Table Of ContentFUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP
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Marilena Chouí
Escritos sobre
a universidade
2000 Editoro UNESP
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Chauí, Marileno de Souza
Escritos sobre a universidade/ Marileno Chouí. - São
Poulo: Editoro UNESP, 2001.
ISBN 85-7139-327-3
1. Escolos públicos 2. Universidodes públicos 1. Título.
00-4151 CDD-378.5
Índice paro católogo sistemótico;
1. Universidades públicos: Ensino superior: Educação 378.05
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dr; Amttlra. Lellna y d Carlbt- •:d1111nl.l1Unl1i~l<irJõL'i
Apresentaçõo
Os textos aqui apresentados são versões modificadas
de alguns ensaios sobre a universidade escritos e publica
dos ao longo dos últimos vinte anos. Por serem indepen
dentes, contêm repetições. Não as retirei para que cada
ensaio guarde sua independência e inteireza.
Decidi publicar um texto dos anos 70 e outro dos anos
80 juntamente com os mais recentes porque acredito que,
dessa maneira, os leitores poderão acompanhar alguns
aspectos do processo que nos colocou na situação pre
sente.Julgo também que a seqüência será útil aos leitores
mais jovens porque lhes mostrará que nosso presente não
é eterno nem é um destino inelutável. De fato, participan
do atualmente de debates universitários, pude observar
que os jovens estudantes consideram a determinação da
universidade pelo mercado e as agruras da profissionali
zação e da competição como algo natural e como se hou
vesse sido sempre assim, não lhes parecendo que as ques
tões postas à universidade ou postas por ela à sociedade
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e ao Estado pudessem ter sido diversas das que hoje co
nhecem. Ao contrário, lendo os textos escritos entre o fi
nal ~dos anos 70 e início dos anos 80, observarão que os
debates sobre o papel da universidade, bem como as crí~
ricas e o combate à série de reformas do ensino universi
tário davam relevo às questões sociais e políticas, ao sig
nificado do conhecimento e do saber numa sociedade
periférica que viveu sob ditadura e lutava pela democra
cia-, ·enfatizando os temas da formação, da cultura, da jus
tiça social, da liberdade e da igualdade.
Espero que, para os mais jovens, estes textos sejam
de alguma valia para ampliar a percepção e o escopo do
debate universitário, e que, para os mais velhos, façam
parte dos escritos de combate, escovando a história a
contrapelo e recusando a servidão voluntária.
Mari/ena Chauí
Universidade de São Paulo, janeiro de 2001
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Sumário
1 Introdução
A universidade na sociedade 9
2 Ventos do progresso:
a universidade administrada 43
3 Modernização versus democracia 73
4 Vocação política e vocação científica
da universidade 115
5 USP 94: a terceira fundação 135
6 O mal-esrnr na universidade:
o caso das humanidades
e das ciências sociais l 5 7
7 A universidade hoje 175
8 A questão da <iutonomia 195
7
1
Introdução
A universidade na sociedade
Em toda parte, temos acompanhado e participado de
discussões sobre a universidade pública e a necessidade
de defendê-la como um direito democrático, opondo-nos
às medidas estatais que visam ao seu desaparecimento.
Cada um de nós tem tomado posição no debate, mas nem
sempre nossos pressupostos estão claros para quem nos
ouve ou nos lê. Por esse motivo, julguei valer a pena situar
o contexto em que proponho o debate. É disso que trata
esta pequena introdução.
A idéia e a prática democrática
O pensamento filosófico contemporâneo ampliou o
conceito de democracía não só com relação à ciência polí
tica (que reduz a democracia a um sistema político-eleitoral
baseado nas disputas de partidos políticos), mas também
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A universidode no sociedode
resgatando o que Meses Finley designou como "a inven
ção da política" pelos gregos e romanos, isto é, a passa
gem do poder despótico privado (fundado na vontade
pessoal e arbitrária do governante como despótes, isto é,
como pai ou chefe da família) ao poder propriamente polí
tico como discussão, deliberação e decisão coletivas reali
zadas em público, sob o direito e as leis.
Nessa perspectiva, podemos, em traços breves e ge
rais, caracterizar a democracia como ulu·apassando a sim
ples idéia de um regime político identificado à forma do
governo, tomando-a como forma geral de uma sociedade
e, assim, considerá-la como:
1. forma geral da exisrência social em que uma socie
dade, dividida internamente em classes, estabelece as re
lações sociais, os valores, os símbolos e o poder político a
partir da determinação do justo e do injusto, do legal e do
ilegal, do legítimo e do ilegítimo, do verdadeiro e do falso,
do bom e do mau, do possível e do necessário, da liberda
de e da coerção;
2. forma sociopolítica definida pelo princípio da iso
nomia (igualdade dos cidadãos perante a lei) e da isego
ria (direitos de todos para expor em público suas opiniões,
vê-las discutidas, aceitas ou recusadas em público), tendo
como base a afirmação de que todos são iguais porque li
vres, isto é, ninguém está sob o poder de um outro por
que todos obedecem às mesmas leis das quais codos são
autores (autores diretamente, numa democracia partici
pativa; indiretamente, numa democracia representativa).
Donde o maior problema da democracia numa sociedade
de classes ser o da manutenção de seus princípios - igual
dade e liberdade - sob os efeitos da desigualdade real;
3. forma política na qual, ao conrrário de todas as ou
tras, o conflito é considerado legítimo e necessário, bus
cando mediações ínstitudonais para que possa expri
mir-se. A democracia não é o regime do consenso, mas
do trabalho dos e sobre os conflitos. Donde uma outra di-
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