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I
ENSAIOS
SOBRE HElD EGGER
EOUTROS
RICHARD RORTY
INSTITUTO
PIAGET
1
Titulo original:
Essays on Heidegger and Others
Philosophical Papier Volume 2
Autor:
Richard Rorty
Colec~ao:
Pensamento e Filosofia
DireCl;ao de Ant6nio Oliveira Cruz
Tradu~ao:
Eugenia Antunes
Capa:
Dorindo Carvalho
© Copyright:
Cambridge University Press, 1991
Direitos reservados para a lfngua portuguesa:
INSTITUTO PIAGET
Av. Joao Paulo II, lote 544,2.°-1900-726 Lisboa
Telef. 83717 25
E-mail:
[email protected]
Pagina~ao:
Instituto Piaget
Montagem, impressao e acabamento:
Silvas - Coop, Trab. Graficos, CRL
Dep6sito legal n.o 143 429/99
ISBN - 972-771-203-7
Nenhuma parle desta publica~ao pode ser reproduzida
ou transmitida por qualquer processo eIeclr6nico,
mec.inico ou lotografico, induindo fotoc6pia, xeroc6pia
ou grava~30, sem aulorizac;ao pr~via e escrita do editor.
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AGRADECIMENTOS
«Filosofia como Ciencia, MetMora e Politica» foi uma contribui
,ao para urn simposio realizado na U niversidade de \liena em cele
bra,ao do 50.0 aniversario de Krists der Europilischen Wtssenschaften de
Husser!' Foi publicada uma tradu,ao ale rna em Die Krise der
Phiinomenologie und die Prag;matik des Wissenschaftsfortschritts, Michael
Benedikt e Rudolf Burger, eds. (Viena: Verlag der Osterreichischen
Staatsdruckerei, 1986), pp. 138-149. Uma versao revista e aumen
tada do original ingles (a versao aqui reimpressa) surgiu em The
Institution of Philosophy, Avner Cohen e Marcello Dascal, eds. (La
Salle: Open Court, 1989), pp. 13-33.
«Heidegger, Contingencia e Pragmatismo» e aqui publicado
pela primeira vez. Aparecera tambem em Reading Heidegger,
Hubert Dreyfus e Harrison Hall, eds. (Oxford: Blackwell, a publi
car). Inclui passagens de «Heidegger wider den Pragmatisten»,
e
Neue Hefte flir Philosophie 23 (1984), pp. 1-22. A ultima a versao
de uma palestra proferida em Haverford College, e apareceu ape
nas na tradu,ao ale rna.
«Wittgenstein, Heidegger e a Reifica,ao da Linguagem» foi uma
contribui,ao num simp6sio que celebrava 0 100.0 aniversario dos nas
cimentos de Heidegger e Wittgenstein, realizado na Universidade
]. W. Goethe, Frankfurt am Main, em Abril de 1989. Nao foi ante
riormente publicado em ingles, mas apareceri tambem em The
Cambridge Companion to Heidegger, Charles Guignon, ed. (a publicar).
11
1
I
«Heidegger, Kundera e Dickens» foi apresentado como uma
palestra na Sixth East-West Philosophers' Conference, realizada na
Universidade do Havai em Agosto de 1989. Aparecera nas aetas
dessa conferencia.
«Desconstru~ao e Circunscri~ao» come~ou por ser uma pales
tra intitulada «Agora que desconstruimos a metaffsica, teremos de
desconstruir tambem a literatura?» proferida durante a Summer
School Of Criticism and Theory, realizada na Universidade
Northwestern em 1983. Foi publicada uma versao revista em
E
Critical Enquiry II (Setembro de 1984), pp. 1-23. reimpressa
com a permissao da University of Chicago Press.
«Dois Significados de "Logocentrismo"» foi escrito em
resposta a «Philosophy as Not Just a Kind of Writing», de
Christopher Norris, que era em parte a sua res posta a «Philosophy
as a Kind of Writing» (incluido na minha obra Consequences of
Pragmatism). 0 ensaio de Norris e a minha resposta foram publi
cados em Redrawing the Lines: Analytic Philosophy, Deconstruction
and Literary Theory, Reed Way Dasenbrock, ed. (Minneapolis:
University of Minnesota Press, 1989), pp. 204-216.
