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PatrGiuycokm aredA laViann ier
Tradução:
VerRai beiro
Psicanalista
Revisão:
MarIizaa bOelli vSezipraac pfe nko
Psicanmaelmibsrateca t,di vuCe F RP-Paris,
membrdooC oléFgrieou didoaR niood eJ aneiro
JorZgaeh aErd itor
Ridoe J aneiro
Título original:
De la passion de /'Étre ,i la "Folie" de sm•oir
Freud, les anglo-saxons e/ Lacan
Tradução autorjzada da primeira edição francesa
publicada em 1988 por Éditions Dcnoel, de Paris, França
na coleção L'Espace Analytiquc
dirigida por Patrick Guyomard
e Maud Mannoni
Copyright (e) 1988, Éditions Dcnoel
Copyright © 1989 da edição em língua portuguesa:
Jorge Zahar Editor Ltda.
rua México 31 sobreloja
20031 Rio de Janeiro, RJ
Todos os dire.ítos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo
ou em parte, constitui violação do copyright. (Lei 5. 988)
[Edição para o Brasil]
Impressão: Tavares e Tristiio Ltda.
ISBN: 2-207-23450-9 (ed. orig.)
ISBN: 85-7110-103-5 (JZE, RJ)
SUMARIO
Prefácio
Da experiência analítica à f armação do analista 7
1.
A psicanálise "didática", a instituição, as opções teóricas e
a questão do término da análise 25
Discussão 41
2.
Entre o sonho e a realidade. O trabalho do analista 53
Discussão 71
3.
Supervisão e sensibilização ao processo analítico.
Apanhado histórico. Problemas atuais 81
Discussão 99
4.
Tomar-se psicanalista: entre a formação e o modelo 117
5.
Aprendendo com o paciente 135
Posfácio
!\s formações da Instituição, por Patrick Guyomard
e Alain Vanier 152
Notas 174
1l ontes bibliográficas 192
lndice de nomes e dos casos citados 200
lmlicc analítico
 comunidade de analistas
que apoiaram nosso questionamento.
1983-1987
PREFACIO
Da Experiência Analítica
à Formação do Analista
Uma única e mesma quc::Mw insiste ao longo de todo este
livro: 1 o que no curso do trajeto de um analisando, faz dele
um analista?
Por que -- qual drama pessoal -, ou por quem - quer
se trate de sua análise, de um paciente ou de um encontro
amoroso-, é ele modificado? E, se a suspensão do recalca
mento permite ao sujeito ter acesso a uma certa verdade de
sua história, persiste o fato de que o recalcamento corre o
risco, ainda assim, de vir depois encobrir novamente tudo
o que invade o campo dos tabus intelectuais e desperta, atra
vés disso, os mecanismos de defesa que são os guardiães
de todos os obscurantismos. Ao preconizar que os analistas
fizessem um período de análise a cada cinco anos, Freud
procurou evitar que estes se instalassem para sempre na
poltrona, mais preocupados com a notabilidade do que com
a verdade. De fato, no correr da análise, acontece o analista
se defender em relação ao retorno do recalcado, a ponto de
o analisando acabar se chocando, em seu próprio percurso,
com aquilo de que o analista, em certos aspectos, nada quer
saber. Pois bem, para o analisando, a possibilidade de dizer
a verdade está presa ao desejo do analista, o qual, por sua
vez, é prisioneiro de uma história coletiva inseparável do
campo do inconsciente. Daí as questões do grupo, da ciência.
do nome, ou seja, do que Lacan esperou interrogar por i11
termédio de estruturas institucionais e referenciais do l.rnh11
lho instauradas a fim de manter o analista cm nUvldad,, 1•
de retirá-lo, em sua prática, de qualquer ·stsknmt.1:r.nçno d~
8 da paixão do ser à "loucura" de saber
seu procedimento. Assim, convidou-o a se deixar conduzir,
na análise, por uma ordem inconsciente que é determinada
pelo efeito recíproco dos inconscientes: o seu e o do pacien
te, ou o seu e o de outro analista que intervenha no curso
de certo tipo de trabalho colegial.
