Table Of ContentGORAN	THERBORN
Tradução
Rodrigo	Nobile
Ruy	Braga
Aqueles	que	conhecem	Gõran	Therborn	apenas	por	Sexo	epoder,	seu	memorável
estudo	das	transformações	da	instituição	familiar	no	século	XX,	possivelmente
se	surpreenderão	com	Do	marxismo	ao	pós-marxismo?.	Afinal,	raramente
encontramos	intelectuais	capazes	de	passar	do	alto	nível	de	especialização
exigido	pelas	estatísticas	demográficas	para	os	desdobramentos	contemporâneos
do	pensamento	crítico	com	tanta	desenvoltura	e	competência	quanto	esse
sociólogo	sueco	radicado	em	Cambridge.
Na	verdade,	uma	inusual	combinação	de	dons	distingue	o	pensamento	de
Therborn	do	de	outros	teóricos	sociais:	estamos	diante	de	um	sociólogo
vocacionado	para	a	pesquisa	conceitual,	mas	que	não	renuncia	ao	diálogo	com
os	dados	empíricos.	Acompanhando	a	evolução	de	sua	obra,	percebemos	como
esse	traço	foi	se	consolidando	entre	as	décadas	de	1970	e	1990.
Partindo	de	investigações	marcadamente	teóricas	(tais	como	a	abordagem
comparativa	entre	as	origens	da	sociologia	e	do	marxismo	ou	a	análise	do	poder
estatal	no	feudalismo,	no	capitalismo	e	no	socialismo)	para	alcançar	projetos
escorados	em	um	amplo	domínio	de	dados	empíricos	(como	o	estudo	do
paradoxo	do	crescimento	econômico	com	desemprego	ou	a	investigação	da
trajetória	das	sociedades	europeias	após	a	Segunda	Guerra	Mundial),	o	talento	de
Therborn	converteu-o	em	um	dos	mais	prestigiados	sociólogos	da	atualidade.
De	fato,	apenas	alguém	especializado	em	compreender	as	mudanças	mais
importantes	que	aconteceram	nas	relações	sociais	em	tempos	modernos	poderia
examinar	um	século	de	teoria	social	com	tanta	destreza.	Reunindo	neste	volume
três	estimulantes	ensaios	sobre	a	trajetória	e	o	legado	atual	do	marxismo,
Therborn	esmiuçou	os	recentes	desenvolvimentos	do	pensamento	social,	até
chegar	a	autores	radicais	como	Antonio	Negri,	Slavoj	Zizek	e	Alain	Badiou.
Além	disso,	ao	contextualizar	historicamente	as	polêmicas	em	torno	da
modernidade,	da	pós-modernidade	e	do	pós-marxismo,	transformou	áridas	teses
acadêmicas	em	vívidos	debates	localizados	nas	principais	encruzilhadas	políticas
do	século	XXI.
Ou	seja,	Gõran	Therborn	sabe	seduzir	o	leitor	com	uma	rara	combinação	de
Ou	seja,	Gõran	Therborn	sabe	seduzir	o	leitor	com	uma	rara	combinação	de
intempestiva	capacidade	intelectual	e	serena	sensibilidade	socialista	vinculada	a
sua	nacionalidade.	Num	ambiente	universitário	cada	dia	mais	especializado,	este
livro	relembra-nos	uma	antiga	lição	do	marxismo	clássico:	o	contato	com
audiências	extra-acadêmicas	enriquece	o	pensamento	crítico.
Introdução	-	Nosso	tempo	e	a	idade	de	Marx	..................	7
1.Rumo	 ao	 século	 XXI:	 os	 novos	 parâmetros	 da	 política	 global
...............................................................	11
2.O	 marxismo	 do	 século	 XX	 e	 a	 dialética	 da	 modernidade
................................................................	61
3.Depois	da	dialética:	a	teoria	social	radical	no	Norte	no	alvorecer	do	século
XXI	............................	97
índice	onomástico	.........................................................	149
Sobre	o	autor	...............................................................153
Para	aprimorar	a	experiência	da	leitura	digital,	optamos	por	extrair	desta	versão
eletrônica	as	páginas	em	branco	que	intercalavam	os	capítulos,	índices	etc.	na
versão	impressa	do	livro.	Por	este	motivo,	é	possível	que	o	leitor	perceba	saltos
na	numeração	das	páginas.	0	conteúdo	original	do	livro	se	mantém	integralmente
reproduzido.
Nascido	em	1818,	Karl	Marx	tem	mais	ou	menos	a	mesma	idade	das
independências	latino-americanas.	Os	primeiros	brados	pela	independência
datam	de	1810,	apesar	de	as	batalhas	anticoloniais	decisivas	do	México	e	do
Peru	terem	sido	travadas	nos	anos	1820.	Na	América	Latina,	os	preparativos
para	a	comemoração	do	bicentenário	em	2010	já	começaram	.	Marx	é,	sem
dúvida,	mais	jovem	que	os	protagonistas	das	lutas	de	libertação	latino-
americanas	-	mais	jovem	que	Simón	Bolívar,	por	exemplo,	que	foi	alçado
recentemente	a	guia	espiritual	da	revolução	na	Venezuela	-,	já	que	nasceu	nos
anos	negros	da	reação	europeia,	da	Santa	Aliança	da	contrarrevolução.	Contudo,
as	sementes	da	modernidade	estavam	profundamente	enraizadas	no	solo
econômico	e	cultural	da	Europa	Ocidental,	e	Karl	foi	testemunha	de	seu	primeiro
florescimento.	O	Manifesto	Comunista	apareceu	-	muito	à	frente	de	seu	tempo,
com	sua	visão	do	capitalismo	globalizado	e	das	lutas	da	classe	operária	-	durante
a	"Primavera	dos	Povos",	como	foram	chamadas	as	revoluções	de	fevereiro	a
março	de	1848.