«Derrida e urn Fil6sofo Transce!'dental?» apareceu no Yttle
Journal of Criticism de Abril de 1989. E aqui reimpresso com auto
riza~ao.
«De Man e a Esquerda Cultural Americana» e uma versao
revista da ultima das tres Romane!! Lectures proferidas na
Universidade da Virginia em Janeiro de 1989. Tomou de empres
timo alguns padgrafos do meu texto «Two Cheers for the Cultural
Left», South Atlantic Quarterly 89, pp. 227-234, e alguns outros do
meu texto «Deconstruction», em The Cambridge History of Literary
Criticism, vol. 8 (a publicar).
«Freud e a Reflexao Moral» foi proferido em 1984, como parte
da Edith Weigert Memorial Leeture no Forum for Psychiatry and the
Humanities, em Washington, D. C. Apareceu em Pragmatism's
Freud: The Moral Disposition of Phsychoanalysis, Joseph H. Smith e
William Kerrigan, eds. (Baltimore: Johns Hopkins University
Press, 1986), pp. 1-27.
«Habermas e Lyotard sobre a P6s-modernidade» apareceu em
E
Praxis International 4 (Abril 1984), pp. 32-44. aqui reimpresso
com autoriza~ao.
«Unger, Castoriadis e Romance de urn Futuro National» apa
0
receu na Northwestern University Law Review 82 (Inverno de 1988),
pp. 33 5- 35 1. E aqui reimpresso com autoriza~ao.
«Identidade Moral e Autonomia Privada: 0 Caso de Foucault»
foi proferido numa conferencia em memoria de Foucault, organi
zada por Fran~ois Ewald e realizada em Paris em Janeiro de 1988.
Apareceu traduzido para frances nas aetas desta copferencia: Michel
Foucault Philosophe: Rencontre Internationale (Paris: Editions du Seuil,
1989), pp. 385-394. Uma versao ligeiramente reduzida do original
ingles foi publicada com titulo «FoucaultiDeweylNietzsche» em
0
Raritan 4 (Primavera de 1990), pp. 1-8.
Agrade~o aos organizadores das conferencias, institutos e simpo
sios onde estes ensaios foram apresentados e aos editores dos varios
jornais e colec~6es onde os mesmos apareceram. Gostaria tam bern
de expressar a minha continuada gratidao it Funda~ao John D. e
Cath~ine T. MacArthur. A maioria dos ensaios deste volume e do
anterior foram escritos enquanto fui bolseiro dessa funda~ao.
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I
INTRODUC;Ao
o
PRAGMATISMO E A FILOSOFIA
POS-NIETZSCHIANA
Este i segundo volume de uma sirie de ensaios escTitos durante os
0
anos 1980. 0 volume I i composto pOT ensaios que discntem temas e fign
ms da filosofia analftica. Ao contrario, a maioT paTte deste volume i
sobre Heidegger e Derrida. A parte I i composta por quatro ensaios sobre
Heidegger - reS1lltado de uma tentativa infrntifera e abandonada de
0
eserever um livro sobre mesmo. A parte II con tim tres ensaios sobre
0
Derrida, a par com uma dissertafiio que discnte uso que Paul de Man e
0
os seus seguidores fizemm de algumas das ideias de Derrida.
A parte III i mais heteroginea. Dos quatro ensaios incluidos nesta
parte, 0 primeiro) e tambim 0 mais ambicioso, chama-se «Freud e a
Ref/exiio Moral". Este ensaio distingue e salienta alguns aspectos da obra
de Freud que se coadunam com a imagem de Quine e Davidson do eu
como uma teia sem centro de erenfas e desejos - imagem que tambim uti
lizei no capitulo 2 da minha obm Contingency, Irony and Solidarity.
Os restantes tres ensaios siio discnssoes de teorias sociais e atitndes politicas
de varias figuras contemporlmeas (Habermas, Lyotard, Unger, Castoriadis,
Foucault); estes ensaios amplificam as opinioes sociopoliticas apresentadas na
parte III do volume I.
No segttimento desta introdufiio farei alguns comentarios gemis sobre
a "elafiio entre a tradifiio pos-nietzschiana do pensamento franco-germa
nico, discntida nestes ensaios, e a tradifiio pragmatista anti-representacio
nalista no ambito da filosofia analitica discntida no volume I.
