Table Of ContentRodrigo Gurgel
ESQUECIDOS
&
SUPERESTIMADOS
Prefácio de Jessé Almeida Primo
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Prefácio – Literatura e verdade
Epígrafe
Apresentação
Capítulo 1 – À espera de justiça
Figuras complexas
Diálogos e descrições
Problemas
Capítulo 2 – Escondido e desprezado
Teoria do engrossamento
Linguagem e primitivismo
Fantasmas
Resposta ao enigma
Capítulo 3 – Combate interminável
Misterioso defunto
“Celeiro agreste”
Síntese e ampliação
Vencer e não vencer
Capítulo 4 – Perseguido, mas brilhante
Ilusória liberdade
Torpezas e amor
Diálogos e oratória
Desafio à história
Excelência
Capítulo 5 – Perfumaria bilaquiana
Clichês e elogios
Hipérboles
Ritmo ternário
Pequenos escritores
Tédio
Capítulo 6 – A salvação pelo duplo
Contar ou mostrar
Artimanhas e personagens
Doppelgänger
Luta
Capítulo 7 – Retorno à querência
Alegoria e epizeuxe
Anáfora e humor
O narrador ideal
Capítulo 8 – Manual de literatice
Extravagâncias
Verborragia
Naturalismo
Pedido de desculpas
Capítulo 9 – Salvo da banalidade
Destemor e covardia
Linguagem
Apuro
Língua portuguesa
Capítulo 10 – Canalhice e afetação
Difamadores
Falsa elegância
“Espuma inconsistente”
Capítulo 11 – Salvo pela ironia
Ouro falso
Acidez
Capítulo 12 – Ideologia e azedume
Homem estéril
Morte e vida
Condenação
Naturalismo
Capítulo 13 – Psicopatia e racismo
Crítica involuntária
Miscigenação e decadência
Descrições
Diálogos e cantilena
Narciso e Don Juan
Capítulo 14 – Injustamente esquecido
Fisgar o leitor
O traçado
Desenlaces
Tempo e consciência
Capítulo 15 – Corrosivo e sempre contemporâneo
Audácia editorial
Sem artificialismos
Riso e desprezo
Retrato do Brasil
Literatura e demonologia
Fracos e fortes
Desequilíbrio
Gótico
Sarcasmo
Sintaxe e humor
Pré-modernista?
Capítulo 16 – O filho tardio de Alencar
Filas de adjetivos
Idealização e melodrama
Linguajar e esquematismo
Lacunas e romantismo
Bom humor e Iracema
Estilo bombástico
Dois gaúchos
Capítulo 17 – Sobriedade e sutileza
Papéis invertidos
Metáfora
Capítulo 18 – Equívocos e retórica
Escolhas repreensíveis
Debilidades
Sinceridade
Créditos
Sobre o Autor
Sobre a Obra
PREFÁCIO
Literatura e verdade
Não obstante a obviedade da afirmação, a forma explicita o
conteúdo. Claro está que isso não é uma obrigação
circunscrita a textos literários, mas a qualquer outro que
busque comunicar algo. Dessa maneira, não é por acaso
que o autor deste volume também dedica sua crítica às
obras de prosadores que militaram em nome de alguma
causa, como o pensador católico Jackson de Figueiredo e o
polemista anti-republicano – e divertidíssimo – Carlos de
Laet, e escreve a sua “história da inteligência brasileira”.
É salutar, por sua vez, que numa nação haja um número
significante de indivíduos com inteligência ao menos
mediana, cuja formação dê estímulo ao que se produz, ou o
ecoe, e o que seja produzido venha acompanhado de senso
de dever, de prestação de contas ao leitor; que seja algo
feito para ser lido, entendido e apreciado, e assim não se
abram espaços largos aos narcisismos e solipsismos
literários de que fala o crítico Rodrigo Gurgel nos textos que
compõem seu primeiro livro, Muita retórica – Pouca
literatura (de Alencar a Graça Aranha), e nos espraiados em
dezoito capítulos deste que leva um título que por si mesmo
é bem elucidativo, Esquecidos & superestimados .
Como esse é também um assunto de que se ocuparam
outros escritores, é inevitável que Gurgel tenha ou
antecessores ou companheiros de viagem com a mesma
percepção. Se este tem como interesse a prosa, a qual não
se restringe à de ficção, uma vez que abrange a ensaística,
a de reflexão, obras sobre história, de filosofia etc. – mas
que têm em comum o terem se destacado bem ou mal
estilisticamente –, outros há, como Bruno Tolentino, que se
dedicaram ao mesmo assunto no exame da lírica: “De que
modo dar um sentido mais puro à língua que um só homem,
ou dois, ou mesmo três, falam sozinhos?”. [ 1 ]
Para quem acompanha os textos críticos de Gurgel, essa é
a pergunta inevitável. Em tempo, o alvo de Tolentino foram
os irmãos Campos, que, de tanto radicalizar no que
julgavam ser uma peculiaridade literária, não conseguiram
senão eliminar “um padrão comum de lucidez e
participação”, [ 2 ] a cultivar assim, em sua torre
“verbicovisual”, o que “se passa por poesia / porque se
afasta do chão...”. [ 3 ] Ocupando-se com essa literatura de
umbigo, afastaram-se de modo prejudicial da tradição do
verso e, ao mesmo tempo e ironicamente, aproximaram-se
dos vícios retóricos comuns nessa mesma tradição. Ou seja,
quem se volta contra a tradição acaba de um modo ou de
outro se contaminando com o que dela há de pior, com a
sua caricatura. [ 4 ] E nesse complexo de Adão, os abusos
formalistas, mais a crescente desfiguração da linguagem,
com a posterior bênção acadêmica e sua formulação em
decretos educacionais, criaram o isolamento do escritor que
primeiro se ressentia de sua marginalização e depois a
tornou numa ética – com licença da rima – de sua estética.
Contra uma prosa que se pretende literatura porque se
afasta do chão comum de cada dia é que se insurge, em
continuação ao Muita retórica , Rodrigo Gurgel, que
denunciou a cumplicidade da própria crítica literária nesse
vício:
O crítico e historiador [Sérgio Buarque de Holanda] lastima-se pelo fato de
Oswald de Andrade e Clarice Lispector não terem intensificado seu
experimentalismo nas obras que se seguiram a Serafim Ponte Grande e Perto
do coração selvagem – e, defendendo a prevalência da técnica sobre a
mensagem, aponta, em Coelho Neto, a falta de uma “moldura adequada”.
Ora, idéias desse tipo deságuam em dois erros, faces da mesma moeda:
menosprezam-se grandes narradores que não optaram pelo vanguardismo
tout court – como Buarque de Holanda faz, no mesmo ensaio, em relação à
obra de José Lins do Rego – ou condena-se a linguagem literária à ingrata
tarefa de reinventar a si mesma permanentemente, o que produz obras