No	que	se	refere	a	suas	contrapartidas	literárias,	Marx	é	bem	mais	novo	que,
digamos,	 Rumi,	 Dante,	 Cervantes	 ou	 Shakespeare	 e,	 como	 teórico	 social	 e
político,	 mais	 novo	 que	 Hobbes	 e	 Locke,	 por	 exemplo,	 heróis	 da	 política
acadêmica	de	Cambridge	na	época	em	que	Marx	nasceu,	sem	falar	dos	sábios
clássicos,	como	Platão,	Aristóteles,	Confúcio	e	Mêncio.
Hoje,	é	muito	mais	difícil	determinar	a	longevidade	de	um	intelectual	do	que
prever	a	expectativa	de	vida	do	ser	humano.	O	que	poderíamos	dizer	sobre	a
capacidade	de	resistência	de	Marx?	À	medida	que	nos	aproximamos	do
bicentenário	de	nascimento	do	homem,	o	conjunto	do	trabalho	que	leva	seu
nome	está	morto	(desde	quando?),	morrendo,	envelhecendo	ou	amadurecendo?
Sua	ressurreição	é	possível?	Não	há	dúvida	de	que	seria	impossível	defender	que
o	fundador	do	materialismo	histórico	seja	intemporal	ou	eternamente	jovem.
Qualquer	resposta	apropriada	a	essa	pergunta	deve	levar	em	conta	o	fato	de
que	Marx	era	um	grande	articulador	e	uma	personalidade	multidimensional.	Era
um	intelectual,	um	filósofo	social	do	Iluminismo	radical,	um	cientista	e
um	intelectual,	um	filósofo	social	do	Iluminismo	radical,	um	cientista	e
historiador	social,	um	estrategista	e	líder	político	-	primeiro	da	diaspórica	Liga
Comunista	e	depois	da	Associação	Internacional	dos	Trabalhadores.	Com	o
passar	dos	anos,	esses	personagens	múltiplos	ganharam	significados	e
implicações	muito	diferentes.	A	política	é	inegavelmente	a	peça	fundamental	do
legado	marxista,	mas	ninguém	nunca	afirmou	que	Marx	era	um	grande	líder
político.	Ele	serviu	como	fonte	de	inspiração	política	e	bússola	social	para	a
navegação	política,	mas	o	político	Marx	está	morto	há	muito	tempo.	Poucos	ou
nenhum	cientista	social	ou	historiador	negariam	que	a	metodologia,	a
compreensão	e	o	conhecimento	social	e	histórico	avançaram	nos	últimos	125
anos,	desde	que	a	derradeira	doença	de	Marx	pôs	fim	ao	trabalho	no	manuscrito
de	O	capital.	Mas	o	assunto	aqui	é	mais	complicado,	porque	tanto	as	análises
sociais	contemporâneas	quanto	as	históricas	continuam	a	se	basear	nos
"clássicos"	não	apenas	como	inspiração,	mas	também	como	temas	de	pesquisa,
conceitos,	apreciações	interessantes	e	ideias	intrigantes.	Émile	Durkheim,	Alexis
de	Tocqueville	e	Max	Weber	são	clássicos	contemporâneos	nesse	sentido,	como
são	também	Ibn	Khaldun	e	Maquiavel,	embora	muitos	séculos	mais	velhos.
Além	disso,	os	grandes	filósofos	nunca	morrem:	eles	passam	tanto	por	períodos
de	hibernação	quanto	de	florescimento	que	duram	com	frequência	algo	entre	os
ciclos	de	Kondratiev	e	as	eras	climáticas.
Este	livro	concerne	mais	ao	Marxismo	que	a	Marx.	No	entanto,	no	que	diz
respeito	 a	 Marx	 em	 nossa	 época,	 a	 impressão	 que	 tenho	 é	 que	 ele	 está
amadurecendo,	como	um	bom	queijo	ou	um	vinho	de	safra	-	não	recomendável
para	 festas	 dionisíacas	 ou	 pequenos	 goles	 na	 frente	 de	 batalha.	 Ele	 é,	 de
preferência,	uma	companhia	estimulante	para	o	pensamento	profundo	sobre	os
significados	da	modernidade	e	da	emancipação	humana.
Para	o	bicentenário	vindouro,	eu	proporia	três	brindes.	O	primeiro,	a	Karl
Marx	 como	 proponente	 da	 razão	 emancipadora,	 de	 uma	 atenta	 inquirição
racionalista	do	mundo,	comprometida	com	a	libertação	humana	da	exploração	e
da	opressão.	O	segundo,	à	abordagem	materialista	histórica	que	faz	das	ciências
sociais	-	em	outras	palavras,	a	seu	entendimento	do	presente	como	história,	com
particular	 atenção	 às	 condições	 de	 vida	 e	 trabalho	 das	 pessoas	 comuns	 e	 à
materialidade	econômica	e	política	do	poder	-,	uma	abordagem	que	não	é	para
ser	seguida	como	um	manual,	mas	como	uma	ampla	diretriz,	acompanhada	da
motivação	para	levá-la	além.	Em	terceiro,	Karl	deveria	ser	brindado	por	sua
abertura	 dialética	 -	 sua	 sensibilidade	 e	 compreensão	 das	 contradições,