Table Of ContentJUNG MO SUNG
Jung Mo Sung
RELIGIÃO |
4 edição revista e ampliada
2010
& Fonte Editorial e Jung Mo Sung
Capa e preparação:
EDUARDO DE PROENÇA
Revisão
LucraNA MOREIRA
Formato 14x21 cm - 224 páginas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sung, Jung Mo
Desejo, mercado e religião / Jung Mo Sung; São
Paulo: 4º edição revista e ampliada. Fonte Editorial, 2010. |
ISBN 978-85-63607-09-6
1. Capitalismo 2. Desejo - Aspectos religiosos 3.
Economia - Aspectos religiosos I. Título.
CDD 261.85
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Aomestre e
INTRODUÇÃO............. ssa traem mermo
TEOLOGIA E ECONOMIA Uma visão introdutória.........sssen: 21
DESEJO MIMÉTICO, EXCLUSÃO SOCIAL E |
CRISTIANISMO.........cisreemeeeeeeessemm teeeaemramearresseer teemiram 53
CONTRIBUIÇÕES DA TEOLOGIA NA LUTA CONTRAA
EXCLUSÃO SOCIAL............ estereo 81
ECONOMIAE RELIGIÃO: ,
DESAFIOS PARA O CRISTIANISMO NO SÉCULO XXL............ 115
TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO entre o desejo de abundância ea
realidade da escassez... isisasisemamasssersanesiasiasassosaesssamasts 147
CRISTIANISMO DE LIBERTAÇÃO: fracasso de uma
utopia?......smesansmersemeramtemaero cesnseeseraneaeseamereraniansaastaaatas 185
Desejo, mercado e religião: o que une estes três conceitos?
Já faz um tempo que circulam entre nós livros e artigos que
tratam teologicamente da relação entre religião e economia. Textos
que analisam a dinâmica do mercado e, em especial, a forma como
o neoliberalismo eleva o mercado à condição de um ídolo. Também
há livros que tratam de teologia e sexualidade, o campo que vem
primeiro à nossa mente quando falamos de desejo. Mas, juntar
desejo, mercado-economia e religião não é tão comum.
Exatamente por não ser muito comum que este livro assume
explicitamente um caráter de ensaio, de uma tentativa de
aproximação da lógica que interliga estas três palavras. Rubem Alves
é um dos teólogos ou pensadores cristãos latino-americanos que
mais chamou a atenção sobre o papel do desejo na religião e na
política. Talvez o fato de ter sido um dos iniciadores da Teologia da
Libertação e a sua posterior formação e atuação psicanalítica
expliquem esta ênfase. Em um de seus livros, ele diz que “se o
mistério da religião é o mistério do desejo, e se o mistério do
desejo se revela como poder, o poder se transforma na nova religião.
(...) O lugar do desejo é tomado pela ilusão do poder: a ilusão de
que o poder é capaz de produzir o que o coração deseja. Os
profetas denunciaram esta ilusão e lhe deram o nome de idolatria.
Um ídolo é um objeto feito pelas mãos do homem (práxis) ao qual
se atribui o poder para realizar os desejos do coração”.
Hoje a “ilusão do poder” não se dá na tanto esfera política,
mas sim na do mercado. À hegemonia neoliberal no mundo
consolidou, no final do século XX, o mercado como o fundamento
e o centro das nossas sociedades: E a busca da riqueza e, com
isso, a ostentação das mercadorias de “grife” se tornaram o mais
importante objetivo na vida da maioria das pessoas, particularmente
os integrados no mercado. À mercadoria tornou-se “o” objeto de -
desejo.Marx, no início do seu livro O Capital, disse que a riqueza
das sociedades em que domina o modo de produção capitalista
aparece como uma “imensa coleção de mercadorias” e referiu-se à
mercadoria como “um objeto extemo, uma coisa, a qual pelas suas
propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie.
À natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago
ou da fantasia, não altera nada na coisa”, Uma necessidade que
vem da fantasia tem a ver com o desejo e, portanto, a mercadoria
tem a ver com a satisfação dos desejos, além, é claro, das
necessidades.
Se uma das funções da mercadoriaé satisfazer uma fantasia,
um desejo, e se a satisfação dos desejos mais fundamentais do
ser humano tem a ver com a religião, é provável que haja uma
relação entre desejo, mercadoria e religião. Afinal, como diz Freud,
o segredo da força das religiões reside na força dos desejos, no
desejo de que os desejos mais fortes e prementes da humanidade
sejam realizados.
Mesmo que não tenha buscado analisar a relação entre
“desejo, mercado e religião, há-afirmações de Marx sobre o
fetichismo da mercadoria que é bastante estimulante para esta nossa
reflexão. Por exemplo, ele disse que “À primeira vista, a mercadoria
parece uma coisa trivial, evidente. Analisando-a, vê-se que ela é
uma coisa muito complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas.
“teológicas.”
Marx, quando jovem, havia dito que a religião era um produto
da sociedade, uma consciência invertida do mundo porque o próprio
mundo era invertido. Ele havia explicado a religião a partir das
relações sociais invertidas. Os seres humanos produziam o Estado
e o Estado, o produto, passava a dominar sobre os seres humanos,
os seus-produtores. Essas relações sociais invertidas tinham uma
correspondência na consciência, na qual os seres humanos que
produziam os deuses e os seres sobrenaturais passavam a ser ver
como produtos da vontade e das ações dos deuses, vistos como
os verdadeiros sujeitos e agentes da história humana.
Na maturidade, ao falar do fetiche da mercadoria, ele
reencontra, de uma certa forma, a religião. Para fazer uma analogia
da forma misteriosa em que consiste a mercadoria, ele disse que
“temos de nos deslocar à região nebulosa do mundo da religião."
É como se ele estivesse fechando um círculo: para entender a
religião precisamos nos voltar para as relações sociais invertidas;
e para entender o coração das inversões no capitalismo, o fetiche
da mercadoria, precisamos, ou pelo menos nos ajuda muito, voltar
os olhos para o mundo da religião.
Esta teoria do fetichismo da mercadoria influenciou bastante
os teólogos da libertação que mais trabalham a relação entre teologia
e economia — Franz Hinkelammert, Hugo Assmann, Enrique Dussel,
entre outros — e acredito que há ainda muita riqueza a ser recuperada
e desenvolvida a partir desta intuição marxista da relação entre
economia e teologia.
Max Weber, no seu clássico livro A ética protestante e o espírito
do capitalismo, no qual relaciona a religião e a economia capitalista,
também se referiu ao problema do desejo. Para explicar a razão
pela qual os empresários são irracionais do ponto de vista da
felicidade pessoal e dedicam a sua vida ao trabalho continuo dos
seus negócios, em vez dos negócios estarem em função das suas
vidas, ele diz que “naturalmente, o desejo de poder e de
consideração alheia pelo mero fato de riqueza desempenha seu
papel,"
A acumulação de riqueza, de mercadorias, como o único ou
o melhor caminho para se satisfazer o desejo de poder e de
consideração alheia, o reconhecimento: este é um dos segredos
do dinamismo do sistema capitalista, ou do espírito do capitalismo.
Veblen, no seu clássico Teoria da classe ociosa, já alertava
que “o motivo que está na base da propriedade é a emulação”, isto
“6, rivalidade, competição e inveja em torno da honra e do mérito