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ed itoracontexto
O discurso político é, por
excelência, o lugar de um jogo de
máscaras. Toda palavra pronun
ciada no campo político deve ser
tomada ao mesmo tempo pelo que
ela diz e não diz. Jamais deve ser
entendida ao pé da letra, numa
) transparência ingênua, mas como
resultado de uma estratégia cujo
enunciador nem sempre é soberano.
Este livro pretende mostrar
como se instaura esse jogo de
máscaras no discurso político, qual
é o quadro de troca que o
sobredetermina e quais são os
meios discursivos de que dispõe o
sujeito político para tentar persuadir
e seduzir seus interlocutores.
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DISCURSO POLI1"'ICO
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Projeto: L/03bo2/.2.0.12-.2.- crvro_·
Preço: R.~ éi<3 ,f!Jo D~;-~a: Jz_f 02./Jj
PATRICK CHARAUDEAU
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DISCURSO POLITICO
Tmduç,ío
Dihon Ferreira d;i Cru-,
e Fabiana Komesu
editora contexto
Le discours politique: les 111t1sques du pouMir
Copyrigbt!f'J Vuibcrt, l',1ris, 2005
To<los os direitos <lesta e<lição reservados :1
Editora Contexto (Editora l'insky Ltd,1.)
lvfomt1gem de c,1pt1
Gustavo S. Vilas Boas
Dit1gmmt1ç,ío
Antonio Kchl
Revisiío
Lilian Aquino
Da<los Internacionais <le Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara llrasileira <lo Livro, SI', llrasil)
Charau<leau, Patrick
Discurso político/ Patrick Charaudeau ; tradução I'abiana
Komesu e Dilson 1:erreira <la Cruz. - 2. ed. - São Paulo :
Contexto, 20 \ \.
Título original: Lc <liscours politique: les masques du pouvoir
llibliogralia.
lSBN 978-85-7244-318-0
l. An:ílise <lo <liscmso 2. Persuasão (Psicologia) 3. l'odcr (Ciências
sociais) li. Política -Linguagem 5. Sociologia política 1. Título.
05-9884 . CDD-320.014
- foJ,ces para catálogo sistemático·
1. Discurso poHtico: Linguagem e comunicação.: Cicncia
política 320.0 !ti
EDITORA CoNT!;XTo
Diretor editorial: Jaime Pimky
Rua Dr. José Elias, 520 - Alto da Lapa
05083-030 - São Paulo - sr
I'ADX: (\ \) 3832 5838
contexto@e<litoracontcxto.com.br
www.ediroracontexto.com.br
Prólogo
A máscara não é necessariamente o que esconde a realidade. É verdade
que em nosso mundo ocidental ela tornou-se - nas representações - um
signo de dissimulação e mesmo de fraude: quanto mais ela oculta, mais
simula. Oculta quando nos impede de ver o que permitiria identificar a
pessoa mascarada (a máscara do Zorro). Simula quando nos dá a ver uma
imagem diversa da que está escondida, uma aparência que deveríamos ter
por verdadeira (a máscara da Virtude). Dito de outra forma, um jogo de ser
e parecer em que supostamente a pessoa não é enganada, pois reconhecer
a máscara seria denunciar o simulacro.
Mas a máscara é também, em outras tradições, o que define o ser em
sua perenidade, em sua imutável essência. Ela é símbolo da identificação, a
ponto de nela se confundirem o ser e o parecer, a pessoa e a personagem, tal
como no teatro grego. Não há mais oposição entre o verdadeiro e o falso, o
autêntico e o artifício, o vivido e o representado. Não há mais apenas um
ser congelado em um momento de verdade, que faz unir a contingência do
aqui-agora e a imutabilidade de uma natureza.
Pode-se conjugar essas duas tradições em uma das hipóteses que as
Ciências da Linguagem nos oferecem: sendo o sentido que nasce de todo
ato de linguagem o resultado do encontro entre um sujeito que enuncia e
outro que interpreta, cada qual agindo em função daquilo que imagina do
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outro, pocl e -se d1. zer que a 1ºd ent1º d ad e el e sses suJ.e 1. tos na-o e, nach, mai,s qu.e,
a i.m agem coconstnu'd a que resu lt a el e sse encontro. Ass.i m, cac1a um e pai ,l
o outro apenas uma i.m agem. Na-o a bs o lu tamente uma u. nagem f,a lsa' ' uma
aparenc1a enganosa, mas uma imagem que é própno ser em s' tl'' l v_e rdad..e
A • • O •
d a troca. N esse momen t o, a ma,s cara sen.a nosso ser presente; e la na' o d1s-
simularia, ela nos designaria como sendo nossa imagem diante do outro.