15
l
Heidegger e Derrida sao frequentemente referidos como filOsofos
«pos-modernos». Utilizei por vezes 0 termo «pos-moderno» no seu sen
tido mais estrito definido por Lyotard como «desconfianra das metanar
rativas». Mas agora preferiria nao 0 ter feito. 0 termo tem sido tao
utilizado que causa mais problemas que 0 necessario. Desisti da tenta
tiva de encontrar algo em comum entre os edificios de Michael Graves,
os romances de Pynchon e Rushdie, os poemas de Ashberry, as varias
formas de musica popular, e as obras de Heidegger e Derrida. Tornei
-me mais hesitante em re/arao a tentativas de periodizarao da cultura -
descrever cada parte de uma cultura como se de repente virassem numa
mesma nova direcrao aproximadamente ao mesmo tempo. As narrativas
dramaticas podem bem ser, como MacIntyre sugeriu, essenciais para a
escrita da historia intelecwal. Mas parece-me mais seguro e mais pra
tico periodizar e dramatizar cada disciplina ou ginero separadamente,
em vez de ten tar ve-Ios como varridos conjuntamente por mudanras
importantes.
Em particular, parece me/hor pensar em Heidegger e Demda sim
plesmente como fil6sofos pos-nietzschianos - atribuir-Ihes um lugar numa
sequencia coloquial que parte de Descartes, passa por Kant e Hegel ate
Nietzsche e para Iti dele, em vez de encara-Ios como iniciando ou mani
festando uma ruptura radical. Embora eu admire sem quaisquer reser
vas a originalidade e poder dos dois pensadores, nenhum deles pode evitar
ser encaixado em certos contextos pelos seus leitores. 0 mtiximo que uma
figura original pode esperar fazer e recontextualizar as suas ou os seus pre
decessores. Ele ou ela nao pode aspirar it realizariio de uma obra que seja
incontextualiztivel, tal como um comentador como eu nao pode aspirar a
encontrar 0 contexto «certo» no qual encaixar essas obras.
o contexto no qual os melts ensaios colocam a filosofia pos-nietzs
chiana e, como seria de esperar, 0 pragmatismo. Vejo Nietzsche como a
figura que mais fez para convencer as intelectuais europeus das doutrinas
que eram veiculadas aos americanos por James e Dewey. Muito do que
Nietzsche tinha para dizer pode ser encarado como 0 seguimento da sua
afirmarao de que «"0 conhecimento em si" e um conceito tao impermissi
vel como 0 de "coisa em si"»1 e da sua sugestao de que «{as categorias da
razaoJ nao representam mais do que a conveniencia de uma certa rara e
1 The Will to Pown', trad. Kaufmann (Nova Iorque: Random House, 1967),
sec. 608.
•
especie - so a sua utilidade e a sua "verdade"»2. A sua famosa descririio
de "Como "Mundo Verdadeiro" se Tornou uma Fdbula» em
0
o
Crepusculo dos idolos estd, se exceptuarmos 0 sarcasmo ao cristia
nismo, bastante proxima da visao de Dewey do progresso intelectual da
Europa.
A versao de Nietzsche do pragmatismo tinha, com certeza, pouco a
ver com as aspiraroes sociais caracteristicas de James e de Dewey. 0 seu
perspectivismo, a sua recusa em considerar a norao de verdade dissociada
de interesses e necessidades, fazia parte de uma luta pela peifeirao indivi
dual, pelo que ele considerava como pureza espiritual. Nietzsche detes
tava tanto seu pais como seculo em que vivia, por isso a combinarao
0 0
emersoniana de autoconfianra e patriotismo que observamos em James e
em Dewey e para ele estranha3. Tudo que tomou de Emerson, digamos
0
assim, foi a autoconfianra; nao existe analogia entre os seus trabalhos e
0
sentido americano de Emerson de um novo tipo de liberdade social.
Quando Nietzsche leu as polimieas abolicionistas de Emerson, comiderou-as
provavelmente como meramente inf eliz residuo de Jraqueza crista em
0
alguem que de outro modo seria um homem forte.