Manter no analista uma abertura para o inconsciente
só é possível se, ao longo dos anos, o analista tiver sabido
conservar o contato com a criança e a loucura que existem
nele. Foi esse o ponto que levou Reik a falar no valor tera
2
pêutico, para o analista, da análise de outrem. Em toda com
preensão do outro, de fato, é também um vestígio de nós
mesmos que encontramos. Foi justamente essa a .razão por
que pareceu necessário a Lacan providenciar, nas estrutu
3
ras institucionais que recebem analistas, um lugar onde se
desse a estes a possibilidade de falar entre si sobre a aná
lise, a saber, sobre a parcela de impossível (e de insustentá
vel) presente em toda análise, um lugar onde se pudesse
também interrogar os riscos da formação (supervisão, etc.).
Há sempre, no analista, uma certa reticência em abordar,
na condução de uma análise, as questões que colocam seu
próprio narcisismo em perigo; por conseguinte, isso leva a
análises intermináveis em que a situação se deteriora, na
impossibilidade de o paciente poder abordar na análise a
questão da separação, da perda de um objeto transferencial.
Ademais, a gratificação que o analista encontra ocasional
mente em suas análises pode levá-lo a evitar os contatos
com os colegas e os grupos analíticos, a menos que consiga
instaurar no grupo o mesmo tipo de relação de dominação
(com o que isso comporta de sadomasoquismo) que estabe
lece em outro lugar com seus pacientes. Foi ao deslocamento
dessa questão que Lacan se dedicou. A rivalidade dos ana
listas entre si foi por ele substituída pelo projeto de um
procedimento singular, apoiado na paixão de uma busca ("pai
xão do ser", "caminho onde o ser se forma" 4). Sublinhando
o antagonismo entre o ensino e o saber, 5 ele chegou até
mesmo a dizer que seu discurso não se sustentaria se o sa·
ber exigisse a intermediação do ensino. O que equivale a de
clarar que o único ensino válido é aquele em que o analista
se coloca na posição de analisando. Daí a importância de
um lugar onde o analista possa, de um lugar de analisando,
prefácio 9
produzir o não-dominável, e onde o sintoma possa ser ques
tionado. É. que o saber nasce de uma verdade desconcertante
que surge onde não a esperamos.
Experiência analítica
Subsiste em toda relação analítica uma verdade que não
pode ser dita enquanto fala. É. pois o mito, no seio da ex
periência analítica, que abre caminho para a possibilidade
de concretização de uma fala intersubjetiva fundamental.
6
Na relação transferencial ( e isso vale para a Instituição), o
sujeito está em busca de um mestre que o inicie na sabe
doria, ou que lhe abra o acesso à dimensão das relações
humanas. Esse mestre moral, à semelhança do pai, acha-se,
no entanto, num ou noutro momento da trajetória do anali
sando, situado em sua discordância, e isso em relação à dis
tância percebida entre o real e a função simbólica que ele
assume. A relação com o semelhante funda-se, assim, na ex
periência da morte, na medida em que é a imagem ideali
zada que o sujeito identifica nele que, num dado momento,
ele opta por matar. Essa dimensão existencial (de morte
imaginária e imaginada) está presente em toda relação nar
císica. Não está ausente, portanto, nem da relação dos ana
listas entre si nem dos conflitos de ordem narcísica do ana
lisando, quando estes interferem nos do analista.
·7
Ocorre, de fato, o analisando (como foi o caso de H.
Guntrip B) não poder confiar em seu analista, por mais pres
tigioso que ele seja. O medo de alienar sua independência
pode então levar um paciente vulnerável no plano narcísico
a não querer contar senão consigo mesmo, enganando seu
analista. A negação da separação aí atuante mascara, nesse
caso, por trás da transferência positiva, uma relação sim
biótica hostil. 9 O analista pode sentir-se gratificado por um
dado analisando, que satisfaz plenamente seu narcisismo de
"prestador de cuidados". É. apenas num só-depois, então, que
ele pode situar-se no jogo de engodas instaurado e entender
o que se estabelece como obstáculo no próprio cerne dn
transferência positiva. Aliás, esse tipo de dificuldade é nmi·~
particularmente encontrado nas chamadas análi:-m~ íl<' for
10 da paixão do ser à "loucura" de saber
mação, onde as pretensões de carreira do candidato na Ins
tituição interferem deploravelmente no que deve ser vivido
numa análise. Os conflitos transferenciais podem, assim, es
tabelecer-se na interação das defesas narcísica:s do analista
e de seu paciente. Um analista pode sentir-se gratificado por
seu analisando quando este renuncia a qualquer criação pes
soal a fim de preservar para si (na instituição e na transfe
rência) um lugar privilegiado junto ao analista, o qual, em
contrapartida, precisa de seu paciente, ou seja, precisa ser
mantido por ele num certo nível de idealização, sem se dar
conta, em absoluto, do preço pelo qual o outro lhe paga essa
fidelidade.
