Table Of ContentTeologia sistemática
Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rahner, Karl, 1904-
R128c Curso fundamental da fé: introdução ao conceito de
cristianismo / Karl Rahner: (tradução Alberto Costa;
revisão Edson Gracindo). - São Paulo: Paulinas, 1989
(Coleção teologia sistemática)
ISBN 85-05-00841-3
1. Teologia dogmática 1. Título. II. Título: Introdu
ção ao conceito de cristianismo. III. Série: Teologia
sistemática.
87-1948 CDD-230
lndices para catálogo sistemático:
1. Doutrina cristã: Religião 230
2. Teologia dogmática cristã 230
Coleção TEOLOGIA SISTEMÁTICA
A Trindade como história, Bruno Forte
Teologia do Batismo, Valter Maurício Goedert
Curso f uandamental da fé, Karl Rahner
Teologia do sacramento da penit~ncia, José Ramos-Regidor*
* No prelo
KARL RAHNER
CURSO
FUNDAMENTAL
DAFE
Introdução ao conceito de cristianismo
EDIÇÕES PAULINAS
Titulo original
Grundkurs des Glaubens
© Herder, Freiburg im Breisgau, 1984
Tradução
Alberto Costa
Revisão
Edson Gracindo
U> EDIÇÕES PAULINAS
TELEX (11) 39464 (PSSP BRI
Rua Dr. Pinto Ferraz, 183
04117 SÃO PAULO - SP
END. TELEGR.: PAULINOS
Com aprovação eclesiástica
© EDIÇÕES PAULINAS - SÃO PAULO - 1989
ISBN 85-05-00841-3·
ISBN 3-451-20297-2 (Alemanha)
PRÓWGO
Para quem escrevemos este livro? Não é pergunta fácil de
responder nem sequer pelo autor. Considerando a profundida
de e a incompreensibilidade do mistério a que o cristianismo se
refere, bem como a variedade imensa de pessoas a que ele dirige
seu apelo, é claro que não podemos dizer algo sobre o conceito
de cristianismo a todos ao mesmo tempo. Para algumas pessoas
uma "introdução ao conceito de cristianismo" há de parecer mui
to "elevada", muito complicada e muito abstrata, ao passo que
para outras poderá parecer ainda muito primitiva. O autor gos
taria de se dirigir a leitores com certa cultura e que não têm me
do de debater com os conceitos, e espera poder contar com pes
soas para as quais o livro não seja nem muito avançado nem
muito primitivo.
Por isso as reflexões que faremos pretendem situar-se a um
"primeiro nível de reflexão". Neste prólogo ainda não cabem sutis
explicações e reflexões epistemológicas sobre o que vem a ser
isso. O pressuposto para este empreendimento é simplesmente
o seguinte: não pretendo, por um lado, repetir simplesmente o
que o cristianismo prega nos catecismos e formulações tradicio
nais, antes quero tentar entender de maneira nova, tanto quan
to possível em breve ensaio como o presente, esta mensagem, che
gando a um "conceito" de cristianismo. Pretendo achegar da me
lhor maneira possível dos horizontes de compreensão dos ho
mens de hoje este cristianismo, sem prejuízo do seu caráter sin
gular e incomparável. Ao fazê-lo, não devemos proceder como
se o cristão já não soubesse previamente a estas reflexões o que
seja cristianismo. Mas também não é preciso informar simples
mente sobre o que se pode achar em qualquer catecismo cristão
de tipo tradicional sobre a fé já de posse tranqüila de si. No in
tuito de realizar o que pretendemos, não podemos dispensar as
fadigas da reflexão e do trabalho intelectual.
Por outro lado, uma primeira introdução dessa natureza não
pode afrontar todas as reflexões, problemas e aporias, que em
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si ficam reservados para as respectivas especializações, tais co
mo a teoria das ciências, a filosofia da linguagem, a sociologia
da religião, a história das religiões, a fenomenologia da religião,
a filosofia da religião, a teologia fundamental, a exegese e a teo
logia bíblicas, e, por fim, a teologia dogmática. Tratar de todos
os pontos de vista neste vasto leque de referência é impossível
para um livro do tipo que temos em mente e, hoje em dia, não
é sequer tarefa para um só teólogo, e também seria inviável para
o leitor que pode buscar este livro. Exigir isso seria impossibili
tar dar "razão de nossa esperança" e tornar inacessível uma jus
tificação intelectualmente honesta da fé cristã para o cristão que
queremos ter como leitor. Tal leitor só poderia neste caso ser re
metido ao catecismo da Igreja com o convite a que creia o que
aí se ensina e assim salve sua alma.