Apesar desta diferenra, Nietzsche era tao anticartesiano, anti-repre
sentacionalista e anti-essencialista como Dewey. Era tao dedicado a ques
tao "que diferenra fard esta crenra sobre a nossa conduta?» como Pierce ou
James. Se vosso interesse se prende apenas com a epistemologia ou a filo
0
a
sofia da linguagem, por oposiriio filosofia moral e social, nao fard grande
diferenra a vossa conduta posterior ler Nietzsche ou os pragmatistas cldssi
cos. Mais, e tao simples enxertar os ultimos pragmatistas da linguagem
- Quine, Putuam, Davidson - em Nietzsche como em Dewey. De facto,
quando mudamos do discurso de Dewey sobre a experiencia para discurso
0
2 Ibid., sec, 515. Existem passagens «pragmatistas» espalhadas aD longo da obra
de Nietzsche, mas a melhar fonte sao as sees, 480-544 de The Will to Power.
Num livro a editar sabre a teoria da verdade de Nietzsche, Maudmarie Clark
fornece uma explica~ao hastante convincente e lucida da sua viragem gradual
para uma versao mais pura e mais consistente do pragmatismo.
3 Tbe Ame1'ican Evasion of Philosophy: A Genealogy of Pragmatism (Madison:
e util
University of Wisconsin Press, 1989) de Cornel West bastante para a
compreensao da rela~ao de Emerson com Dewey. 0 que West apelida de «0
projecto de Dewey de uma cultura emersoniana de democracia radical» (p. 128)
seria ininteligivel para Nietzsche que acreditava que se tencionavamos ser
democniticos, para seguir 0 rebanho, entao nao poderfamos ser radicais.
l
de Quine e Davidson sobre frases, torna-se mais simples entender 0 Jamoso
comenta,.io de Nietzsche em «Verdade e Mentira num Sentido Extra
-Moral» de que a verdade i «um exircito movel de metaforas.»
Interpreto este comentario ii luz da minha disC1lSsiio do tratamento da
metaJora por Davidson na parte II do volume 1. Creio que 0 que ele quer
e
dizer que as frases siio a tinica coisa que pode ser verdadeira ou Jalsa,
que 0 nosso repertorio de frases cresce ii medida que a historia avanfa, e
e
que este crescimento em grande parte uma questiio de literalizafiio das
metaforas de romances. Pensar na verdade desta maneira auxilia-nos a
passa.· de uma imagem cartesiana-kantiana do progresso intelectual
(como uma imagem melhor e a que melhor se encaixa entre a mente e 0
mundo) para uma imagem darwiniana (como uma capacidade progres
siva de molda.· as ferramentas necessarias para ajudar as especies a sobre
viver, a multiplicar-se e a transformar-se).
Ver Darwin posicionado atris de Nietzsche e Dewey (e assim, de uma
so passagem, atras do que no volume I descrevi como 0 fisicalismo niio
redutor de Davidson) ajuda-nos a ver a filosofia europeia pos-nietzs
chiana e a filosofia analitica pos-positivista convergi1'em para uma unica
explicafiio da interrogafiio pragmatista - grosso modo a explicafiio ofe
recida em «Questionamento como Recontextualizafiio» no volume 1.
e
Segundo esta, a linguagem um conj unto de ferramentas em vez de um
conjunto de representafoes - fen'amentas que, devido ao que Dewey cha-
1nO'it 0 «continuum meios-Jim», modifham os seus zttilizadores e os
resultados da sua milizafiio. Abandonar a nOfiio de representafiio signi
fica livrarmo-nos do enxame de problemas sobre 0 "ealismo e 0 anti-rea
lismo que disC1lti na introdufiio ao volume 1.
No entanto, a nOfiio de frases como fenamentas i uma nOfiio que
associamos a Wittgenstein em vez de a Heidegger e a Denida. Apesar do
pragn,atismo de Ser e Tempo (salientado por Mark Okrent e disC11tido
na parte I deste volume), e apesar dos paralelos Derrida-Wittgenstein
apresentados por Henry Staten e os paralelos Davidson-Derrida apresen
tados por Samuel Wheeler (disC1ltidos na parte II), Heidegger e Denida
partilham uma tendencia para pensar na linguagem como algo mais do
que simplesmente um conjunto de ferramentas. 0 Heidegger da ultima
Jase persistentemente, e Denida ocasionalmente, tratam a lingnagem
com se fosse um quase-agente, uma presenfa taciturna, algo que vigia de
perto e esta contra 0 ser humano.
As minhas criticas a Heidegger na parte I e a Denida na parte II
centram-se na ma incapacidade de ter uma visiio darwinista calma e
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