Efeitos perversos da análise
Foram esses efeitos perversos da análise no analista em for
mação que levaram Lacan a levantar uma questão ( que ele
não soube resolver) : como encontrar, nas estruturas institu
cionais, um lugar onde o analisando possa não só fazer o luto
de seu analista, mas também colocar em comum, a experiên
cia do inconsciente com os 'analistas transformados em seus
pares?
Lacan sempre esteve consciente do tipo de improdutivi
dade e esterilidade que surgem num tipo de pacientes cujas
dificuldades interferem com as de seu analista, quando este
se deixa aprisionar nas projeções do analisando. Ele próprio,
aliás, não pôde evitar esse tipo de tropeço com alguns de
seus analisandos, de quem esperava muito.
Freud compreendeu muito cedo, já em 1899,10 o interes
se de introduzir um terceiro como suporte de qualquer in
terrogação do sujeito. Quando um sujeito começa a falar du
rante a análise, ele fala, a princípio, com (ou desde) um
lugar outro, um lugar susceptível de lhe restituir uma
11
questão concernente a seu ser, que está colocada ali desde
sempre (sob a forma da figura do destino). Esse lugar Ou
tro do inconsciente não pode, no entanto, ser identificado
com o analista. Foi isso o que Freud compreendeu em Sobre
o narcisismo: introdução (1914). A partir dali, como o as
sinalou Granoff judiciosamente, ele se fez menos insistente
prefácio 11
com.o substituto nesse lugar designado do Outro ( quer se
tratasse do outro feminino ou da analogia feita entre a fun
ção ocupada pelo analista e a do pai).
O que insiste, a partir dessa segunda descoberta freu
diana, é o que diz respeito à experiência imaginária da rela
ção do ser humano com seu semelhante, a experiência cons
titutiva, para o sujeito, 12 da relação com o estrangeiro neie,
isto é, com o que se chama eu e que se coloca de imediato
como um outro mais perfeito do que ele, o que remete o su
jeito a uma dimensão de sua própria insuficiência original. 13
Freud pôde descobrir, portanto, que a análise só é possível
quando o analista consegue Ultrapassar, no tratamento, o par
formado pelo eu e pelo outro.14 É isso, de fato, o que per
mite captar o que acontece com o sujeito na estrutura do
sintoma. 15
As vias da f armação
Nenhum avanço teórico jamais foi conquistado, para Freud,
de uma maneira definitiva. Por isso ele insistiu no fato de
que a ciência analítica deve ser recolocada em questão com
cada paciente. Por isso mesmo ele considerou que as vias da
formação são as do inconsciente do analista às voltas com
o inconsciente do analisando ( que lhe mostra, de certa ma
neira, o caminho a seguir). É. que o mito do neurótico efeti
vamente contém em si uma solução oferecida para os enig
mas que o sujeito se coloca. E decerto não é irrelevante que
Reik tenha retomado essa idéia num momento da história
da psicanálise em que o estilo de ensino dispensado corria
o risco de fazer o jovem neófito pensar que o analista "pos
suía" as respostas para todas as perguntas. Reik temperou
essa suficiência, indicando : Cada um carrega em si um filho
que tem d,e trazer ao mundo. O psicanalista só pode ajudar
no parto. 16 De fato, é a noção de formação do inconsciente·
que permite designar a dimensão de busca do ser, ou rn1·s
mo de paixão do ser, única capaz de dar sentido a uma vN
dadeira formação analítica. Foi essa mesma dimcn:-;fto 111w,
num outro momento de crise do ensino psicmmlitlc11, fol r~