Este livro parte, portanto, da convicção - que busca con
firmar por ela mesma - de que entre simples fé de catecismo,
por um lado, e, por outro, a passagem por todas as ciências men
cionadas - e várias outras mais - existe uma forma de justifi
car com honradez intelectual a fé cristã, a saber, a um nível que
chamamos de "primeiro nível de reflexão". Tal possibilidade deve
existir porque mesmo o teólogo de profissão pode ser compe
tente em uma ou outra disciplina na melhor das hipóteses, não
podendo absolutamente dominar todas. E essas em si só seriam
necessárias se o teólogo se visse na necessidade de confrontar,
de maneira explícita e cientificamente adequada, a sua teologia
com todas as questões e tarefas destas disciplinas.
Também em outras áreas de sua vida o homem não vive a
totalidade da sua existência e suas dimensões particulares mui
to amplas a partir de estudo reflexo de todas as ciências moder
nas, e contudo pode e deve ser responsável diante de sua cons
ciência intelectual de forma indireta e sumária por essa totali
dade de sua existência. A partir dessas observações, este livro
pretençle expressar a totalidade do cristianismo e dar-lhe hones
ta justificação racional a um "primeiro nível de reflexão". O pró
prio leitor é quem deverá decidir se essa meta será alcançada.
Mas ele também deve ser crítico para consigo mesmo, pergun
tando-se se acaso a falha em conseguir a meta não procede dele
mesmo. E isso com certeza não se descarta de antemão.
Essa tentativa de se mover a um primeiro nível de reflexão
para tematizar e legitimar o todo do cristianismo em seus tra
ços fundamentais pode, com certeza, designar-se como "pré-
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científico". Mas quem faz isso deve perguntar-se se hoje em dia
alguém está em condições de refletir sobre o todo de sua exis
tência de outra maneira que não seja essa forma "pré-científica".
Deve perguntar-se se teria muito sentido em um empreendimen
to dessa natureza assumir atitude "científica" segundo os mol
des das ciências atuais que nenhum indivíduo pode mais domi
nar. Que também se interrogue se tal reflexão "pré-científica,,
não exige tanta precisão e tanto esforço de pensamento, que se
possa colocar confiadamente lado a lado da cientificidade das
muitas disciplinas particulares científicas. Estas também seriam
"em si" importantes para uma reflexão da natureza a que nos
propomos. Mas elas não podem mais ser usadas diretamente pelo
teólogo ou cristão individual, quando este tenta colocar..;se pe
rante a totalidade una do cristianismo em época em que todas
essas ciências particulares devem evidentemente continuar a ser
intensamente cultivadas, mas que, em virtude de sµa complexi
dade e do pluralismo de seus métodos, se subtraem corno tais
do âmbito em que um só indivíduo cristão - inclusive teólog9
- deve responder de imediato por seu cristianismo. Existe re
quintada especialização - que em si se justifica inteiramente
- nas disciplinas teológicas particulares. Mas essa deveria ser
evitada aqui.
O tema "Curso Fundamental da Fé" vem ocupando o Au
tor desde vários anos. Quando professor em Munique e Müns
ter tratei desta matéria duas vezes sob o título de "introdução
ao conceito de cristianismo". Em virtude dessa sua procedên
cia, o livro apresenta várias características que, ao reelaborá-lo
para publicação, não queríamos eliminar. Por exemplo, as divi
sões particulares, considerando a maior ou menor importância
eventual de seus temas e comparando-as entre si, podem não apre
sentar a extensão que merecem, pois este "ideal" é difícil de al
cançar nas aulas. Ademais, se começarmos com a questão geral
e abstrata referente ao que se poderia ou deveria tratar em se
melhante "introdução ao conceito de cristianismo", a seleção que
fizemos pode parecer um tanto arbitrária. Mas tal é inevitável.
A este respeito, alguns poderão de início sentir a falta de
tratamento mais avantajado da possibilidade de afirmações re
ligiosas e teológicas em geral sob o prisma da teoria do conhe
cimento e da teoria da ciência. Alguns poderão ter a impressão
de que importantes temas dogmáticos foram tratados com ex
cessiva brevidade, como, por exemplo, a teologia trinitária, a teo-
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logia da cruz, a doutrina sobre a vida cristã e sobre a escatolo
gia, bem como outros tópicos. Outros descobrirão que os as
pectos sociopolítico e sociocrítico do cristianismo não foram de
senvolvidos. E para outros, ainda, as seções 8 e 9, na melhor
das hipóteses, mal esboçam a temática de que tratam. Em refe
rência a essas e semelhantes constatações dos limites deste livro,
o Autor só pode dizer para se justificar o seguinte: todo autor
tem o direito de fazer seleção. Mas ele pode também perguntar
por sua vez: como se poderia evitar essa ou semelhante seleção
em livro tão breve, de apenas 500 páginas aproximadamente, o
que não é tão extenso em vista do tema tratado? E que, de mais
a mais, constitui tentativa de apresentar uma primeira introdu
ção a tema tão vasto como a totalidade do conceito de cristia
nismo? Deveríamos declarar inicialmente que uma tentativa dessa
seria impossível e inexeqüível, se não pudéssemos nos permitir
limitações inevitáveis. Sem dúvida alguma, o tema pode ser mais
bem tratado do que acontece neste livro. Porém mesmo uma exe
cução mais adequada dessa tarefa não deixaria de topar com
limites, os quai~ certamente não deixariam de ser percebidos tanto
pelo leitor como pelo Autor deste livro.
