenas seis na borda, todas
condições ideaisparaocrescimentorápidode com baixa densidade (1 a 3 indivíduos, Tab.
espécies regenerantes que, de outra maneira, 3), 13 e 11 no InteriorI e II, respectivamente,
teriamcrescimento maislentonosub-bosque. destacando-se as espécies Psychottia barbiflora
Entretodososindivíduos,naamostraporambiente, ePalicoureacrocea,registradasexclusivamente
estavammortosde pé3,74% naborda,4,02% noInteriorIcomaltasdensidades.Aexistência
no interiorI e 1,98% no interiorII. demuitasespéciescombaixadensidadeparece
Comparandoos resultadosporambiente ser um padrão no sub-bosque, similar a
emMPZ,houvediferençasquantoaodiâmetro, populaçãoadulta(Felfili 1997).Essasespécies
distinguindo o Interior I com maiores médias são chamadas nos trabalhos de raras ou
(F=4^8364; p=0,0157;Tab. 2). Naborda, as localmente raras, ocorrendo em percentual
famíliascommaiorriquezadeespéciesforam acimade 25% (Nappo etal. 2004; Oliveira&
Myrtaceae(5)eMelastomataceae(3)eaespécie Amaral 2005), com alto recrutamento de
de maior densidade foi Ponteria gardneri pioneiras, principalmente naborda(Laurance
(Sapotaceae), seguida porEschweileraovata etal. 1998; Sizer & Tanner 1999). Em MPZ,
e Myrcia guianensis. No interior I, a maior o percentual de espécies raras (com apenas
riqueza de espécies ocorreu nas famílias um indivíduo) variou de 20 a 30% nos três
Myrtaceae(5)eRubiaceae(4)eamaiordensidade ambientes, a maior no Interior II (Tab. 1).
foi para as espécies Myrcia guianensis, E. EmMBR,registraram-se 1405indivídumos
ovata e Myrcia racemosa. Já no interior II, (4,45% mortos), com área basal de 0,385 2
as famílias com maior riqueza de espécies (Tab. 1). Amostraram-se 67 espécies/
foram Myrtaceae e Mimosaceae (5), sendo morfoespécies, assim distribuídas nos
as espécies Cupania oblongifolia e Myrcia ambientes: 37 na borda, 36 no interior I e 48
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304 Gomes,J. S. etai.
Tabela3-Númerodeespécies, númerode indivíduosepercentuaisdasespéciestípicasde sub-bosque
emdoisfragmentosflorestaisemIgarassu, Pernambuco.MPZ=MatadoPezinho,MBR=MatadaBR.
Table3-Numberofspecies,individuaisandpercentageoftypical understoreyspeciesfoundedintwoforest
remnantslocalizedatMunicipalityofIgarassu,Pernambuco.MPZ=MatadoPezinho,MBR=MatadaBR.
Fragmento/ambiente Espéciestípicasdesub-bosque
N"deespécies % N°deindivíduos %
MPZ
Borda 8 22,22 108 25,29
InteriorI 9 21,43 194 45,97
InteriorII 9 23,08 75 24,75
Total 14 21,54 377 32,73
MBR
Borda 7 18,92 24 7,36
InteriorI 7 19,44 41 16,60
InteriorII 11 22,92 87 10,81
Total 15 22,39 152 10,82
nointeriorII(Tab.2).Naborda,asfamíliascom é mais denso. É preciso cautela, entretanto,
maiorriquezadeespéciesforam:Boraginaceae, poiseste resultado podeestarassociado àalta
Mimosaceae e Rubiaceae, com três espécies taxa de regeneração, neste ambiente, da
cada.Asmaioresdensidadesregistradasforam espécie A. pedicellaris (Tab. 3), cuja
para as espécies P gardneri e E. ovata. No agregação de indivíduos pode ser favorecida
interior I, as famílias com maior riqueza de pelaestruturamaisabertadaáreaondeocorre,
espécies foram: Mimosaceae (4), Myrtaceae como também observado por Oliveira et al.
e Rubiaceae (3) e as maiores densidades das (2001) num trecho de floresta atlântica de
espécies E. ovata e Myrcia sylvatica. Já no encosta em Peruíbe, litoral sul de São Paulo,
interior II, as famílias com maior riqueza de ou proximidade à planta mãe, levando a uma
espéciesforam:Rubiaceae(6)eMelastomataceae super-amostragem(Salles&Schiavini2007).
(4), sendo o maior valor de importância da Esta espécie também se destacou por ser ter
espécie Albizia pedicellaris, seguida por sidoregistradaexclusivamentenesteambiente,
Pogonophora schomburgkiana e Ouratea queteve 18espéciesexclusivas,amaioriacom
castaneifolia. A espécie E. ovata destacou- baixas densidades (um a quatro indivíduos),
se por apresentar maior frequência tanto nas com exceção, além de A. pedicellaris (214
parcelas da borda (90%) quanto nas parcelas indivíduos), de Tabernaemontana flavicans
dointerior(100%). (1 1) e uma espécie de Myrtaceae (13).
Apartirdacomparaçãoporambienteem EmMBR,adiversidadetotal(PT)foi3,068,
MBR,diferençassignificativastambémocorreram distintaquandoavaliadaporambiente(Tab. 1),
na distribuição horizontal, para densidade (H sendomenornabordaemaiornointeriorI,que
= 13,475;p=0,0012),áreabasal(H= 10,5987; foram estatisticamente diferentes (t = 2,721;
p=0,005)ediâmetro(H=6,3064;p=0,0427), p < 0,01). Entre ambientes, borda e Interior I
nos três casos distinguindo o Interior II dos foram similares floristicamente em 65,75%,
demais, com os maiores valores (Tab. 2). borda e Interior II em 58,82% e Interior I e II
Note-se que as três variáveis analisadas têm em 57,14%. As diferenças na composição de
uma forte dependência quando amostrando espécies entre borda e interior devem existir
indivíduospequenosefinosdosub-bosque.Tal devidoadiferençasdeumidadeeluz,segundo
qualregistraramYoung&Mitchel(1994),uma Oliveira & Felfili (2005). Um alto percentual
maioráreabasaléesperadaondeosub-bosque de espécies raras caracterizou a borda, com
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