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o entanto, vanas mascaras são possíveis, e, portanto, vánas 1c en '.
são possíveis: mudamos a situação de troca, substituímos as máscaras. Assim,
sa be n do -o, po de -se J.o gar com as ma,s caras, e outro, que ram be ' m o S'' 1be,
O
entrara' no J·o go. '[·i ramos a ma's cara e o que encontramos so b· e 1a ....:> Outra
máscara, depois outra e depois mais outra. A máscara é que constiwi nossa
O
identidade em relação ao outro. Em outros termos, no que é dito, há se~pre
0 que é dito e o que não o é, um não dito que, entretanto, também se diz.
O discurso polític~ é, por excelência, lugar de um jogo de máscaras.
0
Toda palavra pronunciada no campo político deve ser tomada ao mesmo
tempo pelo que ela diz e não diz. Jamais deve ser tomada ao pé da letra,
numa transparência ingênua, mas como resultado de uma estratégia cujo
enunciador nem sempre é soberano.
Este livro pretende mostrar como se instaura esse jogo de máscaras no
discurso político, qual é o quadro de troca que sobredetermina (na parte
O
"As condições do discurso político") e quais são os meios discursivos de que
dispõe o sujeito político para tentar persuadir e seduzir seus interlocutores
(nas partes "Imagens dos atores políticos" e "Os imaginários de verdade").
Este estudo não aborda, portanto, este ou aquele discurso particular (de
direita, de esquerda, fascista, totalitário, democrático, extremista etc.) para
buscar definir sua especificidade. Ao contrário, trata-se, a exemplo de nosso
estudo anterior sobre o discurso das mídias de informação, 1 de definir o
domínio de prática social no qual se move o discurso político, de colocar
em evidência quais são as condições gerais de emergência e as estratégias
que se oferecem a todo ator político, quaisquer que sejam as ideias e as
posições por ele defendidas. Descobre-se, então, que uma mesma estratégia
, L D· , d'infõmu1tio11 médit1tiq11e: la construction du miro ir social, Nachan-lna, Paris, I 997 (csgota<lo).
!,' eet omrsaco Ju or ,e rees~c· ri'to , com •a créscimo de panes inc, 0!.t as, so b o dm Io les M et1ll·l /S et l''f.1 ,1t::1 orm,1t1.0 11. l'1' 111pom.v, t<, '
tmnspt1rence du discotm, De IJoeck-Ina, 2005.
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pode ser empregada em lugares diferentes do tabuleiro político. Virtude da
generalização - que não ignora outros estudos mais específicos - e que nos
permitiu, entre outras coisas, encerrar este livro (Balanço) com uma reHexão
crítica relativa ~l nossa época: h~í verdadeiramente, como sustentam alguns,
degenerescência do discurso político ou deve-se pensar em uma nova ética
do conceito político?
Sumário
Ü QUE É DISCURSO POLÍTICO? ....................................................................... 13
A PALAVRA POLÍTICA NO ESPAÇO SOCIAL .................................................. 15
· A palavra política e a questão do poder .................................................................... 16
Do espaço social aos espaços sociais da palavra política ............................................ 23
Sobre a complexidade do campo político: os setores de ação social .......................... 27
Ü ESTUDO DO DISCURSO POLÍTICO .......................................................... 32
DesaÍlos de an.ílise diversos ..................................................................................... 33
Uma problem.ítica do discurso polírico como processo <le inl1uência social ............. 39
49
As CONDIÇÕES DO DISCURSO POLÍTICO: CONTRATOS E ESTRATÍ,GIAS ...............
As RESTRIÇÕES DO DISCURSO POLÍTICO: DISPOSITIVOS,
IDENTIDADES, LEGITIMIDADE .................................................................. 51
52
Sobre o contrato de comunicação política ...............................................................
Sobre a identidade do sujeito político: a questão da legitimidade ............................. 64
As ESTRATÉGIAS DO DISCURSO POLÍTICO .................................................. 78
Sobre a persuasão no discurso político ..................................................................... 79
A persuasão política entre a perversidade e o mentir verdadeiro ............................ l 04
IMAGENS DOS ATORES POLÍTICOS ................................................................ 111
Ü ETHOS, UMA ESTRATÉGIA
DO DISCURSO POLÍTICO ........................................................................ 113
() ethos como imagem de si ................................................................................. 113
Os etl"! de credibilidade ...................................................................................... 119
Os ethé de identificação ....................................................................................... 137
ALGUNS PROCEDIMENTOS LINGUÍSTICOS ................................................ 167
Os procedimentos expressivos ................................................................................ 168
Os procedimentos enunciativos ............................................................................ 174
Conclusão: o ethos, imagens vers.íteis .................................................................... 179