Tendo em vista a origem deste livro e seu caráter introdutó
rio, o Autor considerou supérfluo acrescentar notas explicati
vas de rodapé e referências bibliográficas. No quadro deste li
vro, isto poderia parecer desnecessária ostentação erudita, algo
que o Autor não pretende. Ele também decidiu não citar traba
lhos próprios com temática correspondente, ainda que não poucas
vezes tivesse a impressão de ter escrito com precisão e amplidão
maiores em outros lugares sobre determinados tópicos. Assim,
foram retomados neste livro textos já publicados em outras obras,
em uma reelaboração bem diferenciada e em nova organização
de conjunto. Isso inclui o primeiro capítulo da seção segunda
(cf. Karl Rahner, Gnade ais Freiheit, Friburgo de Brisgóvia, 1968,
Herderbücherei 322, pp. 11-8) e sobretudo textos mais extensos
da seção sexta sobre a cristologia que em parte foram retoma
dos de "Schriften zur Theologie" (cf. sobre os capítulos 1.4 e
10: Karl Rahner, Schriften zur Theologie, vol. 5, Einsiedeln, 1962,
pp. 183-221; vol. 4, Einsiedeln, 1962, pp. 137-55; e vol. 12, Zuri
que, 1975, pp. 370-83) e em parte da Cristologia," que publiquei
juntamente com Wilhelm Thüsing, Christologie-·systematisch
und exegetisch, Friburgo de Br., 1972, Quaestiones Disputatae
55, esp. pp. 18-71. No capítulo de conclusão também reelaborei
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um artigo já antes publicado (cf. Karl Rahner, Schriften zur
Theologie, vol. 9, Einsiedeln, 1970, pp. 242-56).
Talvez uma coisa que poderá surpreender à primeira vista
o leitor seja a ausência quase total de citações bíblicas como pro
vas do que se afirma. Esse fato explica-se por várias razões, que
devem ser vistas conjuntamente. Em primeiro lugar, o Autor não
quer dar a mínima impressão de ser exegeta que trabalha como
cientista especializado neste campo específico. Mas ele espera
que no conjunto tenha se informado suficientemente sobre os
problemas e resultados da exegese e teologia bíblica atuais, que
aqui se devem pressupor, em vista da natureza e propósito deste
livro. Além disso, o leitor pode ter acesso ao material exegético
especializado ou de divulgação. Aqui podemos e devemos pres
supor este material, se é que este livro não deve ultrapassar seus
limites ou perder seu caráter introdutório ao conceito de cristia
nismo.
O cristianismo é, com certeza, religião que repousa sobre
acontecimentos históricos bem determinados. A extensão da se
ção sexta, que constitui quase um terço de toda a matéria, dá
testemunho à sua maneira do fato de que o Autor está consciente
da natureza histórica do cristianismo. E, de mais a mais, esses
acontecimentos históricos devem ser levantados das "fontes". Mas
essa investigação básica e crítica das fontes pode e deve-se pres
supor em uma primeira introdução ao conceito de cristianismo.
Podemos e devemos nos limitar a informar brevemente e da ma
neira mais conscienciosa que nos seja possível o que este traba
lho básico sobre as fontes produziu de material para reflexão
sistemática. Se tentássemos mais do que isto aqui, o resultado
não seria nenhum trabalho exegético sério, não passando de es
palhafato pseudocientífico sem proveito para nada. Finalmen
te, a teologia que trabalha sistemática e conceitualmente não
constitui mero apêndice das questões problemáticas no campo
da exegese e teologia bíblica. Se em um só livro é impossível exe
cutar as duas tarefas, então é melhor e mais honesto evitar tam
bém a impressão de que se pretendem ambas as coisas de uma
só vez.
Se o que aqui se oferece é uma introdução, o leitor não po
derá esperar que este livro seja como que a síntese final do tra
balho prévio do Autor no campo da teologia. Não o é nem quer
sê-lo. Se bem este curso fundamental, em virtude mesma de seu
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